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Fantasmas, Garotas E Outras Aparições
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Fantasmas, Garotas E Outras Aparições

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— Não! — Ele disse em voz alta. — Não, você não vai fazer isso comigo de novo. Você me pegou uma vez, mas não vou ser enganado mais. — Ele começou a se afastar da mesa.

A mesa, de rodinhas, o seguiu.

— Desta vez não — reiterou. Ele pegou uma lata de ração fechada e a balançou no ar. — Eu tenho minha própria comida, desta vez. Pode não ser tão apetitosa quanto a sua, mas pelo menos não tem qualquer compromisso.

Ryan puxou a tampa para abrir a lata. Rastejando lá dentro, em cima da carne, havia vários insetos pretos, grandes e feios. Instintivamente, ele jogou a lata para longe. A mesa carregada com alimentos se aproximou.

— Tudo bem, — Ryan disse que teimosamente — então eu vou ficar com fome por mais algumas horas. Não vou ceder a você tão facilmente. Deixe Bael e os outros serem seus escravos, mas não conte comigo. — Esse discurso o fez se sentir muito orgulhoso de sua própria integridade. Infelizmente, não adiantou em nada para aliviar o rosnar no estômago.

Encontre o cérebro central da cidade, Java-10 tinha dito a ele. Mais fácil dizer do que fazer. Onde ele deveria procurar? O centro geográfico pode ser o local lógico, mas onde ele o encontraria? Ele não tinha nem ideia de onde estava no momento, e mesmo que tivesse, não tinham nenhuma direção. Não poderia haver nenhum ponto de referência em uma cidade que se mudava constantemente, onde edifícios alteravam suas formas, bem como suas cores de minuto a minuto.

Decidindo, depois de um tempo, que qualquer direção era melhor do que nenhuma, Ryan começou a andar. A mesa de banquete o seguia como um filhote ansioso. Ele a ignorou, e focou seu olhar à frente.

Enquanto o crepúsculo se tornava escuridão, as luzes da cidade se acenderam. Não as luzes brancas, estéreis, e normais das metrópoles da Terra, mas umas com um brilho fantasmagórico, como se a cidade tivesse se tornado uma daquelas imensas queimas de fogos. Luzes de todos os tons piscavam e brilhavam em padrões regulares e aleatórios. Turbilhões e combinações hipnóticas estriavam em um lado de um prédio e desciam em outro em uma ordem interminável. Não havia nenhum canto para a escuridão se esconder, e então ela fugiu, deixando a cidade tão brilhante como o dia.

Ryan ignorou as luzes e seguiu em frente.

Eventualmente, a mesa atrás dele desistiu e desapareceu. Um dos exploradores anteriores emergiu de um edifício com uma garrafa na mão. Ao ver Ryan, ele acenou com naturalidade e o convidou para participar.

Ryan passou ao lado dele.

— Jeffrey!

Ele não pôde se segurar e virou em direção ao grito. Ali, na porta de um dos edifícios, estava sua mãe, que estava morta nos últimos quatro anos. Ela tinha seu cabelo longo, como tinha sido a moda quando Ryan tinha três anos de idade, mas o rosto era o de sua velhice. Ela estendeu a mão para ele. — Venha até mim, filho — ela implorou em silêncio.

Ela não é real. Minha mãe está morta. Isso é de mentira. Falsificação. Ilusão. Fraude.

Ele se virou lentamente para seguir em frente.

— Jeffrey! Jeffrey, meu filho, você não reconhece nem sua própria mãe?

Ryan parou e mordeu o lábio inferior, mas ele não voltaria a encará-la novamente. Ele não ousou.

— Jeffrey, olhe para mim. Por favor.

— Não. Você é uma farsa, tão falsa como todo o resto nesse maldito lugar. Vá embora e me deixe em paz!

Ela correu até ele o melhor que podia, puxando a perna esquerda como sempre puxara por causa da artrite. Atirando aos pés dele, ela se segurou na manga da camisa de seu filho. — Eu sou sua mãe, Jeffrey — ela chorou. — Diga que me reconhece. Por favor. Sua própria mãe. — Os olhos molhados dela o encaram, e ele rapidamente virou o olhar.

— Me LARGUE!— Ele gritou. Ele a empurrou para longe. Ela caiu de costas e sua cabeça bateu contra o chão duro. Houve um som de rachar, e o sangue começou a fluir de onde a cabeça dela tinha batido. Ela estava muito quieta, seus olhos o encarando como um peixe morto. Ele teve ânsia de vômito, mas seu estômago estava vazio e nada além do ácido de gosto amargo saiu.

Depois que os espasmos digestivos desapareceram, ele se endireitou e continuou a andar, apesar do fato de que podia sentir os olhos sem vida dela encarando a parte de trás de sua cabeça. Se ele olhasse para trás, saberia que ela estaria o encarando. Esse conhecimento tornava difícil não olhar para trás.

Ryan continuou a andar.

***

Eles estavam esperando por ele quando ele virou a esquina. Bael e sete dos outros exploradores estavam em pé em uma única linha bloqueando seu caminho. — Se você não vai seguir as regras, você terá que sair do jogo, Jeff — Bael disse uniformemente.

— Vai me deixar passar?

O outro sacudiu a cabeça. — Não. Não podemos deixar você ir mais adiante.

— Então o que devo fazer agora?

— Uma de duas coisas: voltar, ou se juntar a nós.

— E a minha missão aqui?

— Pare de brincar de soldadinho de chumbo, Jeff. Você é capaz de fazer coisas melhores.

— Eu acho que quero ver o que está atrás de você.

— Há oito de nós aqui, Jeff, e só um de você.

— Sim, mas eu tenho uma arma.

— Não vai funcionar — Bael disse uniformemente. — Não em nós. A cidade não o deixaria.

E Ryan sabia que ele estava certo. Qualquer força que estivesse no controle aqui não o deixaria destruir nada importante. Mas ele deve estar perto de algo, ou esse esforço concentado não estaria aqui para impedi-lo.

— Bem, — ele começou a dizer devagar. Em seguida, com pressa, ele se virou em direção à fila de homens. O mais próximo se aproximou para bloquear o caminho dele; Ryan deu um rápido chute na virilha e o homem se dobrou, deixando o caminho livre para se passar por ele. Ryan correu e continuou correndo ao longo da pista entre os edifícios.

— Atrás dele!— Bael gritou - desnecessariamente, já que os outros homens já tinham começado a perseguição. A princípio, o conhecimento deles da cidade os mantinham quase ao lado de Ryan, mas o desespero emprestou velocidade aos pés de Ryan. Ele deixou de pensar no momento, deixando somente o instinto guiá-lo pelas esquinas curtas que, em outro momento, teriam confundido a mente dele. Ele percebeu que estava correndo diretamente contra um paredão, e uma abertura apareceu bem antes dele se chocar contra ela. Ele correu pelos edifícios, subiu escadas, passou por delicadas pontes arqueadas a 100 metros do chão, então desceu e saiu. Entrou, saiu, deu volta; seus caminhos eram os mais aleatórios e rápidos que ele podia fazer. Seus perseguidores ficaram bem atrás, até que, eventualmente, ele não podia vê-los mais. Então, até os passos deles ficaram ao longe. Ryan parou.

O silêncio apareceu de novo, o mesmo silêncio que tinha dado as boas vindas a ele à cidade. O único barulho era ele ofegante buscando por ar. Ele despencou em seus joelhos, suas pernas tremulantes não eram mais capazes de suportá-lo. Então ele se deitou de lado, enquanto largas golfadas de ar encontravam seu caminho no peito dele.

Sua mão foi em busca do comunicador de novo. O metal frio continuava a ter o efeito relaxante na psique agredida dele. Havia uma Terra. Havia uma nave em órbita acima da cidade, pronta para ajudá-lo. Ele não estava sozinho neste Calvário, sozinho.

— Você não me pegou ainda, Bael — ele arfou suavemente.

— Eu ainda não tentei — a voz de Bael chegou até ele. Ryan olhou para cima, assustado. Acima da cabeça dele havia um imenso televisor 3D, preenchido com a imagem de Bael. — Não há nenhuma necessidade de correr, Jeff; a cidade pode me manter informado sobre seu paradeiro a cada minuto. Posso te achar a qualquer momento que eu quiser. Mas se você quer ficar sozinho, a decisão é sua. Nós tentamos salvá-lo; aconteça o que acontecer agora é tudo culpa sua. Adeus. A tela ficou em branco.

Ryan olhou para sua mão para descobrir que seus dedos estavam brancos de tanto espremer o aparelho de comunicação. Ele afrouxou o aperto e de repente sua mão começou a tremer incontrolavelmente. Ele começou a xingar baixinho, como uma ladainha, todos e tudo conectado a essa missão, desde Java-10 até Richard Bael e finalizou no que parecia ser seu antagonista principal, a própria cidade.

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