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Castrado
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— Ryder, não quero saber dos seus problemas. Vá tomar banho. Vou preparar uma taça de vinho para você. Hoje, dormirá aqui — ordenei, interrompendo-o e deixando claro que não estava disposto a ouvir queixas familiares dele.

— Alyce não disse que teria que dormir aqui — comentou, quase em tom de negação.

— Mas eu estou dizendo. Vai ganhar quatro vezes mais que o combinado. Vá tomar banho — ordenei novamente.

Ele fez cara de preocupado por ter de deixar a mãe sozinha, mas ficou contente ao saber que quadruplicaria seu cachê.

— Vai precisar de estimulante? — perguntei, sugerindo que a noite seria longa.

— Não vou, bebê. Você é gostosinho demais. Não precisa. Nada de estimulante — e começou a retirar a jaqueta barata que vestia, tentando fazer uma cara sexy para mim, enquanto falava.

Nisso, completei:

— Que bom. E prepare-se, pois hoje vou comer você também.

De supetão, ele virou seu rosto para mim e abriu a boca, pasmo com o que ouviu. Ryder e eu tínhamos bebido três garrafas de vinho e estávamos secando a quarta. As taças espalhadas pela suíte e o cheiro de cigarro demonstravam o quanto estávamos embriagados e nos divertindo. Uma trilha sonora provocante embalava aquela madrugada de sexo tórrido, onde o carpete, a cama, as cadeiras, a varanda e o banheiro serviram de cenário para as várias posições que fizemos. Não recordo ao certo, mas devia passar das 3h. Ryder estava de quatro na cama, e eu lambia seu ânus. Adorava sentir aquele gosto azedo em minha língua. Repentinamente, alguém bateu na porta. Que inferno! Só pode ser Rosa. Engoli e gritei:

— Estou ocupado, Rosa! — e voltei a lamber aquele orifício encardido e peludo.

— Oi, Gaius! É Aidan! Abra a porta, por favor.

Meus olhos esbugalharam. Meu Deus! É Aidan! Pensei, tentando assimilar o que ouvi e o que faria para que ele não visse Ryder lá. O garoto loiro olhou para mim, tentando saber quem batia na porta. Fiz sinal a ele, ordenando que ficasse calado e sussurrei que fosse para o banheiro, mas não trancasse a porta. Ele obedeceu, e eu logo me levantei, tomei um gole de água e cobri meu corpo nu com um roupão branco, torcendo para que, em segundos, meu pênis ficasse flácido. Parado na frente da porta, inspirei fundo e soltei devagar, relaxando meus ombros, enquanto tentava parecer natural. Quando abri a porta, vi Aidan com o rosto de preocupação.

— O que faz aqui? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.

— Não consegui dormir. Depois que falei com você, fiquei preocupado com o que me contou. Então, vim ver como estava e ficar aqui com você — e foi entrando na suíte.

Oh! Meu Deus! O que faço? Acalme-se, Gaius! Aja com naturalidade.

— Não precisa se preocupar, Aidan. Acho que a conversa com Alexander me deixou nervoso. Por isso, liguei para você. Só queria conversar um pouco e saber como estão as coisas com relação ao meu nome aqui em Nova Iorque — comentei, enquanto fechava a porta e me esforçava para não me atropelar nas palavras de tanto nervosismo.

Aidan observava a suíte, passeando seus olhos pelas garrafas secas no chão, até que encontrou meus olhos e comentou:

— Estava bebendo? — e aproximou-se de mim, esperando uma resposta.

— Às vezes, tenho dificuldade para dormir. Fico bebendo, ouvindo música, lendo, fumando, fazendo bagunça... Assim o sono chega. Por isso, não gosto que me acordem pela manhã. Acho que, depois do que passei, é normal ter um pouco de insônia, não é? — perguntei, já apelando ao sentimento dele, enquanto cruzei pelo seu corpo, caminhando para o lado oposto ao banheiro, dando um gole demorado no vinho.

— Entendo você. Vem aqui — e foi ao meu encontro, envolvendo-me em um abraço demorado.

Respondi ao abraço dele e, por um instante, percebi que meu coração estava disparado. Nisso, ele comentou:

— Vou dormir aqui com você.

Oh, Meu Deus! Como vou sair dessa enrascada?

— Não acho uma boa ideia, Aidan. Hoje, quero ficar sozinho. Não seria uma boa companhia. E ainda estou com raiva do que você fez comigo — e fiz cara de manhoso para ele.

— Desculpe, meu amor. Você me pegou de surpresa, e eu fiquei nervoso. Por isso, gozei rápido. Prometo que não vai mais acontecer — e levou seus lábios aos meus, fechando os olhos e me beijando com suavidade.

Respondi ao seu beijo, envolvi sua nuca com minha mão, acarinhando-a e, depois, deslizei minhas unhas pela barba áspera que nascia em seu rosto. Aidan passeava sua mão em minha cintura e pressionava-me contra seu membro, que endurecia e latejava contra a calça jeans que vestia. Nisso, larguei a boca dele devagar e comentei:

— Você sabe que eu gosto de ser comido e me privou desse prazer no outro dia. Ainda estou com raiva de você.

Aidan enlouquecia sempre que eu falava manhoso com ele, quase assumindo uma voz infantil, torcendo os lábios como uma criança que faz birra, quando quer algo. Vi seus olhos cor de âmbar transparecerem o seu tesão em mim naquele momento.

— Não vai mais acontecer. Deixa eu comer você agora. Prometo que faço o que quiser. Hein? Podemos fazer de ladinho, que é como você gosta. Lembra de como eu comi você na primeira vez? Foi de ladinho e você gemeu, quando eu enfiei. Hein? Deixa, meu amor. Tô com muito tesão em você. Por favor... — e deixava um rastro de beijinhos em meu pescoço, de um lado e do outro, provocando-me com aquelas frases quentes.

— Você quer me comer? — perguntei, emitindo uma voz infantil.

— Quero. Prometo que faço o que quiser, do jeito que quiser. Hein? O que acha? — e continuava tocando minha pele com aqueles lábios macios e aquela barba áspera.

E se eu transar com ele e, depois, pedir para que vá embora? Ele vai querer usar o banheiro depois. Vai querer dormir aqui. Não, Gaius! Não será bom! Ponha-o para fora agora! Pensava e tentava resistir às suas investidas sexuais.

— Por que não fazemos assim? Você vai para casa descansar e eu vou tentar dormir. Amanhã, depois das 14h, por que não vem aqui para passarmos a tarde juntos? Posso pedir nosso almoço na suíte. O que acha? — e lancei, em sua pupila, um olhar provocante.

— Já estou aqui, meu amor. Quero ficar. Deixe-me ficar — e continuava a beijar meu pescoço e deslizar sua mão em meu corpo, tentando-me convencer a ceder ao seu tesão.

— Não me preparei, Aidan. Não será bom se acontecer agora. Amanhã será melhor — e abracei-o, sentindo-o respirar fundo, enquanto buscava forças em seu interior para controlar todo aquele desejo.

— Tudo bem. Eu venho amanhã. Mas prometa que vai dormir, certo? Amanhã, precisa estar descansado. Chega de beber por hoje — e, finalmente, convenceu-se de que deveria ir embora.

— Prometo que vou tomar um banho e dormir para amanhã estar descansado.

Nisso, afastei-me dele, segurando em sua mão e conduzindo-o até a porta. Ele beijou minha boca demoradamente e, antes de sair, comentou:

— Olha como você me deixou — e riu, olhando para sua calça, que mostrava, claramente, seu membro excitado.

— Guarde toda essa energia. Prometo que resolvo isso amanhã. Boa noite! — e dei uma piscadela para ele, fazendo cara de safado.

— Uma última coisa. Vou contratar uma equipe para fazer a sua segurança. Ficarei mais tranquilo assim.

— Tudo bem, Aidan. Fazemos como você quiser. Boa noite! — e beijei seus lábios castamente.

— Boa noite, meu amor. Durma bem — respondeu ele.

Nunca senti um alívio tão prazeroso em toda a minha vida, quanto àquele ao fechar a porta. Obrigado, Senhor Jesus! Seria capaz de cantar um hino de louvor aos céus em agradecimento por ter me livrado dele naquele momento. Ainda ofegante, vi Ryder sair do banheiro, rindo do meu desespero. Depois de também me ver rir, ele perguntou:

— É seu namorado?

— Não. É o homem com quem vou me casar. E esta noite, você quase estragou meus planos. Onde estávamos mesmo? — perguntei.

— Você estava lambendo meu cu — respondeu ele, fazendo cara de quem estava gostando.

— É verdade. Pegue a camisinha. Agora, vou meter em você.

No dia seguinte, Aidan chegou à minha suíte no horário que combinamos. Estava preparado para uma tarde de sexo, pois necessitava me aproximar dele para que as coisas começassem a acontecer. Era um investimento, e estava disposto a fazê-lo. De fato, não foi um sacrifício tão grande ir para a cama com ele, pois, mesmo que a mescla de sentimentos confusos reinassem em minha mente, não podia ignorar que Aidan era gostoso, além de ser um dos homens mais bonitos de Nova Iorque. Pensei em tudo isso ao vê-lo caminhar faceiramente pela minha suíte, aproximando-se de mim, como criança que vai ao parque de diversões. Seu sorriso e felicidade eram evidentes. E, antes que ele me entregasse mais um buquê de flores que me trouxe, pedi:

— Deixe-as obre a mesa e feche as cortinas. Gosto de fazer no escuro — e virei-me na cama, ficando de ladinho, empinando minhas nádegas nuas, enquanto abraçava meu travesseiro, em um gesto infantil e manhoso.

Aidan obedeceu. Logo, deitou-se na cama, pressionando seu corpo contra o meu e começou a beijar minhas costas nuas, enquanto empurrava um dos seus sapatos contra o outro, livrando seus pés deles. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, colada em seu tórax, o que valorizava seus braços depilados e fortes. Roçando em meu corpo, de ladinho, como me prometeu na noite anterior, passou a mordiscar minha orelha com seus lábios. Sua mão passeava entre minha cintura e coxas, e eu gemia cada vez que sentia sua excitação pressionar minhas nádegas.

— Está lindo, meu amor. Adoro vê-lo sem roupa e manhoso na cama. Fico com mais tesão ainda — falou, virando meu rosto para me beijar.

Sua língua não conseguia se controlar dentro da minha boca e passeava de forma suave, explorando-a. Aidan gemia baixinho e melava meus lábios em um beijo molhado e romântico. Meus olhos estavam fechados e o tesão que sentia era tamanho, ao ponto de me fazer contorcer o corpo inteiro, enquanto ansiava o momento em que ele entraria inteiro em mim. Percebendo o quanto eu estava entregue àquele momento, ele deslizava as pontas dos dedos sobre meus braços e coxas, em um movimento de prazer torturante e angustiante para mim. Eu gemia, retorcia-me e extasiava-me com o que ele fazia. Nisso, sussurrou:

— Meu pau está molhado. Você quer chupar? — perguntou ele, quase que implorando para sentir novamente minha boca morna em seu pênis.

Arfei duas ou três vezes, quase que ao mesmo tempo. E respondi:

— Não. Por favor, coma-me. Enfie bem devagarinho. Está com muito tempo que eu não transo.

Ouvi a respiração dele estremecer. Abri meus olhos e fitei-o. Suas pupilas reluziam. Então, obediente, ele abriu o botão da calça, abaixou-a com a cueca até metade das coxas e pediu para eu levantar a perna. Em segundos, senti seus dedos gelados lubrificarem meu ânus de saliva. Ao dar o primeiro gemido, Aidan abriu a boca e franziu a testa, possuído de prazer. Retorci meu pescoço para trás e molhei meu lábio inferior, apertando-o com meus dentes. Ele me beijou e enfiou a ponta do dedo em meu ânus, mordiscando meus lábios com os seus, ainda com a respiração estremecida.

— Ai, meu amor. Devagar. Está doendo — pedi, manhosamente.

O corpo dele estremeceu.

— Não diga essas coisas, meu amor. Fico com mais tesão, se ficar falando.

— Por favor, coma-me. Enfie só a cabecinha. Tenho medo de doer.

— Não vou machucar você. Vou enfiar só a cabeça e bem devagar. Prometo — respondeu, sussurrando.

Ele molhou seu membro com saliva e mirou bem, até que foi enfiando com calma. Senti minhas carnes se alargarem, quando sua glande entrou. Gemi e pedi, provocando-o:

— Devagar. Por favor. Enfie devagar — em tom de súplica.

Aidan enlouquecia ao me ouvir falar e gemer. Percebi que ele mexia o quadril, enquanto levantava minha perna para facilitar a penetração. Ele me invadia com cuidado, suavemente, olhando para meu rosto. Comecei a gemer mais e mais e a pedir para ele não enfiar tudo. Fechei meus olhos e entreguei-me àquele prazer. Fazendo charme e manha para ele, repetia que estava doendo:

— Aidan, está doendo. Enfie devagar. Está doendo, meu amor...

Gemendo e falando, senti meu ânus ficar úmido quase que instantaneamente. Nisso, ouvi um grito demorado dele em meu ouvido, enquanto derreou sua cabeça sobre meu pescoço, explodindo de prazer.

De novo? Não acredito que ele já gozou! Encarei-o com cara de ódio. E, antes que eu esbravejasse, ele falou:

— Por favor, perdoe-me. Eu não aguentei. Desculpe. Desculpe...

Afastei-me dele, levantei-me da cama e gritei:

— Você não é homem nem para me comer direito, Aidan? Saia do meu quarto! Agora! — e apontei o dedo para a porta.

A decepção em seu rosto era visível. Aidan tinha um problema de ejaculação precoce. Depois da segunda vez que gozou rapidamente comigo tonou-se impossível não admitir isso. Jogando seus sapatos sobre ele, agarrei sua camisa e empurrei-o para fora do meu quarto violentamente, xingando-o de molenga e frouxo. Ele só se defendia dos meus tapas em seus ombros e peito, tentando guardar seu membro na cueca e subir as calças apressadamente. Ao apanhar de mim, desculpava-se e pedia mais uma chance para tentar de novo. O ódio se apossou do meu ser, e eu não ouvia o que ele dizia. Só queria me livrar dele o mais rápido possível. Depois de bater a porta com força, dei um grito de raiva. E, ainda bufando, liguei para Ryder e ordenei-lhe que fosse à minha suíte urgentemente.

Os dias que seguiram àquele foram de planejamento e preparação. Ignorei Aidan, suas flores e ligações por quase quatro dias, mas, depois, procurei-o e convenci-o a ir ao médico e investigar o que acontecia para que gozasse tão rápido comigo, visto que aquilo não era comum nele. Precisava estar com Aidan, mas na situação em que ele se encontrava, seria difícil para mim. Alexander me recomendou, veementemente, que não visitasse o clube de sexo próximo ao Rio Hudson, pois isso poderia contribuir para que a minha imagem ficasse comprometida. Desobedeci-o e fui conhecer aquele lugar instigante na sexta-feira daquela mesma semana sem ele saber. No outro dia, informei a ele que não tinha interesse em comprar o clube do sexo, e pedi que procurasse outra empresa para compor o projeto dos próximos três investimentos. Alyce contratou George para preparar meus drinks, Peter, como cozinheiro, e Max, como meu relações públicas. Precisava de alguém que entendesse a forma como me comunicava com as roupas, então, tive a ideia de chamar um velho amigo para cuidar disso. Desiludido por não ter conseguido ingressar na Gucci de Florença, e abandonado por Aidan durante o meu sequestro, Richard sobrevivia como freelancer da Vogue, que não pagava tão bem para manter o estilo de vida com que havia se acostumado quando ainda estudava e era sustentado pelos pais ricos. Richard não pensou duas vezes em aceitar a generosa quantia que propus a ele para me manter antenado com o mundo da moda e cuidar do meu visual e roupas, trabalhando duas ou três vezes por semana mais os dias em que eu tivesse eventos para ir. Os dias em que estive brigado com Aidan, Ryder dormiu todas as noites em minha suíte. E Juanita e Rosa avançavam no aprendizado do inglês com as aulas de James. Arthur, assim como eu, consolava-se nas fotografias e alimentava a saudade que não parava de machucar.

Peter, Max, Richard, George e Alyce aguardavam o momento em que compraria meu apartamento em Nova Iorque, e, assim, pudessem começar a trabalhar para mim. Para que isso acontecesse, precisava de Aidan, pois já tinha escolhido onde queria morar. Quando disse qual apartamento queria comprar a Aidan, ele hesitou e considerou o valor exorbitante. Mas depois que comentei que pagaria a metade e que lá seria o lugar onde nós dois moraríamos, vi um sorriso surgir em seu rosto. Em seguida, a preocupação dele ao saber que a cobertura ficava na Park South 220, que custaria mais de duzentos e trinta milhões de dólares e, também, que ele teria que desembolsar mais de cento e quinze milhões, caso quisesse me ter em casa todas as noites quando chegasse do trabalho. Aidan coçou a nuca discretamente como se estivesse temeroso ao gastar tanto dinheiro em um apartamento, mas, logo em seguida, deu um sorrisinho e balançou a cabeça, dizendo sim. Eu o beijei e pedi um champanhe ao garçom para comemorar. Na noite daquele almoço com ele, transamos em minha suíte no The Plaza, e mais uma vez ele teve uma ejaculação precoce durante o sexo. Mas, dessa vez, não briguei com ele e dormi em seu peito durante toda a noite, como ele mesmo pediu.

Depois daquela semana em que tudo se organizou e nós compramos o apartamento até o momento em que o pai de Aidan, o Senhor Daan, morreu, passou-se um ano. Há um ano, Aidan e eu morávamos juntos e tínhamos uma relação. E, durante esse tempo, estive orquestrando minunciosamente o que faria e como distribuiria as ações desse plano. Estabeleci uma linha do tempo para que as coisas acontecessem de forma gradual. E com a morte do pai dele, imaginei que fosse interessante começar a pôr em prática o que pensei.

Na manhã em que Alyce me contou sobre a morte do Senhor Daan, ainda no banho, relaxado sob aquela água que limpava e organizava meus pensamentos, lembrei-me de algumas coisas que aconteceram desde o momento em que voltei a Nova Iorque pela segunda vez até aquele dia fatídico, conforme descrevi. E resolvi que não poderia desperdiçar aquela oportunidade. Era o momento perfeito. Alyce e os seguranças me esperavam na sala de estar do meu apartamento e, juntos, iríamos pegar o avião que me levaria ao Havaí para encontrar Aidan e seu pai morto. Depois de vestir a roupa, encarando meu rosto levemente maquiado no espelho do banheiro, Rosa entrou em meu quarto e perguntou, solícita:

— Quer comer alguma coisa antes de sair?

— Não, Rosa. Obrigado. Arthur está no colégio? — perguntei, deslizando o pincel com um pouco de pó em minhas bochechas e testa.

— Sim. Ele e Juanita estão animados com o retorno das aulas agora no fim do verão — e passou a juntar os lençóis da minha cama para lavá-los.

— Por favor, diga que precisei viajar e não estarei em casa para jantar com ele. Dê-lhe um pouco de atenção e não o deixe assistir à TV de forma nenhuma. Não quero que ele saiba da morte do Senhor Daan e de outras coisas pela imprensa. Melhor, mande retirar a TV do quarto dele e desligue a da sala. Se ele perguntar, invente que a empresa informou que fará uma manutenção pelos próximos dias. Invente alguma coisa, mas não o deixe assistir à TV pelos próximos dias. Entendeu, Rosa? — e larguei o pincel, procurando com os olhos um brilho labial incolor que hidratasse meus lábios.

— Pode deixar.

— São quase 17h. Devo chegar no Havaí de madrugada ou no início da manhã. Não sei quando conseguiremos retornar. Peço a Alyce para ligar com notícias — e, depois, fui até ela, encostei minha bochecha em seu rosto, carinhosamente, fazendo som de um beijinho, despedindo-me.

Enquanto caminhava pelo corredor dos quartos até a sala, liguei para meu relações públicas, Max:

— Precisamos antecipar a publicação do vídeo. Faça isso agora mesmo. E se certifique de que o estrago seja grande nos tabloides e internet. Estou falando em nível internacional. Entendeu, Max? — e desliguei, depois que ele afirmou que faria o que pedi imediatamente.

Ordenei a Max para enviar anonimamente aos tabloides norte-americanos um vídeo meu de dezessete minutos, onde estou transando com dois homens negros e bem-dotados. Na cena, um está embaixo de mim e o outro sobre mim. Estou recebendo uma dupla penetração anal, e fiz questão de, antes de iniciar a gravação, pedir ao cinegrafista para focar bem em meu rosto e em meu ânus, principalmente quando o sangue estivesse escorrendo. Considerando a situação e os meus propósitos, imaginei que o funeral do pai de Aidan fosse um momento bom para ele lidar com uma traição pública e uma exposição dessa natureza. Confesso que, depois que encerrei a ligação com Max, não me contive e dei um sorrisinho malvado, ansioso para que o escândalo explodisse o mais rápido possível. Não sei explicar o porquê, mas, naquele instante, lembrei do Grande dragão vermelho, de Blake, e, em uma fração de segundos, tive a certeza de que o placar entre nós dois era de um para mim e zero para o dragão.

***

CAPÍTULO DOIS

Amsterdã

__________________

No momento em que retornei a Nova Iorque pela primeira vez, um ano e seis meses antes da morte do Senhor Daan, Aidan e eu entramos em um acordo sobre o que fazer a partir dali. Na ocasião, disse a ele que precisava de um tempo para organizar minha cabeça, alegando que viajar seria algo importante para mim e me faria bem. Prometi que voltaria a Nova Iorque e o procuraria. Aidan não acreditou no que falei e não queria permitir que eu viajasse, alegando que eu já havia quebrado a promessa que fiz a ele uma vez, quando o convenci a me levar de Tijuana para Monte Carlo, para conversar com papai sobre tudo que Pablo me contou sobre sua mãe em troca de me separar de Maison para ficar com ele. Durante a discussão, ele relutava veementemente, argumentando que eu estava muito abalado por ter passado dois anos de país em país como um foragido. Mesmo depois de todas as minhas explicações, Aidan se mantinha inflexível em não me deixar viajar, reafirmando, por diversas vezes, que o que tinha aceitado fazer por mim era contra seus princípios e, também, que por causa daquilo, tinha a certeza de que perdeu a amizade de um amigo para sempre. Ele cobrava a minha presença como recompensa por aquilo que aceitou fazer por mim. De fato, sem ele, jamais teria conseguido o que queria naquele momento. Estávamos em um impasse, pois eu queria viajar, mas não podia romper com ele, visto que já tinha em mente o que faria em um futuro próximo. Só precisava encontrar uma maneira de convencê-lo a me deixar viajar. Então, comecei a chorar, dizendo coisas desencontradas, argumentando que não conseguia ficar em Nova Iorque naquele momento. Não demorou muito e, logo, vi o rosto dele se compadecer ao olhar para mim. Nisso, emocionado, abraçou-me e rendeu-se, afirmando que eu poderia viajar, mas que sabia que eu não o procuraria depois, pois já tinha mentido para ele uma vez. Apertei o corpo de Aidan contra o meu com força, solucei e afirmei que não se preocupasse, pois voltaria para ficar com ele sim. Ele beijou meus lábios castamente e, em sua pupila, vi que não acreditava no que eu dizia. Não tenho certeza, mas penso que quis me afastar de Aidan naquele momento por medo de não me controlar e estragar o plano que já arquitetava em minha mente.

No dia seguinte àquela conversa, em minha suíte no hotel, com minha mente agitada e inquieta, pensava em várias coisas. Uma delas era que não queria viajar com Rosa, Juanita e Arthur, que se tornaram a minha família e companhia. Queria viver a minha tristeza sozinho. E, assim, fiz. Onde vou deixá-los, meu Deus? Pensava, enquanto acendia um cigarro atrás do outro e secava, rapidamente, algumas taças de vinho.

Por mais que Arthur e eu ensinássemos algumas coisas do inglês para Rosa e Juanita, elas ainda não estavam preparadas para ficarem em um país onde precisassem falar somente em inglês, então, pensei que deveria deixá-los em uma cidade onde pudessem falar espanhol, enquanto eu faria uma viagem com o objetivo claro de chorar e viver a minha dor. Não tinha ideia de onde deixá-los. O que faço? Onde os deixo? Ajude-me, meu Deus! Estava muito abalado pelo que havia acontecido. Não sabia o que fazer e nem a quem pedir ajuda, visto que Aidan era totalmente contra tudo aquilo. Em um momento de claridade em minha mente, lembrei-me de Alyce, que, à época, ainda trabalhava para a House’s Barrys.

Recordo-me bem do momento em que ela entrou na suíte do hotel em que eu estava. Vendo-a, levei minha mão à boca e caí em um choro desesperado. Ela me abraçou, acalmou-me e pediu para eu contar tudo que aconteceu. Depois de duas garrafas de vinho e vários cigarros, ouvindo-me atentamente, horas depois, Alyce perguntou como poderia me ajudar.

— Não sei, Alyce. Não sei o que fazer. Estou confuso. Vi minha vida desmoronar em uma fração de segundos. Arthur, Rosa e Juanita são a minha família, e não consigo deixá-los com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Prometi a mim mesmo que cuidaria deles. Mas não consigo ficar aqui. Sinto-me asfixiado nesta cidade. Preciso sair daqui, se não enlouquecerei. Estou com medo de cometer uma loucura na minha vida. Preciso reorganizar minhas ideias e penso que ficar sozinho será bom para mim. Entende o que digo? Mas não sei o que fazer e nem para onde ir. Preciso deixá-los em um lugar seguro. Tenho medo do que possa acontecer com eles. Estou com medo. Por favor, ajude-me. Meu coração está cheio de dor e ódio — e levei minhas mãos ao rosto, tentando abafar aquele choro desesperado, que pulsava da minha face em meio a tantas frases desordenadas.

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