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Meu Irmão E Eu
— Tudo bem. E seremos só nós? — perguntei novamente.
— Não! Aidan não vai, se é o que quer saber. Não o convidei, mas ele sabe que seu aniversário é amanhã. Então, pode ser que ele o procure. Vocês não se viram mais?
— Disse a ele que precisava de um tempo. Desde a véspera de ano novo que não o vejo. Já faz alguns meses. Sempre recebo mensagens dele no celular, mas não me sinto preparado para encontrá-lo.
— Sabe que torço por vocês, não é, maninho?
— Sei, sim — respondi, desconcentrando-me da conversa.
Marcus tinha um sabonete verde claro nas mãos e, depois de ensaboar o abdome, enquanto conversava comigo, lavava o pênis e as virilhas. Dobrava os joelhos, o que permitia às mãos alcançar o interior das coxas. Ele olhava para baixo e ensaboava a glande do pênis, puxando o prepúcio para trás. Era um movimento sexy. E eu não conseguia parar de olhar. Estava ficando excitado. Nisso, uma voz feminina me fez piscar os olhos. Era Núbia.
— Então vocês estão aí! — exclamou ela, sorridente, entrando no banheiro, beijando-me o rosto.
— Amor, o aniversário de Gaius é amanhã. Acho que vamos jantar no Barbetta. Às 21h está bom para você? — perguntou meu irmão, desligando o chuveiro e tomando a toalha nas mãos.
— Tudo bem. Quer dizer que amanhã você faz dezoito, é? Que bom! Aidan vai conosco? — indagou Núbia, olhando-me, curiosa pela resposta.
— Acho que seremos apenas nós — respondi, saindo do banheiro.
— Nós amamos muito você. Não esqueça! — afirmou Marcus, com a toalha na cintura e me mandando um beijinho com os lábios, enquanto eu saía do banheiro.
Retribuí o beijinho de longe e saía do quarto deles, quando ouvi Núbia dizer que precisava chamar a babá para ficar com Arthur no dia seguinte.
Era uma voz doce, angelical, repetitiva e manhosa. Então, percebi que alguém estava empurrando meus ombros.
— Acorde, tio! Acorde!
Abri meus olhos. Era Arthur, ainda de pijama. Meu Deus, que horas são? Abracei-o junto ao meu corpo e envolvi a nós dois com as cobertas.
— Fique aqui quietinho com o tio. Vamos dormir mais um pouco.
Foi quando o susto invadiu meus ouvidos.
— Tio, papai me mandou acordá-lo. Vovô chegou de viagem e quer falar com você.
Arregalei os olhos e sentei na cama ao mesmo tempo, repentinamente.
— Quem está aqui, Arthur? — perguntei.
— Vovô Lucas está na sala. Ele veio falar com você — respondeu.
O pavor me possuiu. Levantava-me, apressadamente, quando a porta do meu quarto se abriu. Era Marcus. Ele me olhava sério.
— Oi, maninho. Parabéns! Papai está na sala. Ele quer falar com você a sós. Posso trazê-lo aqui? — perguntou, beijando-me o rosto, enquanto me parabenizava.
— Não! De jeito nenhum! O que ele quer comigo? Não vou ficar sozinho com ele, Marcus! — respondi, agitado.
— Calma. Calma. Vou dizer a ele que você vai até a sala e que conversam lá. Certo? — perguntou, tentando me tranquilizar.
— Você e Núbia podem ficar comigo? — perguntei, pedindo.
— Claro, maninho. Não se preocupe. Não vai acontecer nada. Vá se vestir. Nós o esperamos lá. Vamos, Arthur?
— Não! Arthur vai comigo! — disse eu.
Depois de vestir minhas sandálias de dedo e meu roupão, segurei na mão de Arthur e me dirigi à sala. A cada passo que dava, apertava a mão do meu sobrinho com mais força. Estava nervoso, e curioso, também. Meu coração estava acelerado e eu podia ouvir seus batimentos descompassados. Já na sala, vi Marcus e Núbia sentados no sofá, diante de um homem maduro, vestido elegantemente. O homem usava terno e gravata azul marinho. Seus sapatos eram brilhosos. E seu cabelo estava penteado classicamente. Ao fundo da sala, vi um homem de branco, que estava em pé, de costas para mim, olhando a rua através da vidraça da janela. Era papai. O silêncio só foi rompido, quando o homem de terno azul levantou-se e disse:
— Senhor Barrys, bom dia! Feliz aniversário! Chamo-me Alexander Walker. Sou advogado da House’s Barrys. Seu pai e eu queremos falar com o Senhor — disse educadamente, estendendo e apertando minha mão.
— Obrigado, Senhor Walker. Mas, por favor, chame-me de Gaius — e soltei a mão dele, tornando a segurar a de Arthur.
Nesse momento, papai se virou para mim. Meus olhos ainda contemplavam as feições sérias da sua face, quando o movimento da mão dele me desconcentrou. Ele apoiava o corpo com as duas mãos na bengala de carvalho, e mexia, vagarosamente, os dedos de uma mão sobre a outra. Seu olhar era ríspido, e não estava diferente da última vez que nos vimos. Meu Deus, ele está com aquela bengala! Pensei. Quando vi aquele objeto na mão de papai, minha mão suada esmigalhou a mão de Arthur. Minha pupila dilatou. Estava com muito medo.
— Sente-se, Gaius. Alexander quer falar com você — disse papai, rispidamente.
— Estou bem assim, Senhor Walker. Pode falar — respondi, com a voz trêmula, tentando mantê-la firme.
O advogado caminhou até o sofá e apanhou nas mãos uma pasta de documentos e, em pé, disse:
— Gaius, hoje você completa dezoito anos e, como deve saber, todo cidadão norte-americano, a partir desta idade, é considerado responsável por todos os seus atos diante da nossa legislação, como também pode assumir qualquer benefício ou herança que seja devida a ele sem a necessidade de um tutor financeiro. Estou aqui, hoje, porque é desejo de seu pai entregar a você a sua parte da herança, mais uma porcentagem mensal nos lucros da House’s Barrys. Antes de falarmos da herança, preciso explicar que a House’s Barrys é um conglomerado de empresas imobiliárias de capital societário familiar, de nível internacional, ou seja, ela foi construída unicamente com o dinheiro da sua família e, hoje, está presente em todos os continentes. E os únicos acionistas dela são o seu pai, seu irmão e você. Com o falecimento da sua mãe, a parte financeira que cabia a ela, ou seja, cinquenta por cento da empresa, mais todos os bens que foram adquiridos durante o casamento, foram divididos em duas partes, metade para você, e metade para seu irmão. O Senhor Marcus Barrys já recebeu a parte da herança da sua mãe. Como você era menor de idade à época do falecimento dela, seu pai tornou-se seu tutor financeiro, ou seja, ele administrava seu dinheiro até que atingisse a maioridade. Como hoje você está completando dezoito anos, estou aqui para entregar a você a metade da herança da sua mãe, e para explicar os lucros mensais que você tem direito da House’s Barrys. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou ele.
— Não. Pode continuar — respondi, sem entender direito o que estava acontecendo.
— Sua mãe faleceu em junho do ano passado. Desde que o trâmite para distribuição da herança dela ficou pronto, os lucros da House’s Barrys, que eram devidos a você, estavam sendo enviados a uma conta bancária. O titular dessa conta era seu pai, mas o nosso escritório já fez a mudança de titularidade e, agora, a conta está em seu nome. Todos os valores foram transferidos e já estão disponíveis para você. Todos os meses, até o décimo quinto dia útil do mês, após o fechamento do balanço financeiro do mês anterior, as quantias devidas a você, ao Senhor Marcus Barrys e ao Senhor Barrys são automaticamente enviadas às respectivas contas. Do mês de junho do ano passado até este mês, foram enviados pouco mais de trezentos milhões de dólares para sua conta, o que nos faz constatar que a média de lucro mensal da House’s Barrys por acionista é de pouco mais de três milhões de dólares, visto que foram contabilizados para você um total de dez meses de lucros acumulados. Esse valor está sujeito ao rendimento mensal da empresa, e é dividido igualitariamente entre o seu irmão, seu pai e você. Estamos falando de valores líquidos, e não brutos. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou novamente.
— Não. Pode prosseguir.
— A House’s Barrys, à época do falecimento da sua mãe, estava avaliada em dezenas de bilhões de dólares. Com a distribuição que precisou ser feita, alguns bilhões foram divididos entre você e seu irmão. E o restante é direito do seu pai. No caso de falecimento dele, toda a herança do seu pai, segundo a vontade dele, será destinada exclusivamente ao Senhor Marcus Barrys. Com o falecimento do seu pai, você não herdará nenhuma quantia da House’s Barrys, mas continuará como acionista e receberá os lucros mensais que são a herança da parte da sua mãe. Você está compreendendo o que digo? — perguntou mais uma vez, franzindo a testa, esperando minha resposta.
— E por que não herdarei nada quando papai falecer?
— Esse é um desejo do seu pai, e a lei norte-americana assegura o que ele quer fazer com a herança dele.
Senti uma pontada no coração.
— Pode continuar — disse, tentando parecer indiferente.
— Muito bem. Concluindo, estou dizendo a você que na sua conta dos lucros, somados os meses de junho do ano passado até este mês, estão disponíveis pouco mais de trezentos milhões de dólares. A parte da sua herança também já está disponível, ou seja, os bilhões que foram divididos entres vocês três com a morte da sua mãe. Caso tenha alguma dúvida sobre a divisão, o Senhor Marcus Barrys poderá explicar melhor, pois isso envolve assuntos de natureza particular da sua mãe e do seu pai. Somando tudo, hoje está disponível na sua conta algumas dezenas de bilhões de dólares para você, que é o resultado dos lucros acumulados de dez meses mais a sua parte na herança deixada por sua mãe. E lembro que os seus rendimentos mensais continuarão sendo enviados a você, mesmo com o falecimento do seu pai e seu irmão. Você detém vinte e cinco por cento das ações da House’s Barrys. E isso continuará até quando você falecer ou decidir vender suas ações. Você tem alguma dúvida? — perguntou.
Eu não sabia para onde olhar. Papai me encarava e o advogado esperava uma palavra minha. O que digo?
— Marcus, posso falar com você um instante? — e soltei a mão de Arthur, dirigindo-me ao meu quarto.
Lá, perguntei ao meu irmão se ele sabia o porquê de tudo aquilo. Disse-me que papai tinha feito a mesma coisa com ele. Eu perguntei se podia confiar no que o advogado estava dizendo, se não corria o risco de estar sendo enganado. Meu irmão me explicou resumidamente:
— Maninho, escute o que vou dizer. A empresa valia bilhões. Papai conseguiu o valor que a empresa valia com os bancos. Esse valor ele dividiu em três, a parte dele, a minha e a sua. A parte dele, ele devolveu ao banco e até hoje paga mensalmente o saldo até liquidar a dívida. A minha parte, ele já me deu. E, agora, ele está dando a sua parte...
— Mas a parte da herança da mamãe, depois que ela morreu, não deveria ficar com papai? — perguntei, interrompendo-o.
— Deveria, sim. Mas mamãe fez com que papai assinasse um documento que garantisse que depois da morte dela, a empresa deveria ser avaliada, vendida e os valores fossem divididos entre nós três imediatamente. Para não se desfazer da empresa, correndo o risco de perder um negócio familiar sólido, papai optou por recorrer aos bancos e conseguir o valor que a empresa valia à época, e entregou esses valores a nós dois. Como nós somos sócios, temos direitos a valores de lucros mensais. Papai fez tudo que prometeu à mamãe e tudo que está no documento assinado por ele mesmo. Como você era menor de idade à época, papai administrou seu dinheiro. Agora que atingiu a maioridade, ele está entregando tudo que é seu por direito. Eu também recebi a minha parte da herança e recebo, todos os meses, os lucros. A única diferença entre mim e você é que eu recebo também salário por ser o diretor da empresa. Entende?
— E por que com a morte de papai a herança dele ficará só para você? — inqueri.
— Maninho, esse é o desejo dele. Acho que nós sabemos o porquê.
Senti outra pontada no coração.
— Então, estou recebendo dezenas de bilhões de dólares? É isso? E está tudo certo?
— Está sim. Conferi tudo antes de eles virem aqui falar com você. Eu só não sabia que papai iria aparecer de surpresa aqui no domingo para tratar disso. Pode voltar para a sala e assinar a papelada. Depois, com calma, você e eu podemos ver como aplicar seu dinheiro, certo? — e me deu um beijo no rosto, encorajando-me.
— Tudo bem. Vamos lá — respondi.
Quando retornei, o advogado e papai estavam sentados à mesa de jantar.
— Alguma dúvida, Gaius?
— Não, Senhor Walker. Onde assino?
— Aqui, por favor — respondeu ele, apontando o dedo para quais folhas deveria assinar.
Quando terminei de assinar as várias folhas de vários documentos, levantei meus olhos e encontrei os de papai. Estávamos próximos, separados apenas pela mesa de mármore envelhecido do apartamento de Marcus. Ele tinha o olhar duro, e encarou-me grosseiramente até encostar a bengala na cadeira e começar a assinar as mesmas folhas que assinei. Levantou-se e foi onde Marcus e Núbia estavam, beijou-os, fez um afago na cabeça de Arthur, e caminhou à porta sem dizer nenhuma palavra. O advogado apertou minha mão e me entregou seu cartão, para o caso de eu ter alguma dúvida. Quando vi papai saindo, levantei-me, fui para perto do meu irmão e disse:
— Papai. Hoje é meu aniversário. O Senhor não vai me dar um beijo? — perguntei, tremendo a voz.
— Tudo que está na minha casa que for seu, chegará em breve aqui. Mande buscar seu carro também. Vamos, Alexander — respondeu ele, de costas, sem me olhar.
E saíram, batendo a porta. Não aguentei e solucei. Corri ao meu quarto e me joguei na cama, chorando.
Meus olhos sonolentos perceberam que o crepúsculo anunciava que a noite chegava. Daqui a pouco tenho que levantar para me arrumar, mas agora não. Pensei, e voltei a dormir. Um agradável odor amadeirado chegou às minhas narinas e, logo, senti uma mão suave tentando retirar os cabelos que cobriam minha testa. Virei-me e abri os olhos. Era Aidan. Estava agachado ao lado da minha cama. Meus olhos abertos encontraram seu sorriso. Ele acarinhava meu rosto, quando eu disse:
— Oi!
— Oi, menino! Desculpe se o acordei. Só queria beijar você antes de ir embora.
— Você estava aqui? — perguntei, segurando sua mão e pressionando-a contra meu peito.
— Estava. Vim conversar com Marcus e Núbia, e entregar seu presente. Eles disseram que você dormiu a tarde inteira. Não quis acordá-lo. Só vim deixar isso, mas não aguentei e fiquei aqui observando você dormir.
Ele me entregou um embrulho coberto por um saco grosso marfim, enlaçado por um cetim verde esmeralda.
— Espero que goste — disse, timidamente.
Era um livro: Helena de Tróia.
E continuou:
— Este livro conta a história de uma mulher que causou uma guerra entre dois povos por causa de sua beleza e do seu amor.
— E por que acha que vou gostar de lê-lo? — perguntei, curioso.
— Porque essa história é parecida com a sua. Talvez, ainda não tenha percebido, mas sua beleza e tudo que você é está causando uma guerra dentro de mim há muito tempo. Um dia vou explicar melhor. Feliz aniversário, menino! — e me beijou os cabelos.
Ele ainda me olhava, quando se levantou, e depois deu as costas para mim.
— Aidan! — chamei-o, com a voz baixa.
Ele virou-se, e eu continuei:
— Nós vamos ao Barbetta daqui a pouco. Deveria ir conosco.
Os olhos dele se apertaram e um sorriso largo mostrava os dentes, quando me disse que iria tomar um drink com Marcus e me esperaria na sala. Seu rosto estava resplandecente, quando saiu e fechou a porta do meu quarto. Animei-me. Preciso me arrumar. Pensei.
Já passava das 20h20 quando cheguei na sala. Encontrei Núbia dando recomendações à babá, que cuidaria de Arthur durante o jantar. Vi Marcus e Aidan conversando no sofá, enquanto bebiam uísque. Apareci e atraí os olhares para mim. Eu vestia uma calça Louis Vuitton preta, aveludada, e uma camisa Gucci manga longa branca. Tinha nos pés um exclusivo Aubercy com diamantes na parte frontal, e um terno Versace 100% lã tailor, amarelo brilhante, com apenas um botão que cobria meus ombros e tórax. No rosto, apenas um pouco de pó e uma pincelada de um delineador preto nos olhos. O perfume deixei por conta da Chanel. Adoro jasmim, meu Deus! Fui vestido para matar mesmo, afinal, além de eu estar fazendo aniversário, era o novo bilionário dos Estados Unidos. E precisava comemorar isso.
— Boa noite! — exclamei, pondo as duas mãos na cintura e abrindo um sorriso, esperando que eles admirassem minha beleza.
Marcus e Aidan levantaram-se e foram ao meu encontro.
— Está lindo, maninho — disse meu irmão, beijando meu rosto.
— Não tenho nem o que dizer diante de tanta beleza — comentou Aidan, beijando-me o outro lado do rosto, com os olhos faiscando de felicidade.
— Gaius, você está lindo! Vestiu-se para matar! — comentou Núbia, empolgadamente.
Chegando ao Barbetta, o maître recepcionou-nos e nos encaminhou à mesa. Era um domingo à noite, e o restaurante italiano estava abarrotado de pessoas. Estávamos nós, Marcus e Núbia de um lado da mesa, Aidan e eu do outro, quando o garçom anotou as bebidas.
— Aidan, acompanha-me no uísque? — perguntou meu irmão.
— Claro — respondeu ele.
— Então, vamos querer uma garrafa de Dalmore 50 anos — falou ao garçom.
E continuou, dirigindo-se à Núbia:
— Meu amor, você está dirigindo, mas quer beber alguma coisa?
— Quero um refrigerante Chinotto.
— E você, maninho? — perguntou a mim.
— Um Cosmopolitan, por favor — respondi, olhando para o garçom.
Instantes depois, estávamos conversando amenidades, enquanto decidíamos o que pediríamos para jantar. Era visível a felicidade de Aidan em estar conosco. Ele bebia o uísque empolgadamente, enquanto falava de viagens com Marcus. Aproveitei para ter uma conversa menos formal com Núbia. Dizia-me ela que achava que Aidan e eu formávamos um lindo casal e, também, que o via como um homem muito bonito e atraente, principalmente por ele ser muito alto. E é! Pensei. Ela me dava conselhos para eu aproveitar que ele era apaixonado por mim e casar logo. Eu a escutava, animadamente, quando a interrompi falando que algumas coisas ainda estavam confusas dentro de mim, e que precisava de tempo para discernir bem. Aproximei-me mais dela e comentei baixinho que tinha ficado com um homem e que havia gostado bastante. E, ainda, que achava estar sentindo algo, pois me percebia lembrando dele às vezes. Ela piscou os olhos de curiosidade e quis saber quem era. Quando contei que era Pablo, ela arfou.
— Gaius, vem mais para cá para eles não escutarem nada — sugeriu baixinho.
Depois, continuou:
— É aquele cara que estava na noite de Natal conosco em Monte Carlo?
— Ele mesmo — respondi.
— Meu Deus, Gaius! Você tem uma sorte para homens bonitos. Quem me dera essas coisas acontecessem comigo!
Como assim? E meu irmão? Pensei.
E rimos. Nossas risadas chamaram a atenção de Marcus e Aidan, que nos olhavam curiosos. Olhei-os e dei uma piscadinha de olho para Aidan, que retribuiu sorrindo com a boca fechada. Voltei a conversar com Núbia, quando o garçom deixou na mesa um champanhe Dom Pérignon dentro de um balde de gelo e duas taças emborcadas.
— Desculpe, Senhor. Nós não pedimos champanhe — disse Marcus ao garçom.
— É uma cortesia do Senhor Marvel para o Senhor — e estendeu, diante de mim, um cartão dentro de um envelope em tom pastel.
— Para mim? Obrigado — agradeci a ele.
Olhei para Marcus e Aidan, que me encaravam curiosos, e abri o cartão.
“Há tempos não via tanta beleza em um único homem. Espero que goste. Maison”.
Minha alma deu três pulinhos de tanta alegria. Oh, meu Deus! Um homem está me cortejando. Adoro isso! Pensei. Fechei o cartão e o guardei no terno, sentindo-me poderoso. Todos estavam me olhando curiosos e esperavam que eu dissesse algo.
— Então, vamos fazer um brinde? — perguntei, tentando disfarçar o sorriso.
— Não, não! Primeiro diga quem mandou o champanhe — solicitou Núbia, sorrindo, curiosa.
— Não sei. Foi um homem chamado Maison. Não o conheço.
— Aidan franziu a testa. Marcus abriu um sorriso. E Núbia fazia cara de inveja branca ao me olhar.
— Ele foi muito gentil, maninho. E ainda tem muito bom gosto para champanhe. Quando o garçom vier, pergunte quem é e o convide para brindar conosco. É o mínimo que pode fazer — instruiu-me meu irmão.
Fiz sinal ao garçom pedindo mais três taças e desemborcava as que estavam no balde de gelo, quando Aidan se aproximou e perguntou:
— Essas abotoaduras são as que dei de presente no ano passado?
— Sim — respondi, olhando aqueles olhos cor de âmbar que me causavam quentura.
Ele abriu um sorriso. Adoro quando ele sorri, mostrando-me aquela cara de homem apaixonado. Adoro quando ele se derrete para mim.
— Estou feliz que esteja usando hoje. E, só mais uma vez, você está lindo! — sussurrou ao meu ouvido, aproximando seu rosto do meu para me beijar a bochecha.
Adoro quando ele se declara para mim! Pensei e pisquei os olhos três vezes. Enquanto ele falava, senti hálito de álcool em sua boca. Gostei daquele cheiro. Ele tomou o champanhe nas mãos e a abriu. Servia a nós quatro, quando pedi ao garçom que fosse até o Senhor Marvel e perguntasse se ele não gostaria de brindar conosco. O garçom não demorou e caminhava em nossa direção, apontou discretamente para nossa mesa e deixou o caminho livre para Maison chegar. E lá vinha ele. Era um homem maduro, parecia ter pouco mais de cinquenta anos, era gordo e usava cavanhaque. Os poucos cabelos que tinha na cabeça estavam ordenados da esquerda para a direita. Usava um clássico terno cinza com gravata azul. Caminhava devagar em nossa direção, olhando em meus olhos até nos saudar.
— Boa noite a todos! Peço desculpas se estou interrompendo alguma coisa.
— Não está interrompendo, Senhor Marvel. Quer brindar o aniversário do meu irmão conosco? — perguntou Marcus.
— Sinto-me lisonjeado pelo convite.
— Mas, antes, deixe-me apresentar minha esposa Núbia, e o nosso amigo Aidan. Chamo-me Marcus, e este é o aniversariante da noite, Gaius.
Ele me olhou e seus olhos verdes brilharam.
— Muito prazer, Gaius! — e estendeu a mão para me cumprimentar.
E, depois, comentou:
— O seu nome é grego, não é?
— Sim. Foi mamãe quem escolheu. Ela era grega e disse que meu nome é uma versão masculina do nome da deusa Gaia. Nunca estudei muito sobre isso, mas ela sempre disse que eu me parecia com o que essa deusa representa, por isso o escolheu para mim.
— Talvez, sua mãe estivesse certa — e apertou os olhos com um sorriso leve de boca fechada.
— Senhor Marvel, por favor, sente-se conosco para brindar — sugeriu meu irmão.
— Obrigado, Marcus! Mas, por favor, chamem-me de Maison — pediu, sentando-se na cadeira que o garçom tinha trazido.
Estávamos nós, Marcus e Aidan de um lado da mesa, Maison e eu do outro lado, e Núbia entre nós quatro. Aidan encheu a taça de Maison de champanhe e ergueu a sua, dizendo:
— Parabéns, Gaius! Hoje, você atinge a maturidade. Queremos desejar a você felicidades, mas não se esqueça de não aprontar muito. Ah, os meus dezoito! Saúde a todos!
Graças a Deus que ele não me fez nenhum vexame dessa vez!
Rimos, brindamos e bebemos. Maison dizia que morava em Madri, e que estava em Nova Iorque apenas para um congresso de banqueiros. E, ainda, que ficaria apenas mais uma semana na cidade, e logo voltaria à Espanha. Núbia perguntou em qual banco ele trabalhava, e meus ouvidos foram agraciados com a resposta.
— Sou vice-presidente do Banco de Madri.
Uau! O cara é dono de um banco privado, e ainda está me cortejando. Estou gostando disso, meu Deus!
Olhei para ele e sorri. Ele retribuiu. Nisso, meus olhos viram a testa franzida de Aidan mais uma vez. O que será que ele está pensando? Maison aproveitou que Núbia, Aidan e Marcus conversavam para se dirigir somente a mim.
— Espero que não tenha sido grosseiro em enviar o champanhe. Vi que você bebia um drink, mas não sabia o que enviar a um homem tão belo.