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Castrado
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Alyce me abraçou, levou-me para a cama, deu-me um copo de água e pediu para eu dormir, afirmando que ficaria comigo na suíte até eu acordar, e, também, que pensaria em uma solução.

Horas depois, acordei mais relaxado. Abrindo os olhos, vi-a sentada em uma poltrona, com o celular na mão, digitando rapidamente. Parecia estar conversando com alguém por mensagens. Movendo-me na cama, os olhos dela voltaram-se para mim, e, logo, seu sorriso apareceu, acalmando-me. Ela pegou um copo de água, caminhou em minha direção e perguntou:

— Dormiu bem? — e estendeu o copo diante de mim.

— Sim. Onde eles estão? — respondi, dando um gole.

— Arthur e Juanita estão com Rosa na outra suíte. Estão brincando. Não se preocupe — e sentou-se na cama, olhando-me com ternura.

— Por favor, ajude-me, Alyce — e ameacei chorar novamente.

Ela me interrompeu, pedindo com a voz suave:

— Calma, Gaius. Vamos ter calma e pensar em alguma coisa juntos. Enquanto você dormia, tive uma ideia. Quero ver o que acha.

— Sou todo ouvidos — respondi, sentando-me na cama, atento, curioso e ansioso para ouvi-la.

— Você quer um tempo para ficar sozinho e pensar em tudo que aconteceu, certo? Para isso, precisa que Arthur, Rosa e Juanita fiquem em um lugar tranquilo com alguém de confiança, pois teme que alguma coisa aconteça a eles, certo?...

— Correto — afirmei, interrompendo-a.

— Desde que vim morar em Nova Iorque com minha tia, nunca mais voltei à minha cidade natal, nem mesmo depois que ela faleceu. Decidimos que ela seria cremada aqui. Faz muitos anos que não vejo minha mãe e irmão, Gaius. Meu pai faleceu quando ainda era criança. Recentemente, meu irmão vem relatando que tem sido cada vez mais difícil cuidar sozinho da minha mãe. Ela tem Alzheimer. Precisamos nos preparar para sua partida em breve. Imaginei que, se você concordasse, poderia me dar alguns meses de férias da empresa para visitar minha família. E Arthur, Rosa e Juanita poderiam ficar comigo lá pelo tempo em que você faz sua viagem. Garanto que eles ficariam seguros comigo e minha família. Na casa, só mora minha mãe e meu irmão. Ela é grande e tem vários quartos. Não faltaria conforto a eles. Assim, posso visitar minha mãe, que está no final da vida, e você pode fazer a sua viagem sem se preocupar com eles — falou com a voz branda, tentando não tremer o queixo ao mencionar a mãe doente, enquanto deixava transparecer a saudade que sentia dela e do irmão.

Senti uma faísca de esperança surgir dentro de mim, enquanto ouvia o que Alyce dizia.

— Sinto muito pela sua mãe, Alyce. Como é a cidade onde sua família mora? — perguntei.

— Minha mãe mora em uma cidade no interior de um estado brasileiro. Não passa de quarenta mil habitantes. É um lugar simples e seguro, com uma proposta cultural e de eventos que atrai turistas do mundo inteiro. É um bom lugar para se viver e descansar — afirmou ela.

A esperança dentro de mim só aumentava a cada palavra que ela proferia. Animado com a ideia, agradeci por fazer aquilo por mim e perguntei:

— Onde sua mãe mora?

— O nome da cidade é Gramado, no Brasil.

Depois que Alyce e eu nos entendemos sobre o tempo que eu precisava, e como as coisas deveriam funcionar na minha ausência, já entusiasmado por ela ter oferecido uma solução para aquela situação, tomei meu celular nas mãos e liguei para meu advogado. Enquanto Alexander não atendia, levantei-me da cama cheio de ímpeto, cobri meu corpo com o roupão e, logo, procurei uma taça de vinho para dar um gole.

— Gaius? — falou ele ao atender a ligação.

— Alexander, por favor, cuide para que a secretária do meu irmão, Alyce Stein, seja afastada de suas atividades na empresa. A partir de agora, ela não irá trabalhar mais no escritório, e isso será por tempo indeterminado. Ela enviará um e-mail a você com tudo que precisa para que transfira cem mil dólares para a conta pessoal dela. Ela passará alguns meses fazendo alguns trabalhos pessoais para mim, e o salário dela será mantido durante todo esse tempo. Alguma pergunta?

— Não, Gaius. Vou fazer o que pediu agora e aguardo o e-mail dela — e desligou.

Olhei para Alyce e sorri. Encontrei seu sorriso gentil de volta. Fui até ela e abracei-a, agradecendo por me ajudar.

— De quantos dias precisa para viajar? — perguntei.

— Você não quer ir conosco para conhecer? — respondeu ela, convidando-me.

— Não. Prefiro que vá sozinha com eles. Quero ficar comigo mesmo um tempo. Acredito que me fará bem. Tenho muito no que pensar — e afastei-me dela, acendendo um cigarro e caminhando para a varanda da suíte.

— Acho que, em três ou quatro dias, consigo resolver toda a papelada, pois são dois adolescentes. Isso demora um pouco.

— Entendo. Você já tem meu número de celular e e-mail, Alyce. Qualquer coisa que precisar, avise-me, por favor. Não deixe faltar nada a eles. Se precisar de mais dinheiro, não hesite em me avisar, pois falo com Alexander. Contrate pessoas para ajudá-la se achar necessário — e dei mais um trago no cigarro e um gole demorado no vinho.

— Não se preocupe com isso, Gaius. Não iremos gastar nem metade desse dinheiro que está disponibilizando. Tem certeza de que não quer ir conosco? — perguntou, insistindo.

— Agora, não. Mas prometo que, ao fim da minha viagem, vou passar um tempo com vocês em Gramado.

Depois de alguns dias, Alyce, Arthur, Rosa e Juanita embarcaram para Gramado, Brasil. Fiquei sozinho em Nova Iorque, cheio de lembranças e dores, mas animado por poder viajar tranquilo pelo mundo, sabendo que minha família estava segura. No segundo dia em que estive trancado e entediado naquela suíte de hotel, resolvi que era hora de sair dos Estados Unidos, e liguei para Alexander, pedindo para preparar o avião e fazer reserva em um hotel de Amsterdã, Holanda. Queria viajar no dia seguinte. Quando ele me perguntou o porquê de Amsterdã, quis dizer a verdade, mas não tinha certeza se deveria, então, limitei-me a responder que não conhecia a cidade, mas omiti dele a motivação principal. Ele não entenderia se comentasse que estava muito animado para conhecer as prostitutas do Bairro da Luz Vermelha da capital holandesa. Não sei explicar ao certo, mas, naquele instante, tive a impressão de que o que eu buscava, encontraria lá e com elas. Evitando mais perguntas, deixei ele pensando que iria viajar somente para vivenciar a tristeza pela qual já havia me visto chorar diversas vezes.

Passei o primeiro dia em Amsterdã tentando descansar o máximo que pude. Por que sofro tanto com fuso horário? Detesto-os! Por sorte ou competência de Alexander, cheguei ao hotel Waldorf Astoria Amsterdam por volta das 15h, o que facilitou para que dormisse durante a tarde, jantasse e voltasse para a cama novamente. No segundo dia, acordei por volta das 8h. Estava mais relaxado. Ainda não havia observado minha suíte, mas, depois de ligar para a recepção e pedir meu café da manhã no quarto, duas garrafas de vinho e um kir, passeando por ela, contemplei-a. Suas paredes brancas foscas com alto-relevo em formas geométricas tradicionais, milimetricamente ordenadas, mais os detalhes pintados de azul turquesa, com a técnica de grãos e listras horizontais, foram uma das primeiras coisas que meus olhos perceberam. Na sala de estar, dois sofás grandes e cinzas, dispostos um de frente para o outro, separados apenas por uma mesinha baixa, quadrada e de madeira, mais dois abajures em estilo clássico próximos às duas grandes e altas paredes de vidro transparentes, que mais pareciam portas, e duas prateleiras discretas com alguns vasos antique chamaram a minha atenção. E como me esquecer daquele lustre de doze pequenos abajures, que tinha a mesma cor de azul das paredes, das almofadas dos sofás e de um dos três tipos de tecido que formavam as cortinas, sofisticando o ambiente? Gosto da ideia de as cortinas terem três tipos de tecido com cores harmônicas. Pensei, enquanto deslizava meus dedos, sentindo-os melhor. No meio da parede, entre as duas prateleiras, havia uma TV preta, de tamanho proporcional, que ficou desligada na maioria dos dias em que estive lá. No chão, carpete, cerâmica em estilo moderno e madeira. Aproximando-me da minha cama, já no outro cômodo da suíte, percebi sua cabeceira acolchoada e em tom pastel, e, também, seus contornos e barras em madeira escura e envernizada nos quatro cantos. Ainda passeando meus olhos, vi uma mesinha ao lado da cama, um pequeno sofá de dois lugares na frente dela e mais cortinas, que impediam a entrada de iluminação por aquelas paredes de vidro, que ofereciam uma bela visão da cidade. E tudo isso conferia leveza e harmonia ao ambiente. Gostei do hotel. Pensei e fiquei imaginando o que poderia utilizar para me inspirar a decorar minha próxima casa.

Duas batidas na porta me desconcentraram. Depois que os dois garçons saíram, fui até à mesa próxima à parede de vidro, onde eles deixaram duas bandejas, e descobri uma delas. O cheiro do café me possuiu e, logo, verti-o em uma xícara, pingando-o com leite. Vi, em um prato, três torradas: uma com manteiga, outra com uma espécie de chocolate e granulado, e a última com uma pasta de amendoim. Em outro prato, pelo menos três tipos de queijos. Havia alguns recipientes com opções de chás e preparos para chocolate quente, frutas e cereais. E, também, meus vinhos e o drink que pedi. Rapidamente, levei a torrada de pasta de amendoim à boca e dei um gole no café. Caminhava pelo quarto, enquanto mastigava, logo querendo terminar para poder apreciar o drink e fumar um cigarro. Assim o fiz, depois de beliscar um dos tipos de queijo e secar a xícara de café. Dado o primeiro gole no kir, acendi o cigarro e fui até o outro cômodo, caminhando faceiramente pela suíte, contemplando aquele silêncio. Sobre a mesinha ao lado da cama, vi que uma luz vermelha piscava no visor do meu celular. Tomei-o à mão e constatei que eram e-mails publicitários. Por um instante, fiquei com os olhos fixos no visor. Nisso, pressionei o ícone da minha galeria de fotos e vídeos. Deslizando o dedo para cima, parei em um vídeo. Toquei a miniatura e senti meu coração disparar, quando meus olhos o viram, e meus ouvidos sentiram a quentura de sua voz novamente, mesmo que pelo som estéreo do meu celular:

“Você deveria ter vindo, meu amor! Olhe que coisa linda é essa cachoeira! Isso é a melhor coisa dessa cidade. Estamos nos divertindo muito. Daqui a pouco vamos para casa te ver. Eu amo você. Eu amo você.”

Uma mescla de sentimentos me invadiu naqueles poucos segundos. Senti meu queixo tremer e meus olhos marejarem. E, antes que uma lágrima escorresse pelo meu rosto, lembrei que precisava ser forte e aguentar, pois tinha uma promessa para cumprir e um plano para arquitetar. Engoli a emoção com a saliva, dei um gole no kir e um trago demorado no cigarro, enquanto desliguei o celular e decidi que precisava de um banho e sair da minha suíte suntuosa para conhecer Amsterdã. E que iria começar pelo pintor maldito, que cortou sua própria orelha em um surto psicótico.

Cansado de esperar na fila por quase quarenta minutos, bufava pela terceira vez, impaciente com aquela demora, quando uma moça liberou a entrada para o próximo grupo de pessoas. Entrei no Van Gogh Museum com turistas de diversos países para uma visita guiada. O ambiente era escuro e intimista, com focos de luz amarela que, do teto, iluminavam somente as paredes, onde as pinturas estavam dispostas, e as quadradas proteções de vidro, que abrigavam outras obras no meio do salão. O guia, especializado em história da arte, falava sobre a técnica e história de cada obra pintada por Van Gogh e, também, sobre algumas curiosidades de sua vida, como sua educação em um internato e seu estado psicológico antes de morrer. Conduzindo-nos ao autorretrato com a orelha cortada, disse o guia:

“E aqui temos uma das obras mais enigmáticas e sublimes de Van Gogh: o autorretrato com a orelha cortada. Pesquisadores divergem se ele cortou a orelha inteira ou somente o lóbulo. O fato é que, na noite de 23 de dezembro de 1888, depois de uma discussão com o pintor Gauguin, Van Gogh cortou sua orelha, embrulhou-a em um lenço e a levou a uma prostituta chamada Rachel, na cidade de Arles, França. Acredita-se que o pintor e a prostituta mantinham relações sexuais. Ao entregar-lhe o embrulho, ele teria pedido para que ela o guardasse com cuidado. Van Gogh, depois de sair do hospital em 6 de janeiro do 1889, quatorze dias depois de tal brutalidade, pintou essa obra de arte que vemos aqui. Depressivo, esquizofrênico e psicótico são adjetivos que os pesquisadores utilizam para tentar classificá-lo, que, após lesionar parte de sua carne, pintou seu autorretrato como se não fosse importante para ele o que lhe foi tirado...”

E continuou dando detalhes sobre aquela história, enquanto eu, atento ao que ouvia, percebia meus sentidos se aguçarem e minha mente se inquietar.

Ele cortou a própria orelha e deu de presente à sua namorada como gesto de amor? Foi isso que fez? Como teve coragem? Privar-se de parte do seu corpo em nome do amor? Por que ele precisaria fazer isso para ela? Um embrulho ensanguentado para uma prostituta. O que ela sentiu ao ver aquilo? Meu Deus, que loucura! E que Natal sangrento ele teve aquele ano, não? Pensava, ainda boquiaberto, tentando dar atenção ao que o guia continuava falando sobre o quadro depressivo e a morte de Van Gogh. Nisso, algo estranho aconteceu comigo. Depois de ouvir a história da orelha cortada e do autorretrato, não consegui manter minha concentração no que o guia explicava, e as imagens ficaram tremidas em minha visão. Por diversas vezes, pisquei os olhos, espremendo-os com força para tentar recuperar a nitidez que perdi. Foi inútil. Sacudi a cabeça discretamente e inspirei profundamente, procurando meu fôlego, que diminuía. Ao soltar o ar suavemente, mantendo meus olhos fixos na tela daquele homem que tinha uma faixa branca cobrindo sua orelha cortada, ouvi uma voz: Foram as mãos dele que seduziram seu irmão. Elas o roubaram de você. De supetão, olhei para trás, procurando quem havia dito aquilo. Um casal de turistas olhou-me com estranheza, franzindo as testas, como se perguntassem o porquê de eu encará-los. Virei meu pescoço para um lado e para o outro, depois para frente, retornando à posição que estava antes, tentado encontrar quem havia dito aquilo e o porquê. Percebi-me ansioso e amedrontado ao mesmo tempo, ao entender que aquilo era algo da minha cabeça. Sorri para mim mesmo, tentando relaxar e concentrar-me novamente. E, no mesmo instante, ouvi mais uma vez: As mãos dele, Gaius. Impulsivamente, gritei, olhando para trás:

— Quem é? — e obtive o silêncio e a atenção de todos que estavam ali.

Minha respiração ainda ofegava, e o meu semblante estava envergonhado por ter atrapalhado a explicação do guia, que perguntou gentilmente:

— O Senhor está bem? — e ficou aguardando minha resposta, olhando-me com atenção.

Nervoso, mas tentando me acalmar, pedi desculpas e respondi que havia me assustado com alguma coisa. E comecei a caminhar para a porta de saída do museu, deixando todos olhando para mim. Do lado de fora, respirando vagarosamente, senti algo entre as minhas pernas. Olhando para baixo, vi que meu pênis estava ereto. Por que estou excitado? Perguntei a mim mesmo e, logo, dei-me a resposta de que me excitei porque o museu estava frio e eu tinha vontade de urinar. E, assim, consegui enganar a mim mesmo naquele instante. Só lamento não ter conseguido me enganar por muito mais tempo a partir daquele dia. Teria sido melhor ou mais fácil se tivesse conseguido. Resolvi almoçar e voltar para o hotel. Queria descansar, pois já tinha em mente o que fazer naquela noite. E precisaria de toda a energia para conseguir.

Eram quase 22h. Caminhava pelas ruas de Amsterdã em direção ao Bairro da Luz Vermelha, que ficava a menos de quinze minutos do hotel. Era verão na cidade, mas durante a noite as temperaturas despencavam, o que exigia, no mínimo, um casaco e cachecol para quem quisesse se manter aquecido. As luzes vermelhas das ruelas e as bicicletas espalhadas pelos arredores do bairro foram avistados por mim. Acho que é ali. Pensei, e continuei caminhando, observando a movimentação de turistas, que eram abordados por vendedores de maconha. Curioso, passeava atento, procurando as famosas vitrines, onde as prostitutas se ofereciam a quem as visse da rua. Entrei em uma rua curta e, ao meu lado direito, vi várias vitrines, em que mulheres seminuas sensualizavam seus corpos com danças provocantes atrás de um vidro. Parei e observei-as com calma. Nisso, uma delas começou a bater no vidro fortemente, enquanto outras fechavam as cortinas rapidamente. Olhei para trás e vi um turista que segurava um celular e gravava imagens delas. Todos que passavam na rua falavam contra ele, pedindo que as respeitassem, pois estavam trabalhando, e não era permitido gravá-las. Um homem maduro, enraivecido, aproximou-se do turista, agarrou seu celular e jogou-o no rio que divide duas daquelas ruas. O homem esbravejava contra o turista, que ficou atônito com a reação, e saiu dali apressadamente. Achei aquilo tão instigante e pensei que iria passar uma madrugada interessante em um lugar onde as coisas acontecem. Continuei caminhando e observando os diversos bares, restaurantes e museus abertos naquele horário, enquanto acendi um cigarro. Eles ficavam na rua da frente à das vitrines. O excesso de pessoas andando, comendo, bebendo e tirando fotos era muito grande. Realmente, tudo que havia lido sobre o bairro, que é conhecido por sua lascívia, era verdade. Em pouco tempo que estive lá, pude constatar que aquela não seria a única noite que eu o visitaria. E não foi. As madrugadas aqui devem ser bem agitadas. Pensei e dei um sorrisinho safado para mim mesmo, já prevendo o que me aguardaria. Joguei o cigarro no lixo e voltei para as vitrines. Lá, havia quatro mulheres dentro delas. Observei que duas vitrines eram iluminadas com a luz vermelha, e as outras com uma roxa. Não entendi o porquê. Vendo-me, três delas faziam contato visual, tentando falar comigo, chamando-me com as mãos, para que me aproximasse. A outra, a que estava na ponta à minha direita, simplesmente repousou as duas mãos no quadril em um movimento leve e sexy, e fitou minha pupila demoradamente, enquanto erguia, vagarosamente, sua cabeça e sacudia seus cabelos longos e pretos para trás, deixando seus ombros à mostra e transparecendo sua altivez e soberba. O fato de ela não se oferecer para mim chamou minha atenção. Aproximei-me dela e pude contemplar suas pernas cobertas com uma cinta-liga, e seu tórax e seios presos a um espartilho. Ambos eram pretos. Sua calcinha minúscula era vermelha. Usava um sapato com salto alto. Com certeza, para valorizar seu corpo, visto que não era tão alta quanto parecia. Em seu rosto, havia um pouco de maquiagem e um batom vermelho escarlate. Cílios postiços exagerados valorizavam seus olhos pretos. O cabelo estava ressecado, o que não a impedia de exibi-lo com orgulho. Percorrendo seus braços e ombros nus, enxergando a flacidez da pele um pouco acima das axilas, tive a certeza de que aquela mulher já tinha passado dos quarenta anos. Meus olhos encontraram os seus, que não piscavam ao me fitar. Ela mantinha um olhar parado. Intriguei-me com a forma como ela me encarava. Por um instante, pensei que ela seria minha cliente, e não o contrário. Ela se mantinha imóvel, com as mãos no quadril e o pescoço arrogante. Então, pressionando minhas mãos contra a vitrine, falando baixo, perguntei:

— Quanto? — e vi seus lábios expressarem um sorrisinho de alguém que consegue o que quer.

— Cinquenta euros a cada vinte minutos. O que quer fazer? — e, mais uma vez, jogou o cabelo para trás sensualmente, provocando-me.

Fiquei em silêncio por alguns instantes pensando em o que responder. Desviei os olhos dela algumas vezes e retirei minha mão da vitrine, como se demonstrasse que iria embora. Dei dois passos para trás cautelosamente e encarei-a. Procurei no bolso do casaco mais um cigarro e, logo, acendi-o. Virei-me para sair dali e pus-me a caminhar. Depois, parei e voltei. Ela continuava na mesma posição, como se tivesse a certeza de que eu voltaria. Nisso, perguntei:

— Quanto você ganha em uma noite inteira aqui?

— Passo a noite com você por mil euros, rapaz — respondeu, à queima-roupa.

Dei um trago no cigarro e soltei a fumaça suavemente, pensando em o que dizer. Então, propus:

— Dou-te dois mil euros pela noite inteira — e vi-a arquear uma das sobrancelhas, demonstrando interesse.

— O que quer fazer? — indagou novamente, querendo fechar o negócio.

— Que vista uma roupa e venha jantar. Estou com fome.

Ela pareceu surpresa com a proposta, mas balançou a cabeça afirmando que sim, e, logo, mostrou seu profissionalismo, esclarecendo que eu precisava entrar nas regras.

— Precisa pagar antes, rapaz — e abriu a porta da vitrine, convidando-me para entrar.

— É claro. Desculpe — e, logo, retirei do bolso da calça quatro notas de quinhentos euros, aproximei-me e entreguei-as, ainda do lado de fora da vitrine.

Ela deslizou os dedos pelas cédulas, verificando se eram verdadeiras, cheirou-as, deliciando-se com a certeza de que eram novas e autênticas. E comentou:

— Há tempos não via uma destas — e deu um sorriso para mim.

Sorri de volta e afastei-me, dando mais um trago.

— Aviso que não faço nada sem preservativo, e que não sairei do bairro. E, também, que há policiais que nos conhecem e nos protegem. Basta uma ligação, e eles irão até onde estou. Encerro com você às 5h. Entendido? — e fechou a cara, esperando minha resposta.

— Entendido. Não se preocupe com isso. Ficaremos aqui no bairro.

— Não quer entrar, enquanto troco de roupa? — convidou ela.

— Acho melhor esperar você aqui — respondi gentilmente e, depois, vi-a fechar a cortina.

A prostituta e eu caminhávamos até uma das ruas que ficava do outro lado da que estávamos. Para quebrar o silêncio entre nós, pediu-me um cigarro. Parei, abri a cigarreira e deixei-a retirar um. Depois, levei meu isqueiro até seu rosto, acendendo-o, e, logo, vi suas bochechas secarem, enquanto ela dava o primeiro trago. Foi impossível não perceber que ela admirava meu isqueiro e cigarreira com atenção. Será que ela vai me roubar? Pensei. E continuamos até o momento em que ela sugeriu que entrássemos em um dos diversos bares daquela rua. Por sorte, não havia fila de pessoas, e, logo, pudemos entrar e sentar-nos em uma mesa intimista e aconchegante. As cores das paredes do bar eram vibrantes. Todo o ambiente era meio escuro, e a música que embalava a conversa de dezenas de pessoas que ali estavam era provocadora e sensual. Enquanto retirava meu cachecol e abria o casaco tentando não sentir calor, visto que a temperatura lá dentro estava mais alta que lá fora, pensei: Tudo aqui respira a sexo. É por isso que chamam Amsterdã de a capital da liberdade. Após ela retirar seu cachecol e desabotoar seu casaco também, perguntou a mim:

— De onde você é? — e pôs um cotovelo sobre a mesa, apoiando o queixo em uma das mãos, como se estivesse se preparando para um cliente que passaria a noite inteira falando sobre seus problemas pessoais, o que, certamente, estava acostumada a fazer.

Titubeei nas palavras, ora hesitando, ora falando coisas que não diziam nada. Estava nervoso. Nunca havia estado com uma prostituta antes, e existia algo nela que me desconcertava. É como se ela me enfrentasse e me provocasse. Não sei explicar ao certo, mas, em um primeiro momento naquele bar, senti um desconforto enorme.

— Entendi. Não quer dizer de onde é? Tudo bem. O que faz em Amsterdã? — e, antes que pudesse responder, um garçom tagarela aproximou-se dela, cumprimentando-a, desejando-nos uma boa-noite e perguntando o que queríamos pedir.

Ela o saudou, falando sensualmente, desejando-lhe uma boa-noite, enquanto deslizou suas unhas vermelhas sobre as costas de uma das coxas do garçom, fitando bem em seus olhos e molhando o lábio inferior. Em uma fração de segundos, ela lançou sobre ele seu desejo, como uma feiticeira que não faz esforço para conseguir o que quer com a sua magia. O rapaz a encarou e, logo, deu uma olhada em seu par de seios, abrindo um sorrisinho de boca fechada, com certeza, entusiasmado. Nisso, ela virou-se para mim, que estava concentrado no que via, e perguntou o que queria comer. Respondi que ela poderia escolher para nós, tentando ser gentil, e deixá-la confortável, enquanto assimilava tudo que via e relaxava.

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