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História Dos Lombardos
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2. Desta ilha, fala também Plinio Segundo nos seus livros sobre a natureza das coisas. Ela, como nos contam aqueles que a visitaram, não é sobre o mar, mas é circundada por ondas marinhas, estas penetram no interior da terra, favorecida pelo baixo nível das suas costas. As populações se estabeleceram ali, muito prolíficas, não podendo mais habitá-las todas juntas, se dividem, como é contado, em três partes, e com o sorteio escolheram quem devia deixar a terra dos pais.

3. Assim, aquela parte a quem tocou a sorte de ter que abandonar o seu país e procurar terras estrangeiras, foram dados dois chefes, Ibore e Aione. Dois irmãos jovens, florentinos e os mais fortes de todos. Saudaram a todos juntos aos seus caros e a terra dos pais, depois saíram em marcha para encontrar novas terras para morar e estabelecer a própria base. Entre eles, estava a mãe dos dois líderes, se chamava Gambara, mulher de grande talento e que provia a aconselhar e fornecer sabedoria. Nos momentos de incerteza, eles contavam com ela, sempre.

4. Não pretendo me afastar do assunto tratado, se por algum tempo inverto a ordem da narrativa e conto, em breve, até que a minha pena se encontre na Alemanha, por um prodígio, que lá é conhecido por todos, além de qualquer outra coisa. Nos extremos territórios da Alemanha, na direção do norte, nas margens do Oceano, sob um alto penhasco, se encontra uma cavidade onde sete homens, não se sabe há quanto tempo, repousam adormecidos em um longo sono, íntegros não só no corpo mas também nas roupas, exatamente porque resistem sem serem corrompidos depois de tantos anos, são objeto de veneração, por parte daquelas pessoas incultas e bárbaras. Eles, naquelas roupas, parecem Romanos. De tal forma levados pela ganância, quiseram despir um e pelo que se conta, logo secarem-se os braços. Esta punição apavorou os outros, assim ninguém ousou mais tocá-los. Pode-se imaginar, por qual motivo a divina Providência os conserva intactos por tantas estações, talvez porque um dia, acha-se que por serem apenas cristãos, acordando, com a sua pregação levarão a salvação àqueles povos.

5. Perto deste lugar, moravam os Scritobinos. Assim se chama aquela gente que nem no verão estão livres das neves e das feras. Eles se nutrem apenas de carne crua dos animais selvagens e com as suas peles ásperas tentam se cobrir. Fazem derivar o seu nome de um vocábulo que na sua linguagem bárbara significa “saltar", de fato, dão a caça às feras, correndo em saltos, sobre madeiras curvas com uma certa arte em forma de arco. Perto deles, vive um animal parecido com o cervo, eu mesmo vi uma roupa feita com a sua pele, deixada áspera com pelos como era sobre o animal, era semelhante a uma túnica, longa até os joelhos como eles usam da forma que me foi referido. Nestes lugares, nos dias de solstício de inverno, apesar de ter a luz do dia, o sol nunca é visto e os dias são curtíssimos, mais que em qualquer outro lugar e as noites mais longas. De resto, tanto mais nos afastamos do sol, tanto mais se está mais baixo no horizonte, as sombras se alongam. Na Itália, como escreveram os antigos, no dia de Natal, a sombra do corpo humano mede nove pés, eu na Gália Belgica, em um lugar chamado Villa di Tatone, medindo a minha sombra a encontrei com dezenove pés e meio. Assim, ao contrário, quanto mais nos aproximamos do sol, indo para o sul mais as sombras se tornam curtas, a ponto que durante o solstício de verão, quando o sol está a meio céu, no Egito, em Jerusalém e nas regiões próximas, não se veem sombras. Na Arábia, no mesmo período, o sol é visto além da metade do céu, no sentido setentrional e, por consequência, as sombras estão voltadas para o sul.

6. Não muito longe da costa do que falamos antes, na direção do ocidente, onde o Oceano se estende sem fim, há aquele profundíssimo abismo de água que normalmente é chamado "umbigo do mar”, dizem que duas vezes por dia engole as ondas do mar e duas vezes as rejeita, como é demonstrado pela rapidez da maré naquelas praias. Um abismo parecido ou vórtice é chamado, pelo poeta Virgilio, Cariddi; ele o põe no estreito da Sicília e o descreve assim:

Ocupa o lado direito da Sicília, o esquerdo a inabalável Cariddi e três vezes do profundo vórtice da imensidão engole as grandes ondas em seu abismo e de novo o ar e volta a atirar-se, flagelando com as ondas as estrelas.

Do vórtice que falamos antes, é dito que arrasta violentamente os navios, tão rápido a ponto de igualar o voo das setas através do ar, tanto que às vezes se perdem sem escapar naquele horroroso abismo. Geralmente, em vez disso, enquanto já estão para serem submersos, são rejeitados para longe da água de forma imprevista e com a mesma velocidade com a qual as sugou. É dito que um outro vórtice semelhante se encontra entre a ilha Britânica e a Gália, isto é confirmado por aquilo que acontece nas praias da Sequania e da Aquitania. Estas duas vezes por dia são submersas inesperadamente, tanto que se alguém é surpreendido um pouco longo da costa, consegue escapar com dificuldade. Podem ser vistas as águas dos rios daquelas regiões subirem rapidamente na direção da fonte por muitas milhas e as águas doces tornarem-se amargas. A ilha de Evodia está a trinta milhas das praias da Sequania, mas os seus habitantes afirmam ouvir o barulho das águas que são descarregadas naquelas de Cariddi. Ouvi falar por uma pessoa que desfruta de grande estima entre os Galeses que muitos navios que foram levados por uma tempestade, acabaram sendo engolidos por este vórtice. Um apenas daqueles homens que se encontrava em um daqueles navios conseguiu se salvar, foi encontrado flutuando ainda vivo, único entre os seus, arrastado pelas violentas correntes na direção do precipício, chegou à beira daquele terrível abismo, já morto de medo, viu aquele buraco enorme profundíssimo sem fim, quando já tinha perdido a esperança foi jogado contra uma pedra, onde se agarrou. Toda a água tinha fluído no turbilhão deixando descoberto o fundo do mar e enquanto ele esperava angustiado e cheio de medo pelo fim inevitável, inesperadamente, viu aparecer grandes montanhas de água, elas subiam do fundo; em primeiro lugar, viu ressurgir os navios que tinham sido engolidos, assim quando um lhe chegou perto, ele se segurou com todas as forças. Em um instante, rapidamente, ele voou próximo à costa, assim fugiu da cruel sorte e pode em seguida contar o perigo que correu. Ainda no nosso mar, o Adriático, mesmo se em modo menor, invade as praias das Venezas e de Istria, assim podemos pensar que haja redemoinhos, claro pequenos e escondidos, que engolem e rejeitam as águas adriáticas e dos outros mares itálicos. Depois de ter referido estas coisas, é hora de retomar a narrativa.

7. Sob a guia de Ibore e Aione, os Winili saíram da Escandinávia e chegaram em uma região chamada Scoringa, onde pararam por alguns anos. Naquele tempo, Ambri e Assi, líderes dos Vândalos, incitavam com guerras contínuas todas as populações próximas. Encorajados pelas muitas vitórias, mandaram aos Winili mensageiros com a solicitação de um tributo, dando como alternativa a guerra. Assim, Ibore e Aione, levados pela mãe Gambara, decidiram que era melhor defender a liberdade com as armas do que aceitar a infâmia de pagar o tributo. Deste modo, mandaram mensageiros com a resposta aos Vândalos, esta dizia que combateriam em vez de submeter-se. Naquele tempo, os Winili estavam todos na flor da idade juvenil mas escassos em número, pois eram só um terço de um povo que vive em uma ilha não muito grande.

8. A este ponto, os antigos contam uma fábula ridícula. Os Vândalos ficaram com Godan para pedir a vitória sobre os Winili, mas o Deus respondeu que teria dado a vitória àqueles que tivessem visto em primeiro lugar o nascer do sol. Gambara em vez disso, ficou com Freia, mulher de Godan, e pediu a vitória para os Winili, a deusa deu-lhe um conselho: disse que as mulheres deviam soltar os cabelos e ajustá-los em torno ao rosto como uma barba, depois tinham que se unir aos homens e dispor-se com eles na batalha em um lugar onde fossem visíveis por aquela janela por onde Godan costumava olhar para o oriente. Assim, os Winili fizeram e, ao nascer do sol, Godan viu as mulheres arrumadas daquele modo e não vendo o engano, perguntou à sua mulher: «Quem são aqueles Longobarbas?». Então Freia lhe pediu para dar a vitória àqueles a que tinha apenas dado o nome. Assim, Deus deu a vitória aos Winili. São coisas de pouca conta e ridículas, onde a vitória não é mérito do valor dos homens mas esbanjada pelos Deuses.

9. De todo modo, é certo que, daquele momento, os Winili foram chamados Longobardos exatamente pela particularidade da sua longa barba nunca cortada. Do resto na sua língua“lang”, significa longa, e “bard”, barba.

Wotan, que ao mudar uma letra torna-se Gotan, é o mesmo que os Romanos chamam Mercúrio e é adorado como Deus por todos os povos da Germânia. Remonta antigamente que este Deus não estivesse na Germânia mas na Grécia.

10. Assim os Winili, chamados também Longobardos, atacaram em batalha, com fúria, lutando pela glória de serem livres, conquistaram a vitória.

Sucessivamente, atingidos pela carestia naquela província chamada Scoringa, perderam muito da sua coragem.

11. Emigrando daquelas regiões, enquanto se preparavam para entrar em Mauringa, encontraram o caminho fechado pelos Assipittos, estes estavam decididos a não permitir o trânsito nas suas terras sob qualquer condição. Os Longobardos, visto o grande número de inimigos e o seu exíguo exército, não ousaram entrar em batalha. Decidindo assim o que fazer, na necessidade, planejaram um estratagema, fizeram acreditar aos inimigos de ter no próprio campo dos Cinocefalos, homens com a cabeça de cachorro, que combatem sem parar e bebem o sangue dos inimigos mortos ou, no caso de não conseguir apoderarse de um inimigo, matam a sua sede com o próprio. Para dar crédito a estas vozes, ampliam o campo e as tendas, além de acender muitíssimos fogos. Os inimigos caíram no engano e não ousaram mais tentar a sorte naquela guerra que antes a procuravam.

12. Os Assipittos, todavia, tinham entre si um guerreiro considerado fortíssimo e com este fortíssimo campeão queriam obter a vitória. Proporam então aos Longobardos escolher um verdadeiro campeão para medir-se em duelo com eles. O pacto firmado era que se tivesse vencido o guerreiro Assopitto, os Longobardos, teriam voltado sobre os seus passos renunciando a passar por aquelas terras; se vencesse, o Longobardo teria o caminho livre. Os Longobardos estavam incertos sobre o qual escolher entre eles para mandar contra aquele fortíssimo guerreiro. Assim, uma tal condição servil, se ofereceu para combater por conta dos Longobardos contanto que a ele e a todos os seus descendentes fosse retirada a mancha da escravidão. O que dizer mais? Os Longobardos, reconhecidos aceitaram e prometeram conceder-lhes o que ele solicitava. Ele, ao sair das filas longobardas, enfrentou o inimigo, obteve o direito de passagem para os Longobardos e por si e os seus caros, a liberdade.

13. Ao chegarem finalmente em Mauringa, os Longobardos decidiram retirar a escravidão a muitos para aumentar o número de combatentes. A elevação destes ao estado de homens livres previa uma cerimônia com o presente de uma flecha e o murmuram de uma antiga fórmula na língua de seus pais. Depois deste ato, saíram da Mauringa e entraram em Golanda onde pararam por algum tempo, diz-se aliás que pararam por algum tempo, alguns anos. Ocuparam Anthab, Banthaib e Vurgundaib, podemos considerar que são vilas ou locais de pouca importância.

14. IV (quarto) século. Mortos no meio tempo Ibore e Aione, que tinham guiado os Longobardos fora da Escandinávia e governado até este ponto, não querendo ser submetidos só aos Duques imitando as outras estirpes germânicas, elegeram um seu Rei. Reinou primeiro Agelmondo, filho de Aione, traía a sua dignidade dos Gugingos, uma estirpe que entre eles era a mais nobre. Os avos persistiram pois ele reinou por trinta e três anos.

15. Naquele tempo, uma meretriz, que tinha dado à luz sete crianças, mãe cruel mais que uma fera, jogou-os em uma lagoa para deixá-los morrer. Se isto parece estranho e alguém acredita ser impossível, releia os escritos dos antigos onde encontrará que não só sete, mas também nove crianças foram geradas de uma só vez, isto foi típico principalmente entre os Egípcios. O Rei Agelmondo, passando por aquela lagoa, vendo as pobres crianças, parou o cavalo e com a lança tentou removê-los, um deles alongou a mão e segurou a haste do Rei. Agelmondo, profundamente atingido, declarou que se tornaria um grande e depois de tirá-lo da água o confiou aos cuidados de uma ama, deu também a ordem que fosse criado com todos os cuidados e visto que tinha sido retirado de uma lagoa, que na sua língua se diz “lama”, deu-lhe o nome de Lamissione. Crescido, Lamissione tornou-se corajoso e também o mais valoroso na guerra, tanto que se torna regente com a morte de Agelmondo. Conta-se que um dia, enquanto os Longobardos estavam em marcha com o seu Rei, chegando nas margens de um rio, ali encontraram o passo bloqueado pelas Amazonas. Lamissione se jogou no rio e foi combater com a mais forte delas, a matou e conquistou glória para si e a passagem para os Longobardos. Tinha, de fato, sido estabelecido um pacto entre os dois exércitos, se as amazonas tivessem vencido Lamissione, os Longobardos teriam se retirado do rio, se em vez disso, tivesse vencido Lamissione, os Longobardos teriam tido o direito de atravessar o rio. Todavia, a cronologia desta narrativa parece pouco crível, quem conhece as histórias dos antigos sabe que a estirpe das Amazonas foi exterminada tanto tempo antes e que era colocada em locais diferentes destes. Considerando porém que as antigas histórias foram conservadas com dificuldade e de modo vago e impreciso, pode-se supor que uma parte delas continuou a existir naquelas remotas terras selvagens da Alemanha. Do resto também eu ouvi dizer que nas remotas regiões internas da Alemanha ainda hoje vive uma tribo destas mulheres.

16. Atravessado o rio, os Longobardos alcançaram novas terras e ali moraram por algum tempo. Como aqueles locais eram tranquilos e sem suspeita de más surpresas, se tornaram menos atentos e negligenciaram a segurança, coisa que é sempre mãe de calamidades e que trouxe-lhe uma desventura não pequena. De fato, à noite, enquanto todos repousavam relaxados e sem nenhuma precaução, inesperadamente caíram sobre eles os Burgúndios. Muitos foram feridos e muitos outros abatidos, como também o Rei Agelmondo, além disso arrastaram em escravidão a única filha.

17. Depois desta desfeita, pensaram em recuperar as forças, pois os Longobardos deramse como Rei aquele Lamissione de quem tínhamos falado. Este último, com o ardor da idade juvenil, estava pronto a medir-se em guerra para vingar a morte de Agelmondo, aquele que o tinha criado. Voltou assim as armas contra os Burgúndios, mas no primeiro confronto os Longobardos voltaram as costas ao inimigo e se refugiaram no acampamento. Vendo isso, o Rei Lamissione, encobrindo tudo com a voz, gritou aos seus guerreiros que se lembrassem do ultraje sofrido, revendo a vergonha, como os inimigos degolaram o seu rei, de que modo tinham conduzido em escravidão sua filha, ela que eles tinham esperado ver sua rainha. Incitou-os a defender com as armas a si mesmos e os próprios caros, dizendo que é melhor morrer em batalha que suportar o escárnio dos inimigos como escravos sem valor. Gritando estas coisas, ameaçando e fazendo promessas, encorajou os ânimos para enfrentar a batalha, disse também que se tivesse visto alguém combater em condição servil, lhe teria dado além dos prêmios também a liberdade. Inflamados pelas incitações e pelo exemplo de seu chefe, que em frente a todos tinha se lançado na batalha, Longobardos irromperam fazendo massacres, assim colheram a vitória sobre os seus vencedores, vingando a morte do próprio rei e os males sofridos. Dos despojos dos inimigos mortos, recolheram também um grande saque e isto os tornou mais audazes para enfrentar os riscos da guerra.

18. Morto Lamissione que tinha sido o segundo Rei dos Longobardos, subiu ao trono Lethu. Ele reinou por aproximadamente quarenta anos e deixou ou trono para Hildehoc que foi o quarto Rei e à sua morte, o quinto foi Godehoc.

19. Naquele tempo, entre Odoacre, que há alguns anos reinava na Itália e Feleteo, chamado Feba, Rei dos Rugios, teve origem uma grande inimizade. Na época, Feleteo habitava as terras além do Danúbio, aquele que exatamente o Danúbio divide-se de Norico. Sempre naquele território, havia o mosteiro do beato Severino, que ali vivia em santa abstinência e, no tempo, já era digno de grande estima pelas suas muitas virtudes. E apesar de ter vivido naquele lugar até à morte, agora Nápoles é que conserva os seus míseros e pequenos despojos. O beato Severino tinha com frequência tinha advertido Feleteo e a sua mulher Gisa de abster-se da iniquidade, mas eles, desprezando as suas palavras, não o ouviram assim o beato previu a eles aquelas desventuras que depois os atingiram. Odoacre assim, recolhidos os povos sob o seu comando, Turcilingios, Erulos, parte dos Rugios a ele já submetidos e também outros da Illiria, entrou em Rugiland, derrotou os Rugios, realizou um massacre quase total e matou também o Rei Feleteo. Voltando para a Itália, depois de ter devastado toda a região, levou consigo muitíssimos prisioneiros, deixando aquelas terras quase desabitadas. Então, os Longobardos, aproveitando do momento, deixaram a sua região para ocupar o Rugiland. Em latim Rugiland significa "a terra avita dos Rugios”, esta era uma terra muito fértil e aqui os Longobardos moraram por muitos anos.

20. No curso destes eventos, morreu Godehoc a quem sucedeu seu filho Claffone. Morto também Claffone, que era o sétimo, subiu ao trono o filho Tatone. Abandonado também os Rugiland, os Longobardos habitaram em campos abertos, em língua bárbara chamados “feld". Há três anos, os Longobardos moravam nestas terras quando irrompeu a guerra entre Tatone e Rodulfo, Rei dos Erulos. Os dois soberanos tentaram firmar um pacto de amizade entre Erulos e Longobardos, mas acendeu-se a discórdia entre eles. A causa foi esta, um irmão do rei Rodulfo tinha vindo oferecer a paz a Tatone, concluída a missão, enquanto voltava para a sua pátria, aconteceu de passar em frente à casa da filha do Rei, Rumetruda, esta, curiosa pelo grande exército que o acompanhava, perguntou quem era o homem circundado por uma nobre corte tão importante, lhe responderam que se tratava do irmão de Rodulfo Rei dos Erulos, que depois de ter instalado a embaixada em Tatone, voltava para a pátria. Rumetruda mandou um mensageiro para convidá-lo para vir até ele, oferecendo-lhe uma taça de vinho. Ele, de coração aberto como era, aceitou. A garota, vendo que era de pequena estatura, com a arrogância que nasce do orgulho, o humilhou com palavras de escárnio, o nobre homem, ardendo de vergonha e junto à raiva, lhe respondeu com palavras que na garota provocaram uma perturbação ainda maior. Rumetruda, acesa com furor feminino, não conseguindo segurar a dor no espírito, apressou-se a continuar o mal que a sua irresponsável mente tinha concebido. Simulou sentir-se ofendida, com o vulto sorridente e doces palavras adulou o seu hóspede, o fez sentar em um lugar com as costas voltadas a uma janela que tinha feito cobrir com um tecido precioso, como para render honrarias ao seu hóspede, na realidade não queria deixá-lo suspeito. Neste ínterim, a besta feroz, tinha dado ordem aos seus servos para tomarem posição por trás da janela, e ao seu sinal, ou seja, quando ela estivesse voltada ao mordomo, tivesse ordenado «misturar» de golpeá-lo com as lanças. E assim ocorreu. Assim que aquela cruel mulher deu o sinal, as ordens cruéis foram cumpridas. O irmão de Rodulfo, atravessado pelas lanças, caiu no chão e deu seu último suspiro.

Quando foi contado a Rodulfo a cruel sorte do irmão, ele sofreu muito e se acendeu nele o forte desejo da vingança. Assim rompeu o pacto que tinha acabado de firmar com Tatone e declarou guerra. O que acrescentar a isso? O encontro ocorreu em campo aberto. Rodulfo, depois de ter implantado as suas tropas para a batalha (512 aproximadamente), certo da vitória, se retirou no seu acampamento onde jogava na mesa. Naqueles tempos, os Erulos eram treinados para a guerra e conhecidos por ter derrotado muitos povos. Os Erulos combatiam nus, tanto por serem mais ágeis quanto pelo fato de não dar importância às feridas feitas pelos inimigos; assim combatiam com coberto só aquilo que era preciso para o pudor. Rodulfo, enquanto jogava tranquilo na mesa, ordenou a um servo de subir sobre uma árvore ali próxima para comunicar-lhe do andamento da vitória. Tendo absoluta confiança nos seus, ameaçou o servo de mandar cortar-lhe a cabeça se ele ousasse dizer-lhe que os Erulos estavam em fuga. O servo, mesmo vendo logo que o exército do seu Rei se dobrava, não disse nada, aliás, interrogado sempre mais frequente pelo Rei, respondeu que eles combatiam magnificamente. Não ousou dizer nada mesmo quando viu as últimas tropas de Erulos voltar as costas aos inimigos, então mesmo se tarde, irrompeu em lamentos. «Aí de ti, miserável Erolia» disse, «que és perseguido pela ira do céu». Com estas palavras o Rei, perturbado, perguntou: «Não será em vez disso que os meus Erulos estão voltando fugindo?». E o servo: «Não eu, mas tu mesmo, oh senhor, o disseste». Assim como acontece com frequência nestes casos, incertos sobre o que fazer, colhidos de surpresa com a vinda dos Longobardos, foram massacrados. Também o Rei, mesmo realizando vãos atos de heroísmo, foi morto. No entanto, o exército dos Erulos fugia aqui e ali, disperso e a ira do céu os golpeou, eles correndo pela planície estendida, verdejante por plantas de linho, acreditaram que poderiam atravessar as águas a nado, assim tentaram atravessá-las e enquanto estendiam inutilmente os braços, foram cruelmente golpeados pelas espadas longobardas. Eles, completada a vitória, se dividiram com o grande saque no campo dos Erulos. Tatone pegou a bandeira de Rodulfo, por eles chamado “bando” e também o elmo que era comum usar na guerra. Daquele momento, os Etrulos, perderam a importância entre os povos, a ponto que não tiveram mais um Rei. Os Longobardos por sua vez, ficando mais ricos e aumentado notavelmente o exército com os povos submetidos, iniciaram a procurar outras guerras sem ser provocados e aumentar notavelmente em qualquer lugar a sua fama e o seu valor em batalha.

21. Mas Tatone não pode se alegrar muito com este triunfo, pouco depois foi enfrentado e morto por Wacone filho de seu irmão Zuchilone, assim Wacone teve que enfrentar Ildichi, filho de Tatone. Wacone derrotou também Ildichi que foi obrigado ao exílio e refugiou junto aos Gepidos onde viveu até a sua morte. Por este motivo, entre Gepidos e Longobardos nasceu uma longa inimizade. Sempre nestes tempos, Wacone agrediu os Svevos e os submetidos. Se alguém colocasse isso em dúvida, releia-se o edito de Rotari sobre as leis longobardas e em quase todos os códigos encontrará aquele que nos falamos nesta pequena história.

Wacone teve três mulheres: a primeira, Ranecunda, era filha do Rei dos Turingos, depois casou-se com Astrigosa, filha do Rei dos Gepidos e desta teve duas filhas, Wisigarda, que foi mulher de Teodeberto Rei dos Francos, Salderada, a outra filha casou com Cusupaldo, um outro Rei dos Francos, este porém tomou-se de ódio e a deu como esposa a um dos seus homens, um tal Gariboldo. Wacone teve depois uma terceira mulher, Salinga, filha do Rei dos Erulos, esta deu a Wacone um filho que ele chamou Waltari. Com a morte de Wacone, Waltari se torna o oitavo rei longobardo. Todos estes Reis eram Lithingos, uma nobre estirpe longobarda.

22. Waltari manteve o reino por sete anos antes de morrer, depois dele o nono Rei a conquistar o reino foi Audoino que pouco depois levou o povo longobardo para Pannonia.

23. A hostilidade entre Gepidos e Longobardos é enfim enfrentada e tanto uma parte quanto a outra se preparava para a guerra. Chegou assim o dia da batalha, os lados se enfrentaram obstinadamente e nenhum dos dois conseguia prevalecer sobre o outro. Aconteceu que, durante o combate corpo a corpo, se encontraram Alboino filho de Audoino e Turismondo filho do Rei Gepido Turisindo, Alboino, golpeando-o com a espada, o fez cair do cavalo e o matou, os Gepidos vendo o filho do Rei morto, perderam a cabeça. De resto, Turismondo sustentava a parte maior do cansaço em batalha, assim em breve, os Gepidos fugiram. Os Longobardos os perseguiram com obstinação, derrotando e matando-os quanto mais fosse possível, depois voltaram atrás a pegar os despojos dos mortos. Depois de ter desfrutado a fundo a vitória, os Longobardos voltaram às suas bases e sugeriram ao Rei Audoino de convidar ao seu convívio Alboino, aquele que com o seu valor tinha obtido a vitória, assim como foi companheiro do pai no perigo, assim o fosse no convívio. Audoino respondeu que não podia fazê-lo para não infringir a tradição de sua gente: «Vocês sabem» disse, «que entre nós não é permitido que um filho fique em convívio com o pai se antes não tiver recebido como presente armas das mãos de um Rei estrangeiro».

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