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Novos Começos Encantados
Contents
1. CAPÍTULO UM
2. CAPÍTULO DOIS
3. CAPÍTULO TRÊS
4. CAPÍTULO QUATRO
5. CAPÍTULO CINCO
6. CAPÍTULO SEIS
7. CAPÍTULO SETE
8. CAPÍTULO OITO
9. CAPÍTULO NOVE
10. CAPÍTULO DEZ
11. CAPÍTULO ONZE
12. CAPÍTULO DOZE
13. CAPÍTULO TREZE
14. CAPÍTULO QUATORZE
15. CAPÍTULO QUINZE
16. CAPÍTULO DEZESSEIS
17. CAPÍTULO DEZESSETE
18. CAPÍTULO DEZOITO
19. CAPÍTULO DEZENOVE
20. CAPÍTULO VINTE
TRECHO DO LIVRO # 2
Nota da autora
Direitos autorais © maio de 2020 por Brenda Trim
Editor: Chris Cain
Arte de capa por Fiona Jayde
Tradução: Elaine Lima
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* * *
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação da autora ou são usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como real. Qualquer semelhança com eventos, locais ou pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.
AVISO: A reprodução não autorizada desta obra é ilegal. A violação criminal de direitos autorais é investigada pelo FBI e é punível com até 5 anos de prisão federal e multa de US $ 250.000.
Todos os direitos reservados. Com exceção das citações usadas nas resenhas, este livro não pode ser reproduzido ou usado no todo ou em parte por qualquer meio existente sem a permissão por escrito dos autores.
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Dedicatória
“E, às vezes, você simplesmente sabe que é hora de começar algo novo e confiar na magia dos novos começos.” ~ Fiona Shakleton
CAPÍTULO UM
Emmie me soltou e enxugou uma lágrima que escorria de seu olho enquanto olhava ao redor do lugar. — Posso ver por que você quer ficar aqui. Este lugar é incrível, mãe. Bem, tirando o cemitério e os mausoléus assustadores. Sempre odiei eles nas vezes que viemos aqui quando eu era criança, e pelo visto não mudou nada. De qualquer forma, saber o quanto você ama este lugar fará estar tão longe de você valer a pena.
Apertei a mão da minha filha mais velha e balancei minha cabeça concordando. Nunca imaginei que me sentiria assim quando viesse à Inglaterra para me despedir da minha avó. — Pela primeira vez desde que seu pai morreu, sinto como se estivesse em casa aqui em Pymm's Pondside. A única desvantagem é não poder simplesmente entrar em um carro e ir visitar você, seu irmão e irmã.
— Nós não nos importamos de vir até você, mãe. Você já fez mais do que o suficiente por nós. Já era hora de você ter algo só seu — disse Skylar, minha filha mais nova, enquanto entrava na conversa. Ela estava encostada na cerca branca que cercava o enorme jardim que minha avó manteve em perfeitas condições. O que era algo que eu não estava tão ansiosa assim para cuidar. Meu joelho ruim doía só de pensar no que ele sofreria.
Greyson se afastou da lagoa que ficava em frente à propriedade que eu tinha acabado de herdar e revirou os olhos para sua gêmea. Dos meus filhos, Skylar era a minha garotinha doce, já Emmie era a responsável dos três, e Greyson era o cabeça quente. — Pare de ficar choramingando. Mamãe não vai te mandar uma passagem para a Inglaterra toda vez que você ficar com saudades.
Minha cabeça começou a latejar antecipando a briga dos dois, que eu já estava acostumada. Emmie estava na faculdade há dois anos, mas os gêmeos tinham acabado de ingressar. Sendo a mais apegada dos três, Skylar voltava para casa quase todos os fins de semana. A viagem de três horas não a incomodava, já Greyson ficava no campus quase o tempo inteiro. Ao me mudar para a Inglaterra, ia ser impossível para eles voltarem para casa para uma visita de fim de semana.
Sou uma mãe horrível pois nem mesmo saber que estava deixando os meus filhos sem a base deles por perto me fez mudar de ideia. Mas cada fibra do meu ser gritava que era aqui que eu deveria estar. Onde eu precisava estar. Vivi os últimos 22 anos por outra pessoa. Agora era a minha vez.
Passei um braço em volta de Greyson e o outro ao redor de Skylar. — O que eu sempre lhe disse, Grey? É seu trabalho cuidar de suas irmãs. Elas fazem muito por você. Espero que você dedique um tempo para elas, enquanto todos nós nos adaptamos a esta nova condição.
Greyson baixou a cabeça e respirou fundo. — Desculpa, mãe. Você tem razão, eu não vou pensar só em mim.
— Eu não vou deixar que você faça isso — acrescentou Emmie. — Nunca pensei que ficaria feliz em voltar a morar com vocês, doidos, mas estou realmente animada.
A poeira subiu no ar quando o carro que eu chamei para levá-los ao aeroporto apareceu na estrada de terra. A emoção ficou engasgada em minha garganta e meus olhos queimaram com lágrimas. Eu tinha perdido muito na minha vida, e parecia que agora eu estava perdendo eles também. — Eu vou sentir falta de vocês.
Skylar me apertou com mais força. — Sentiremos sua falta também, mas não será assim pra sempre. Nunca se sabe, podemos decidir nos mudar para cá quanto terminar a faculdade.
Soltei os gêmeos e abracei Emmie em seguida. — Agora, lembrem-se de que vocês precisam assinar o contrato da casa de vocês antes do início do semestre. O corretor entrará em contato com você, Emmie, para acertar a data e a hora, mas vocês três precisam estar presentes.
No segundo em que pisei na propriedade da minha avó, liguei para um corretor de imóveis em Salisbury e combinei de vender minha casa. Eu juro que os deuses estavam ao meu favor, porque a casa vendeu antes que a semana terminasse. Emmie estava muito feliz por encontrar uma casa nova para ela se mudar com os gêmeos. Rapidamente, os três encontraram exatamente o que queriam. Usando o dinheiro da venda da minha casa, fiz uma oferta na nova moradia das crianças, perto do campus.
— Cuidarei disso, mãe. Não se preocupe conosco, estaremos de volta no próximo verão.
— Me ligue se precisar de alguma coisa. — Eu abracei cada um deles mais uma vez e os mandei embora.
Virando-me, observei minha nova casa. Pymm's Pondside era o nome da casa de campo branca. Quando criança, vinha visitar este local e achava legal que eles davam nomes às suas casas. Mas chamá-la de casa de campo não seria o certo. O lugar era quase tão grande quanto a minha casa em Salisbury, mas tinha charme para dar e vender.
O telhado marrom me lembrava uma construção de palha. Cada ângulo era arredondado, criando uma aparência suave e convidativa para a casa de cinco quartos. As venezianas das janelas combinavam com o marrom do telhado e a hera que crescia de um lado era como se tivesse saído de um conto de fadas. Sempre pensei isso e agora, aquele lugar era meu.
Eu até tinha um cemitério. Achei que nunca diria isso na minha vida. A parte mais louca é que isso me fez sentir mais perto de uma família que eu nunca conheci. Virei minha cabeça para a esquerda e olhei para as lápides. Nos fundos do local havia alguns mausoléus. Sim, era algo super assustador, mas também muito legal. Quer dizer, havia um cemitério a trinta metros de onde eu dormia. Ainda bem que sempre os amei, ou não teria sido capaz de ficar na casa.
Afastando-me do cemitério, olhei para o jardim que havia passado dias me perguntando se deveria removê-lo. Não só estremeci com o pensamento de ter que ajoelhar tanto, mas também não tinha um dedo verde. Eu não era tão ruim quanto Violet, minha melhor amiga, mas as plantas não floresciam muito bem sob meus cuidados. Além disso, estou começando uma vida nova agora. Admito que não tenho vontade nenhuma de remover as ervas daninhas da maldita coisa. Na verdade, eu estava relutante em arrancar as plantas. Elas fazem parte do charme do lugar.
Eu fui até a lagoa e sorri, enquanto olhava para o grande porção de água. Tinha visto veados, coelhos e pequenos ursos bebendo tarde da noite ou de manhã cedo. Toda a propriedade era cercada por bosques. A área era exuberante, graças ao clima chuvoso do norte da Inglaterra.
Abrindo o pequeno portão da cerca do jardim, saí em busca de um pouco de manjericão para colocar no meu sanduíche de tomate para o almoço. Havia tantas ervas e plantas, e eu só conheço um terço delas… acho. Alecrim e hortelã eram as mais óbvias. O resto eu aprenderia com o tempo, se não perdesse tudo para o mato.
Encontrei o que procurava no canto mais próximo do cemitério. Meu olhar desviou para o túmulo recente. Minha visão turvou quando li o nome da minha avó. Um ping começou na minha cabeça. Essa era a única maneira que eu poderia descrever aquilo.
Havia algo batendo nas paredes do meu crânio, quase como se fosse uma abelha presa em uma panela. Nunca senti algo assim antes. O estresse do mês passado deve estar me afetando.
Respirei fundo e pensei em minha avó. Isidora Shakleton era inesquecível e uma parte importante daquela cidade. A maioria dos residentes de Cottlehill Wilds compareceu ao funeral dela.
O ping desapareceu quando me virei e voltei para a casa. O interior era tão aconchegante quanto parecia do lado de fora. A porta dos fundos dava direto na cozinha, onde deixei o manjericão antes de passar pela pequena sala de estar e subir as escadas para o meu quarto.
A colcha de retalhos que minha avó fez ainda estava em sua cama. Minhas roupas e alguns dos meus pertences favoritos foram enviados para mim. O resto foi deixado para as crianças.
Eu realmente preciso de um novo edredom… e lençóis. Fiz planos para ir até a cidade para que pudesse comprar uma bela colcha e talvez um colchão novo. Eu juro que havia mais calombo na coisa do que na minha bunda e coxas. O que queria dizer muito.
Tendo a minha idade, seria chocante se a pessoa não carregasse uns quinze ou dez quilos a mais. Eu com certeza tinha meus pneuzinhos… além das dores nas juntas. Pensei, enquanto me abaixava para pegar a toalha que Skylar deixou jogada no piso de madeira.
Essa era uma coisa que eu não sentiria falta. As crianças, assim como meu falecido marido, nunca colocavam nada no lugar. Céus, como isso me dava nos nervos. Passei minha vida inteira cuidando de outras pessoas… tanto no trabalho quanto em casa. Juro que cuidar de pessoas estava no meu DNA.
Depois de terminar meu bacharelado em enfermagem, trabalhei em tempo integral na UTI de um hospital local por vinte anos e depois cuidei de Tim no final de sua vida. Talvez fosse isso o que havia de tão convidativo na casa da minha avó, não havia ninguém aqui para eu cuidar.
Depois de lavar a pasta de dente que deixaram grudada na pia, me virei e gritei. — Que porra é essa? — Minha boca se escancarou quando notei as toalhas de volta no chão. De onde diabos elas surgiram? Eu apenas as peguei e coloquei no cesto de roupa suja.
Fui para os outros quartos e tirei os lençóis das camas antes de endireitar as capas sobre os colchões. Quando terminei com o quarto em que Greyson estava hospedado, tropecei nos lençóis que não estavam mais na pequena pilha organizada que tinha deixado.
Fazendo uma pausa, coloquei minhas mãos em meus quadris e olhei ao redor. Alguém estava brincando comigo? Não encontrei nada fora do comum, então peguei a pilha e coloquei na cesta, em seguida carreguei minha carga escada abaixo.
Quando entrei no cômodo minúsculo nos fundos da cozinha, onde ficavam a máquina de lavar e a secadora, parei repentinamente quando notei o sabão tombado para o lado. — Tudo bem, vó, se você está assombrando o lugar para me assustar, não há necessidade. Não vou fazer muitas mudanças por aqui.
Foi quase como se a casa suspirasse ao meu redor. Balançando a cabeça com a minha idiotice, coloquei uma carga na máquina de lavar e entrei na cozinha. A visão do banquinho de madeira gasto perto da ilha da cozinha me lembrou de todos os dias em que costumava sentar lá quando criança e ouvir minha avó me contar histórias sobre Feéricos e Bruxas.
Eu invejava sua criatividade, nunca poderia inventar contos tão elaborados quanto os dela. Ela tecia contos sobre portais, fadas, dragões e gnomos. Quando me tornei mãe e meus filhos começaram a pedir por histórias, escolhia as minhas favoritas, daquelas que ela me contou.
Skylar amava o conto de uma pixie que buscou asilo com uma bruxa para fugir de uma besta cruel que a estava caçando. A pixie mal conseguiu evitar a besta e disparou por alguns bosques quando se deparou com uma barreira. Ela bateu com as pequenas mãos na barreira, implorando por ajuda. A bruxa ajudou e deu à pixie um pouco de madeira para viver e a fada deu à bruxa flores frescas em troca.
O conto favorito de Emmie era sobre uma família de gnomos que estava escapando de alguns barghests, cães negros monstruosos e sobrenaturais. Já Greyson preferia o conto sobre os transmorfos de dragões que precisavam fugir do vil Rei que os criou com a intenção de devastar e matar.
Com minha mente perdida em memórias, preparei um sanduíche e estava me afastando da janela quando um movimento chamou minha atenção. Eu respirei fundo e imediatamente comecei a engasgar com minha comida. Amassando a comida na minha mão, corri para a porta dos fundos e disparei por ela.
Eu ainda estava tossindo quando desci correndo os degraus. Depois de mais algumas tosses, consegui limpar minha garganta. — Posso ajudar? — Ainda parecia que a comida estava empacada no cano errado.
A mulher parou com a mão em uma erva de jardim e olhou para mim. Ela parecia ter quase trinta anos, talvez trinta e poucos, e tinha um cabelo ruivo deslumbrante. Minhas mãos alisaram minha camiseta rosa quando eu olhei para seu top e barriga chapada.
Ela ergueu uma das mãos e sorriu. — Ah, oi. Você deve ser Fiona, a neta de Isidora. Eu sou Aislinn. Achei que você já estaria em um avião e voltando para casa agora. Eu vi o carro partir horas atrás.
Cruzei os braços sobre o peito, espalhando maionese no meu seio esquerdo. Eu estava toda desarrumada, mas não me importei no momento. Não tinha ideia de como eram as coisas com a minha avó, mas não queria que as pessoas vagassem pela minha propriedade sempre que quisessem.
— Esta é minha propriedade e decidi ficar. Ouça, não tenho certeza de que acordo você fez com minha avó, mas gostaria de um aviso antes que saísse por aí roubando minhas coisas.
Os olhos de Aislinn saltaram das órbitas e sua mão caiu para o lado do corpo. — Sinto muito. Como eu disse, imaginei que você tivesse ido embora. Eu só precisava de um pouco de cardo santo para uma poção, e Isidora sempre me permitiu colher os poucos ingredientes que preciso em troca de ajuda na manutenção daqui.
Isso trouxe um sorriso aos meus lábios. Minhas mãos relaxaram e pedaços de tomate caíram de dentro do pão. — Nesse caso, você é mais que bem-vinda. Honestamente, eu estava pensando em me livrar do jardim. Eu juro que tenho um “dedo preto”. Além disso, não tenho ideia do que seja tudo isso, ou para que serve.
Aislinn riu e cortou alguns galhos da planta que estava segurando. — Se você é parente de Isidora, você será capaz de manter as coisas vivas, mas ajudo com prazer. Esta se tornou minha terapia desde que meu marido me deixou, há um ano. Seu marido não veio morar com você?
Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro quando um nó se formou na minha garganta. Sempre que falava sobre Tim, eu ficava à beira de desabar. Já havia passado tempo suficiente para que eu tivesse superado. Mas eu sabia melhor do que ninguém que não existia essa tal coisa de superar quando se tratava de algo assim. O luto era uma montanha-russa que te pega desprevenido, quando você menos espera, a dor surge. A perda de alguém que você ama nunca para de doer, não importa quanto tempo tenha passado.
— Meu marido faleceu há alguns anos. Câncer. — Ao dizer isso, me prevenia das perguntas inevitáveis sobre o que o matou. — Meus filhos voltaram hoje para casa, para as aulas da faculdade. Eles virão me visitar, mas não vão morar comigo.
— Eu sinto muito pelo seu marido. Você está recomeçando, isso é bom. Isso ajudará a criar uma vida sem ele. Dessa forma, a dor não vai te consumir toda vez que você olhar ao seu redor.
Meu queixo caiu com a percepção da jovem. Eu nunca teria esperado que ela fosse tão sábia. — Honestamente, eu nunca pensei sobre isso. Foi muito difícil deixá-lo ir. Apesar de como doía comer em nosso restaurante favorito e ir ao nosso parque, eu ignorei essa dor porque parecia uma traição fazer qualquer outra coisa. Só quando cheguei aqui e senti essa sensação de pertencimento que comecei a pensar mais no meu desejo de criar uma vida nova para mim.
Aislinn passou pelo portão e parou ao meu lado. Ela era pelo menos sete centímetros mais baixa do que meus um metro e setenta e era magra como uma vara, mas exalava uma aura verde. Bem, devo ter pensando isso porque ela gosta de jardinagem.
— Por ser uma Shakleton, você definitivamente pertence aqui. Preciso voltar para casa para fazer esta poção, mas se você precisar de alguma coisa, trabalho na Pena de Fênix. Na verdade, você deveria vir alguma hora para tomar uma bebida. Por minha conta.
Eu estendi minha mão limpa e apertei a dela. — Obrigada. Nos falaremos, tenho certeza.
Eu a observei partir, mas não consegui ver qual caminho ela tomou ao sair para a estrada, porque parado do outro lado do caminho estava um homem. Ele era musculoso e intimidante. Eu não diria que ele era lindo. Ele era muito assustador para isso, embora sua beleza fosse inegável.
Eu ergui minha mão e acenei para ele. — Oi. Eu sou a Fiona. Acabei de me mudar para a casa da minha avó. — O cara não disse uma palavra enquanto ficava parado com os pés separados e os braços cruzados sobre o peito enquanto estreitava os olhos azuis para mim.
Esperei alguns minutos antes de perceber que ele não se apresentaria. Engolindo em seco, voltei para minha casa. Quando entrei na cozinha, ele tinha ido embora. Talvez eu perguntasse a Aislinn quem era o homem atraente, porém furioso.
Pymm's Pondside estava se revelando ser mais do que eu esperava quando voltei para a cozinha para ver talheres espalhados sobre a ilha. Uma determinação familiar caiu sobre mim. Isso ia ser ótimo… mas eu não tinha outra escolha.
Perdi minha avó, larguei meu emprego, vendi minha casa e me mudei para outro país. Eu não poderia exatamente continuar de onde parei. Aquela outra vida estava jogada ao vento agora.
CAPÍTULO DOIS
— Aaaaai! — Eu segurei minha cabeça quando o tal ping começou novamente. Eu me perguntei pela milionésima vez se este era um sintoma da pré-menopausa. As ondas de calor estavam acontecendo cada vez mais e eu encontrei um cabelo grisalho ontem, então não me surpreenderia se fosse. Dizem que os quarenta são os novos trinta e na época eu concordei. Aos quarenta, não havia muito o que diminuísse o meu ritmo. Aos quarenta e cinco, já não tenho tanta certeza. Em certos momentos eu me sinto uma anciã.
Eu empurrei a irritação de lado e forcei meus pés a me levarem até a cafeteira. Na semana passada, percebi que precisava encontrar algo para fazer com meu tempo. Sempre trabalhei em tempo integral e não suporto a ideia de ficar sem ter o que fazer. Até tenho gostado de não ter o estresse do hospital, mas preciso de algo.
Eu gostaria que Violet tivesse mais tempo. Era bom morar na mesma cidade que ela agora, mas ela tinha uma livraria e não tinha tempo para ficar comigo o dia todo. Pensei em perguntar se poderia ajudar na loja, mas não queria me impor. Uma coisa era falar diariamente no computador e outra era visitá-la o tempo todo.
Além disso, não ajudava em nada o fato da recepção calorosa que experimentei quando cheguei a Pymm's Pondside ter diminuído. Era mais como se alguma força estivesse tentando me fazer ir embora. A casa parecia me querer ali e querer me afastar ao mesmo tempo. Era um jogo cansativo de puxa-empurra.
Consegui respirar fundo quando o ping em minha cabeça parou. Foi quando a batida começou. Parecia que o aquecedor de água estava prestes a explodir, mas eu estava relutante em chamar o encanador da cidade para voltar aqui. A última vez que ele veio, ele me disse que não via razão para os sons. Não ajudou que durante a hora e meia em que ele esteve aqui, não ouviu nada.
Decidindo não pensar duas vezes, eu enchi uma xícara do meu pretinho básico e tomei um gole da bebida cafeinada enquanto olhava para a lagoa pela janela. As manhãs aqui eram absolutamente as minhas favoritas. A vegetação ao meu redor despertava com uma parte de mim que raramente conseguia alimentar quando vivia em Salisbury. Não que lá fosse tão árido quanto o Texas, mas Cottlehill Wilds deixava no chinelo as duas áreas em termos de vida vegetal.
A solidão silenciosa me cercava. Eu tinha me acostumado a viver sozinha, mas sempre havia barulho ao redor. Eu morava perto do centro da cidade, o que significava que ouvia veículos passando o dia todo. Nunca notei quanta poluição sonora havia onde eu morava.
Abrindo a porta dos fundos, saí e cruzei até a mesa colocada sob um grande bordo. Sentada à mesa de ferro trabalhado, bebi meu café enquanto planejava meu dia. Eu precisava descobrir se havia algo que eu pudesse fazer na cidade. Era outra coisa que adorava sobre morar aqui.
Havia uma rua principal cheia de lojas pitorescas. A padaria tinha o melhor creme de leite que já provei, e a livraria de Violet era muito bem abastecida. Talvez eu perguntasse se eles precisavam de ajuda na loja de bebidas. Eles possuíam uma seleção fabulosa de merlots.
A empolgação com essa nova fase da minha vida ainda borbulhava em mim. Nunca antes passei tanto tempo pensando no que eu queria para mim mesma. Parecia decadente passar tanto tempo imaginando o que eu queria fazer com meu tempo agora. Até este ponto, as decisões sempre foram tão naturais. Escolher a faculdade que eu queria frequentar foi fácil e conheci Tim durante meu primeiro ano. As coisas simplesmente aconteceram a partir daí.
Não que tenha sido amor à primeira vista, mas eu sabia que íamos nos casar. Quando ele fez o pedido no nosso último ano, foi mais uma formalidade do que qualquer outra coisa. Ter três filhos, uma carreira e um marido me mantiveram ocupada o suficiente que acabei não trazendo os meus gêmeos para visitar minha avó com muita frequência. A culpa por isso tirou um pouco da minha empolgação. Eu deveria ter visitado mais.
Eu deveria ter feito um esforço para vir pelo menos a cada dois anos. Tinha que ter me esforçado, pois sabia que me arrependeria depois. Quando meus pais morreram em um acidente de carro durante meu segundo ano na faculdade, me arrependi de não ter escolhido uma faculdade mais perto de casa. Eu perdi muito dos últimos anos da vida deles.
Isso me fez pensar na decisão de ficar aqui. Eu não veria muito meus filhos. Eu tinha dinheiro suficiente para comprar passagens de avião para eles uma vez por ano sem esgotar minhas economias, e muitas coisas aconteceriam em suas vidas entre as visitas.
Pelo menos eu tinha Violet por perto. Ela e eu éramos amigas desde que eu conseguia me lembrar. Eu a conheci durante minhas primeiras visitas à minha avó e mantivemos contato ao longo dos anos. Ela era a primeira pessoa para quem ligava quando algo acontecia, e um grande motivo para minhas poucas visitas aqui em minha vida adulta.
E então havia Aislinn. Eu não tinha passado muito tempo com ela na semana passada, mas ela apareceu várias vezes e eu a observei cuidar do jardim enquanto conversávamos. Eu gostei de como ela falava o que pensava, mesmo que ela fosse estranha e falasse sobre poções. Eu ainda estava me ajustando aos termos que o Ingleses usavam para remédios caseiros.
Então havia o homem misterioso que eu tinha visto no dia em que meus filhos foram embora. Violet me informou que seu nome era Sebastian e que morava perto de Pymm's Pondside. Eu o vi espreitando várias vezes, mas ele nunca disse nada enquanto ficava lá parado me olhando.
Meus olhos percorreram a floresta ao meu redor. O cara havia me assombrado quase todos os momentos em que eu estava acordada. Eu não sabia nada sobre ele, mas sua expressão séria e corpo sexy não me deixavam em paz, então continuei pensando no porquê. Eu odiava não compreender algo. Quando ganhava um quebra-cabeça, não conseguia largá-lo antes de resolvê-lo.