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Fantasmas, Garotas E Outras Aparições
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Fantasmas, Garotas E Outras Aparições

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— Interessante — ponderou o computador. — Isso correlaciona com relatórios de outras alucinações observadas pelos seus antecessores. O que aconteceu com eles está começando a acontecer com você agora. Você deve ser duplamente cauteloso de agora em diante.

Ryan se sentou em um degrau para recuperar a sua compostura. Ele gostaria que seu parceiro, Bill Tremain, tivesse sido autorizado a acompanhá-lo nessa missão. Ele e Bill eram uma equipe desde a escola de formação. Juntos, eles tinham sondado mais de trinta mundos, enfrentando o desconhecido lado a lado. Ele não estaria se sentindo tão sozinho agora, ele sabia, caso Bill estivesse aqui com ele. Mas o computador não quis arriscar mais gente além do que era absolutamente necessário. Além disso, todas as explorações anteriores foram feitas por equipes de dois ou mais, e todos falharam; talvez um único homem tivesse uma chance melhor.

Um movimento foi capturado pelo canto do olho de Ryan. Ele girou a cabeça rapidamente para ver o que parecia ser uma figura humana sob as escadas abaixo dele e então, desapareceu. Uma figura ruiva. A figura de Bill Tremain. E isso era patentemente ridículo porque Bill Tremain estava a bordo da nave.

No entanto, Ryan caminhou lentamente descendo as escadas para investigar. Não havia ninguém lá, é claro; a parede abaixo da escada era lisa e dura, com nenhum lugar para alguém correr. Não, o edifício estava deserto, exceto por ele. O silêncio atestava isso.

— Procurando algo, Jeff?— Veio uma voz acima.

***

O homem que estava parado no terceiro patamar não era o parceiro de Ryan. Ao invés disso, era Richard Bael um velho conhecido dos dias da Academia. — Ah, não se preocupe — Bael sorriu. — Eu sou bem real.

Isso fazia sentido. Bael tinha sido um dos primeiros dezesseis a entrar na cidade. — Como você chegou aí?— Ryan gaguejou.

— Ah, — Bael deu de ombros —há maneiras. — Ele começou a andar tranquilamente degraus abaixo. — Você vai aprender, depois de uma semana ou duas.

— Eu não planejo ficar tanto tempo assim — Ryan respondeu defensivamente. Ele tentou alcançar lentamente o comunicador em seu bolso, mas Bael percebeu o movimento.

— Ah, vai ligar para sua nave? Posso dizer algumas palavras a eles?

— Eles gostariam de ouvir você — Ryan disse. — O que aconteceu com sua unidade de comunicação?

— Devo ter colocado ela em algum lugar e me esqueci — Bael disse com um aceno de mão. — Não acho que era tão importante assim. — Ele ficou ao lado de Ryan e estendeu a mão. Ryan deu a ele o comunicador.

— Olá aí em cima, aqui é Richard Bael chamando. Podem me ouvir?

— Sim— respondeu a voz sem emoção de Java-10.

— Eu tenho um relatório atrasado para fazer em relação a minha exploração desta cidade. Suponho que você tem todas as suas fitas rodando, pronto para gravar cada palavra.

— Correto.

— Tudo bem, então aqui vai: Vai se fuder. — Ele desligou o aparelho e o devolveu a Ryan. — Eu sempre quis fazer isso, mas nunca tive coragem antes — ele sorriu gozando.

Ryan arrebatou o comunicador da mão dele, ligeiramente horrorizado com a ação. — Aqui é Ryan chamando Java-10. Está me ouvindo?

— Afirmativo. É realmente Bael quem está com você? A pergunta era plana ao invés de incrédula.

— Ele parece estar.

— Eu sou Peter Pan — Bael disse caprichosamente.

— Cala a boca!— Gritou Ryan.

— Não precisa ser tão sensível, Jeff. Eu só estava tentando ser útil.

— Pergunte a ele por que não deixa a cidade — Java-10 insistiu.

— Ah, não responda, Jeff. Estou cansado desse computador brincar de Deus. — Ele começou a se mover em direção à porta. — Guarde esse aparelho estúpido. O dia está muito agradável para desperdiçá-lo falando com uma caixa.

Ryan hesitou.

— Olha, você veio aqui para explorar a cidade, não foi?— Bael continuou. — Bem, estou disposto a te guiar durante a visita. O que está esperando - um convite impresso? Certo, tome um.

Ele puxou um pequeno cartão do bolso e jogou nos pés de Ryan. Ryan se abaixou e o pegou. Gravado nele, em letras de ouro, estavam as palavras: SR. RICHARD BAEL GRACIOSAMENTE SOLICITA A PRESENÇA DO SR. JEFFREY RYAN PARA UM TOUR PESSOALMENTE PELA CIDADE.

— Isso é o suficiente pra você?— Bael perguntou coloquialmente.

Ryan cuidadosamente armazenou o cartão na bolsa de amostras para uma posterior análise mais tarde. — Tudo bem, Bael, vamos do seu jeito. — O comunicador voltou ao bolso dele. — Mostre o caminho.

Com um floreio, Bael saiu pela porta, com Ryan a dois passos atrás. Depois que Ryan atravessou, a abertura desapareceu e a parede se tornou sólida mais uma vez. Ele se recusou a se preocupar com um detalhe tão pequeno assim. Ele tinha poucas dúvidas de que a cidade teria surpresas bem maiores guardadas para ele em pouco tempo.

E ele estava cheio de razão.

***

Os dois homens atravessaram a cidade, Bael em um ritmo calmo e Ryan aquecido com uma impaciência por ter que coincidir com o passo irritantemente lento do outro. Não havia nenhuma rua real a seguir, já que a cidade parecia não estar disposta em qualquer padrão discernível e não havia nenhum trecho longo de terreno aberto e largo o suficiente para qualquer tipo de veículo. Edifícios de todos os formatos, tamanhos e cores brotavam por todos os lados; um cilíndrico aqui, um em forma de cone ali um pouco mais adiante no hemisfério... havia até alguns que mudavam suas formas enquanto Ryan os observava.

— Quem construiu essa cidade?— Ele perguntou a Bael. — Por que a construíram? Para onde foram?

— É um lugar agradável, não é? — Bael ignorou as perguntas e fez um gesto para a cidade em torno deles.

— Isso não é uma resposta.

— Claro que não. Eu não tenho uma. Perguntas não são importantes aqui, portanto respostas são irrelevantes.

— Claro que não são. Eu tenho que saber --

— Correção: Java-10 tem que saber. Você não tem que fazer nada além de se divertir. — Bael cacarejou simpaticamente. — Seu pobre idiota, você sofreu uma lavagem cerebral tão grande que você nem percebe a liberdade quando ela te beija na cara. Vamos nos sentar e conversar um pouco.

Duas cadeiras aparentemente confortáveis apareceram atrás deles. Bael se sentou em uma e acenou para Ryan se sentar na outra. Inquieto, o explorador a experimentou antes de pôr seu peso sobre ela. — Você quer falar sobre o quê?— Ele perguntou depois de se sentar.

— Vamos começar com o porquê de você estar aqui.

— Pelo mesmo motivo que você: para saber mais sobre a cidade.

— Por quê?

— Tecnologia, principalmente. Alguém que pôde construir um lugar como esse deve estar tão à frente de nós que estamos tentando aprender alguma coisa apenas examinando seus artefatos. Temos de descobrir --

Nós?— Bael interrompeu. — Você realmente se inclui nisso?

A interrupção fez Ryan perder sua linha de raciocínio, e ele só pôde piscar incompreensivelmente.

— Seja honesto. Você estava, pessoalmente, tão curioso para saber o que tinha na cidade a ponto de arriscar perder sua sanidade ao chegar aqui? Os olhos de Bael estavam brilhando de vida enquanto ele ansiosamente continuava seu ponto. — Você se voluntariou para essa missão, ou Java-10 o ordenou? Ah, veja como ele se remexe. Isso não foi uma ideia sua, foi?

— Isso não tem nada a ver --

— Tem tudo a ver. Jeff, você é uma marionete, um escravo para aquela nave lá em cima. Faça um bom trabalho, desempenhe bem sua missão e você vai receber uma batidinha nas costas, uma recomendação, talvez até uma medalha. É tudo isso que sua vida vale para você?

— Tenho uma responsabilidade para com a Corporação, com a Terra.

— Que se fodam! E a sua responsabilidade quanto ao velho e bom número um? Que tal aprender a se divertir?

— A Terra precisa de mim --

— Claro, como o Presidente Ferguson precisa de outro buraco na bunda. — Bael olhou à volta dele. — Ei, vamos lá, pessoal, juntem-se a festa.

Quinze outros homens aparecem do espaço onde Ryan e Bael estavam sentados. Eles vieram de todas as direções, e os passos eram tão agradáveis e calmos como os de Bael. Era o resto dos exploradores que vieram à cidade em expedições anteriores. Ryan conhecia a maioria deles, se não pessoalmente, então pelo menos por suas reputações. Eles eram homens duros, experientes antes de virem para a cidade. Agora eles aparentavam estar mais tranquilos, mais relaxados e bem satisfeitos. Todos cumprimentaram Bael e sorriram calorosamente para Ryan.

— Não tenho dúvida, — disse Bael — que você quer sacar seu comunicador e dizer a Java-10 a boa notícia que todo mundo está vivo e reunidos aqui em um só lugar.

De fato, era isso que Ryan queria fazer. Apesar das amigáveis expressões nos rostos dos homens, ele sentia um agudo desconforto ao estar cercado por dezesseis desertores. Ele queria segurar aquela caixa de metal mais do que nada agora, o que dava a ele uma reconfortante garantia de que havia alguém lá em cima preocupado com o bem estar dele. Mas esta conversa parecia estar se transformando num duelo pessoal entre Bael e ele, e ele se recusou a dar seu adversário a satisfação de estar certo. Então, ao invés de pegá-la ele disse: — Posso informar mais tarde.

— Bom garoto! — Bael sorriu. — Você já está aprendendo. Dentro de alguns dias, você vai ser livre como qualquer um de nós.

Ryan tinha a estranha sensação de que tinha caído na armadilha do outro. — Mas eu não tenho alguns dias — ele retrucou acintosamente. — Se eu não sair daqui amanhã, vou ser considerado perdido, assim como você. E se eu for, Java-10 vai bombardear essa cidade de partículas subatômicas.

Os outros homens pararam de sorrir. Todos, exceto Bael, cujo bom humor parecia inabalável. — Não acho que — ele disse baixinho — a cidade iria permitir que isso acontecesse.

Foi a vez de Ryan de ficar calado por um momento. — Você fala como se fosse um ser vivo.

— Eu não tenho a menor ideia se é ou não. Mas depois de ficar aqui por um tempo, você começará a se perguntar. Ela certamente sabe o que está acontecendo em nossas mentes. Ela atua em nossos pensamentos e molda nossos sonhos. Ela nos ama, Jeff, e não vai deixar nada nos machucar.

Um calafrio subiu pela espinha de Ryan. Bael estava falando sério, como só um louco poderia estar. Ele engoliu seco e disse: — No entanto, eu não quero estar aqui para testar seu amor quando as bombas começarem a cair.

— Você é livre para ir embora quando quiser — Bael apontou. — Ninguém vai impedi-lo.

Ryan percebeu, com surpresa, que Bael estava certo. Ele estava certo de que encontraria alguma força diabólica, escondida em algum lugar dentro da cidade que iria tentar mantê-lo aqui contra sua vontade. Ao invés disso, tudo o que encontrou até agora foi uma tecnologia maravilhosa e dezesseis lunáticos amigáveis. Ele não havia sucumbido - ainda - à loucura dos outros e não sentiu nenhuma compulsão estranha impedindo sua partida. Ele estava livre para ir embora a qualquer instante.

— Claro que — disse Tashiro Surakami, um dos outros exploradores que Ryan conhecia vagamente — Java-10 pode não ficar totalmente feliz com você se você fosse.

Esse era o problema. Se ele fosse embora agora, ele não teria nada significativo para relatar. Ele tinha sido enviado para descobrir por que estes homens não tinham voltado para suas naves. Até agora, exceto por algumas generalizações que Bael tinha pronunciado, ele ainda não tinha nem ideia quanto à razão. Se ele deixasse a cidade agora e voltasse para a nave, era melhor ele nem ter vindo.

— Eu ainda tenho meu trabalho para fazer — Ryan insistiu teimoso. — Eu não vou parar no meio. Eu tenho que descobrir por que... — E ele parou.

— Por que ficamos loucos? — Bael terminou para ele. — Do meu ponto de vista, é por que ficamos sãos. A resposta está toda ao seu redor, se você simplesmente parar para procurá-la. Os outros companheiros e eu próprio estamos provavelmente te distraindo. Talvez ajude se você ficar sozinho por um tempo. Pessoal, vamos deixar o Jeff aqui um pouco. Lembre-se, Jeff, se você quiser falar com qualquer pessoa, é só dar um toque. Alguém vai te ouvir.

Bael e os outros começaram a sair casualmente, conversando e rindo entre si. Era como se Ryan tivesse deixado de existir de repente para eles. Em menos de um minuto, todos tinham desaparecido. O silêncio sufocante retornou mais uma vez, deixando Ryan sentado no meio de uma cidade aparentemente deserta.

O explorador alcançou rapidamente seu comunicador e expeliu um relatório desesperado para a nave lá em cima. Ele estava esperando por conselhos, mas a nave simplesmente reconheceu a mensagem laconicamente, dizendo a ele para se manter cauteloso e desligou.

Não foi até ele se levantar de novo que viu a garota.

***

Ele a encarou por um longo momento, incapaz de dizer qualquer coisa.

A garota não era como os outros. — Olá, Jeff — ela disse em tom suave. — Se lembra de mim?

Se lembrar dela? Como ele poderia esquecer Dorothy, a garota de sua primeira vez? Dorothy, com seus seios pequenos, mas femininos, sua risada doce, com seu quente desejo em dar prazer...

— Você não existe — Ryan afirmou categoricamente. — Você não é real.

Dorothy pôs a cabeça daquele jeito só dela quando ele dizia alguma coisa que ela não entendia. — Não sou?

—Não estou no clima para brincar de perguntas e respostas. Primeiro Bael, agora você. Seja o que você for, você não é Dorothy. Ela está a cem parsecs de distância, ela é casada e tem três filhos. Você não é nada mais que uma fraude. Vá embora.

Dorothy apenas olhou para os pés dela e não se moveu. — Você não me ama mais.

— Olha, — Ryan disse — vou admitir que você é uma farsa inteligente. O problema é que sei que você não é real. Não é culpa sua... você tentou.

— Não sou real? — Dorothy olhou para cima, seus olhos vermelhos e marejados, sua voz hesitante. — Você pode me ver e ouvir, não pode? Se você chegasse um pouco mais perto, poderia sentir o cheiro do meu perfume. Se você se esticasse, me tocaria. Se você me morder, vai sentir meu gosto. O quão mais real posso ser?— A súplica dela beirava à histeria.

Ryan hesitou. Ela deve ser uma alucinação. Não havia dúvidas quanto a isso. O oficial bem treinado nele queria alcançar o comunicador no bolso. Mas o homem dizia não. E uma terceira parte da mente dele continuava repetindo: — Você é um tolo. — Mas qual parte era o tolo? Ele não podia amar um produto de sua própria imaginação que de alguma forma tinha se materializado ante dele. Essa Dorothy era fria, irreal, um produto sombra de uma cidade misteriosa.

E de repente ela estava nos braços dele, bem real, bem viva. O rosto dela virou para cima, procurando o dele. Seus pequenos seios se esmagaram contra ele, as coxas pressionaram as ondulações dele, excitando-o. Ryan tentou resistir, tentando dizer a si mesmo que isso não estava acontecendo. Ele teve suas escolhas de mentiras, mas a Dorothy em seus braços era tão convincente. A mão esquerda dela acariciava o lado esquerdo da cabeça dele. A mão direita dela bagunçou avidamente os botões da túnica dele. A boca dela, pressionada na dele, abriu e para fora saiu a pequena e firme língua para passar a ponta nos dentes dele.

Já não era possível ter alguma dúvida. Ao inferno com a lógica! Isto era real. Isto não era nenhum delírio da mente dele, mas algo genuíno de carne e sangue. Ele nadou em um mar de sensações. Os dois caíram no chão, que de alguma forma parecia se tornar resiliente e emborrachado. Mas a mente dele não teve a chance de se preocupar com isso, pois o corpo dele se recusava. A razão murchou ante a paixão, como tinha feito por séculos.

De fato, ele estava tão absorto que ainda não tinha notado o zumbido insistente de seu comunicador.

***

Mais tarde, Dorothy se levantou novamente. — Eu preciso ir — ela falou.

— Deve mesmo?

Ela assentiu. — Mas eu voltarei a qualquer momento que você precisar de mim. Só me chame. E eu saberei. — E assim ela se foi.

Ryan ficou deitado lá de costas, olhando para o céu. Era bem mais fraco do que tinha sido antes, e não doeu tanto aos olhos dele. Deve ser final de tarde. Em poucos minutos, ele iria se levantar e continuar sua inspeção, mas agora estava muito saciado para se mover. Até piscar o olho parecia um esforço gigantesco...

— Se divertindo?— Perguntou uma voz familiar.

Ryan virou a cabeça bruscamente para ver Bael a alguns metros de distância, de pé, sorrindo para ele. Um jato de culpa, vergonha e indignação o colocou de pé. — O que você está fazendo me espiando?

— Não estou — Bael disse, e seu sorriso alargou-se. — Eu estava apenas pelos arredores e pensei em dar uma passada. E além do mais, eu poderia te perguntar o mesmo, exceto que eu sei a resposta.

Ryan não tinha certeza o que o enfurecia mais -- o jeito de Bael ou a sua própria inadequação em suportar esse desertor. Antes de ele conseguir pensar em alguma coisa para dizer, Bael continuou: — Suponho que era sexo.

A expressão de Ryan o traiu. — Pensei que fosse — Bael assentiu com sabedoria. — Isso parece ser o que nós, solitários exploradores, mais precisamos. É a única coisa que o computador da nave não pode nos dar. A cidade sabe, Jeff. Não importa o quanto você tenta esconder algo em sua mente, a cidade sabe.

— Você acredita mesmo que ela está viva. — Não era uma pergunta.

— Não sei. Depende o que você chama de viva. Se quer dizer que vive e respira, duvido. Se você quer dizer consciente e ciente do que está acontecendo, sim, definitivamente.

— Mas como --

Você vai continuar fazendo essas perguntas infernais? — Só por um momento, a máscara exterior de Bael rachou e permitiu a Ryan um breve vislumbre de insegurança sob a superfície. Então a suavidade retornou e Bael voltou ao seu casual e desprendido eu. — Só aceite isto pelo o que é, Jeff. Esta cidade pode te dar seus sonhos. Ela quer ajudá-lo. Não sei como o faz; não me importo. Seus construtores fizeram-na desta forma, isso é o suficiente para mim.

— E onde estão eles agora? Os construtores. O que aconteceu com eles?

Ele estava tentando ver se conseguia quebrar a compostura de Bael novamente, mas desta vez ele falhou. — Não sei. Eles provavelmente foram para coisas maiores e melhores. De alguma forma é uma pena porque eu realmente gostaria de agradecê-los.

— Agradecê-los pelo o quê?— Ryan perguntou cinicamente. — Por te transformar em um vegetal? Você só senta por aí e deixa a cidade fazer tudo por você, certo? Esquece sobre ser um homem e se torna um errante --

— Você é alguma coisa além de um homem, Jeff?— Bael respondeu, e qualquer tensão que estava nele se aproximava da superfície. — Quem é a marionete por aqui? Quem é que salta sempre que Java-10 puxa a corda? Quem não pode suportar estar longe de sua unidade por mais de alguns segundos? Qual de nós está nesta cidade porque está sob ordens, e qual de nós anda por aí como bem entende?

— Você costumava ser um bom oficial, Bael — Ryan disse calmamente. Por um momento, pelo menos, os papéis foram invertidos - Bael estava no limite e Ryan estava tranquilo.

— Claro, eu costumava ser — Bael cuspiu. — Eu recebia ordens e arrisquei minha vida para a querida e velha Terra. E o que isso rendeu para mim? Um punhado de medalhas, um pequeno bônus no meu envelope de pagamento a cada Natal, um fundo de pensões acumulando rapidamente. Tudo se torna sem sentido depois de um tempo, Jeff. Mas aqui não. A cidade me quer, ela precisa de mim. Foi construída para servir às pessoas, para dar a elas o que elas desejam. Ela só quer ajudar. É assim tão ruim?

— Sim, é - se ela pode fazer o que fez com você.

Bael estava lutando para recuperar seu autocontrole. — Não resista, Jeff. Esse é só um aviso amigável. A cidade pode se proteger contra você com bastante facilidade. Pode te dar seus sonhos, claro; mas pesadelos são sonhos também. Não acho que você possa lutar contra todos os seus pesadelos de uma só vez. — Bael se virou e foi embora.

Ryan ficou lá parado e viu-o indo. Mesmo depois do desertor desaparecer atrás de um dos edifícios, Ryan ficou parado, imóvel. Bael estava só ameaçando, ou a cidade podia desenterrar pesadelos também assim como sonhos? Ele estava inclinado a acreditar na última opção. Novamente, ele pensou em quão real que Dorothy tinha sido e estremeceu. Ele não tinha quaisquer pesadelos por um longo tempo, mas mesmo assim... mesmo assim.

Ele pegou o comunicador do bolso e fez outra chamada para Java-10. — Por que você não respondeu a última chamada?— Foi a resposta imediata da nave.

Vagamente, Ryan recordou o zumbido que tinha vindo da unidade durante seu interlúdio com Dorothy. — Me... Me desculpe — ele gaguejou. Então, como uma criança culpada enfrentando um pai severo e que sabia da verdade, ele se percebeu deixando escapar detalhes sobre tudo que aconteceu desde a última vez que falou com a nave.

Java-10 ouviu desapaixonadamente todas as suas revelações. — Você abandonou seus deveres durante aquele flerte — a máquina o repreendeu depois que ele terminou.

— Eu sei. Não deixarei isso acontecer de novo.

— Muito bem. Mas isso não exclui o fato de ter acontecido pela primeira vez. — Então a máquina mudou para outro assunto inteiramente. — Um quadro coerente do funcionamento desta cidade está começando a emergir. Aparentemente há um poder automático ou poderes atuando nos bastidores e consciente do que está acontecendo. Parece razoável assumir que esse poder controlador possui algum tipo de habilidades telepáticas, o que o capacita descobrir seus desejos e projetar ilusões na sua mente.

— Deve haver algo a mais, mais além. A cadeira que eu sentei era real. Ela apoiou meu peso. A garota também era real. Definitivamente não eram ilusões.

Java-10 hesitou. Então: — Pode também ser apropriado postular que há um sistema de transformação de matéria-energia, permitindo assim o poder operando a cidade ser capaz de criar matéria na forma que bem entende. Todas estas conclusões provisórias pressupõem uma quantidade incrível de sofisticação técnica por parte dos construtores da cidade. Agora me parece imperativo que descobrimos o segredo da cidade.

— Deve haver uma área central de controle, um lugar onde residem as funções superiores do cérebro da cidade. Você deve procurar esta área e incapacitá-la sem destruí-la, para que assim possa ser estudado em segurança.

— Mas como posso fazer isso?— Ryan protestou.

— Não há dados suficientes neste momento para responder a essa pergunta — respondeu Java-10. — Você deve primeiramente descobrir mais sobre este sistema.

— Pode ser perigoso. — Ryan repetiu a ameaça de Bael sobre os pesadelos. — Você não poderia mandar mais alguns homens aqui embaixo para me ajudar?

A resposta foi imediata e cruel em sua franqueza. — Não. Se um homem não pode fazer isso, então, as probabilidades estão contra qualquer grupo de poder. Se a cidade te tomar, ela vai tomar qualquer outra pessoa que mandarmos para baixo. Arriscar outras vidas é algo que não podemos. Se você falhar, a cidade deve ser destruída, não importa o quão valiosa. — E, sem mesmo desejá-lo boa sorte, Java-10 desligou.

***

Agora já era final de tarde. A estrela vermelha que servia como sol para este mundo estava se pondo, tornando-se em uma bola inchada de sangue enquanto se aproximava do horizonte. Sua luz mudou a coloração de toda a cidade e os edifícios refletiram os tons macabros com uma sensação de estranho prazer juntamente com maus pressentimentos. A brisa constante agora tinha um pouco de frio, e Ryan, em pé a céu aberto, estremeceu involuntariamente.

Ele não tinha comido nada desde o café da manhã, e estava ficando com bastante fome após as atividades incomuns do dia. Ele foi em busca de uma ração no seu kit de sobrevivência

e notou, em um lado, uma grande mesa aparentemente posta para um homem rico. Os aromas mistos e agradáveis de presunto cozido, frango frito, lagosta grelhada e bife assado assaltaram suas narinas. Além desses pratos, ele podia ver purê de batata com manteiga, ervilhas e

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