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E cobrir os salões com ramos de azevinho
Dançando em torno da árvore de Natal
"Feliz Natal"!
E todos cantam felizes
na nova maneira antiga.
Como podem ver, esse é uma letra que à primeira vista parece leve, mas que possui algumas ideias interessantes. O termo rocking (dançando) introduz a novidade da sugestão de rock, da mesma forma que outra canção de Natal, talvez ainda mais famosa: Jingle Bell Rock de Bobby Helms. Mesmo que privado de sua característica dureza, a introdução do rock nas canções de Natal foi de fato uma novidade e, de maneira estranha, foi bem aceito até mesmo pelas gerações anteriores mais tradicionais, que viam na alma do rock em ascensão um símbolo de degradação da sociedade. Magia de Natal?
Na verdade, a canção se faz imediatamente "perdoar", enfatizando os temas fixos da tradição: o beijo sob o visco, as vozes alegres, o espírito do Natal e... - o toque de mestre da união entre o velho e o novo, citando até mesmo o refrão da famosa DECK THE HALLS, canção símbolo do americano médio mais velho. A canção foi composta por Johnny Marks em 1957, lançada pela DECCA e cantada por Brenda Lee, na época com 14 anos, que a gravou duas vezes, em 58 e 59. Parece que originalmente a canção tinha um ritmo mais country e foi então "remendada" pelas peculiaridades vocais e interpretativas de Lee. Esse foi, então, um experimento muito bem-sucedido, considerando que essa gravação de Brenda Lee foi quase a única feita para essa música!

FOTO 5. Criança prodígio, Brenda Lee começou sua carreira aos 6 anos de idade, conquistando o primeiro lugar em um show de talentos na escola. A recompensa foi a aparição ao vivo em um programa de rádio muito escutado chamado Starmakers revue. Sua família era muito pobre e, graças às incessantes apresentações de rádio de Lee, conseguiu sobreviver. Ela era muito baixinha (cerca de 1,45m), mas sua voz era tão impactante que recebeu o nome de "Miss Dynamite". Ela alcançou sucesso não com o Rocking Around the Christmas Tree, mas com a canção de 1960 "I'm sorry", pela qual foi premiada com o Grammy Award. Considerada pelo público como uma cantora pop, Brenda Lee foi, no entanto, uma das poucas mulheres da época a se tornar uma ilustre expoente do rockabilly e do Rock'n roll.
Johnny Marks (1909-1985) começou sua carreira em 1947 como compositor de canções natalinas. Sua primeira canção foi "Rudolph, a rena do nariz vermelho", baseada no poema de mesmo nome, escrito pelo seu cunhado, Robert. A canção, então, atinge um sucesso sem precedentes, rendendo ao autor os direitos a 30 milhões de cópias vendidas e, em 1964, inspira a criação de um filme de mesmo nome muito querido!
Diretor da ASCAP (Sociedade de Autores, Compositores e Editores) de 1959 a 1961 e fundador da igualmente famosa música de São Nicolau em 1949, Johnny Marks escreveu muitas canções que os convido a escutarem. Menciono aqui algumas: THE NIGHT BEFORE CHRISTMAS (1952) interpretada pelo dueto mágico Gene Autry/Rosemarie Clooney, outra estrela do período. RUN,RUDOLPH,RUN (1958), interpretada pelo ícone do rock CHUCK BERRY (quem mais poderia ser?) I HEARD THE BELL ON CHRISTMAS DAY (1956), uma ópera ambientada na Guerra Civil, interpretada por vozes importantes como Harry Belafonte, Bing Crosby, Elvis Presley, Frank Sinatra....e muitos outros. Em resumo, muitas músicas maravilhosas que valem a pena escutar e lembrar.
Para registrar: Johnny Marks foi premiado com o Prêmio CHRISTMAS SPIRIT (Espírito de Natal) pela International Society of Santa Claus (Sociedade Internacional do Papai Noel) em conjunto com outro compositor notável: Irving Berlin, pai de WHITE CHRISTMAS e outras belas canções que falaremos em um dos próximos capítulos.

FOTO 6. Johnny Marks mais velho, em uma foto quase íntima dos anos 70.
A canção foi gravada em julho de 1958 em um dos escritórios da Decca com o produtor de Nashville, Owen Bradley. Era um dos verões mais quentes dos últimos anos, e a cantora e a orquestra não conseguiam se concentrar. Owen então, além de ligar o sistema de ar condicionado no máximo, instalou um canhão de neve artificial para resfriar o ar, e montou uma grande árvore de Natal nos estúdios de gravação, cheia de bolas e luzes coloridas, a fim de trazer de volta a concentração da cantora e de toda a equipe. Parece que o truque funcionou à perfeição e todos se divertiram muito, ao ponto de que apenas duas gravações foram suficientes para terminar a gravação da música. Em 2014, a NPR entrevistou a agora idosa Brenda Lee e, por brincadeira, perguntou qual era a direção correta para dançar em torno da árvore de Natal. A resposta da cantora foi imediata: "Sul. Seguindo o curso do sol." Embora de origem judaica (como seu ilustre colega Irving Berlin), Johnny Marks alcança a fama como compositor de canções de Natal. Em uma de suas inúmeras entrevistas, quando perguntado se ele se orgulhava de seu sucesso, Marks confessa abertamente: "Bem, não estou muito feliz por ser lembrado apenas por canções de Natal!"

RUDOLPH, A RENA DO NARIZ VERMELHO
Um elogio à diversidade

Quem não se derrete ouvindo a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho? Embora tenha sido criada há muito tempo, a fábula da criatura "diferente", que por isso foi isolada pelos seus colegas até a sua aceitação pelo próprio Papai Noel, está gravada no coração de toda criança que vive uma história parecida e tenta superar seus próprios complexos. Na realidade, se trata de uma verdadeira inovação no campo da literatura infantil, que pela primeira vez percebe a fragilidade do universo "adolescente", oprimido por fenômenos de discriminação e intimidação. Se pensarmos que Rudolph ganha vida em 1939, não podemos deixar de nos maravilhar com sua poética, além de ser bem atual e de reconhecer a própria profundidade humana. A pequena rena, nascida da mente e do coração de Robert Lewis May, vive uma história simples, mas corajosa: nascido com um enorme nariz vermelho, brilhante e quase cintilante, Rudolph é desprezado pelas outras renas, que nunca brincam com ele, e ainda por cima riem dele. Ele, desse modo, permanece sozinho, marginalizado, destinado à solidão perpétua. Seu porte físico não o ajuda, porque a doce criatura é pequena, magra, muito diferente da imagem clássica do bebê americano rechonchudo, na qual todos os filhotes de contos de fadas, bons ou maus, são inspirados.

FOTO 7. Essa é a primeira versão de Rudolph, no livro original de 1939. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, o primeiro Rudolph não se parece nada com ele. Como podem ver, se trata de uma pequena rena, com traços NÃO infantis e muito semelhantes ao animal em carne e osso. Será só mais tarde, com o advento dos desenhos animados, que sua imagem será modificada. A cabeça redonda, olhos grandes e corpo barrigudo que lhe serão atribuídos lembram a imagem clássica do recém-nascido e são construídos especificamente para inspirar ternura.
Rudolph então cresce em nostalgia pelo mundo exterior, do qual é excluído; no entanto, a solidão não amargura seu coração, que se mantém cheio de amor e esperança. À sua maneira, ele é grato pelas pequenas coisas que a vida lhe reserva, e as desfruta serenamente, sempre esperando pelo futuro. E então vem o milagre: Papai Noel tem que entregar seus presentes na Véspera de Natal, mas a noite é tão escura e enevoada que suas renas não sabem para onde ir e voam perdidas no céu. Há, portanto, o risco de deixar todas as crianças do mundo sem presentes de Natal! Papai Noel fica aflito, mas... no escuro da noite ele vê uma luz que ilumina o coração da floresta. É o nariz da pequena rena, a olhar para as estrelas refletidas no rio. Quando Papai Noel vai até ele para pedir ajuda, a pequena rena aceita de imediato guiá-lo na entrega de presentes para o mundo que sempre o rejeitou, porque seu coração não conhece o rancor. Será assim que Rudolph se tornará uma rena do trenó do Papai Noel, e seu lugar será o de líder. Entre elogios e aplausos, as outras renas serão finalmente capazes de olhar "além" de sua aparência e reconhecer as virtudes de sua "diversidade".
A moral salta aos olhos pela sua impressionante modernidade, especialmente se pensarmos na América moralista e racista dos anos 40, no anseio congênito pela uniformidade pública e nas campanhas homofóbicas antes da guerra. A pequena rena com um grande coração conquistou até mesmo as mentes mais duras e menos maleáveis, trazendo consigo um sopro de mudança que nem todos perceberam logo de cara, mas que persistiria ao longo do tempo. Outro milagre de Natal? Não é bem assim. A fábula de Rudolph apresenta uma história comovente, que foi amplamente divulgada com um incrível cinismo na fase de venda do novo personagem.
É importante mencionar que seu criador, Bob May, foi copywriter na grande rede de lojas Montgomery Ward. Seu trabalho consistia em criar novos personagens de contos de fadas que, durante a época de festas, ajudavam a vender brinquedos, livros e acessórios de Natal. Tanto as grandes empresas quanto a indústria musical usavam esta estratégia; todos os anos eram produzidas novas canções relacionadas com o Natal. As vezes estes personagens se tornavam tão famosos, que envolviam a produção de toda uma gama de acessórios de fácil comercialização e lançavam "moda". Camisas, broches, fantoches e logos muitas vezes acompanhavam uma ou outra canção e um ou outro personagem. Exatamente como acontece hoje em dia, quando é lançado um filme de sucesso (não podemos esquecer, por exemplo, a série de acessórios inspirados em Os Caça-Fantasmas, em Toy Story e - porque não - em Titanic).
Nos anos 30, as lojas de brinquedos costumavam dar livros de colorir para as crianças com fins publicitários. Os berros das crianças para ganhar um livro forçava os pais a visitarem essa ou aquela loja, abrindo as portas à potenciais compras. O trabalho do copywriter era, portanto, o de produzir todos os anos um material atraente com o objetivo de fazer brilhar os olhos do público infantil, sem perturbar os adultos. Mas Bob May também era um artista: em um artigo do jornal Gettysburg Times em 1975, ele mesmo revela os bastidores da história do nascimento de Rudolph.

FOTO 8. Esse é um belo retrato de Bob May no início dos anos 40. O artista confessou muitos anos mais tarde, pouco antes de sua morte, que de fato a figura da pequena rena foi inspirada em si próprio quando criança, época em que foi vítima de bullying. A revelação desacreditou a imagem da boa sociedade americana, que não estava de modo algum pronta para reconsiderar a verdadeira natureza dos alunos de suas próprias faculdades. O fenômeno do bullying é agora infelizmente conhecido, mas nos anos 20 e 30 era proibido falar sobre isso, mesmo em ambiente familiar. May confessou ter tido pensamentos trágicos de suicídio e de superá-los graças ao amor de seus pais que, embora muito pobres devido à crise da Grande Depressão, conseguiram dar-lhe estudos e oferecer-lhe um futuro.
"Um jovem chamado Robert May, infinitamente triste e de coração partido, naquela noite na véspera de Natal olhou pela janela e viu correntes de gelo entrando. Barbara, sua filha de 4 anos, se escondeu em seus braços chorando. Sua mãe, a esposa de Bob, querida Evelyn, estava morrendo de câncer.
- Porque a mamãe não é como todas as outras mães? - perguntou a pequena Barbara, ao olhar nos olhos do pai. Porque ela está sempre na cama de olhos fechados e não brinca comigo? -
A mandíbula de Bob se contraiu e seus olhos se encheram de lágrimas; sentia em seu coração muita dor, mas também muita raiva. Sua vida sempre foi dura desde criança, desde quando sua aparência estranha o fez vítima das piadas e ofensas de seus colegas de escola. Era o patinho feio sem esperança de transformar-se um dia num lindo cisne. Lembrando amargamente os apelidos horríveis que recebeu quando criança, ele decidiu poupar sua doce menina da dor de ser chamada de "órfã". Ele lutaria. Era véspera de Natal, pelo amor de Deus! E sua querida Evelyn estava morrendo. Não havia dinheiro na casa, tudo tinha virado fumaça nos medicamentos desnecessários que não tinham servido para salvar a esposa querida, que tinha conhecido e amado desde os tempos da faculdade. Pensou em sua filhinha, que receberia como presente de Natal apenas a morte de sua mãe, e percebeu que não era o momento de se render.
"Você vai ter o melhor presente de Natal já recebido por uma criança!" - decide em seu coração. Com isso, começa a escrever impulsivamente a história de uma pequena rena com um grande nariz brilhante que, beneficiada pelo Espírito do Natal, iluminaria para sempre as noites escuras de sua infância.
Rudolph nasce assim, pelo amor a uma mulher moribunda e a uma menina muito pequena para suportar a dor da perda. E quando Bob leu a história para a jovem moribunda, ela apertou a filha no peito pela última vez, sorrindo com o pensamento de deixá-la nas mãos da pequena rena…”

FOTO 9. Não consegui encontrar foto da pobre Evelyn, mas essa de Bob May com sua filha Barbara rodou o país e amoleceu os corações de milhões de mães. Talvez seja esse o segredo da longevidade da fama da pequena rena?
Claramente, embora sugestiva, se trata de uma história romantizada, digna de um escritor do passado. A realidade foi bem diferente e, em muitos aspectos, mais desagradável.
Em 1938, os danos da Grande Depressão eram muito evidentes na sociedade americana: a crise tinha levado a uma redução gradual na alegria de gastar, e o Natal tinha perdido grande parte de seu apelo consumista. Os pais mantinham as carteiras bem fechadas e até as mesas festivas pareciam menos coloridas. A atmosfera era cinzenta e as vendas de brinquedos baixaram drasticamente: por outro lado, mesmo as grandes cadeias de lojas não pareciam propor nada de novo. No ar ecoava as notas das canções de Natal clássicas, e até mesmo as luzes da indústria da música pareciam desligadas. Ou seja, ninguém queria arriscar, e as famílias pareciam estar totalmente adaptadas a uma atmosfera de austeridade.
Mas não as lojas Ward, que tinham na história do seu fundador Aaron Montgomery uma experiência de vanguarda: apesar da depressão e da crise, recrutou o melhor entre os seus copywriters para dar vida a um personagem tão envolvente que podia brigar até mesmo com Mickey Mouse.
A história do fundador da grande cadeia é indicativa. Ward era apenas um caixeiro-viajante e, em 1872, teve uma ideia no mínimo futurista: iniciar um negócio de vendas diretas, produtor-consumidor, apostando em fornecedores e varejistas e baixando drasticamente os preços. O seu primeiro catálogo, que foi enviado por correio às partes interessadas, consistia numa única página e os primeiros artigos eram ferramentas de trabalho muito comuns para os agricultores. Mas a ideia teve sucesso imediato e, depois de apenas dez anos, Ward foi capaz de vender pelo correio através de catálogos 163 itens diferentes para vários usos (incluindo um dos primeiros fogões a lenha baratos) expostos em 237 páginas! Foi ainda Ward, em 1875, quem inventou a fórmula de "garantia de devolução de dinheiro", o que o levou a um salto para a liderança em popularidade entre os consumidores! A rede Ward desfrutou de um monopólio de vendas por correspondência até 1886, quando nasce a Sears (que a leva à falência muitos anos depois). Todavia, em 1919 Montgomery Ward foi listada na bolsa de valores abrindo sua cadeia de lojas, e foi uma das poucas grandes empresas a sobreviver à crise de 29, quando houve o colapso da Bolsa de Valores. Indomável como poucos de seus rivais, em 1938 Ward decidiu investir grande parte de seus recursos no futuro; e fez isso através do público infantil, como era justo que fosse.

FOTO 10. Foto do primeiro catálogo de página única do império em ascensão Montgomery Ward de 1875! Em poucos anos as vendas por correspondência dispararam e Ward teve a brilhante ideia de economizar nos custos de transporte estabelecendo um limite de peso. Parece que os embaladores eram tão rígidos no respeito às regras, que muitas vezes roupas pesadas como os casacos (que eram muito pesados na época) eram descosturados e enviados em dois pacotes diferentes... e vinham com agulha e linha para costurar de volta!
A ideia era "lançar" um personagem engraçado, porém viril, símbolo da própria cadeia. O primeiro "pupilo" da iniciativa foi um certo Touro Fernando proposto não se sabe por quem, que foi descartado de uma vez devido a má publicidade das touradas. O personagem de May disputava com outros, mas foi de longe o favorito devido à sua característica delicada e índole submissa. Ele também estava tragicamente falido, já que a doença súbita de sua esposa Evelyn, que sofria de câncer há mais de dois anos, tinha drenado suas economias já escassas. O incentivo econômico que Ward prometia ao criador do personagem iria colocar as coisas de volta ao eixo. Bob cuidava de Evelyn e de sua filha, movendo-se loucamente entre o hospital, a casa e o escritório. Em consideração a sua situação, foi-lhe permitido trabalhar a maior parte do tempo de casa: foi lá que o artista teve sua inspiração graças à sua filha Barbara (a única nota verdadeiramente poética de todo o caso). A pequena era fã dos contos de fadas de Papai Noel e suas renas; ela adorava filhotes de cervo, se comovia vendo a mãe cerva e se derretia em lágrimas quando pedia ao pai que a levasse ao zoológico... ele, por razões econômicas, não podia. Bob May coloca grande parte de sua alma no coração da pequena rena: inventa um personagem "diferente", alienado, triste e solitário, que não podia ser outro senão ele mesmo, um menino feio e de óculos. E o faz seguindo um padrão poeticamente infantil ditado pelo amor por sua filhinha, e que se encaixa perfeitamente no espírito do Natal.

FOTO 11. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, as características originais das renas são muito diferentes dos inocentes filhotes de cervo. Como podem ver na imagem original de 1942, Bambi já apresenta os sinais da iconografia clássica de filhotes adoráveis: cabeça redonda, orelhas grandes e olhos pungentes. A Disney produziu o filme em 1942, quando Rudolph era já muito famoso. Coincidência ou plágio?
Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.
E Rudolph não foi a súbita "revelação" que operou milagres no terrível diretor de vendas, Sewel Avery. Na verdade, Rudolph com aquele nariz vermelho que lembrava o de um bêbado, foi imediatamente descartado não só uma, mas duas vezes! Temos de compreender isto: o eco do proibicionismo ainda se fazia sentir, e apresentar ao público infantil uma imagem pseudo-alcoólica não parecia conveniente para as lojas Ward, ainda que fossem progressistas. Mas Bob, agora determinado a seguir em frente e receber a abençoada promoção, tirou da manga sua cartada triunfal: pede a ajuda do ilustrador jovem e promissor Denver Gillen, muito talentoso e ambicioso. O jovem fez exatamente o que fazem os grandes atores fazem quando entram completamente no papel: teve uma conversa com a pequena Barbara (verdadeira inspiradora do personagem), e logo percebe que aquele nariz vermelho não era uma pura invenção, mas um detalhe em um certo tipo de cervo que a menina tinha visto há muito tempo no zoológico. Ao passear pelo zoológico, ele logo percebeu que se tratava do caribu, um animal dócil cujo filhote parece frágil e indefeso e que, ao nascer, apresentam um nariz rosa escuro muito particular. Seus desenhos foram capazes de capturar aquela ternura instintiva que, apesar do aspecto não muito feliz, os pequenos sabem como infundir em sua própria espécie; conseguiu trazer leveza a uma história triste, bem adequada para um Natal reflexivo e, com isso, finalmente conseguiu conquistar o terrível Sewel Avery, diretor de vendas Ward.

FOTO 12. Esse é o esboço original da pequena rena em 1939, tal qual apresentado por Denver Gillen. As características do personagem não eram bonitas, mas a fragilidade do desenho, que parecia sair diretamente de um mundo de contos de fadas, conquistou a todos.
Vários nomes foram descartados, entre eles Rollo e Reginaldo. Por fim, a pequena rena ganhou o nome de Rudolph, que evocava uma imagem certamente mais "masculina" que os anteriores. Depois de uma campanha publicitária impressionante, a ideia pegou e, só em dezembro de 1939, vendeu-se mais de dois milhões de cópias, alçando a história da pequena rena ao reino dos clássicos.
O que se seguiu foi uma enxurrada de acessórios de arrepiar os cabelos até mesmo da própria Disney: bonecos, broches, acessórios para crianças, canecas... e até mesmo enfeites de Natal traziam a nova moda da rena de Nariz Vermelho. A América, feliz e contente, foi literalmente invadida e durante 7 anos Rudolph foi o protagonista absoluto das festas sagradas. Não havia nenhum teatro itinerante que não encenasse com seus bonecos Rudolph, e não havia nenhuma mãe que não fizesse o filho dormir ao embalo dessa fábula querida.
Estavam todos felizes então? Não é bem assim. Nosso Bob, depois de um breve momento de glória, não se encontrava melhor do que antes. Ward tinha todos os direitos sobre a história e seu protagonista e, como dizem, sugava tudo enquanto May estava sobrecarregado com contas e mais contas. O jovem também casou-se novamente com uma colega, ex-secretária do mesmo Avery, a doce Virginia Newton com quem teve mais cinco crianças! Em 1946, portanto, Ward tinha vendido seis milhões de cópias livro sozinho, aos quais devem ser adicionados os recursos provenientes da venda de acessórios. Enquanto isso, Bob seguia adiante com seu único salário como empregado. E agora começa a lenda: falam que, por um motivo misterioso em 1947, o temível Sewel Avery, evidentemente tocado por graça divina, cede 100% dos direitos ao seu criador, Bob May, que em apenas dois anos se torna multimilionário e, com isso, consegue viver de rendimento pelo resto da vida. A maioria não sabe explicar este súbito arrependimento as lojas Ward que, ao que parece, mudou de ideia e renunciou à renda bilionária que tinha aumentado seu poder na bolsa de valores. Não se falou disso durante anos, até que, pouco antes do fracasso da grande cadeia em 2001, veio à tona os detalhes.