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O Escritor (Português Do Brasil)
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— Estranho... Vamos tentar chegar mais perto.

A cápsula número seis se moveu lentamente na direção do estranho objeto, que parecia emergir da camada de pó e areia cinza.

— Ampliação máxima — ordenou Azakis. — Mas o que é?

— Pelo pouco que consigo ver, parece parte de uma estrutura artificial — Petri tentou chutar.

— Artificial? Acho que ninguém de nós já instalou alguma coisa na Lua.

— Talvez foram os terráqueos. Acho que li algo sobre terem feito várias expedições para este satélite.

— O que é verdadeiramente estranho é que nossos sensores não estão captando nada do que nossos olhos estão vendo.

— Não sei o que dizer. Talvez a explosão os danificou.

— Mas se acabou de fazer um teste e tudo está funcionando — Azakis respondeu, perplexo.

— Então essa coisa que estamos vendo deve ser feita de um material desconhecido, e portanto nossos sensores não conseguem analisar.

— Está tentando me dizer que os terráqueos foram capazes de inventar um composto que nem nós conhecemos, trouxeram aqui e construíram uma base ou alguma coisa com ele?

— E mais, nós até destruímos para eles — Petri comentou, desolado.

— Nossos amigos continuam a nos surpreender, não?

— Verdade... Bom, demos uma olhada por aqui. Acho que devemos esquecer isso por enquanto. Temos coisas mais importantes para fazer agora. O que você diz, chefe?

— Acho que está absolutamente certo. Considerando que não parece restar mais nada utilizável da Theos, acho que podemos partir.

— Rumo à Terra?

— Vamos voltar ao acampamento da Elisa e tentar usar o H^COM para contatar Nibiru.

— E nossos companheiros de viagem? Não podemos deixá-los assim aqui — disse Petri.

— Temos que organizar uma base de apoio na Terra. Poderíamos montar uma espécie de acampamento próximo ao dos nossos amigos.

— Me parece uma boa ideia. Devo informar ao restante da tripulação?

— Sim. Forneça as coordenadas do sítio de escavação e peça para organizarem os preparativos de uma estrutura de emergência. Vamos descer lá primeiro e começar, entrando em contato com os Anciãos.

— Vamos indo! — Petri disse alegremente. — E pensar que, até agora há pouco, estava ficando preocupado em como ia superar o tédio da viagem de volta.

Ao mesmo tempo, a uma distância de aproximadamente 500 U.A. do nosso sol, um estranho objeto ovalado surgiu praticamente do nada, antecedido por uma faixa de relâmpago azul que rasgou a escuridão absoluta do espaço. Moveu-se em linha reta por quase cem mil quilômetros a uma velocidade incrível, antes de desaparecer de novo, engolido por uma espécie de vórtice prateado com reflexos dourados. A totalidade do evento durou apenas alguns segundos, e depois, como se nada tivesse acontecido, aquele lugar tão remoto e desolado, nas profundezas do espaço, mergulhou de novo na tranquilidade absoluta em que esteve submerso até então.

Tell-el-Mukayyar – Contato com Nibiru

— Sim, Coronel — disse uma voz polida do outro lado da linha. — Recebemos relatórios, de vários pontos de observação na Terra, sobre um clarão artificial supostamente emitido pela Lua.

— Mas a Lua não emite "clarões" — Jack disse, contrariado.

— Tem razão, Senhor. Tudo o que posso afirmar é que nossos cientistas ainda estão analisando os dados que recebemos para poder identificar quem ou o quê provocou esse acontecimento.

— Portanto, basicamente, não tem a menor ideia do que foi aquilo.

— Bem, eu não colocaria dessa forma, mas acho que a sua conclusão é justa.

— Escuta só esse cara — disse Jack, voltando-se para Elisa, que se aproximou, enquanto ele cobria o microfone do celular com a mão. — Ok. Obrigado pela informação — continuou. — Assim que tiver mais notícias, por favor me chame imediatamente.

— Sim, Senhor, com prazer. Até logo, tenha um bom dia — e terminou a conversa.

— O que disseram? — perguntou a doutora.

— Parece que algo estranho realmente aconteceu, mas ninguém achou uma explicação decente ainda.

— Estou cada vez mais convencida de que alguma coisa aconteceu aos nossos amigos.

— Ora, não diga isso. Com aquela espaçonave fantástica, sabe lá até onde chegaram a essa altura.

— Espero que sim, de verdade, de todo coração, mas ainda tenho um pressentimento estranho.

— Ouça, para eliminar qualquer dúvida, por que não usamos aquela coisa que nos deram e tentamos contatá-los?

— Não sei... Eles disseram que somente conseguiríamos usar depois que chegassem ao seu planeta... Não acho que...

— Vamos, traga para cá... — o Coronel a interrompeu. Então percebendo que talvez tivesse sido meio brusco, acrescentou gentilmente um "por favor", seguido de um sorriso cintilante.

— Ok. Na pior das hipóteses, não vai funcionar — disse Elisa enquanto ia pegar o H^COM portátil. Voltou quase imediatamente, e depois de arrumar um pouco os longos cabelos, colocou o grande e estranho capacete.

— Ele disse para apertar esse botão aí — disse Jack indicando o botão. — Assim o sistema vai fazer tudo sozinho.

— O que devo fazer, apertar? — Elisa perguntou, hesitando.

— Vá em frente, que acha que vai acontecer?

A arqueóloga pressionou o botão, e exagerando um pouco a sua fala, disse: — Alô? Tem alguém aí?

Esperou, mas não recebeu resposta. Esperou mais um pouco e então tentou de novo. — Alô... Alô... Petri, está aí? Não consigo ouvir nada.

Elisa esperou mais alguns segundos e então abriu os braços e encolheu os ombros.

— Aperte o botão de novo — o Coronel sugeriu.

Eles repetiram esse processo várias vezes, mas o sistema de comunicação não emitiu nem um rumorejo sequer.

— Não há nada a fazer. Talvez algo realmente aconteceu a eles — sussurrou Elisa enquanto removia o H^COM da cabeça.

— Ou quem sabe ainda não chegaram dentro do raio de ação dessa coisa.

O Coronel não havia terminado a última frase quando um som esquisito do lado de fora chamou a atenção dos dois.

— Jack, veja — Elisa exclamou surpresa, enquanto olhava para fora da tenda. — As esferas... Estão sendo reativadas.

Com o coração na garganta, ambos correram para fora, e para o espanto deles, avistaram a pirâmide virtual de pouso que estava se formando de novo. Seus amigos estavam retornando.

— Viu, eles não explodiram — disse Jack, bastante animado.

— Talvez esqueceram alguma coisa.

— O importante é que estão bem. Vamos tentar ficar calmos. Logo saberemos o que de fato aconteceu.

O procedimento de pouso continuou sem transtornos, e num instante, as grandes figuras dos dois alienígenas apareceram na plataforma de descida.

— Olá, gente — berrou Petri, acenando com a sua grande mão.

— Que diabos estão fazendo aqui de novo? — perguntou Jack, enquanto os dois alienígenas eram transportados para o nível do solo pela estrutura móvel.

— Estávamos com saudades — respondeu Petri, saltando daquela espécie de elevador, antes mesmo que tocasse o chão, imediatamente seguido pelo companheiro de viagem.

— Estávamos preocupados — disse Elisa, finalmente tranquila. — Presenciamos um estranho evento na Lua há poucos instantes e realmente tivemos receio de que algo terrível tivesse acontecido a vocês.

— Infelizmente, minha cara, algo terrível aconteceu de verdade — disse Azakis desolado.

— Até que enfim, eu sabia — Elisa exclamou. — Uma vozinha lá dentro ficava me dizendo isso. Mas o que foi?

— Tudo aconteceu muito de repente.

— Então, vai contar pra gente? Ah, não nos deixem aflitos. Nos conte tudo, agora.

— Nossa espaçonave se foi — Azakis anunciou de uma só vez.

Os dois terráqueos se olharam por um momento, completamente chocados. Então Jack disse: — Está de brincadeira? O que quer dizer "se foi"?

— Quer dizer que, nesse instante, o maior pedaço da Theos caberia facilmente na ponta do seu dedo indicador.

— Mas o que se passou? E o resto da tripulação, onde está? Estão todos bem?

— Sim, estão, obrigado. Nesse momento, estão nas outras três cápsulas e em breve chegarão aqui também. Se não se importarem, vamos montar uma estrutura de emergência aqui e nos organizar de algum jeito.

— Mas é claro, não tem problema — disse Jack. — Daremos toda a ajuda possível. Não precisa nem pedir.

— Então, — Elisa deixou escapar, não conseguindo mais segurar a curiosidade. — Vai nos contar, sim ou não, que raios aconteceu lá em cima?

— É uma longa história — disse Azakis, se sentando num balde de lata virado. — É melhor se sentarem.

Após cerca de dez minutos, o alienígena basicamente contou a eles a história toda. Desde a perda do sistema de controle remoto, até a tentativa para desativá-lo. Da irresponsabilidade de desistir de recuperá-lo, até a reativação repentina do instrumento que então iniciara o processo de autodestruição.

— Mas é apavorante — disse Elisa, horrorizada. — Quem seria capaz de provocar um desastre como esse?

— Provavelmente, — disse Azakis, — alguém deve ter encontrado o estranho objeto e estudado suas funções. Então devem ter achado alguma informação no meio de todos os dados que carregamos nos seus servidores, e de alguma maneira, conseguiram ligar de novo, causando o resultado que agora conhecemos.

— Santo Deus! — exclamou o Coronel, aborrecido. — Parece uma história tão absurda... E sabendo dos perigos de um dispositivo como esse, não fizeram nada para recuperá-lo?

— Foi minha culpa — disse Petri, juntando-se à discussão. — Achei que tinha desativado completamente e mesmo se fosse encontrado, nenhum terráqueo seria capaz de reativá-lo.

— E ainda assim, isso aconteceu — disse Jack. — Tem alguma ideia de onde o perdeu?

— Nós honestamente pensamos que havíamos perdido enquanto recuperávamos o cristal Zenio, mas é mais provável que foi parar em outro lugar, com mais gente. Não havia absolutamente ninguém lá em baixo.

— Zak, tive uma ideia — disse Petri, se levantando. — Acho que se eu trabalhar um pouco nisso, poderei voltar atrás e rastrear o momento em que o controle remoto foi desenganchado do seu cinto.

— Não é tão importante assim agora, mas devo admitir que também estou um pouco curioso.

— Ótimo. Primeiramente, vamos informar os Anciãos sobre a nossa situação e assim que estivermos um pouco organizados, vou tentar recuperar essa informação.

— Elisa — disse Azakis. — Infelizmente, o único H^COM que tínhamos foi destruído junto com a Theos. Você poderia nos fazer o favor de emprestar aquele que deixamos com vocês quando estávamos partindo?

— Você quer dizer, o capacete? Claro. Vou já pegar para você.

— Infelizmente, a situação é grave — sussurrou Azakis para o Coronel, assim que Elisa estava longe suficiente para não ouvir. — Mesmo se conseguirmos contatar os Anciãos, as chances de voltar ao nosso planeta são praticamente nulas agora.

— Mas não podem mandar alguém para vir buscá-los? Zaneki não tem uma nave como a sua?

— Infelizmente, os motores instalados na nave dele são consideravelmente menos potentes que os que tínhamos na nossa. É por isso que ele precisava partir imediatamente depois da passagem de Kodon. Se não tivesse feito isso, não conseguiria alcançar mais Nibiru, que estava indo embora rapidamente. Nós conseguimos ficar aqui por mais tempo precisamente por causa dos nossos motores experimentais. Infelizmente, a Theos era a única nave da nossa frota com esse tipo de motor. A produção e a instalação de mais dois novos como esses pode levar muito tempo. Muito do "nosso" tempo.

— Quer dizer, teriam que ficar aqui até a próxima passagem de Nibiru?

— Aqui está — disse Elisa voltando às pressas na direção deles.

— Infelizmente sim, Jack — sussurrou Azakis, enquanto se levantava para pegar o capacete do H^COM que a arqueóloga estava entregando a ele.

— Obrigado, Elisa — disse o alienígena ao colocá-lo na cabeça. — Vamos ver se funciona.

— Na verdade nós tentamos, mas não conseguimos falar com ninguém.

— Isso é obra do meu amigo — comentou Azakis olhando para Petri. — Não faz nada que funcione.

— Gentil como sempre — disse Petri, sério. — Vou me lembrar disso quando me pedir para consertar seu banheiro.

— Ah sim, — exclamou Elisa sorrindo. — Me lembro bem como seus banheiros funcionam. Uma experiência verdadeiramente inesquecível.

Os quatro explodiram em risadas, ao fim das quais, Petri tirou o capacete das mãos de Azakis e disse: — Espere, seu velho ingrato. Primeiro preciso mudar uma configuração. O sistema foi programado para nos chamar na pobre Theos e não acho que ninguém vai responder de lá agora.

O alienígena mexeu um pouco nos controles do H^COM portátil, e então, quando ficou satisfeito com seu trabalho, passou de volta ao companheiro, dizendo: — Tente agora. Felizmente a minha memória não tem me falhado, e fui capaz de configurar para que lhe conecte com a pessoa certa.

Azakis não duvidou da memória do amigo nem um instante, e colocou o capacete na cabeça. Apertou o botão de iniciar e esperou pacientemente. Levou quase um minuto até a imagem tridimensional do rosto ossudo do Ancião da sua linha direta ser projetada na retina dos seus olhos já cansados.

— Azakis, que bom vê-lo — disse o seu contato de cabelos brancos, erguendo o fino braço direito em saudação. — Mas da onde está me chamando? Sua imagem está um pouco estranha e bem distorcida.

— É uma longa história — respondeu o alienígena. — Estou usando um dispositivo provisório para comunicação de longa distância.

— Mas não está na sua nave? Não me diga que ainda não partiram. Você sabe que o tempo limite para nos alcançar quase esgotou, não sabe?

— É exatamente sobre isso que queria falar — ele fez uma breve pausa para tentar escolher as palavras mais apropriadas e continuou: — Houve um imprevisto... A espaçonave se foi.

— Se foi? O que quer dizer?

— Explodiu. O sistema de autodestruição foi ativado, e conseguimos escapar a tempo, antes de tudo explodir em mil pedaços.

— Mas somente você poderia ativar esse procedimento com o seu sistema pessoal de controle remoto. Como algo assim pôde acontecer? — perguntou o Ancião, atônito.

— Houve uma série de determinados eventos, e devo tê-lo deixado cair.

— E alguém achou e ativou no seu lugar?

— Ainda não conseguimos determinar o que realmente aconteceu, mas isso é bem provável.

— E agora? Como pretende voltar para cá?

— É por isso que entramos em contato. Nós precisávamos de uma solução boa e rápida para esse probleminha.

— Probleminha? — respondeu o Ancião, saltando de pé com uma agilidade surpreendente. — Percebe o que está dizendo? Seu prazo está quase no limite. Já deviam ter partido e está dizendo que a Theos não existe mais e que estão praticamente presos na Terra. O que faremos agora?

— Bem, realmente não sei. Vocês são os Anciãos. Confiamos que, com sua experiência e sua sabedoria infinita, serão capazes de nos ajudar a sair dessa situação.

O idoso homem sentou-se de novo, deixando o seu peso cair na poltrona cinza e macia, depois apoiou os cotovelos na mesa em frente e colocou as mãos nos longos cabelos brancos, ficando em silêncio total. Permaneceu imóvel por alguns segundos, depois ergueu o olhar novamente e disse: — Vou tentar convocar o Conselho imediatamente e colocar todos os nossos melhores Especialistas para trabalhar. Espero poder dar notícias boas a vocês em breve — e terminou a comunicação.

Pasadena, Califórnia – O nerd

— É só isso? — exclamou o sujeito grandão, definitivamente obeso, enquanto observava o estranho dispositivo que o jovem nerd estava segurando. — Não vai dizer que nos fez esperar mais de um mês só para nos mostrar essa coisa piscando.

— Posso garantir que está funcionando — respondeu o garoto, aterrorizado. — Na verdade, acho que já fez o que devia, conforme foi projetada.

— Sim, mas vai nos contar o que é que fez? — o magrelo alto berrou ao pular de pé. — Agora estou realmente perdendo a paciência.

No porão repleto de equipamentos, monitores e computadores de todos os tipos, iluminado por uma fraca luz led que se refletia nas paredes gastas, o rosto macilento do garoto parecia mais pálido do que na realidade era.

— Escute aqui, se não contar para que serve, juro que farei você engolir essa coisa inteirinha — exclamou o gordo, segurando o nerd pelo pescoço.

— Mas te disse — respondeu o garoto, ainda mais assustado. — É um sistema para ativar um procedimento à distância.

— Mas que procedimento? Qual? — o gordo continuou, enquanto sacudia o garoto como se estivesse chacoalhando Margaritas.

— Não sei bem — o jovem tentou responder. — Mas acho que ativamos algo bem peculiar e perigoso, tendo em vista os sistemas de proteção que precisei contornar.

— Explique — disse o gordo, ainda sacudindo o garoto.

— Se me soltar, vou te mostrar.

— Ok. Mas seja convincente, senão o maior pedaço de você que restar só será visível por microscópio.

O garoto endireitou a sua camisa, arrumou os longos cabelos que não eram lavados há um bom tempo e foi até o posto de trabalho com dois teclados e uma série de computadores desmantelados pela metade. Ele digitou rapidamente vários comandos incompreensíveis, e depois de alguns segundos, uma imagem tridimensional do estranho objeto que lentamente revolvia sobre si mesmo apareceu num monitor gigantesco pendurado no teto.

— Este é o nosso misterioso controle remoto.

— Ah, agora virou um controle remoto?

— Bom, considerando a sua função, acho que seguramente podemos chamá-lo assim.

— Prossiga — disse o magrelo, enquanto se acomodava numa cadeira maltrapilha, para poder observar melhor o grande monitor.

— Certo, o maior problema era como reativá-lo. Tive muitas dificuldades, porque provavelmente, além de estar desligado, o dono não queria que ninguém jamais ligasse de novo.

— Viu, não foram as pilhas que pifaram, seu tonto — exclamou o gordo, falando com o seu comparsa.

— Não, não há pilhas dentro — o nerd continuou. — Acho que funciona por meio de uma fonte externa de alimentação, uma espécie de fluxo eletromagnético, que é capaz de captar e transformar em energia pura.

— Interessante — o magrelo comentou. — Mas qual é o alcance?

— Teoricamente, talvez centenas de milhares de quilômetros.

— Diacho — o gordo exclamou enquanto segurava o estranho objeto na mão. — Está dizendo que essa coisinha seria capaz de transmitir um sinal daqui para a Lua?

— Acho que sim, e provavelmente já fez isso.

— E o que deve ter transmitido?

— Aí é que vem a parte interessante — continuou o garoto, enquanto trazia uma nova imagem para o grande monitor. — Esses são os símbolos que apareceram na frente dele depois de ser reativado.

— Parece um tipo de linguagem antiga — comentou o magrelo. — Tenho certeza que já vi antes.

— De fato, é cuneiforme. Os sumérios a usavam há milhares de anos antes de Cristo.

— E como foi parar num instrumento tecnológico tão avançado?

— É a linguagem dos nossos visitantes alienígenas.

— Está dizendo que aqueles brutamontes que nos capturaram falam cuneiforme? — perguntou o gordo, um pouco surpreso.

— Bem, — o garoto tentou explicar, — não se fala cuneiforme, exatamente. É um tipo de escrita. Mas acho que é a linguagem deles.

— E conseguiu traduzir?

— Na verdade, para enviar o comando, tive de inserir uma espécie de senha. Na prática, ao tocar os símbolos na ordem correta, acessei o modo operacional.

— Basicamente, igual ao sistema de desbloquear o celular?

— Sim, mais ou menos — disse o nerd sorrindo, contente que os dois sujeitos finalmente compreenderam o que ele estava falando.

— Você fez um trabalho excelente — disse o gordo, parecendo satisfeito.

— Sim, mas ainda não entendemos a função real dele — retrucou o magrelo, meio decepcionado.

— Eu poderia arriscar um palpite que acho que seria bem realista — disse o garoto, de mansinho.

— Então, está esperando o quê? Fale — respondeu o gordo, movendo-se a alguns centímetros do nariz do outro.

— Acho que é um sistema para ativar o procedimento de autodestruição de uma espaçonave, incluindo sabe lá mais quantas funções.

Os dois comparsas se olharam surpresos por um instante, e então, como se alguém lhes tivesse dado o presente mais maravilhoso do mundo, o mais gordo exclamou: — Por favor, me diga que os mandamos pelos ares.

— Com toda a probabilidade, os alienígenas tiveram tempo de se salvarem, mas seu veículo deve ter tido um fim terrível.

— Filho, você é um gênio — exclamou o gordo. Então ele retirou um pendrive USB do bolso, e acrescentou: — Ponha todos os dados que têm dessa coisa e depois cancele tudo. Se descobrirmos que guardou um único byte...

— Eu sei, eu sei. Vão fazer picadinho de mim.

— Muito bem. Sabia que era um cara esperto.

O processo de copiar durou apenas alguns segundos. Então, depois de remover o pendrive USB do computador, o nerd entregou ao gordo, que rapidamente arrancou de suas mãos. Também depois de apanhar o estranho objeto e colocar ambos no bolso direito das calças, ele disse ao seu cúmplice: — Vamos andando, meu velho, talvez nossos sonhos estejam prestes a se concretizar.

Eles quase chegaram à soleira quando o jovem exclamou: — Ei, não se esqueceram de algo?

— Do que está falando? — perguntou o sujeito magrelo e alto.

— Ahh... o resto do meu dinheiro.

— Dinheiro? — respondeu o gordo. — Agradeça ao Senhor por não termos quebrado o seu pescoço — e ele bateu a porta atrás de si.

A Constelação de Touro - Planeta Kerion

A quase sessenta e cinco anos-luz da Terra, um gigante vermelho chamado Aldebaran ilumina tenuemente um planeta árido conhecido pelo nome de Kerion. Sua superfície, que atualmente apresenta apenas desertos áridos, paisagens rochosas, profundos desfiladeiros secos e mesetas lisas, nem sempre fora assim. O planeta começou o seu lento declínio há cerca de dez mil anos, quando por razões ainda desconhecidas, o fluido metálico que formava o seu núcleo começou a reduzir lenta, mas inexoravelmente, a sua velocidade de rotação, provocando uma relativa diminuição progressiva do seu campo magnético.

Hoje em dia, a atmosfera de Kerion, outrora composta essencialmente de nitrogênio e quase vinte por cento de metano, é praticamente inexistente. Na realidade, os raios nocivos da sua estrela, sem a proteção do poderoso campo magnético planetário, gradualmente a dissolveram e a reduziram para cerca de 0.1 por cento do que era no passado. Mares de hidrocarbonetos ocupavam quase metade do planeta. Lagos de metano e áreas incontáveis de água gelada estavam espalhadas pela terra acima do nível do mar, e a vida florescia luxuriante. Mas o evento catastrófico aparentemente marcou o destino de Kerion. Por milênios, seus habitantes tentaram encontrar uma solução para reiniciar o núcleo, mas sem sucesso. Desde o início do processo de desaceleração, também se aventuraram em viagens interestelares arriscadas e extremamente longas, à procura de um planeta similar, para onde poderiam se deslocar, mas nenhuma dessas missões jamais obteve êxito.

Quando os recursos vitais estavam quase acabando, eles se conformaram, mais ou menos, com a sua extinção inevitável, quando uma das mentes mais brilhantes do planeta propôs o que para a maioria da população parecia ser insensatez absoluta: eliminar tudo o que podia "morrer". O Keriano em questão começou uma série de experimentos, que em poucas décadas, o levaram a extrair, o que poderíamos chamar de "almas", dos corpos materiais dos seus semelhantes, assim os libertando do seu vínculo, até então tido como indissolúvel, com o corpo físico. A própria essência de alguns voluntários era separada da matéria viva e implantada em estruturas novas, totalmente mecânicas. Isso deu origem a novas espécies, baseadas inteiramente em corpos cibernéticos, porém equipados com a sua própria inteligência e essa essência cósmica chamada de alma, ou mais simplificadamente, vida.

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