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José, O Grande Servo
Enquanto os demais se entregavam a comida, bebida e a ostentar o dinheiro, ele ia para o campo e se informava sobre as finanças da fazenda. E embora no começo seu pai gostasse disso, por outro lado ficava surpreso que fosse assim e inclusive, em determinado momento, chegaram a conversar sobre enviá-lo para algum lugar para que ele tirasse estas ideias estranhas da cabeça, como não beber vinho e coisas semelhantes.
Estando um dia em casa, chegou por ali um homem bem vestido, montado a cavalo e perguntou a seu pai por JOSÉ. E ele saiu porque o visitante era uma autoridade que disse ser um homem do rei e percebia-se isso pelo seu porte.
Seu pai o fez entrar e fez as honras. O homem descansou em sua casa por dois dias e depois seguiu seu caminho, mas antes de ir embora disse ao seu pai:
- Deixe que seu filho venha comigo e me acompanhe que assim terei com quem conversar. E quando voltar, eu o devolverei.
Seu pai concordou e chamou José e disse-lhe para se preparar. E José foi embora com o cavalheiro.
Ao longo do caminho eles conversaram e José descobriu que ele era um homem do Rei e que tinha uma missão estranha. Havia recebido uma mensagem de que ali perto vivia um eremita que dizia ser o profeta e o Rei queria saber se era verdade. E se assim fosse, que lhe fizesse algumas perguntas, onde e quando o MESSIAS viria, porque segundo os sábios que haviam estudado os pergaminhos que foram escritos o momento estava muito próximo e ele precisava saber.
Eles conseguiram localizar o eremita em uma caverna na montanha. Quando estavam se aproximando, a voz na mente de José disse:
- Tome cuidado para não falar demais porque o homem que você vai é um homem do ALTÍSSIMO e irá reconhecê-lo. Se ele disser alguma coisa, deixe que ele fale e não responda. Apena ouça e mais nada.
Quando chegaram ao local, o homem do Rei chamou o eremita, que saiu da caverna. Ele estava extremamente sujo e vestia farrapos, mas em seus olhos havia algo especial. Ele olhou para os dois e se fixou especialmente no jovem. E antes que eles dissessem alguma coisa, perguntou:
- Vocês vieram me perguntar quando será o nascimento do MESSIAS? É curioso que venham até mim já que deveria ser eu a questioná-los.
E então o homem do Rei disse:
- Como sabe o que viemos perguntar?
- Sou um homem do ALTÍSSIMO e ELE tem todo o poder. Portanto, sei quem vocês são e o que serão, mas minha boca só abre quando sou mandado – disse o eremita e dirigindo-se ao homem, perguntou: - Diga-me quem quer saber e eu lhe responderei.
- Meu Rei e Senhor me envia para perguntar como e quando nascerá o MESSIAS para que esteja preparado para recebê-LO e colocar o trono à sua disposição – ele respondeu.
- O MESSIAS está perto, mas não a ponto de ter de colocar o trono à disposição de ninguém. Está escrito que ELE nascerá por volta desta data e assim será. O lugar será Belém – disse o eremita enquanto se virava para o menino e dizia: - Agora me diga, o que você quer saber?
E José que não esperava a pergunta respondeu:
- Nada, senhor. Só venho acompanhar o cavalheiro – mas de repente, pensando rápido disse – mas se quer responder a uma pergunta será esta. Você verá que é um enigma. Uma autoridade tem um filho, riquezas, dinheiro e bens. A sorte sorri para ele, mas ele está vazio por dentro e não sabe o que fazer. Diga-me, que solução você pode dar para sua vida?
O eremita olhando em seus olhos respondeu:
- Que se ponha ao serviço do ALTÍSSIMO! ELE lhe dará trabalho porque está procurando por um trabalhador. E embora tenha chamado, ninguém respondeu. Mas parece que há um que pode ser merecedor.
Dizendo isso, ele deu meia volta e entrou na caverna. E enquanto estava indo embora ouviu que ele cantava, mas não entendeu o que ele estava dizendo.
Eles desceram da montanha e enquanto faziam isso o cavalheiro perguntou ao menino que impressão o eremita havia lhe causado porque em determinados momentos parecia lúcido e em outros, completamente louco. E enquanto desciam, o cavalheiro tropeçou e caiu montanha abaixo.
José o pegou, surrado pelos golpes, enquanto o cavalheiro dizia:
- Eu realmente quase me mato. Como vamos chegar a um lugar habitado se mal consigo me mover?
- Senhor, irei ajudá-lo, mas será melhor curar suas feridas. Vou pedir ajuda ao eremita, caso ele conheça alguma erva ou tenha água com a qual você possa ser curado - respondeu José.
Após dizer isso e sem esperar pela resposta, ele subiu a montanha correndo e chamou o eremita. Ele chegou até onde esteve antes, mas ninguém saiu. Voltou a chamar e vendo que ninguém respondia, decidiu entrar na caverna e o fez chamando continuamente, mas sem obter resposta. E quando entrou o suficiente, descobriu que a caverna descia e se transformava em uma grande cavidade interna e que havia luz que saía das paredes. E tal foi a impressão que isso lhe causou, que ficou parado e não percebeu que o eremita estava na sua frente. Quando reagiu, ele disse o motivo da sua visita. E o eremita respondeu:
- Isso aqui - e com a mão apontou as maravilhas da gruta em que estavam – é como seu interior, que por fora é uma montanha nua e por dentro tem uma maravilha, mas esta maravilha precisa sair para o exterior. Do que adiante o que você tem guardado se ninguém pode desfrutar? Mas não mostre esta maravilha aos porcos, mostre àqueles que podem vê-la e deslumbrar-se com ela. Eu lhe direi que tudo isso é obra do ALTÍSSIMO, que todo o ouro que um Rei possa ter não vale a metade da beleza aqui encerrada. Logo você vai conhecer a mulher que um dia será sua esposa e, mesmo que a conheça agora, também não poderá possui-la, pois ainda não nasceu.
José não entendeu e disse:
- Meu senhor, eu já a conheci quando era menino.
- Sim, assim como quando era velha e as duas são a mesma. E, no entanto, nenhuma das duas ainda tem vida pois não nasceram. Mas logo terá nascido e você irá conhecê-la. Digo tudo isso para que você compreenda que em relação as coisas do ALTÍSSIMO, só precisa fazer Sua Vontade, sem sequer pensar em compreendê-lo. E se você parar para fazê-lo, perderá o tempo e a oportunidade – disse o eremita e ele continuou: - Você terá de fazer uma viagem em breve e irá parar em uma aldeia e em uma casa você pedirá água e as pessoas que irão atendê-lo serão os pais da sua mulher. Respeite-os e fale com eles que, apesar de serem pessoas simples têm dentro do si o ALTÍSSIMO e sabem quando estão diante DELE. Agora vamos cuidar do cavalheiro, mas não será uma cura fácil. Você terá de levá-lo com cuidado para sua casa. Ele vai mandar que você leve um recado ao Rei e você terá de fazê-lo. E é sobre esta viagem que eu falei – o eremita concluiu.
Os dois desceram a montanha e pegaram o cavalheiro. Após cuidar dele um pouco, eles o colocaram com cuidado no cavalo e o rapaz o levou para casa. Eles levaram dois dias para chegar e quando o fizeram, colocaram o cavalheiro na cama e o homem disse ao pai de José:
- Preciso informar ao Rei!
E perguntou se ele poderia ir em seu lugar. O pai se recusou porque suas costas estavam incomodando, mas disse:
- Deixe que eu cuido disso e não há ninguém melhor do que o meu filho para informar ao Rei o que ele mesmo ouviu.
O cavalheiro concordou e decidiu-se que no dia seguinte José sairia para a Capital e embora o Rei não estivesse ali, deveria avisar na casa do cavalheiro para que viessem buscá-lo. Depois ele iria até onde o Rei estava, que era muito longe, em um lugar onde tinha uma fazenda em que gostava de ficar pois era fresco quando fazia calor.
José, com um bom cavalo e uma boa vestimenta, foi à procura do rei. Na Capital, ele deu o recado à família do cavalheiro e seguiu seu caminho. A noite o surpreendeu e ele chamou em uma casa, próxima a uma aldeia que não conhecia e pediu pousada. E disseram-lhe para entrar, apesar de não se dedicarem a fornecer pousada. Mas ele poderia passar uma noite em casa, pois o costume os obrigava a serem caridosos com aqueles que pediam corretamente. Quando entrou, ele percebeu que era a casa que o eremita havia indicado. Eles disseram:
- Meu senhor, somos pobres, mas honrados por isso em nossa mesa não existe muita comida e é possível que você não goste como é preparada, mas não podemos prepará-la de outra maneira.
E voltaram a servir aqueles ensopados que ele tanto gostou quando foi servido pela velha daquela casa. E assim que o viu e provou, ele se lembrou e não conseguindo se conter, disse:
- Está magnífico, como na outra vez.
E a mulher ficou olhando para ele e disse:
- Meu senhor, você já esteve aqui alguma vez para se lembrar do ensopado? Pois como você pode ver, não tem nada porque não temos nada. Está apenas cozido, são produtos do campo e só tem sal para temperá-lo e como molho, tem um pouco de azeite e de pimenta moída.
- No entanto, está magnífico! - disse José.
Depois serviram um frango e aconteceu a mesma coisa. Ele comentou como estava bom e a mulher voltou a dizer:
- Meu senhor, não tem nada de mais e só está cozido com sal e mais nada.
José notou que a mulher estava grávida e perguntou:
- Para quando é a criança?
- Falta pouco, mas precisamos fazer uma viagem até a casa de alguns parentes e é possível que nasça ali - ela respondeu.
Era costume que quando uma mulher fosse ter um filho se reunisse na casa de algum parente que cuidaria dela pelo tempo que fosse necessário, desde o parto até que ficasse em pé.
- Se você tivesse passado na próxima semana, não teria nos encontrado – acrescentou o homem – pois é a semana que tínhamos planejado reiniciar a viagem já que tem de ser a pé e pelo fato do parto estar próximo, leva-se muito tempo para chegar.
- Por que vocês não vão de carroça? - perguntou José.
- Senhor – respondeu a mulher – não temos nem carroça nem cavalo para puxá-la e também não podemos alugá-la pois não temos dinheiro. Além disso, é bom para as mulheres caminharem bastante quando chega a hora, porque isso nos fortalece e temos os filhos quase sem sofrimento. Portanto, não pense nisso – e eles agradeceram pelo seu interesse.
José, querendo fazer algo por aquela família, disse:
- Eu gostaria de voltar para ver o que vocês tiveram, se um varão ou uma fêmea, para trazer um presente. Porque ele ou ela estão me servindo agora – dizia isso pelo fato da mãe estar lhe servindo e a criança estar em seu ventre.
O homem riu da ideia de José e perguntou:
- Diga-me, pois eu não o conheço destas redondezas e você parece sério. Você conheceu a voz do ALTÍSSIMO?
José olhou para ele surpreso e os dois olharam para ele esperando pela sua resposta. José respondeu:
- Eu a conheci e a carrego dentro de mim, guiando meus passos.
- Estava esperando por isso! – disse o homem – já que eu também a tenho e ELE já havia me informado. Não queremos presentes pois algum dia você terá de nos presentear, mas de outra maneira. Agora dorme nesta cama e pela manhã cumpra sua tarefa. E mesmo que demore muito tempo para nos encontrarmos novamente, lembre-se que o ALTÍSSIMO sempre escolhe as pessoas, os lugares e as maneiras. E o homem só tem de obedecer para fazer sua Vontade.
O casal foi dormir no outro quarto e José ficou no cômodo em que comeu, pois, a casa não tinha outros. E ele dormiu maravilhosamente.
No dia seguinte, seguiu seu caminho, mas não sem se despedir deles calorosamente. E ele perguntou à mãe:
- Posso, por favor, segurar sua mão?
E não era comum que os homens tocassem as mãos das mulheres casadas. E ela, sem se surpreender, estendeu a mão. E quando José a segurou, sentiu o mesmo calor que havia sentido nas duas ocasiões anteriores. E isso encheu todo seu ser. Ele olhou nos olhos da mulher e viu que eram da mesma cor que viu naquela menina e naquela velha e pensou que tinha de ser assim porque é a mãe daquela que será minha mulher. E sem conseguir se conter, beijou a mão que tinha entre as suas. A mulher permitiu e retirou suavemente a mão. E olhando em seus olhos disse:
- Este beijo não é para mim e eu sei!
José continuou a viagem e chegou onde o rei se encontrava. Ele se pôs elegante, pegando a roupa que levava guardada em um pacote para não manchá-la no caminho.
Ele se apresentou ao Rei e transmitiu a mensagem. E não lhe dando ouvidos, o Rei disse:
- Está bem! Coma o que quiser e depois volte para sua casa, porque você ainda não tem idade para andar sozinho por estas estradas.
Isso ofendeu José, que respondeu:
- Meu senhor, realmente não tenho idade para fazer isso, somente para escoltar seu cavalheiro e salvar sua vida quando foi necessário e também para servi-los e trazer a mensagem que você estava esperando. Portanto, vou embora para obedecer, mas você não tem razão!
Dizendo isso, ele começou a ir embora, mas o Rei o impediu, surpreso com a resposta e disse:
- Seu nome, qual é?
José disse e o Rei disse a seguir:
- Você tem razão em dizer estas coisas, mas quando um Rei pede que você vá embora, você vai embora e mais nada! Porque o Rei pode ter outros assuntos neste momento que está despachando ou apenas não quer ser importunado. E é privilégio seu ouvir ou dispensar as pessoas e mais nada. Diga-me uma coisa, pois apesar de ter razão, você se mostrou insolente e a juventude tem seus impulsos que costumam ser justos. Você considera que eu não lhe dei a atenção devida já que percorreu um longo caminho para transmitir um recado que poderia ter sido enviado por um criado? Você tem razão, portanto me desculpe. Fique hoje e aproveite as coisas do palácio e amanhã, descansado, vai embora para sua casa.
José ficou pensativo e perguntou:
- Como posso fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo já que o próprio Rei me mandou embora. Se fico, desobedeço. Se vou embora, também desobedeço. Portanto, meu senhor, diga a terceira para ver o que eu tenho de fazer.
O Rei começou a rir de bom grado e disse:
- Pois bem, a terceira é que você se sente aqui - e indicou um lugar ao seu lado.
José obedeceu e encontrou-se sentado ao lado do Rei que perguntou de onde ele era e quem era seu pai. E assim descobriu que José era descendente da casa real, em linha direta e brincando, o Rei disse aos presentes:
- Coma bem, porque você pode ser o pai do MESSIAS e trouxe a boa notícia que não preciso deixar o trono – e dizendo em voz baixa para José, continuou – em segredo te digo que não pretendia fazê-lo senão matar o recém-nascido e assim evitar que surja outro que possa tirá-lo de mim.
José viu que tinha diante de si um assassino e não um Rei, ou melhor dizendo, um Rei assassino pois pretendia matar uma criança sem sequer provar que ela era culpada de alguma coisa. Uma criança cujo único delito era ser filho de uma pessoa e que o ALTÍSSIMO havia abençoado. Ele pensou que precisava sair logo dali ou ficaria doente.
Naquele momento lhe ofereceram uma bebida e pegando o copo, ele o levou à boca. Mas como nunca bebia, ele pensou: - O que eu faço agora? E ocorreu-lhe a solução, que rapidamente colocou em prática. Ele tomou um gole e com ele molhou o Rei que era quem estava ao seu lado e começou a tossir sem parar. O Rei se irritou de tal maneira que, embora José continuasse tossindo, ele gritou:
- Saia da minha vista! Que desajeitado você é que nem sabe beber. Vá para casa e não volte até que não tenham lhe ensinado mais algumas coisas.
Sem parar de tossir e segurando a barriga para não rir ao mesmo tempo, José foi embora correndo entre os risos daqueles que estavam presentes. E assim conseguiu sair daquele aposento e dar ao Rei uma pequena lição de sabedoria e ao mesmo tempo uma pequena repreensão como aquelas empregadas por aqueles que o ALTÍSSIMO tinha por amigos.
Foi assim que o príncipe conheceu o Rei e digamos que o primeiro encontro não foi muito feliz, mas a verdade é que nenhum dos dois sentiu saudades do outro.
Quando o príncipe foi embora, o Rei falou muito mal dele, chamando-o de grosseiro e coisas assim e o príncipe também disse o que quis sobre ele, mas de maneira mais comedida e em voz baixa porque alguém poderia ouvi-lo e ele ainda estava no palácio.
Mas como nunca estivera em nenhum lugar tão luxuoso, ele ficou estupefato e quase se chocou com o chefe da Guarda que ia despachar com o Rei, exatamente na direção oposta que o garoto estava vindo.
Quando o chefe da Guarda tropeçou, ele o agarrou pela camisa com uma mão. E ele realmente muito forte porque deu um empurrão em José que o derrubou com os pés para cima e sem olhar para ele, disse:
- Afaste-se pirralho que está impedindo a passagem!
E José, que não tinha nada de covarde, do chão gritou:
- Claro, como é tão grande pode me atropelar! Mas com certeza quando era do meu tamanho não fazia estas coisas com as outras pessoas.
O chefe da Guarda ficou pregado no chão, virou-se e olhando para ele, perguntou:
- Você sabe quem eu sou?
- Não, senhor! - respondeu José – Mas com certeza o que eu disse é verdade.
- Sou o chefe da Guarda – respondeu o homem - e como sou aquele que mais manda depois do Rei, preciso ter trânsito livre. E você tem realmente razão no que diz. Há muito tempo algo semelhante ao que aconteceu com você aconteceu comigo, mas não me atrevi a tanto como você. Será que os jovens de hoje em dia são mais corajosos ou mais imprudentes? Espere que já volto! Vou falar com o Rei e saio logo – e ele foi embora.
José, que estava assustado, ouviu sua voz interior que disse:
- Não precisa ter cautela porque ele é uma boa pessoa, mas como tem este cargo, precisa se comportar como uma fera senão seus inimigos o devorariam.
Quando o chefe da Guarda saiu, ele disse:
- Venha que quero falar com você! – e ele levou José para sua casa.
Lá, ele chamou sua esposa e filho, que tinha uma idade aproximada a de José e disse o seguinte:
- Vocês têm uma pessoa corajosa diante de si e como aconteceu comigo quando um soldado me derrubou no chão de barriga para cima, eu fiz o mesmo com ele. Naquela ocasião eu não me atrevi a abrir a boca de medo e, no entanto, este menino que tem a mesma idade que você – referindo-se ao seu filho - me jogou isso na cara. E bem jogado, é verdade, que fizesse tal coisa. Portanto, enquanto ele estiver neste lugar, quero que você cuide dele e o trate como um amigo pois pessoas com bom senso e corajosas nem sempre são encontradas e chegam a ser importantes na vida.
O homem os deixou sozinhos e o garoto que não sabia sobre o que falar, perguntou:
- De onde você é? Qual é o seu nome? – e outras preguntas.
José respondeu a todas e também fez perguntas, assim descobriu seu nome e onde ele havia nascido e que sempre tinha de ir como criados atrás do Rei e que o garoto estava cansado de ir de um lugar para o outro atrás do Rei. José disse:
- Diga ao seu pai que você vai passar alguns dias na minha casa e assim poderá descansar um pouco desta vida que você não gosta, mas entenda que seu pai não tem outra escolha além de aguentar ou deixar seu posto para outro. E ele não vai querer fazer isso porque quando se chega a certa altura, é difícil deixar as coisas e ir embora.
O jovem disse ao seu pai, que descobriu quem era o pai de José e onde ele vivia. E por acaso, ele o conhecia há muitos anos.
Ele os deixou partir, aconselhando-os a terem muito cuidado. Eles partiram juntos e note que vendo os dois amigos ao longo da estrada eles pareciam diferentes e o que aconteceu a seguir provou isso.
Eles encontraram algumas pessoas que viajavam a pé em um lugar estreito e José permitiu que eles passassem primeiro, parando o cavalo, mas o outro menino não fez isso e tiveram de esperar que ele passasse e o jovem perguntou a José:
- Por que você permitiu que eles passassem primeiro se você é a pessoa mais importante? Você não precisa fazer isso! Porque se você não os trata com uma mão dura, eles não te respeitam – e ele dizia isso não porque fosse uma pessoa má, mas porque ele foi ensinado assim.
José lembrou-se da árvore jovem que quando se coloca um peso se deforma e disse: Será possível que ele não consiga se endireitar? Vou tentar porque ele me é simpático. E ele perguntou:
- Você reza para o ALTÍSSIMO?
- O que você está dizendo? Isso são coisas de mulheres e sacerdotes para que eu não seja ferido em batalha! Mas quando existe uma guerra muitos morrem, pessoas boas e más. Então me diga, do que adianta fazer isso?
José ficou pensativo e disse:
- No caminho irei lhe mostrar um lugar especial que me deixou fascinado pela sua beleza natural – já pensando que se o jovem falasse com o eremita, ele poderia endireitar a árvore com sua sabedoria.
Eles fizeram um desvio antes de chegarem à casa e passaram pela caverna do eremita. Quando chegaram ao sopé da montanha onde ficava a caverna, José disse:
- Vem, quero te mostrar algo.
O outro protestava e dizia:
- Como uma autoridade sobe as rochas como se fosse um pastorzinho?
Contrariado, ele o seguiu. Quando chegaram onde ficava a entrada da caverna, José gritou e o eremita saiu. José o cumprimentou e disse:
- Lembra-se de mim?
Mas o eremita estava olhando para seu companheiro e disse:
- De você sim, mas tenha cuidado com este que o acompanha pois não é confiável.
Os dois jovens ficaram petrificados com a resposta, mas o eremita continuou:
- Digo isso porque você sabe que eu leio as mentes das pessoas e vejo isso. Pode entrar, olhar e depois ir para sua casa, mas vou dizer que quero que você venha em outra ocasião. Você saberá quando, mas venha sozinho para ficar alguns dias comigo porque temos que conversar muito e demoradamente.
Eles entraram na caverna e José estava muito triste por causa das coisas que o eremita disse sobre seu acompanhante, mas logo suas palavras foram confirmadas. Assim que entraram e viram aquelas maravilhas, o jovem exclamou:
- Por que você me trouxe aqui? Um lugar tão escuro, que está tão úmido e cheira tão mal?
José se esforçava, dizendo:
- Mas veja a maravilha que você tem diante dos seus olhos!
- Vamos embora, não me provoque! – respondeu o outro.
E eles saíram da caverna e ao sair José olhou para o eremita que devolveu o olhar, mas nada disse.
Eles seguiram pela estrada e chegaram em casa, mas José já não sabia como mandá-lo de volta para casa porque estava arrependido de tê-lo convidado.
Quando chegou a hora da refeição, as coisas do campo pareceram estranhas para ele e como a maneira de cozinhar era diferente, ele disse em voz alta:
- Que nojo!
E empurrou o prato para um lado e então a solução para seu problema ocorreu a José, que foi falar com sua mãe e disse:
- Não sei como me livrar deste jovem que parecia uma coisa e acontece que não sabe se comportar.
A mãe, que também havia notado isso, respondeu:
- No entanto, é o filho do chefe da Guarda do Rei. Vamos ter de nos contentar com ele até que ele queira ir embora porque pode se incomodar se o mandamos embora.
- Veja o que pensei que podemos fazer – disse José - todos os dias você coloca a mesma comida, aquela que ele não gostou e se ele protesta, você diz que no campo se come o que se colhe e agora está sendo colhido este grão, o que é verdade.
A mãe gostou da artimanha, apesar dela ser sacrificada porque era uma boa cozinheira e poderia ter brilhado diante do convidado.
No dia seguinte, ela colocou a mesma comida e no outro dia também. E o jovem perguntou à mulher:
- Não se come outra coisa?
Ela respondeu o que José havia dito e o jovem perguntou:
- E falta muito para colher? – porque ele observava que todos os dias tinha de comer a mesma coisa.
- O que o ALTÍSSIMO quiser! – respondeu a mulher.
O jovem compreendeu que faltava muito e naquela noite, com o pretexto de que tinha o que fazer em casa, disse que na manhã iria embora e assim o fez.
Quando ele foi embora, a mãe disse:
- Na verdade, já era hora dele ir embora porque se ficasse mais um dia nem eu conseguiria comer mais a comida.
E para variar, ela preparou uma boa refeição para todos os presentes que celebraram que o jovem tivesse ido embora.