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A Vida No Norte
Habilidades de classe bloqueadas.
Com a visão finalmente livre do mar azul, percorro calmamente as barras de estatística e outras notificações. A Vida ainda está abaixo de meio e os pequenos ícones de estatística adicionais dizem-me que tenho uma concussão e estou exausto. Não me digam. Ainda assim, não há descanso para os ímpios. Portanto, levanto-me e vomito logo em seguida.
— Isso é nojento — o Ali funga e espera que eu quase termine antes de continuar. — Toca a mexer, mauzão. Estão prestes a chegar criaturas repugnantes e tens de acabar de saquear.
Faço um esgar, mas começo a mexer-me lentamente, dando o meu melhor para não voltar a perder o pequeno-almoço. Ou será que já é almoço? Jantar? Bolas, não faço mesmo ideia e dói-me demasiado a cabeça para me preocupar. Não me vou queixar. Estou vivo, algo que não esperava. Aliás, tenho quase a certeza de que não estava a pensar muito bem nestes últimos dias. Quem raio é que atrai um mini dragão para um combate até à morte contra um grupo de ogres, que acabaram de exterminar uma vila sozinhos, e constrói uma bomba com as próprias mãos?
A salamandra dá-me uma bolsa de fogo de salamandra, pele e mais carne. Surpreendentemente, quando abro o meu inventário para guardar os itens, apercebo-me de que aumentou de tamanho outra vez.
— Ali, estou a imaginar coisas? — franzo as sobrancelhas, olhando para a nova grelha de 6 x 6.
— Não, o espaço do inventário aumenta a cada cinco níveis — explica o Ali e observa-o. — Ainda bem para ti.
Tenho de concordar com ele porque, caso contrário, teria de deitar fora algumas coisas. Enquanto itens do mesmo tipo se acumulam, itens únicos precisam do seu próprio lugar e os diferentes tipos de carne são considerados únicos. Seja como for, ainda bem para mim. Agarro no saque da salamandra e despejo-o no inventário, passando à frente. As crianças ogres dão me alguma pele de ogre e os adultos são uma desilusão, inicialmente, dando-me uma variedade de armas rústicas, armaduras demasiado grandes, couro de ogre e 5000 créditos, no total. Os créditos vão diretamente para o inventário como uma notificação, o que ajuda, visto que comecei a deitar fora saques antigos, como a carne de formiga. Quando finalmente chego ao ogre chefe, dobro-me cuidadosamente para pegar no taco que este largou e quase o deixo cair outra vez, quando a notificação aparece.
Taco para Esmagar Encantado
Danos Base: 38
Encantamento: ignora 20% da armadura alvo
Bolas. A minha faca apenas faz danos base de 4, para começar. Claro, como o guia explicou, os danos eram baseados na armadura do alvo e onde e como a atingíamos. Os melhores tipos de armadura absorvem mais danos, apesar de terem tendência a ficar danificadas, conforme vão absorvendo cada vez mais impactos. Além disso, as armas brancas têm modificadores de danos adicionais, que incluem a nossa força, o que, no caso dos ogres, era bastante significativo.
Mal consigo pegar no maldito taco gigante e o facto de o poder sequer levantar quebra todas as regras da física. É por isso que o deixo no chão e passo para o saque do chefe seguinte. Esse dá-me mais couro de ogre, 7000 créditos e uma chave dourada. Quando a minha mão se fecha à volta da chave para a pôr no inventário, surge outra janela azul.
Chave da Cidade
Gostarias de assumir o controlo de Haines Junction? (S/N)
— Que raio? — grito para o Ali e arrependo-me imediatamente, quando a minha cabeça começa a girar. O Ali vem ter comigo, olhando para a janela em silêncio, enquanto recupero. Por momentos, com a cabeça a andar à roda, pergunto-me se ele estará maior, mas distraio-me com o que ele está a dizer.
—Caramba! — exala o Ali, apontando para a chave. — Por isso é que os ogres não fugiram, eles compraram a cidade.
— Explica, bolas — respondi.
— Pronto, está bem. As vossas cidades não são cidades verdadeiras, pelo menos, não de acordo com o Sistema. Se as quiserem ter, têm de comprar os direitos da mesma. Foi isso que os ogres fizeram. Eles devem ter juntado todos os recursos que tinham e compraram ao Sistema os direitos e um portal para aqui. Deve ter-lhes custado uma fortuna, mesmo para um sítio horrível como este — explica o Ali rapidamente, girando em círculos, inquieto. Creio que isso faz dos ogres pioneiros. Pioneiros canibais mortos, queimados e comidos.
— Como queiram — zangado, rejeito a oferta do Sistema. Maldito Sistema, a julgar que o que construímos não é real. A exclamação de surpresa do Ali às minhas ações é interrompida por outro aviso.
Controlo de cidade rejeitado
Não foi encontrado nenhum outro senciente na zona.
Gostarias de revender os direitos de Haines Junction? (S/N)
Rio-me ligeiramente e aponto para o Ali:
— Não és senciente!
— Cala-te! Eu não conto porque estou ligado a ti, miúdo — replica o Ali, ao mesmo tempo que a chave desaparece da minha mão.
Direitos de Haines Junction vendidos por 10% do seu valor. 200 000 créditos do Sistema foram depositados na conta.
Como oferta única, gostarias de gastar os teus créditos do Sistema agora? (S/N)
Desta vez, não chego a escolher, o Ali fá-lo por mim.
Capítulo 5
Num momento, estou entre os restos queimados e destruídos do clã de ogres, cheio de dores e a lutar contra a onda de tonturas e parvoíces. A seguir, estou completamente saudável, numa Loja de alta tecnologia com demasiado amarelo. Levanto uma sobrancelha à escolha de cor. Pensava que seria tudo azul, mas cá está o amarelo, desde as paredes às cadeiras, ao balcão, onde um homem-lagarto amarelo nos espera.
— Estás grande! — grito assim que vejo o Ali. Em vez dos seus normais 30 cm, o Ali tem uns incríveis dois metros. Felizmente, ainda está com o seu fato laranja, o que, tenho de admitir, combina muito bem com o seu tom de pele acastanhado.
— Este é o meu tamanho real — refila o Ali, a apontar para mim. — Tu é que não consegues aguentar a minha “fabulosidade”.
— “Fabulosidade”? — o meu queixo quase cai com a escolha de palavras dele.
— Eu aborreço-me. O teu mundo tem muitas formas de entretenimento interessantes — diz o Ali desdenhosamente e encaminha-se para o lagarto que nos espera. — Malik, seu velho malandro! Tenho uma proposta para ti!
Olho para o homem-lagarto e para o meu Companheiro, quando este começa a tirar coisas do meu inventário, já a começar uma discussão sobre o preço. Antes ele do que eu, mas que raio devo fazer? Já agora, porque raio estou saudável?
— Talvez o mestre queira dar uma vista de olhos às nossas mercadorias? — sugere uma voz suave ao nível do meu cotovelo, o que me faz virar e tentar acertar-lhe. Vejo de relance quem falou, uma raposa em duas patas, antes de esta se desviar do meu golpe sem qualquer problema.
— Desculpe. Peço imensa desculpa. É só que... Apocalipse! — peço desculpa várias vezes.
— Ora essa, mestre, é completamente normal. A culpa é deste servo por o ter assustado — o sorriso da jovem raposa aumenta e esta faz um gesto para uma porta que eu ainda não tinha visto. — A mercadoria, mestre?
— Sim, suponho que posso... — começo a segui-lo. Afinal de contas, sou rico ou, pelo menos, acho que sou. — Já agora, eu estava ferido, mas agora sinto-me bem.
— Faz parte do processo de transferência. A política do Conselho Galáctico diz que todas as transações devem ser feitas por indivíduos com a Vida intacta. Será devolvido na mesma forma em que estava — explicou a raposa com facilidade, enquanto me guiava para a porta. A sala onde entramos é de um amarelo-claro, tão grande que não consigo ver o fundo. Lá dentro, a sala é ocupada por uma nave espacial flutuante, que me relembra aquela em que o Super-Homem veio à Terra, no filme clássico. À frente dela, está um único ecrã, a flutuar.
Regulus Fase VIII (200 000 créditos)
Nave espacial de apenas um passageiro, originalmente capaz de realizar viagens hiperespaciais. Vem equipada com um Laser de Ligação de 3.ª Geração e duas Docas de Lançamento de Ares. Mais...
Gostaria de comprar? (S/N)
A minha mão contorce-se inconscientemente e faz um movimento para cima. Uma nave para me tirar daqui para fora, como o Sistema sugeriu. Uma fuga do sangue e da loucura que é a minha vida agora, uma forma de me libertar do medo. É tudo aquilo que eu poderia querer. Uma ligeira mudança de postura chama-me a atenção para a raposa e os meus olhos semicerram-se. Há alguma coisa na atitude dele, algo nos seus olhos.
Filho da mãe. Está a tentar enganar-me. Mais uma vez, a raiva vem ao de cima e tenho de me esforçar para relaxar, para suprimir as minhas emoções. Rodo a cabeça para descontrair o pescoço e carrego no “não” decididamente. A raposa não diz nada, que é o melhor para ele. Depois de um breve momento, aparece uma lista gigante de produtos.
Os cantos da minha boca formam um sorriso antes de eu dizer, olhando para a raposa:
— Sê um lindo menino. Traz-me uma cadeira, café e qualquer chocolate que tenhas à mão. Vou demorar um bocado.
A raposa retira-se e eu começo a pesquisar. Está na altura de tornar isto mais acessível.
— Remover todos os artigos que custam mais de 200 000 créditos — a lista encolhe durante uns momentos, antes de se voltar a formar. Resmungo, não surpreendido. Vamos ver o que há...
— Mostrar apenas artigos específicos para humanos — desta vez, a lista desaparece quase completamente, sobrando apenas três artigos. Suponho que somos demasiado recentes para termos um monte de produtos específicos.
Tratamentos de Genoma Humano
Os tratamentos de genoma são adaptados a cada cliente. O objetivo de cada tratamento é reparar e otimizar o código genético base do cliente, removendo erros gerados pela idade e radiação. Melhorias opcionais no tratamento incluem a remoção de código genético que seja inferior ao ideal e a adição de genes das melhores práticas.
Custo Base: 10 000 créditos
Remoção de Genes: 2500 créditos
Introdução de Genes: 2500 créditos
— Isto não me vai deixar assexuado ou qualquer coisa estranha, pois não? —pergunto à raposa, que regressou, depois de ficar um pouco confuso com a palavra “ideal”. Afinal, a definição de ideal de uma raça alienígena pode incluir tornar-nos hermafroditas ou pôr-nos uma cauda.
— Não. O tratamento de genoma é destinado especificamente à humanidade, incluindo os problemas sociais da vossa raça — responde a raposa, de volta ao seu profissionalismo calmo. Resmungo e seguro a janela, puxando-a para o lado para a manter aberta. Vou comprar aquilo, definitivamente.
O Básico de Manipulação de Mana para Humanos
Utilizando tecnologia patenteada pelo Sistema, o conhecimento básico de manipulação de mana será descarregado diretamente na sua mente. Manipulação de Mana é um requisito para habilidades de magia básicas.
Custo: 5000 créditos
Interessante. Seguindo o instinto, faço uma comparação.
O Básico de Manipulação de Mana
Utilizando tecnologia patenteada pelo Sistema, o conhecimento básico de manipulação de Mana será descarregado diretamente na sua unidade de armazenamento mental. Manipulação de mana é um requisito para habilidades de magia básicas.
Custo: 1000 créditos
— Podes explicar? — viro-me para a raposa que me parece completamente descontraída com esta informação. Ela aponta primeiro para a opção mais barata.
— Esta é a opção criada pelo Sistema que pode ser adquirida por qualquer ser que faça parte do mesmo. Contudo, como foi desenvolvida para ser utilizada por todos os habitantes do Sistema, não há garantia da assimilação do conhecimento e, em casos extremos, pode causar danos. Em todos os casos, exceto nos mais extremos, apenas a informação mais básica é transmitida.
— A segunda opção foi desenvolvida especificamente por um dos nossos artesãos para garantir que ocorrerá a assimilação completa do conhecimento. Defendemos o produto a 100% e este tem sido particularmente bem-sucedido no seu mundo. Alguns indivíduos dotados têm sido capazes de obter um nível base de habilidades mais elevado ao comprarem este produto.
— Qual é a probabilidade de um humano normal obter a habilidade? — aponto para a habilidade do Sistema.
— 32%.
— E eu?
— 98%.
— Foi o que pensei — digo e deslizo a janela da habilidade do Sistema para esta se juntar à do tratamento de genoma. A Nível 7, a minha inteligência é muito superior à da média humana, apesar de nunca ter sido considerado burro. Volto para as janelas de compra para analisar o último artigo específico.
Guia do Thrasher para Sobreviver ao Apocalipse na Terra
Este guia implementa informações básicas sobre o Sistema, o apocalipse atual e planos futuros. Estão incluídas explicações de habilidades comuns, magia, tecnologia, pontos de segurança, a Loja e mais.
Custo: 50 créditos
Olho desconfiado para isto e crio uma segunda secção para os “talvez”. Tenho a sensação de que o Ali tem mais informações do que um guia de 50 créditos, mas não custa nada perguntar. A seguir, a minha classe:
— Lista de informação disponível sobre a Guarda de Honra de Erethran.
Aparece uma lista gigante a detalhar o treino, a história, os costumes, as táticas de batalha, o equipamento, a atual estrutura organizacional e mais da Guarda de Honra, a maioria dentro dos 20/50 créditos, por isso, compro tudo. Curiosamente, até há informações sobre missões secretas e escondidas disponíveis, mas evito comprar essas. Calculo que a Guarda fique furiosa comigo de qualquer maneira, não preciso que se armem em arrogantes só porque comprei informações internas ao Sistema.
Passo às habilidades Básicas. Observo a vasta variedade de habilidades por momentos e, depois, reduzo-as apenas a habilidades de combate, por agora. Estão lá as mais vulgares como Desarmado, Lâminas, Armas, Armas de Haste, Arco e Flecha, Espingardas, Pistolas e outras. Podia aprender a conduzir um tanque, se quisesse! Uma parte de mim ri-se da ideia, mas ponho-a de lado logo a seguir. Para começar, acho que não havia um único tanque em Yukon, nem antes do apocalipse. Agora, seria apenas uma carcaça de metal.
Não, é melhor focar-me naquilo de que preciso. Agarro nas habilidades de combate desarmado, adicionando-as ao monte “comprar” e, depois, adiciono as de espingardas e pistolas, juntamente com as de lâminas, ao monte “talvez”. Tenho de saber que tipo de armas vou comprar antes de decidir isto.
Puxo a seleção de habilidades de classe e estremeço. Até a habilidade de classe mais barata começa nas dezenas de milhares de créditos e não me parecem ser assim tão boas. Tenho mesmo de equilibrar o meu desejo de ter uma habilidade fixe com o facto de precisar de armas, transporte e habilidades. Ainda assim, destaco algumas e atiro-as para a coluna de “comprar”.
Faço um sorriso forçado, acabo o café e, depois, abano o copo vazio à raposa, enquanto abro as barras de chocolate. Pois... Uma pesquisa rápida revela uma série de opções de barras de chocolate e delicio-me, pegando numa pilha de chocolates suíços. Pronto, próximo! Ter uma arma seria fantástico, mas tenho de me lembrar de que preciso de dinheiro para uma armadura e um modo de transporte. São apenas mais ou menos 160 quilómetros até Whitehorse mas, a pé, demoraria umas quantas semanas. Isto sem contar com os vários monstros que devem aparecer pelo caminho.
É melhor descobrir primeiro os custos do transporte. A lista que surge faz-me retrair. Até a mota mais básica custa umas centenas de créditos e um automóvel é mais de 10 000 créditos, com requisitos de abastecimento de gasolina. Qualquer coisa mais avançada e os preços dão um salto ainda maior, mas, olhando de relance para os detalhes, percebo o motivo. Muitos dos veículos mais avançados abastecem-se diretamente do Mana recolhido. A armadura também deve ser cara. Na verdade, deve ser mais cara do que qualquer arma que compre, se a própria história da humanidade servir de exemplo.
Franzo a testa, chateado, a olhar para os veículos. Deve haver alguma maneira de fazer isto.
***
— Onde raio te meteste? É bom que não tenhas comprado nada! — O Ali dá um encontrão na porta, desesperado, à minha procura, finalmente lembrando-se de que não estava sozinho. Ele apressa-se a vir ter comigo e aponta-me um dedo chateado: —Distraí-me durante um segundo!
Reviro os olhos, com os pés no ar, e olho para as janelas que flutuam à minha frente, em toda a sua glória azul. Um pensamento e elas minimizam-se antes de o Ali as conseguir ler e puxo uma janela nova.
— Para com isso. Já arranjei algo melhor — aponto para a janela e ele olha para ela de forma acusadora.
Companheiro IA Classe Lambda de Sexta Geração
Resultado da combinação de uma classe de IA Delta e Épsilon, este Companheiro Classe Lambda de Sexta Geração ainda está na sua infância. Contudo, com o seu código base, espera-se que processe níveis significativos de dados e que consiga operar até três máquinas de classificação D ou uma máquina de classificação C.
Classificação: C
Requer: Hardware mínimo de classificação D para instalação
A ler furiosamente, os olhos do Ali arregalaram-se e ele diz logo a seguir: — Tu, tu... Tu ias substituir-me por um monte de código! — ele grita a última parte e a sua cara fica completamente vermelha. — Sua bola de carne ingrata, seu verme inútil comedor de carne e amante de ovelhas...
Ele para de falar quando eu me dobro de tanto rir. Primeiro, tento controlar-me, mas quando ele para de refilar, caio da cadeira e continuo a rir. Sempre que penso que tenho as emoções controladas, volto a olhar para a cara de sofrimento do Ali e volto a desmanchar-me a rir. Até a raposa está ligeiramente divertida, pela forma como a sua cauda se mexe.
Não sei quanto tempo demoro a controlar as emoções, mas é um bom bocado. Quando o faço, aponto um dedo ao Ali:
— Que belo Companheiro me saíste, estes aldrabões quase me engaram.
O Ali semicerra os olhos e suspira, invocando a nave espacial. Quando olha para ela, a janela pisca conforme ele lê mais detalhes e resmunga:
— Sim, é uma porcaria. Está três gerações desatualizada, os mísseis não estão incluídos, não tem armadura e trocaram o disco espacial original por um monte de porcaria que pode ou não levar-te para o hiperespaço e, certamente, terias de a reabastecer a cada salto. Eles nem sequer a abasteceram.
A raposa está quieta, com um sorriso que não convence ninguém, enquanto falamos. Estes tipos não têm vergonha. É por isso que tenho todo o gosto em deixar o Ali regatear e deixá-los na penúria.
— Muito bem, já chega de brincadeiras. Como te saíste? — faço um gesto para o sítio de onde ele veio.
—Vim buscar-te — murmura o Ali, antes de me responder. — Bastante bem. A bolsa da salamandra foi a primeira a vir da Terra, por isso, recebeste um bónus e deram-nos 23 187 créditos. O couro de ogre foi bastante barato, exceto o das crianças. Essas são especiais por serem mais moles.
Ele cala-se quando eu levanto uma mão, não preciso da lista detalhada dos seus feitos. Ele resmunga durante um bocado sobre crianças ingratas, antes de responder:
— 38 632 créditos por tudo.
— Isso dá 250 632 créditos, certo? E, corrige-me se estiver errado, mas podemos comprar e aplicá-los conforme precisemos, certo?
— Sim…
— Boa. Eis o que estou a pensar — gesticulo para as janelas acabadas de abrir, preparando-me para discutir com o Espírito.
***
— Podes parar a qualquer altura, jeitoso — diz o Ali, enquanto olho para o meu reflexo. Faço-lhe um sorriso maldoso, toco no capacete novamente e faço-o voltar a ser um aro de metal à volta do meu pescoço. O fato de apenas uma peça que tenho vestido é todo preto e não deixa nada à imaginação. Mas não faz mal, porque também é uma armadura.
Para variar, sou mesmo jeitoso. O tratamento de genoma parece ter-me feito, entre outras coisas, mais bonito. O meu queixo está mais definido, os meus traços mais simétricos e alongados, misturando as minhas origens chinesas com outras raças. Pareço mais o Keanu Reeves do que eu mesmo, em alguns aspetos. Mantive algumas coisas, como o meu cabelo e olhos pretos, mas houve pequenas mudanças adicionais pelo meu corpo todo, incluindo uns dez centímetros extra na minha altura e uma quantidade significante de músculo. Linhas que se começaram a notar nos últimos anos, pequenas o suficiente para eu ser o único a reparar, desapareceram, o que me rejuvenesceu uma década e me fez voltar a parecer ter 20 e poucos anos. As modificações faciais são particularmente desconcertantes, mas, felizmente, pareço ter-me adaptado relativamente bem, subconscientemente, a todas as alterações. Creio que o treino de resistência mental incluído na minha classe me está a ajudar. Isso ou o Sistema está a alterar a minha mente para eu poder seguir com a minha vida.
Surpreendentemente, além das alterações à superfície, não sinto uma grande diferença no desempenho do meu corpo. Quando o mencionei ao Ali, ele explicou que é um efeito secundário do meu nível e da minha classe. Como já atingi o pico da genética humana há muito tempo, o tratamento de genoma só pode fazer pequenos ajustes adicionais. Algo sobre criar fibras musculares mais densas, um nível mais elevado de glóbulos vermelhos, um aumento da matéria cinzenta, entre outros. Desliguei durante grande parte da explicação.
Basicamente, foquei-me nas modificações a nível psicológico. Como parte do tratamento de genoma, parece que era necessário um fluxo de químicos que me deixou mais estável, com as emoções um pouco mais sob controlo. Ainda há restos de raiva e culpa por ter sobrevivido, mas, por agora, estou outra vez funcional, sem o profundo desequilíbrio químico neurológico que tinha. Ao ver que a minha resistência mental estava a lidar com as minhas alterações físicas exteriores com compostura, questiono-me o quão perto estaria de perder a cabeça, se não tivesse a minha classe. Para um antigo funcionário de escritório, já me tinha escondido, corrido e matado bastante, durante a última semana.
Não interessa, ainda aqui estou e os “se” são infinitos. As coisas são como são. Ainda assim, estou curioso por ver o que mudou no meu quadro de estatísticas.
Quadro de Estatísticas Nome John Lee Classe Guarda de Honra de Erethran Raça Humano (Masculino) Nível 7 Títulos Ruína dos Monstros Vida 390 Resistência 390 Mana 360 Estado Normal Atributos Força 27 (50) Agilidade 38 (70) Constituição 39 (75) Perceção 14 Inteligência 36 (60) Determinação 36 (60) Carisma 14 Sorte 10 Habilidades Furtivo 6 Sobrevivência na Natureza 3 Combate Desarmado 2 Proficiência com Facas 5 Atletismo 5 Observação 5 Cozinhar 1 Perceção de Perigo 4 Improviso 2 Explosivos 1 Habilidades de Classe Nenhuma (4 Bloqueadas) Feitiços Nenhum Regalias Espírito Companheiro Nível 3 Prodígio (Furtivo) N/A