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Lash

Contents

Livros de L.G. Castillo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Copyright © 2013 por L.G Castillo.

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a permissão prévia por escrito do autor, exceto no caso de breves citações incorporadas em resenhas críticas e outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor. Lugares e nome públicos são usados com propósitos de ambientação. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou negócios, empresas, eventos, instituições, ou locais é completamente coincidência.

Design de capa: Danielle @ Coffee and Characters

Livros de L.G. Castillo

Série dos Anjos Caídos

Lash (Anjos Caídos #1)

Após a Queda (Anjos Caídos #2)

Antes da Queda (Anjos Caídos #3)

Jeremy (Anjos Caídos #4)

Anjo de Ouro (Anjos Caídos #5)

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Versão em Inglês

CONTEMPORARY ROMANCE

Stillwater Dusk

Strong & Wilde (Texas Wild Hearts #1)

Secrets & Surrender (Texas Wild Hearts #2)

Your Gravity

PARANORMAL ROMANCE

Lash (Broken Angel #1)

After the Fall (Broken Angel #2)

Before the Fall (Broken Angel #3)

Jeremy (Broken Angel #4)

Golden Angel (Broken Angel #5)

Archangel’s Fire

www.lgcastillo.com

1

Lash olhava confuso para o quadro de chegadas, seus olhos cor de avelã examinando a lista de voos entrando e saindo do aeroporto de Houston.

— 1724. 1724 — ele murmurou. Números de voos, cidades e portões apareciam enquanto as mudanças eram feitas no portão de chegada. — Droga. Como se lê essa coisa?

Ele passou a mão pelo cabelo escuro com frustração. Um serafim deveria ser capaz de encontrar algo tão simples quanto o portão em que chega sua atribuição de trabalho.

Lash suspirou enquanto olhava para a informação que a Arcanjo Gabrielle, sua supervisora direta, deu a ele. Só ele para ter a sorte de ser atribuído para a única pessoa que se deleitava com a sua miséria. Ele não descartara a possibilidade de ela ter lhe dado intencionalmente as informações erradas do voo para fazê-lo correr no último minuto para encontrar a sua atribuição.

— Javier Duran, oito anos. Voo 1724, chegando às 12h05 — ele leu. Virou o cartão e olhou para a foto do menino com pele de um tom claro de café, bochechas rechonchudas e grandes olhos castanhos.

— Onde está o seu avião, pequenino? — Ele olhou novamente, e os números "1724" apareceram na tela.

— Finalmente. — Ele memorizou o número do portão e atravessou a agitada multidão no aeroporto.

— O que? Eu não posso te ouvir? — Lash ouviu uma jovem gritar no telefone público. — Não, o avião dele ainda não pousou. Deveria estar aqui em alguns...

Ele se virou para olhar a mulher que parou no meio da frase, curiosa para ver o que aconteceu. A mulher olhou através dos óculos cor de rosa diretamente para ele.

Lash saltou de surpresa. Era como se ela pudesse vê-lo. A maioria dos humanos não podia quando ele tomava sua forma de anjo - exceto por crianças pequenas ou animais, mas mesmo isso era raro. Quando um adulto conseguia vislumbrá-lo, ele muitas vezes descartava isso como uma invenção de sua imaginação.

— Anita, qué paso? — perguntou a voz do outro lado da linha. — O que aconteceu?

— Espere um minuto. — Anita tirou os óculos e limpou as lentes com sua blusa floral de poliéster.

Lash ficou imóvel, esperando para ver se ela diria algo sobre sua presença. Anita colocou os óculos de volta. Olhos castanhos olharam em sua direção novamente. Depois de um momento, ela balançou a cabeça e continuou sua conversa.

— Não importa, eu pensei que tinha visto alguma coisa — disse ela quando voltou sua atenção para o interlocutor. — Me dê a informação novamente, preciso anotar. — Ela enfiou a mão na bolsa e tirou um pedaço de papel. Embalagens de doces e chiclete caíram no tapete junto com uma caneta preta. — Onde está minha caneta? Não consigo encontrar nada nesta bolsa.

— Faça uma oração para São Longuinho — disse a voz ao telefone.

— Boa ideia. — Anita fechou os olhos. — São Longuinho, São Longuinho. Por favor, me ajude a achar o que eu perdi e não consigo encontrar. Ajude-me a encontrar minha caneta para poder escrever as informações que Gloria deveria ter me dado esta manhã antes que meu filho de oito anos subisse sozinho no avião. E enquanto você está nisso, você pode pedir ao Senhor para perdoar Gloria por seu esquecimento? Ela tem que aturar o meu ex-marido, e só o Senhor sabe como esse homem é imprestável - especialmente quando se trata de lavar a roupa de baixo.

— É oração suficiente — retrucou Gloria do outro lado da linha.

Lash riu. Não havia São Longuinho ‒ pelo menos não no aeroporto. Ele pegou a caneta e colocou-a na borda da prateleira do telefone público.

Anita estremeceu. — Dios mío, senti um calafrio. Eles deixam o ar muito frio aqui. Eles deveriam... — Seus olhos se arregalaram quando ela viu a caneta. — Como que isso foi parar aqui?

Anita se virou e Lash prendeu a respiração. Ela estava nariz-a-nariz com ele, tão perto que ele podia sentir o hálito de menta e ver uma mancha de batom vermelho no dente da frente. Ela respirou fundo, fechou os olhos e sorriu. — Gracias, São Longuinho. Me sinto abençoada. — E deu os três pulinhos para o santo.

Lash piscou com espanto. Já fazia muito tempo desde que se deparara com um humano como ela. Ele não conhecia a minúscula mulher de cabelos escuros, mas uma aura de paz a cercava. Era como se soubesse que estavam cuidando dela.

Ele olhou para o relógio e deixou Anita conversando com sua amiga. O avião do garoto estava programado para pousar em breve. Enquanto corria pelo corredor, ele se perguntou se sua tarefa era o menino de Anita.

Quando chegou ao portão, olhou pela grande janela para o espaço vazio onde deveria estar o avião. Em vez disso, Jeremy, seu melhor amigo, estava no asfalto. Ele estava vestido impecavelmente, parecendo mais um modelo de capa de uma revista GQ do que o Arcanjo da Morte. Seus cabelos dourados, escovados do rosto, brilhavam sob o sol do Texas. Lash sempre achou estranho que ele se importasse com a sua aparência, considerando que raramente aparecia em sua forma humana. A maioria das pessoas o conhecia apenas pelo seu nome de anjo, Jeremiel, e quando aparecia para eles, era porque estavam morrendo. Jeremy, como Lash, decidiu modernizar seu nome alguns anos atrás. Pena que ele não fez o mesmo com suas roupas. Comparado a Jeremy, Lash parecia o perpétuo rebelde adolescente, preferindo jeans rasgados e camisetas justas.

Lash se perguntou por que Jeremy não mencionou que tinha uma missão em Houston durante o jogo de pôquer da noite anterior. Pela primeira vez desde que começaram a jogar, décadas atrás, Lash estava ganhando, e eles estavam se divertindo muito ‒ fumando charutos e bebendo uísque. Não foi até que Gabrielle apareceu e entregou a Lash a tarefa, que Jeremy ficou estranhamente quieto. Jeremy parecia tão incomumente chateado quando pediu a Lash uma garantia dos seus ganhos, embora Lash não conseguisse pensar em uma única vez onde precisou cobrá-lo. Gabrielle parecia estar de mau humor também. Talvez ele devesse ter reconsiderado o sopro de fumaça que deu diretamente em seu rosto. Ela provavelmente não gostou disso.

Lash estava prestes a se juntar a ele na pista quando Gabrielle apareceu. Ela sussurrou algo no ouvido de Jeremy e seu sorriso sempre presente, congelou. O que quer que ela tenha dito a ele, não poderia ter sido bom.

Ele seguiu o olhar de Jeremy e olhou para o céu sem nuvens. Ao longe, viu uma pequena partícula e, instintivamente, soube que era o vôo 1724. Lash olhou para Jeremy e imaginou se sua tarefa envolvia alguém no mesmo voo.

Jeremy acenou para Gabrielle e, num instante, desapareceu. O pavor atingiu a boca do estômago de Lash quando Gabrielle levantou os braços no ar e girou as mãos delgadas em círculos. Árvores ao redor do aeroporto balançavam enquanto o vento aumentava e nuvens escuras começavam a se formar.

Lash pressionou as palmas das mãos contra o vidro. O que ela estava fazendo? Ele cerrou os dentes, imaginando se ela estava intencionalmente tentando dificultar seu trabalho. Foi-lhe dito para cuidar de Javier e ter certeza de que ele retornasse em segurança para sua mãe. Ela convenientemente esqueceu-se de lhe dizer que o menino estaria em perigo ‒ ou que o perigo seria a própria Gabrielle.

Lash observou enquanto ela continuava a manipular o vento e as nuvens, e o céu que escurecera.

— Parece que uma tempestade está chegando — disse uma mulher sentada na fileira de cadeiras atrás dele.

— O clima do Texas é assim — disse o companheiro masculino ao lado dela. — Um minuto está um dia ensolarado; você pisca e então todo o inferno se solta.

Um estrondo de trovão fez o vidro vibrar sob as mãos de Lash. Ele se afastou quando um fluxo de pedaços de gelo bateu no chão.

— Senhor, tenha misericórdia — disse a mulher enquanto pressionava a mão contra o peito. — Isso foi alto. — Ela olhou pela janela. — Espero que passe em breve. Não queria ser pega lá fora nesta tempestade.

Foi então que Lash soube por que Gabrielle e Jeremy estavam lá e por que ele recebeu essa tarefa. Nem todos os passageiros do voo 1724 iriam pousar em Houston - não vivos.

Ele fechou os olhos e projetou-se no avião. Quando os abriu, estava de pé no corredor ao lado de uma garota bonita. Seu cabelo loiro claro estava enfiado atrás das orelhas, destacando vibrantes olhos azuis. Ela não poderia ter mais de doze anos, mas algo sobre ela, a fez parecer sábia além de seus anos.

Lash olhou pela janela. Um nevoeiro de escuridão cercava o avião. As pessoas sentadas nos bancos perto dele murmuravam freneticamente enquanto olhavam para fora. Eles estavam assustados. Ele rapidamente afastou os sentimentos que ameaçavam borbulhar, precisava se concentrar.

Um choramingo vindo do assento atrás da garota chamou a sua atenção, e ele deu um passo em direção a ela. Sentado no banco estava um menino pequeno, seus pés mal tocando o chão. Javier.

— Mãe, ele está com medo — disse a menina. — Posso ir sentar com ele?

A mulher, uma réplica mais velha da moça bonita, tomou um gole de seu coquetel. — Não, não é seguro. — O avião deu um solavanco, e ela deixou cair a bebida no chão, o líquido âmbar espirrando em seu terno de linho branco. A cor sumiu de seu rosto quando ela agarrou o braço da cadeira. — Meu Deus.

A garota se inclinou para o lado e olhou para o menino. — Mas ele está sozinho.

— Faça o que eu disse, ou terei que contar ao seu pai quando chegarmos em casa — A mulher estalou enquanto limpava as calças com um guardanapo. — O comissário de bordo irá cuidar dele.

Lash observou a garota piscar rapidamente e sentiu um puxão em seu peito enquanto ela enxugava as lágrimas. Ela colocou um olhar determinado em seu rosto antes de voltar sua atenção para o menino.

— Está tudo bem. Shh, não chore. Nós estaremos pousando em breve — disse ela. — Qual o seu nome?

O garotinho olhou para cima. Olhos castanhos emoldurados por longos cílios travados com os dela. Lágrimas cobriam suas bochechas rechonchudas. — Ja-Javier. — Ele fungou e limpou o nariz com as costas da manga da camisa.

— Oi, Javier. Eu sou Jane.

O avião desceu, levantando Javier de seu assento por uma fração de segundo antes que voltasse para baixo. Ele soluçou e Lash se ajoelhou ao seu lado enviando uma onda de calma, esperando que o menino pudesse sentir sua presença.

Javier ofegou para dentro e para fora como se tentasse recuperar o fôlego. Uma mão pálida se estendeu em direção a ele. — Você vai ficar bem, Javier. Não se preocupe. Eu vou segurar sua mão até pousarmos. Ok?

Javier olhou para Jane. Seus cachos negros balançaram quando ele assentiu.

Doeu em Lash quando Javier estendeu a mão e colocou na de Jane. Fazia muito tempo desde que vira alguém agir de maneira tão abnegadamente. Ele olhou ao redor do avião, esperando ver Jeremy. Como ele não estava lá, talvez houvesse esperança para a menina e os outros.

O avião tremeu violentamente e os comissários de bordo correram pelo corredor, ordenando que os passageiros apertassem os cintos de segurança. Eles então correram para seus próprios lugares e se afivelaram.

Houve um estalo alto seguido por um grito de metal se rasgando. Gritos encheram a cabine e máscaras amarelas de oxigênio caíram do teto.

Jane soltou a mão de Javier por um momento para colocar a máscara e ele chorou. Lash se inclinou e sussurrou: — Não tenha medo. Estou aqui com você.

Javier continuou a chorar enquanto Lash pairava sobre ele, olhando para Jane, cujas mãos trêmulas estavam colocando a máscara amarela sobre o rosto. Quando terminou, recostou-se, esticando a mão para Javier. — Coloque a sua máscara — ela gritou.

Javier pegou a mão e olhou para ela com uma expressão vazia. Jane olhou diretamente nos olhos dele e apontou para o plástico amarelo que pairava. — Coloque-o.

Javier assentiu e colocou freneticamente a máscara sobre a cabeça. Houve um estrondo alto, gritos foram engolidos assim que começaram. Os olhos de Javier se arregalaram, Jane se virou para ver o que ele estava olhando e deu um grito estridente. Luz laranja e vermelha refletiam na máscara de Javier, e Lash endureceu. Uma onda de calor bateu em suas costas e ele se preparou para lutar contra o que estava prestes a prejudicar o garoto. Seu estômago se apertou quando uma onda de chamas rolou pelo corredor em direção a eles.


Os passos de Lash ecoaram na Sala das Oferendas, uma ampla sala onde os arcanjos exibiam os presentes que os humanos ofereciam ao Céu ao longo dos séculos. Pinturas e esculturas se alinhavam nas paredes. Ele parou em frente a uma grande caixa de mogno e olhou para uma pequena estatueta, uma figura de Gabrielle, através da vidraça. Seus olhos claros escureceram quando pegou e passou as mãos sobre a pedra lisa. Ele arrancou a cabeça e esmagou-a entre os dedos, transformando-a em pó, então colocou a estatueta na frente e no centro da prateleira e sorriu, sabendo que Gabrielle ficaria furiosa quando visse.

Ele se virou quando a grande porta de carvalho se abriu, e o Arcanjo Raphael entrou na sala, seus solenes olhos azuis pousando em Lash quando se aproximou. — Lahash — Sua voz estava cheia de decepção.

Não era a primeira vez que Raphael escoltava Lash ao Salão do Julgamento, um lugar onde os anjos eram disciplinados por seus erros e julgados se eram dignos de permanecer no céu. Lash nunca se preocupou se alguma vez seria considerado indigno ‒ Raphael sempre cuidava disso.

Olhando para a estatueta sem cabeça, Raphael franziu os lábios, mas não comentou sobre isso. — Michael vai ver você assim que terminar de questionar Gabrielle.

— É Lash — Lash murmurou sob sua respiração. Ele odiava ser chamado por seu nome celestial, mas Raphael, antiquado em seus modos e inflexível em manter tradições, insistia.

Raphael passou a mão pelas ondas loiras de cabelo com frustração. Ele não reconheceu que o havia escutado, mas Lash sabia que ele ouviu. Algumas das vantagens especiais de ser um anjo incluíam visão, audição e força amplificadas - o voo era um bônus adicional.

— Por que você fez isso, Lahash? Gabrielle lhe deu instruções específicas. Tudo o que você tinha que fazer era segui-las.

Que resposta ele poderia dar ao seu mentor, a única pessoa que sempre o defendeu quando decidia seguir o seu próprio caminho? Ele desejou poder dizer a Raphael a verdade. Quando Gabrielle lhe deu instruções para salvar o menino, ele ficou feliz em fazê-lo. Depois de anos ajudando humanos que jogavam suas vidas fora com atividades frívolas, ele achava que pelo menos com as crianças havia esperança. Havia algo sobre crianças, com suas mentes abertas e corações imaculados, que eram tão diferentes dos corações cansados ​​da idade adulta. Salvar o menino foi fácil; deixar a menina de cabelos loiros para o seu destino não foi.

— Gabrielle cometeu um erro. Ela deve ter esquecido que outro jovem estava no avião, então imaginei qual seria o mal de salvar os dois?

— Não houve erro — disse Raphael.

— A menina merecia viver.

— Não cabe a você decidir. Você sabe disso.

— Sim, sim, o Chefe toma as decisões. — Lash acenou para ele e sentou-se em um dos sofás de couro no centro da sala. Ele tentava seguir suas atribuições, mas ultimamente tornava-se mais difícil aceitá-las, mesmo sabendo que Michael e Gabrielle recebiam suas instruções de Deus.

Raphael se sentou em frente a ele e se inclinou. — Lash, você se importa profundamente com os humanos, e é isso que faz de você um grande serafim. Mas você deve aprender a ter controle. Você não pode tomar decisões sem pensar sobre elas.

— Eu sei o que estou fazendo. — Lash afundou no sofá branco e se inclinou para trás, entrelaçando as mãos atrás da cabeça. — Eu não concordo com algumas das decisões tomadas por aqui.

— Você é jovem. Você vai crescer e aprender que as decisões que tomamos são baseadas em muito mais do que aquilo que é colocado diante de nós. — A voz de Raphael ficou severa. — Toda ação tem consequências que devem ser levadas em conta.

— Deixa disso. Ela é uma garotinha. — Lash jogou as mãos para cima. — Eu dei a ela uma chance de crescer e viver sua vida. Qual poderia ser o mal disso?

— Mais do que você sabe.

Lash revirou os olhos e seu rosto ficou sério. — Você deveria tê-la visto, Raphael. Havia algo bom nela que eu não vi em alguém há muito tempo.

— Tenho certeza de que havia, mas você não tem conhecimento do que ela irá se tornar. — Raphael sentou-se e um olhar distante cruzou seus olhos. — Houve uma época em que segui meu coração. Eu me atrevi a desafiar Michael e os outros. — Os olhos de Raphael se abriram, uma expressão triste cruzou seu rosto. — Eu fiz isso a um alto custo.

Lash tinha visto essa expressão algums vezes e se perguntara o que tinha acontecido com Raphael para causar-lhe uma mágoa tão aparente. Ele desejou poder lembrar a primeira vez que o conheceu. Por alguma razão, havia uma lacuna em sua memória. Tudo o que conseguia se lembrar era de acordar uma manhã com Raphael sentado ao seu lado.

Quando Raphael se levantou e caminhou até a porta, Lash seguiu e deu um soco no ombro dele. — Ei, não se preocupe. Eu vou receber uma palmatória como da última vez.

Raphael sacudiu a cabeça. — Algum dia; sua rebeldia irá alcançá-lo.

Ele sorriu. — Hoje, não. Tenho certeza disso.

Ao descerem pelo corredor, um anjo alto e esguio se aproximou deles. Ondas de cabelos louros emolduravam um rosto carrancudo. — Michael está pronto para ver você.

Lash sorriu. — Bom dia para você também, Gabrielle.

Gabrielle estreitou os olhos verdes de gato. — Você não entende as ramificações do que você fez? Ou você simplesmente não se importa?

Ele estava prestes a responder quando Raphael entrou na frente dele. — Não responda a isso. Gabrielle, acredito que é melhor ter essa conversa com Michael. Vamos?

Seus olhos suavizaram quando ela olhou para Raphael e então ficaram gélidos. — Você não pode protegê-lo desta vez. — Ela se virou para Lash, e o olhou com ódio. — Por que você se importa? — Virando-se, ela caminhou em direção ao Salão do Julgamento.

Na porta, ela se afastou e ficou ao lado de Raphael. Quando Lash entrou, piscou para ele, tentando esconder sua crescente ansiedade. Estranho. Em todas as vezes que já esteve em apuros antes, ele nunca ficou ansioso. Algo estava diferente.

— Não se preocupe, Raphael. Eu tenho isso sob controle — disse Lash. Qual a pior coisa que poderiam fazer com ele?

2

Trinta e cinco anos depois

Naomi Duran desligou a moto e sentou-se por um momento observando as crianças da vizinhança jogar basquete. Três garotos correram descendo a rua enquanto duas garotas estavam na calçada, avisando-os sobre os carros que passavam. Ela soltou a alça do capacete e riu.

Ela não podia acreditar que finalmente se formara na faculdade.

Percorrera um longo caminho desde a magricela que estava nos ombros de seu primo Chuy enquanto pregava a cesta de basquete no poste de telefone. A cicatriz em seu joelho e o tapa no traseiro que levou do seu pai valeram totalmente a pena, no entanto. Ela ganhou a aposta contra Lalo Cruz, o melhor amigo de Chuy, e gastou dez dólares em refrigerante Big Red. Ela não podia acreditar que o aro ainda estivesse pendurado no mesmo lugar.

Naomi tirou o capacete e o cabelo escuro caiu sobre o rosto. Eu preciso de um corte de cabelo, ela pensou enquanto afastava a massa emaranhada. A última vez que teve um foi quase dois anos atrás quando sua mãe perdeu o próprio cabelo durante a quimioterapia. Sem hesitar, ela cortou as tranças que estavam na cintura e o usou para fazer uma peruca. Um ano depois, seu cabelo cresceu e sua mãe faleceu. Ela queria cortar o cabelo curto novamente, mas toda vez que ia ao cabeleireiro, isso trazia de volta memórias que não queria lembrar.

Era doloroso pensar em sua mãe e Naomi evitava isso sempre que possível. Ela comprou a motocicleta Ninja 250R usada, depois que sua mãe morreu. A moto vermelha gritava: "Dirija-me!" e ela teve que tê-la. Graças às habilidades mecânicas de Chuy, ele fez a moto funcionar como nova. Só enquanto dirigia era capaz de afastar a memória de sua mãe murchando em sua cama ou seu pai afogando a sua dor no álcool depois que ela morreu.

— O que você está fazendo sentada aqui fora?

Chuy saiu da pequena casa branca, a porta de tela se fechou atrás dele. Ele percorreu um longo caminho desde o garoto magro com acne. Agora está todo musculoso, graças ao seu trabalho na Companhia Cruz de Mudança. Levantar diariamente muitos quilos de mobília o preencheu muito bem, embora Naomi nunca admitiria isso em voz alta. Ele já tinha seu ego acariciado regularmente por várias garotas da vizinhança que se reuniam em torno dele.

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