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Novos Começos Encantados
Minhas costas protestaram quando empurrei o sofá para a parede oposta e o ping ainda estava me deixando louca. Minha avó tinha arranjado tudo ao redor da lareira. Não havia nada melhor do que uma lareira acesa no inverno, mas eu planejava criar um lugar que eu pudesse assistir televisão quando a minha chegasse na próxima semana.
Não havia TV a cabo em Cottlehill Wilds, mas havia internet. Graças a Deus pelo streaming. Tinha contratado um plano família quando Emmie começou a faculdade para que ela tivesse algo para acessar sem ter que pagar por isso.
Quando mudei a namoradeira de lugar, dei um passo para trás e odiei o novo arranjo. A mesa de centro não se encaixava com a disposição dos outros móveis. Abri a porta do lado da casa e empurrei a mesinha de madeira para o lado de fora. Voltando, eu gemi para a bagunça que eu tinha feito.
As dores evoluíram para agonia e eu mal conseguia me mover. Hora de tomar banho. Pegando uma garrafa de vinho e meu e-reader, eu praticamente engatinhei pelas escadas e entrei no meu banheiro. Eu precisava de uma pausa e tinha que fazer algo para parar aquele maldito ping.
Andando até a banheira de modelo antigo, com pezinhos em formato de garras e tudo, eu liguei as torneiras e tampei o ralo. Minha avó tinha vários potes cheios de líquido em uma prateleira de madeira no banheiro. Eu tinha jogado fora os que tinha um perfume que me lembravam dela e deixei o resto. Derramando um pouco de um líquido que cheirava a jasmim e maçã, virei-me para tirar minhas roupas e congelei.
Mancando até a janela, meus olhos se arregalaram quando vi Sebastian parado perto do cemitério da família. Um segundo depois eu estava correndo escada abaixo, apesar dos meus joelhos protestando.
Mas quando cheguei lá fora, ele não estava em lugar nenhum. Eu fiquei lá e virei em um círculo e depois xinguei. O que diabos ele estava fazendo aqui de novo? Se ele queria falar comigo por que ele foi embora? A boa notícia era que o ping finalmente parou.
Eu não tinha ideia de como encontrar Sebastian, então voltei para dentro. Quando ouvi o barulho de água no andar de cima, lembrei que tinha deixado a torneira da banheira ligada. Eu tropecei na minha pressa para subir, tinha abusado muito do meu velho corpo hoje.
Cheguei ao banheiro bem na hora em que a água quente começava a transbordar. Fechando a torneira, eu puxei a tampa do ralo e permiti que vários centímetros fossem drenados. Checando a janela para ter certeza que ninguém estava me observando eu puxei a camisa sobre minha cabeça, depois tirei meus sapatos e meias, em seguida, o resto das minhas roupas.
Céus, era delicioso afundar na água perfumada. Minhas dores diminuíram e peguei meu dispositivo e abri o último livro que estava lendo. Pensando bem, não era à toa que eu gostava tanto de histórias envolvendo criaturas paranormais e fantasiosas. Era parte de quem eu sou.
Eu me perdi na história até a água esfriar. Com um suspiro, pousei minha taça de vinho no chão e me levantei. Tive o prazer de descobrir que meus joelhos e costas me suportavam sem muita reclamação. Quaisquer que fossem aqueles óleos, eles tinham que ter poderes mágicos. Um banho nunca tinha me feito sentir tão bem assim antes.
Eu estava seca e vestida quando o sol começou a se pôr. Eu estava com fome de novo depois de uma longa tarde de caminhada, arrancar ervas daninhas e limpeza. Quando cheguei lá embaixo, cheguei ao limite do impossível pela segunda vez naquele dia.
— Como é que eu fiz isso acontecer? — Perguntei para o ar enquanto observava uma sala de estar perfeitamente organizada. O sofá e a namoradeira estavam do lado oposto, com a cadeira complementando os assentos. A pintura de uma paisagem que pairava sobre a lareira tinha sumido e suportes vazios estavam em seu lugar. Precisamente onde eu planejava pendurar a TV de tela plana.
Eu realmente preciso descobrir como funciona essa merda toda. Embora, eu não me importava de fazer flores crescerem e fazer a casa se ajeitar sozinha. Eu me virei e fui para a cozinha para pegar algo para um jantar leve. Nada me apetecia e eu não tinha desejo de cozinhar.
Por uma fração de segundo eu fiquei lá desejando alguns tacos de peixe como uma tola. Parte de mim realmente esperava que eu pudesse fazer as coisas aparecerem apenas desejando-as, enquanto o resto de mim sabia que aquilo era impossível. Eventualmente fui forçada a admitir a derrota e peguei uma maçã, um pouco de manteiga de amendoim e um refrigerante. Eu estava lá comendo quando o calor eclodiu sobre o meu corpo.
O suor escorria por todos os meus poros e eu fiquei tonta. Abri o freezer e fiquei na frente dele esperando que aquilo me esfriasse. Pela janela eu notei as árvores balançando com a brisa e eu estava tentada a andar lá fora, mas o ar frio da geladeira parecia bom demais para me mover.
Um segundo depois, a porta dos fundos se abriu e os ventos sopraram pela casa. Eu me assustei, fechei a porta do freezer e fui lá fora procurar o que fez a porta se abrir assim. O sol estava apenas se pondo e o céu era uma bela mistura de rosa e laranja.
Um ruído de cascalho sendo esmagado se intrometeu na quietude do meu momento de paz e me virei para ver Sebastian andando pela estrada. — Você está me seguindo, Sebastian?
Sua cabeça virou em minha direção e seus olhos arregalaram um pouco antes de estreitarem. Minhas mãos foram para minha boca e eu desejei me enfiar em um buraco. Eu tinha acabado de provar a ele que eu era o pior tipo de perseguidora do mundo.
— Eu não estou seguindo você. Eu vim para Pymm's Pondside. — Sua voz era mais áspera do que o cascalho sob suas botas pretas e me atingia de maneiras que não deveriam acontecer.
Limpando minha garganta, cruzei meus braços sobre meu peito. — Sim, posso ver isso. Por que você continua vindo aqui? Quer alguma coisa?
Ele me observou sem dizer nada. As palavras de Aislinn sobre meu novo trabalho como Guardiã brotaram em minha mente. A mulher não tinha me dado mais nenhuma informação sobre o assunto. Talvez ele quisesse atravessar para o reino Feérico.
— Ah, hum, você quer atravessar para… — Minhas palavras vacilaram enquanto minhas bochechas aqueciam. Eu não tinha ideia de como aquilo funcionava. Não queria que esse cara pensasse que eu era uma idiota.
Ele inclinou a cabeça. — Para Eidothea? O que você sabe sobre portal para o reino Feérico?
Meus ombros levantaram e caíram. — Não sei de nada. — Doeu ter que admitir aquilo. Por alguma razão eu queria que ele visse a mulher brilhante que eu era. Aquela que aprendia as coisas mais rápido do que qualquer um ao meu redor e tinha se formado em primeiro lugar da classe na escola de enfermagem. Era por isso que eu era a única enfermeira capaz de conectar pacientes ao aparelho de ECMO no meu hospital anterior. — Nem sei se acredito em nada do que Aislinn disse sobre magia, os Feéricos, e meu suposto trabalho.
— Eu estava preocupado com isso. É por isso que eu vim para cá.
— Por quê? Você está aqui para me ajudar? — Por favor, esteja aqui para me ajudar. Minha cabeça estava uma bagunça e precisava de alguém para me ensinar sobre tudo aquilo. Certamente havia regras que eu deveria seguir. A última coisa que eu queria fazer era cometer um erro porque eu não sabia das coisas.
Oh, Deus! E se eu deixar algum Feérico serial killer passar pelo portal?
Sebastian não respondeu, apenas ficou me encarando. Vaga-lumes começaram a rodear minha cabeça. Espantei eles com uma mão enquanto mantinha meus olhos em Sebastian. O zumbido tornou-se persistente até que finalmente me virei para ver que estava enganada sobre o que estava voando ao meu redor. Na verdade, eram pessoas pequeninas voando. Assim como a Sininho!
Estas criaturas tinham asas iridescentes e cabelos e roupas coloridos vibrantes. — O que são eles? Aislinn nunca me contou o que eles eram.
Sebastian diminuiu um pouco da distância entre nós. — Eles são pixies. E esses são brownies, ou duendes amigos.
Segui o dedo dele e notei pequenas criaturas marrons rastejando sob a cerca e indo para o jardim. — O que é que eles fazem? Eles estão tentando atravessar?
— Você realmente tem que dar um jeito de aprender antes que o Rei Voron envie algo terrível para estabelecer uma base neste reino. — Depois de rosnar essas palavras, Sebastian começou a se afastar.
Minha boca comprimiu em uma linha fina para evitar xingá-lo enquanto ele ia embora. Engolir a raiva e a frustração não foi fácil, especialmente quando considerei como isso tinha acabado de cair no meu colo e ele estava esperando que eu fizesse milagres.
Com um grunhido, dei um pisão na grama. Eletricidade escaparam das minhas mãos. Gritei e agitei minhas mãos no ar. Um raio branco brilhante voou para a esquerda e atingiu uma árvore.
Chamas irromperam ao longo da casca e uma figura alta e esbelta saiu de dentro dela gritando. Corri ao redor da lagoa e a alcancei num piscar de olhos. Meu coração bateu descontroladamente no meu peito enquanto queimaduras brotavam ao longo dos braços dela.
Agindo por instinto, corri para a lagoa e peguei o máximo de água com as mãos. Quando voltei para ela com um punhado de água, o fogo já apagado, e ela estava me encarando. Derramei o líquido sobre o braço dela. — Sinto muito. Eu não queria te machucar. Eu perdi a cabeça.
Os cantos dos seus finos lábios castanhos se ergueram e seus olhos verdes brilharam. — Está tudo bem, Bas tem esse efeito nas pessoas. Eu sou Theamise. Sua avó me convidou para viver no Bordo quando ele estava morrendo por causa de um fungo.
Acenei com a cabeça como se já soubesse disso. Quando eu menos percebia, algo novo era jogado para cima de mim. Exceto que eu sabia sobre aquilo. Vovó me contou a história sobre a árvore estar à beira da morte e que ela fez um acordo com uma ninfa para salvá-la.
Parecia impossível que essas criaturas sequer existissem. Se não fossem as histórias que minha avó me contou, eu ficaria muito mais chocada. Esperava que fosse mais fácil aceitar que tudo isso fosse real porque não podia continuar tendo as mesmas discussões na minha cabeça. Sério, eu fazia esquizofrênicos parecerem sãos.
Eu não tinha mais vinte anos. Ser atingida com tudo isso estava afetando a minha mente. Mas como todos os Shakleton, eu me recusava a permitir que isso me sobrecarregasse. Com um susto, percebi que minha mãe fugiu de tudo isso. Não achei que ela negasse a existência desse mundo. Afinal, ela me mandava para ficar com a mãe dela todo verão. Mas por que ela ou meu pai nunca me contaram sobre nada disso? Não pude deixar de me perguntar o que a fez se afastar.
Nada disso importa agora! Certo. Eu precisava dar um jeito na situação antes que ela saísse do controle. Algo estava obviamente acontecendo no meu novo mundo e eu tinha que descobrir o quê, antes que acabasse com a bunda no chão, literalmente.
— Eu realmente sinto muito sobre sua árvore. Espero não ter causado nenhum dano permanente, mas preciso correr e falar com uma amiga bem rápido.
— Eu entendo. Vou curar, assim como a árvore. Não se preocupe conosco. —Theamise acenou para mim e voltou para o Bordo.
Corri para a casa, peguei minha bolsa e chaves e pulei no meu carro. Violet não morava longe, e eu precisava perguntar se ela sabia alguma coisa sobre o que estava acontecendo. Talvez ela tivesse um livro que me ajudasse. Independentemente disso, precisava da minha melhor amiga para ajudar com um bom choque de realidade. Estacionei em frente à livraria Livre-se.
O sino tocou quando abri a porta e Violet olhou por cima do caixa. — Ei, Fiona. O que houve?
Eu deveria saber que ela perceberia a minha angústia. Eu verifiquei o corredor ao meu lado e o seguinte antes de me aproximar dela. — Preciso de sua ajuda. — Expliquei o que aconteceu naquele dia e o que Aislinn me disse antes.
Violet suspirou e me lançou um olhar de simpatia que eu já tinha visto umas mil vezes antes. — Aislinn disse a verdade. Sua avó foi a última Guardiã e você é a única herdeira viva, então quando você reivindicou a casa você reivindicou a posição.
— Como eu nunca soube de tudo isso? Por que você nunca me contou que a magia existia?
Violet mordeu o lábio. — Eu presumi que você nasceu uma Mundana e é por isso que seus pais se mudaram com você. É difícil para um Mundano crescer entre os sobrenaturais. — Eu não seria a pessoa a falar sobre o mundo que existia ao seu redor, especialmente se não houvesse nada que você pudesse fazer para se proteger dele.
Peguei uma das canetas com pontas felpudas do mostruário e comecei a esfregá-la entre as minhas palmas, precisando de uma distração. — Eu não consigo acreditar que tudo isso é real. Que todas as histórias da vovó eram verdadeiras.
— É muito para assimilar. Imagino que você sinta como se um tapete fosse puxado debaixo dos seus pés — disse Violet, enquanto observava a minha agitação.
— Exatamente! Sebastian não ajudou em nada, e Aislinn me contou um pouco, mas não o que eu realmente preciso saber. Eu quero enfiar minha cabeça na areia e fingir que nunca ouvi nada disso.
— Mas você não vai — interveio Violet com um sorriso de quem sabe tudo. — Você enfrenta os problemas de frente, mesmo quando eles parecem impossíveis ou são dolorosos de lidar.
— Você me conhece bem. Não posso ignorar nada disso, por isso estou aqui. Preciso saber como devo proteger esse portal. Nem sei onde ele fica. Você tem alguma coisa que possa me ajudar?
— Eu posso ser uma bruxa, mas eu não posso dar-lhe essas respostas. Essa é uma informação que só sua família sabe — informou Violet, se encolhendo um pouco.
Meus ombros afundaram e eu senti vontade de bater em alguma coisa. — Como diabos eu vou fazer este trabalho quando eu não tenho nenhuma informação? Sebastian acabou de me dizer que o Rei Voron enviaria algo terrível através do portal e que eu seria responsável pelo fim do mundo. Você não tem um livro que pode pelo menos me dar informações sobre o que estou lidando?
Violet acenou com uma mão. — Em primeiro lugar, não dê ouvido a ele. Ele faz do mau humor uma forma de arte. Segundo, gostaria de ter algo que ajudasse. Meu melhor conselho é que você faça uma busca em sua casa. Sua avó teve que ter deixado algo que a ajudasse, ela sabia que você voltaria algum dia.
— Ela podia ter me enviado uma carta. Ou deixado uma na mesa da cozinha. Diabos, nem que fosse um e-mail. Feito qualquer coisa para me dar a informação que eu preciso. O peso do mundo está literalmente nos meus ombros de meia-idade e eles estão prestes a desistir.
Violet riu e balançou a cabeça. — Parece que você tem andado em círculos o dia inteiro. Vamos jantar, depois eu posso ajudá-la a fazer uma busca em sua casa.
Assenti, a emoção de repente tomando conta de mim. Foi como se algo tivesse encaixado com um clique dentro do meu peito.
Violet deu um pulinho com um sorriso largo erguendo os seus lábios. — Ei, nós acabamos de formar um coven de duas pessoas? — Ela deve ter sentido algo parecido com o que tinha acabado de sentir.
— Eu acho que está mais para três pessoas. Acho que Aislinn não gostaria de ficar de fora — corrigi.
— Nisso você está certa. Deixe-me fechar a loja e podemos sair daqui.
— Isso seria fantástico. Obrigada. — Eu não tinha nenhum desejo de fazer a busca sozinha. Era bom ter alguém me apoiando.
Eu poderia ter acabado de embarcar em um episódio de "Além da Imaginação", mas havia muitas pessoas ao redor para me ajudar a navegar pela escuridão. Eu não estava sozinha e isso aliviou minha preocupação mais do que qualquer coisa. Uma coisa que aprendi era que você precisa se cercar de amigos e família como apoio, ou você será comido vivo pelas reviravoltas da vida.
CAPÍTULO QUATRO
— Será que isso aqui é algo importante? — Eu segurei o livro no alto, sem saber se as marcas estranhas na capa do livro significavam alguma coisa.
Violet enfiou a cabeça na sala de artesanato um segundo depois. As sobrancelhas dela franziram e ela estudou a capa marrom na minha mão. — Essa não é a escrita de sua avó ou o Grimório da sua família. Parece um livro Feérico. Essa é a língua Feérica. Eu não imagino Isidora teria deixado notas nele.
Eu balancei a cabeça e suspirei. — Bem, eu não achei mais nada. Isso é inútil. Parece que minha avó não pensou em me deixar um bilhete ou uma pista sobre este mundo. Talvez eu devesse voltar para a Carolina do Norte para ficar com meus filhos.
Violet se aproximou de mim e apertou minha mão. — Você mencionou algo encaixando no lugar. Você se sente diferente agora?
Olhando pela janela, eu vi a lagoa e as vitórias-régias florescendo. — Honestamente, estou sobrecarregada, mas ainda sinto que é aqui que estou destinada a estar. Mas eu não tenho ideia do que deveria fazer como Guardiã e isso me irrita. Eu não estou acostumada a não saber das coisas.
Violet riu e saiu da sala, me puxando com ela. — Agora, isso soa como Isidora. Ela era a chamada na cidade pela maioria das pessoas se eles estivessem precisando de poções ou receitas ou precisassem de ajuda com os entes queridos. O que importa é que você se sente como se pertencesse.
— Isso não é o que importa. Não posso ajudar ninguém com nada. Eu nem sei o que são poções. Eu diria que não tenho magia para aprender, mas sei que seria mentira.
— Isso já é alguma coisa. Só de dizer que tem certeza que tem magia já te faz muito diferente da mulher com quem falei há algumas semanas. Está dizendo isso por causa do que lhe disseram? Ou alguma coisa aconteceu? — Violet soltou minha mão e foi para a cozinha.
Eu fui atrás dela enquanto ela ia para o fogão. — Eu fiz algumas flores aparecerem quando eu estava no jardim arrancando ervas daninhas. Eu estava sobrecarregada na hora e as emoções meio que vazaram de mim. Mas quando eu realmente paro para analisar a minha vida, eu acho que sempre houve algo sob a superfície. Quando estava em trabalho de parto com meus filhos, fiz com que os monitores fetais quebrassem. E quando as pessoas me deixavam com raiva de alguma forma aconteciam coisas como bebidas derramadas, defeitos no guarda-roupa e diarreia quando direcionava minha raiva para eles. Nunca pensei muito nisso, supondo que estava sendo paranoica. Depois das últimas semanas eu passei a considerar esses eventos de forma diferente.
Violet se apoiou no balcão enquanto se inclinava e gargalhava. — Diarreia? Essa é clássica. Quanto a aprender a usar magia, posso ajudar com poções e outros feitiços com a sua parte ligada à bruxaria. Mas você também é parte Feérica e eu já não posso ajudar com essa metade. Nem com o papel que você aceitou como Guardiã. É aí que o Grimório da sua família vem a calhar.
— Você mencionou isso antes. Seria um livro, certo? Como ele se parece? Eu não encontrei nada que tivesse o histórico da minha família.
Violet ligou o fogão e colocou a chaleira para ferver. — Eu nunca o vi, mas é muito mais do que sua história familiar. É um compilado de feitiços e magia que seus ancestrais criaram. Aposto que também há informações sobre o portal e seus deveres nele.
— Então parece que eu preciso encontrar esse maldito livro. — De repente me senti derrotada. Eu procurei pela maior parte da casa, mas não encontrei nada. — Você pode me dizer por que minha família tem esse papel? Por que não posso passar o trabalho para alguém como Sebastian? Ele seria capaz de lutar contra qualquer um que não deveria atravessar para a Terra.
Violet balançou a cabeça e pegou o leite da geladeira. — Tê-lo no comando seria um desastre. Ele nunca permitiria que ninguém passasse. Não sei a história toda, mas sei que sua família se estabeleceu em Pymm's Pondside há muito tempo, quando havia muitas pontes do Reino Feérico para este mundo. À medida que a magia secava no mundo, o portal em sua terra permaneceu. Suspeito que alguém da sua linhagem o criou como uma maneira de visitar a família aqui e vinculou sua existência à sua linhagem quando o Reino Feérico começou a perder seu poder.
Eu virei para encará-la e quase derrubei as canecas que eu tinha acabado de pegar com o choque. — Como um reino inteiro pode perder energia? Isso parece impossível.
Violet suspirou e colocou saquinhos de chá nas canecas que eu coloquei na ilha da cozinha. — Tem a ver com o Rei e quando ele assumiu o trono. Ele consumiu uma parte significativa da magia do reino e até roubou a magia de algumas das criaturas que vivem nele. Foi a única maneira dele vencer o rei anterior.
Aquilo era fascinante. — Então, há tipo uma família real escondida que pode tomar o trono de volta e restaurar o Reino Feérico à sua antiga glória? — Era um plot comum em romances de fantasia, meu gênero favorito.
Violet riu disso e pegou a chaleira quando ela começou a assobiar. Ela derramou a água quente nas canecas. — As histórias não mencionam isso. Não sou Feérica, mas pelo que sei, o trono é tomado à força. Não é algo que é passado de herdeiro para herdeiro. O mais forte reina Eidothea e o seu povo. Mas há um alto escalão e apenas essas famílias do topo têm a capacidade de lutar pelo trono. Suspeito que sua família pertence a esse nível mais alto.
Eu recuei como se ela tivesse me dado um tapa. Eu não queria ter nada a ver com seres que explorassem outros para ganho pessoal. — Aff. Graças aos Deuses eu não sou uma pessoa vil que passaria por cima de outros para poder tomar o trono.
— O Reino Feérico precisa de um governante que pense no bem maior. Talvez então o equilíbrio entre nossos mundos possa ser restabelecido. — Violet colocou açúcar em seu chá, em seguida, ergueu a caneca fumegante para seus lábios.
Eu também ergui a minha e deixei o vapor aromático me acalmar. — E o que poderia acontecer? Não vejo humanos aceitando que Feéricos existem. Eles lançariam bombas nucleares para destruir todos nós se soubessem que criaturas míticas eram reais. — Não havia como negar a forma como reagimos ao medo. Pensei em comprar uma arma depois que Tim morreu. No final, percebi que seria mais um risco do que ajuda.
— É verdade. De qualquer forma isso não importa agora. Não há ninguém vivo capaz de desafiar o Rei Voron.
Eu ofeguei e derrubei meu chá quando minhas mãos voaram para minha cabeça. Aquele ping terrível tinha começado novamente e estava muito mais forte do que nunca.
— Fiona, você está bem? O que houve? — A voz da Violet parecia que vinha de muito longe. Eu não conseguia me concentrar em nada, exceto no barulho e no puxão em meu peito.
— Minha cabeça — grunhi com os dentes cerrados. — Tem esse ping incessante.
Uma mão correu para cima e para baixo nas minhas costas, esfregando círculos. Descubra de onde vem essa merda! Respirei fundo, várias vezes, e me concentrei na fonte por vários segundos. Violet estava perguntando se ela deveria me levar a alguém ou algo na cidade chamado Zreegy. Eu não tinha ideia de quem ou o que Zreegy era.
Tudo o que eu conseguia pensar era em acabar de uma vez por todas esse ping e puxão. Estava piorando e agora era insuportavelmente doloroso. Depois de vários segundos, deixei minhas mãos caírem e olhei para os olhos azuis de Violet. A preocupação dela era o lembrete que eu precisava de que havia alguns na cidade que se importavam comigo.
— Você está bem? — perguntou ela, depois de alguns segundos.
Eu assenti e passei a língua em meus lábios secos. — Estou bem agora. É que sinto esse ping na minha cabeça desde que cheguei e está piorando. Eu pensei que estava vindo da casa, mas agora eu suspeito que está vindo de fora.
Violet se virou e foi para a despensa. — Pode ser apenas as linhas ley e você está sensível ao poder que corre através delas, mas vamos sair e descobrir o que está causando isso. Não agora, fique onde está. Você está descalça e há pedaços de cerâmica por todo o chão.
Eu nem tinha ouvido a caneca quebrar. Eu continuei focada no ping que agora estava ficando cada vez mais suave. — Você sabe que eu estaria perdida sem você e Aislinn. Saber que posso contar com vocês duas acaba com qualquer dúvida sobre minha decisão de ficar. Mas o que você quer dizer com as linhas ley e por que eu seria sensível a elas?
— Linhas ley são caminhos de magia concentrada. Aqui em Cottlehill Wilds várias diferentes convergem. Isso atrai sobrenaturais à nossa localização e é uma das razões pelas quais temos uma população significativa vivendo aqui. A outra razão é o portal. Suspeito que foi essa convergência que possibilitou que o portal fosse criado aqui.