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Magia, Caos & Assassinato
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Magia, Caos & Assassinato

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Mas não tive tanta sorte. Uma porta se abriu e nossa inquilina ficou ali, com as mãos em seus quadris curvilíneos. Seu cabelo vermelho selvagem dava uma impressão de movimento sinistro semelhante à famosa Medusa, mesmo quando ela estava parada. Seus olhos cinzentos me prenderam na parede e eu jurava que uma faísca saltou dela para pousar na minha camisa. Eu distraidamente passei a mão nela. Ela estava na casa dos trinta anos e era alguém que eu nunca queria aborrecer. Eu acho que ela tem relação com a máfia russa — pelo menos ela sugeria isso com frequência suficiente quando ela já tinha tomado algumas doses de vodca. É claro, todos a amavam. Esperto.

— Ivana, como está? — Perguntei, minha garganta apertando. Não havia muitas coisas que eu tinha medo, mas Ivana Petrov? No topo da lista com o Pé Grande. O inglês quebrado e seco dela apenas a tornava mais assustadora.

— Não muito bem.

— Oh? — A pele na parte de trás do meu pescoço formigou. — O que aconteceu?

— O que eu fiz para merecer tal insulto! Você não pensou em me convidar. Melhor amiga e vizinha do peito. — Ela estava sob a ilusão de que era tudo verdade. Ela bateu uma vez em seu coração sobre seu espetacular busto com um punho fechado, como se tivesse escolhido ser martirizada ao amanhecer no pátio.

— Bem, você sempre está convidada para tudo. Você sabe disso. — Eu estava ficando presa em um limbo, mas parecia a melhor saída. Ivana tinha uma reputação que ela trabalhava duro para manter, talvez sem saber — de agitadora. E em uma cidade conhecida por ter pessoas engraçadinhas, isso era uma façanha. O Lago Nevado ficava isolado do resto do mundo, especialmente no pico do inverno quando ficamos conectados apenas por estradas perigosamente congeladas, ou pelo nosso minúsculo aeroporto que esperava que um passageiro deixasse seu primogênito como garantia, então somos adeptos de fazer nosso próprio entretenimento em casa.

— Estrela canta como um doce pássaro do paraíso. Obrigada pelo convite formal. — Ela era toda sorrisos agora, e nisso eu confiava ainda menos.

Soltei a respiração que eu estava segurando. Eu já deveria estar acostumada com os dramas dela — ela era nossa inquilina há seis meses — mas eu continuava esperando que algo de ruim acontecesse. E acertasse minha cabeça. — Estarei pronta em vinte minutos. Quer ir caminhando comigo? — Não havia lugar na cidade que não pudemos alcançar em menos de quinze minutos.

— Eu aceito. — Ela bateu a porta atrás de si mesma para pontuar sua observação.

Eu abri a porta para o meu pequeno apartamento de três cômodos, desejando que eu pudesse me enrolar no sofá de camurça confortável e suave, para uma soneca bem longa. Em vez disso, corri para o quarto e tirei todas as minhas roupas, joguei-as no cesto de roupas, pulei no chuveiro para um banho de cinco minutos e depois saí para uma rápida aplicação de maquiagem.

Decorei os cílios ao redor dos meus olhos — meu melhor atributo, na minha humilde opinião — com lápis preto e rímel, seguido por uma rápida aplicação de pó translúcido no meu rosto e batom líquido brilhante nos meus lábios. Sequei meu cabelo com o secador e escovei meu cabelo que ia até a cintura até ele brilhar, segurando as ondas para trás com uma faixa de cabelo dourada. Sim. Vovó tem razão. Branca de Neve. Não importa quanto tempo eu passe ao sol, acabo ficando com a cor de alabastro. Suspirei. Apenas uma vez queria ser bronzeada, loira e ser três centímetros mais alta, como minhas lindas irmãs. Eu teria que me contentar em ser um gênio, ou pelo menos era assim que minhas irmãs adoravam me provocar.

Verifiquei o relógio ao lado da minha cama. Caramba. Dois minutos para me vestir. Ivana não era uma mulher paciente. Empurrando para o lado três quartos das escolhas no meu armário, todas ideais para trabalhar no café ou vadiar na floresta, eu encontrei. Meu vestido vermelho favorito. Me atrevo?

Deslizei dentro dele e alisei o tecido sedoso sobre meus quadris. A saia chegava à altura dos joelhos, onde se alargava — perfeitamente respeitável, caso qualquer um dos amigos da vovó falassem de mim — e cobria apenas o suficiente do meu busto avantajado para chamar a atenção de um homem. Quanto tempo faz desde que eu tive um namorado? Eu não queria pensar nisso. Deprimente demais. No Lago Nevado, minhas irmãs tinham toda a atenção, especialmente Estrela, que recebeu o nome perfeito.

Uma batida alta soou na porta. O tempo acabou. Sapatos. Mexi na parte de trás do armário, tirei meu par de saltos altos pretos e os calcei me equilibrando contra a parede, depois me apressei para pegar minha bolsa e correr para a porta antes que Ivana a derrubasse. As finanças estavam apertadas este mês e a mulher era tão forte quanto uma amazona.

— Por que você está sem fôlego? — ela perguntou desconfiada. Ela escolheu uma roupa laranja néon justa que cobria um pouco das partes importantes, com o cabelo preso em um coque atraente. Até mesmo laranja ficava bom nela, contanto que eu não ficasse do lado dela. Só precisava que alguém usasse verde e ficaríamos iguais ao único semáforo localizado no final da Rua Principal.

— Estou bem. Vamos.

O salão de dança do Botas e Renda era virando a esquina. Assim que saímos da parte de trás do café, a batida pesada da bateria e das botas no chão de madeira reverberou nas solas finas das minhas sandálias de tiras e na minha corrente sanguínea. Meus passos ficaram mais leves.

Corpos quentes pressionados, a fragrância de pipoca fresca e a promessa de cerveja gelada permeava o ar do bar quando entramos. Se o pulso de uma pessoa não acelerasse, era melhor chamar o legista.

Eu me inclinei e gritei na orelha de Ivana sobre o som de Estrela cantando no palco sobre um homem infiel, sua voz encantando a multidão como de costume. — Você reserva uma mesa e eu vou pegar a cerveja.

Ela assentiu e fez seu caminho pela multidão. Eu quase esperava ver linhas perfeitamente alinhadas de dançarinos em ambos os lados enquanto ela caminhava.

No bar, pedi duas garrafas de cerveja e um grande balde de pipoca a Darcy. Enquanto esperava que meu barman favorito de cabelos ruivos trouxesse nosso pedido, eu balancei com a música, observando o ambiente. Não que eu pudesse ver muito. O lugar estava sendo tomado por pelo menos um quarto dos residentes do Lago Nevado. Nossa cidade cresceu de forma substancial no verão, auxiliada por um esquema de publicidade inteligente que vendia uma oportunidade de minerar ouro de verdade no riacho que atravessa o lado sul da cidade, onde apenas eram encontrados pontos coloridos o suficiente para manter o interesse. Eu suspeitava que tia T.J., uma enorme defensora de todas as coisas locais, jogava pedaços de ouro de tolo no riacho na calada da noite.

— Aqui está, querida. A pipoca é de graça para uma moça tão bonita. — Darcy colocou meu pedido em uma bandeja, acrescentou um sorriso encantador e esperou que eu pegasse o dinheiro. Procurei na minha bolsa e lhe entreguei uma nota de vinte. Enquanto ele pegava o troco na caixa registradora, peguei um punhado de pipoca amanteigada e coloquei na boca. Humm.

— Boa noite, senhora.

Comecei a engasgar na massa de núcleos macios, e dei um rápido gole na cerveja.

— Oi, xerife — eu disse com um sorriso enorme, olhando bem, bem para cima, para o lindo rosto áspero do oficial Ace Collins. Ele estava vestido em um par de jeans desbotados que abraçava seus quadris magros e uma camisa branca de estilo country com o botão superior aberto para expor a pele lisa de seu pescoço e seu peito largo. Ele emitia uma confiança tranquila e um ar de mistério que homens intrigantes conseguiam com facilidade.

— Sou um policial. Embora xerife realmente tenha um bom som. — Ele tinha que se inclinar na minha direção para que eu pudesse ouvi-lo sobre a multidão barulhenta. A fragrância da colônia passou pelo meu nariz. Eu a respirei. Eu não tinha ideia da marca, tive que cheirar novamente, mais profundamente dessa vez.

— Você pegou seu veículo, certo?

— Claro. Só tive que usar uma buzina a ar para afastar o monstro.

— Tia T.J. usa a gaita de fole. Funciona muito bem. Em ursos e humanos.

Ele riu, dentes branco-pérola cintilando contra a pele bronzeada. Ele esfregou seu queixo esculpido recém-barbeado. Exibido. Ele deixou o chapéu em casa esta noite. Seu grosso cabelo escuro brilhava sob as luzes, penteado para longe da testa. Sim, Johnny Cash estava aqui. Meu corpo formigou com antecipação.

— Me diga por que você não me apresentou a este doce pedaço de policial, Encanto? Eu não troquei suas fraldas o suficiente para merecer algum respeito? — A voz da tia T.J. gritou no meu ouvido direito, causando um zumbido instantâneo. Ela não teria trocado uma fralda mesmo que sua vida dependesse disso.

— Nós só chegamos na cidade quando tínhamos oito anos. Acho que todas estávamos bem além do estágio de fraldas.

— Que seja. Então, qual é o seu nome, bonitão? Sempre quis ter um grande homem da lei. — Ela passou por mim, jogando a cabeça para trás para olhar o mais novo membro da nossa comunidade, então pensativamente lambeu os lábios para dar ênfase, caso suas palavras não tivessem sido claras o suficiente. Revirei os olhos, desejando poder desaparecer através do piso de tábuas largas.

— É melhor desfrutar da sua última noite de liberdade antes que a vovó chegue em casa e coloque essa bunda no lugar — murmurei para minha tia. Vovó Toogood era um bastião de decência e jogo limpo em quem eu confiava para manter a paz em mais ocasiões do que eu poderia contar. Ela era difícil de encarar.

Tia T.J. fingiu que não me ouviu, mas Ace levantou uma sobrancelha especulativa na minha direção.

— Venha, querido, vamos dançar! — Minha tia puxou seu parceiro recém-encontrado, como um barco de reboque arrasta um transatlântico naufragado antes de desaparecer na multidão. Fiz o sinal da cruz na parte superior do corpo, orando para que ele soubesse dançar.

Peguei a bandeja e fiz meu caminho até Ivana, depositando a cerveja e a pipoca na mesa em frente a ela.

Ela agradeceu, pegando a garrafa de cerveja e ignorando alegremente o copo alto fornecido. Dois tipos de mulheres, aquelas que gostam de ser ultrajantes, e aquelas que não gostam. Enquanto ela inclinava a cabeça para trás deixando o fluido fresco âmbar fluir pela garganta e ganhando os olhares de todos os homens próximos, eu coloquei a minha tranquilamente no copo.

— Eu tenho novo dever — ela gritou sobre o barulho, colocando a cerveja meio vazia na mesa com um barulho determinado.

— Sim? — Levemente curiosa, prestei pouca atenção nela enquanto observava minha tia arrastar seu grande policial ao redor da pista de dança como um boi premiado. Ivana nos conseguiu uma localização privilegiada. Eu não queria saber o que ela fez para conseguir esse lugar. Eu assenti para Estrela que cantava no palco elevado. A franja branca de seu traje brilhava contra sua pele bronzeada, seu cabelo loiro enrolado em longos cachos que saltavam quando ela se movia. Meus pés simplesmente não podiam resistir à música do two-step4, batendo os pés na batida debaixo da mesa.

— Minha missão — encontrar Encanto homem atraente.

Eu cuspi o gole de cerveja que eu acabara de tomar, limpando a boca com a parte de trás da minha mão. Acenei para ela, balançando a cabeça vigorosamente. — Não precisa. Estou bem. Nada de homem atraente, por favor.

— Nada de homem? — Ela fez beicinho, seus olhos estreitando perigosamente. Então o rosto dela se iluminou com um novo entendimento. — Mulher então, sim?

— Não! — Eu gritei. — Definitivamente sem homem ou mulher atraente para mim. Fique fora disso. Por favor.

A banda chegou ao fim de sua música, algo que eu queria ter percebido dez segundos antes. Agora estava tão quieto que eu podia ouvir um rato peidar.

O Sr. Homem da Lei Bonitão sentou em uma cadeira ao meu lado, um sorriso puxando sua boca para cima, expondo as covinhas que não paravam de aparecer. — Bem, senhora, é bom saber.

Os olhos de Ivana se arregalaram. Sim. Eu sei. Ele é atraente.

— Se eu tentar não me animar, você me dará a honra da próxima dança, senhorita McCall? — Pelo canto do meu olho, eu vi os cílios de Ivana flutuarem, sua mão segurando o busto, aumentando o decote.

— Sim, claro — murmurei, meu corpo inclinando para o dele, mais quente. Sempre. Vovó nunca perdoaria a falta de boas maneiras, e eu tive que confiar em comportamentos seguros e em manter uns bons quinze centímetros entre nossos corpos. Quanto mais cedo eu apresentar o oficial Ace Collins para Estrela, melhor.

Na pista de dança, eu mal chegava ao queixo dele quando ele me puxou para seu peito largo. Ele colocou minha mão na dele muito maior e que ameaçava engoli-la inteira, me puxando para o passo lento da valsa, a outra mão escalando a carne na parte inferior das minhas costas. Cerrei meus dentes. E Estrela e sua banda country tinham que tocar uma música romântica em seguida. Ele dançou de forma casual, fazendo com que fosse fácil seguir sua liderança. Infelizmente. Seria melhor se ele dançasse como o Pé Grande.

— Eu não tinha ideia de que o Lago Nevado era uma comunidade tão próspera. É bom ver tantas pessoas por aí em uma noite de quinta-feira.

— Oh, isso. É só porque a banda da minha irmã Estrela está aqui.

— Aquela é sua irmã? Boa voz. — Ele não olhou para o palco, onde ela cantava baixinho sobre chorar por um amor perdido, ao invés disso segurou meu olhar.

— Você vai ficar na cidade por um tempo?

— Se vocês me aceitarem.

Eu assenti. — Eu te apresentarei a Estrela entre as músicas.

Ele encolheu os ombros. — Claro. Há outros parentes na cidade sobre quem eu deva saber? Pais?

Uma emoção crua surgiu, mas eu a sufoquei, balançando a cabeça. Com o passar dos anos, eu perdi a esperança de ver minha mãe novamente, não importa quanto bom carma eu tentasse criar. Apenas não era bom o suficiente. — Já se foram.

— Sinto muito por ouvir isso. — Seus olhos escureceram com empatia, fazendo-me engolir um bocado de saliva.

— É assim que as coisas são. — Dei de ombros. — Você?

— Meus pais moram em Winnipeg. Divorciados, embora vivam lado a lado em um duplex na Rua da Academia. Vai entender. Tenho dois irmãos, Stone e Mick. Meu irmão mais novo Stone está cursando engenharia da computação na Universidade de Michigan e Mick é ainda mais jovem — e está treinando para ser um oficial da PRMC em Regina.

— Sinto muito pelo divórcio dos seus pais. Geralmente é uma droga para as crianças.

— Sim, bem, foi depois de termos saído de casa, o que facilitou. — Ele encolheu os ombros, deslizando seus ombros extra largos. — Um pouco mais difícil quando você tem oito anos. — Humm, excelente audição também.

— Você sobrevive. Aprende a tirar o melhor disso. Vovó Toogood nos acolheu. Tivemos sorte. Pelo menos não entramos no sistema de adoção.

— Entendo.

A massa de corpos balançando romanticamente ao nosso redor enquanto dançávamos em nosso oásis de decoro fez de Ace e eu os estranhos. Quando a música terminou, eu corri para a mesa, dispensando a chance de uma segunda rodada de tortura.

Estrela colocou o violão no suporte e correu descendo pelos degraus do palco, a franja e os cachos voando.

— Estrela, eu quero que você conheça o policial Ace Collins. — Me inclinei para perto para gritar em seu ouvido. Cruzei meus dedos para que tal tentação como este espécime de homem mantivesse Estrela na cidade.

Estrela esticou a mão e Ace a pegou. Mas, em vez de sacudi-la como uma pessoa normal faria, ele deu um beijo na parte de trás da mão dela, dando-lhe um olhar admirado com seus olhos de chocolate marrom. Ela corou sob as luzes fluorescentes, seus olhos brilhando com alegria.

— Encantado, senhora.

— O prazer é meu. Alguém já te disse o quanto você parece com Johnny Cash? — ela ronronou, ganhando um sorriso cheio de covinhas de Ace. Certo. Isso pode ter funcionado bem demais.

— Uma vez ou duas. Posso me juntar a vocês? — ele perguntou, embora eu já tivesse estendido o convite. Oh, de verdade, um cara dos sonhos, não que eu gostasse desse tipo de coisa.

— Claro. — Estrela deu a ele o olhar mais doce imaginável, sentando-se ao lado dele com as pernas cruzadas em direção a ele. — Então, quando você chegou na cidade, xerife?

Revirei os olhos.

— Hoje. Recebi uma ligação sobre um urso-negro no caminho e parei para dar uma olhada. Encontrei Encanto por acaso e…

— E eu pulverizei spray de pimenta nele — terminei. Ele me deu outro daqueles longos olhares que fizeram meu coração perder uma batida.

— O quê? Como você pôde? — O horror exagerado de Estrela foi bem feito.

— Eu já me desculpei por pensar que ele era um urso.

— Ou o Pé Grande — ele acrescentou com um sorriso irônico.

— Encanto. — Ivana balançou o cabelo selvagem, as pontas vindo na minha direção. — Não é legal fazer isso com um homem tão grande. E você sabe o que dizem sobre homens com pés grandes, não é? — Ela colocou a mão no antebraço dele, apertando como se verificasse algo. Pelo amor de Deus, ele não é um pedaço de carne. E eu não ia tocar no comentário sobre um homem com pés grandes nem por todo o chá da China.

— Alguém sabe o que está prendendo Tulipa? — Tomei um gole de cerveja, observando que Ivana tinha acabado de terminar a dela.

— Talvez novo namorado? — Os olhos de Ivana brilharam com interesse. Ivana tinha homens como nenhuma outra mulher que eu já conheci. Nenhum com um pé grande o suficiente? Certo. Não foi legal, Encanto. Corei com minha própria audácia.

— Vou pegar mais cerveja — ofereci, me levantando. Ivana trabalhava meio período no salão de beleza local, o que mal cobria o aluguel — e provavelmente era por isso que estava atrasado há um mês. Eu não estava reclamando, imaginando seus irmãos Bratva5 passando pelas portas e janelas para me avisar que não mexesse com sua irmã. Além disso, ela era boa o suficiente para ajudar no café quando minhas queridas irmãs sumiam sem avisar. Ela não afastava muitos clientes em um dia bom.

— Uma jarra desta vez, Darcy — eu disse no bar quando consegui sua atenção. — Todo mundo está sedento esta noite. — Ele assentiu, ocupado pegando pedidos. Mas ele passou o meu na frente, colocando-o imediatamente.

— Obrigada. Você viu a Tulipa?

Ele balançou a cabeça, pegando meu dinheiro e me entregando o troco. Levei o néctar de cor dourada de volta à nossa mesa e o coloquei no centro, gotas de umidade condensando e escorrendo pelas laterais da jarra transparente. Um barulho alto perto da entrada chamou minha atenção. Eu escaneei a área, minha pele formigava com os sentidos aumentados. A multidão se separou, revelando minha irmã errante vindo em direção à nossa mesa. E agora, o que aconteceu?


1 Atração onde uma pessoa fica sentada em uma prancha com um alvo embaixo, e outras tentam derrubá-la em um tanque de água.

2 Polícia Real Montada do Canadá.

3 Um estilo arquitetônico.

4 O country / western two-step, frequentemente chamado de "Texas two-step" ou simplesmente o "two-step", é uma dança country/western geralmente dançada com música country em tempo simples.

5 Máfia russa.

Capítulo Quatro

— Cheguei aqui o mais rápido que pude! — Quase sem fôlego, Tulipa colocou a mão no peito, arfando. — É a Sra. Hurst. Ela se foi. — Lágrimas fluíam pelo rosto avermelhado, pingando do queixo.

— O quê? O que você está falando? — O campo de força negra da minha leitura anterior com a mulher voltou como uma vingança, escurecendo as bordas da minha visão.

Ace ficou de pé, pegou os ombros de Tulipa e a levou para uma cadeira. — Me diga o que você viu?

— Fui ver a Sra. Hurst, para entregar o resto de sua geleia — ela, ela não atendeu a porta. Eu não queria deixar do lado de fora, então fui pela porta dos fundos para colocar na mesa da cozinha. Eu peguei a chave de debaixo do tapete. E lá estava ela. — Ela soluçou. — Morta. — Tulipa deixou o rosto cair em suas mãos, grandes soluços sacudindo os ombros delgados.

— Por que você levou para ela esta noite? — Confuso, meu cérebro procurou respostas. — Eu ia entregar amanhã, devidamente rotulada. — Pelo menos demos a luz verde do Feitiço Kismet, exceto por aquele frasco que ela tinha levado mais cedo. Isso ainda me atormentava.

Ela levantou o rosto manchado de lágrimas para mim. — Ela ligou para a casa e deixou uma mensagem dizendo que era uma emergência e que precisava imediatamente. É por isso que estou atrasada. Eu não sei por que ela precisava disso tão cedo, mas você sabe como ela é. Oh meu Deus, foi horrível. O rosto dela — estava azul e a língua… — Tulipa tremeu e fechou os olhos.

— Você ligou para o um-nove-zero? — perguntou Ace.

— Não. Eu apenas corri direto para cá. Eu não sabia o que mais fazer. — Tulipa balançou a cabeça, seus olhos se alargando com mais emoção. Me levantei e a puxei para mim, abraçando e acalmando-a, esfregando suas costas em movimentos circulares.

— Está tudo bem. Estou com você.

Ace se levantou. — Vou lidar com isso e ligar para lá. Qual é o endereço? — Ele puxou o telefone, franzindo a testa quando descobriu que não havia sinal. Ele olhou para mim com uma pergunta em seus olhos.

— A casa da Sra. Hurst fica nos limites da cidade na Rua do Anel. É uma casa enorme em estilo vitoriano com moldura branca e acabamento preto.

Ele se virou para sair e eu olhei para Tulipa. — Tudo bem se eu for lá?

Ela assentiu e a entreguei para Estrela. Corri atrás do policial de pernas longas, o alcançando na saída. — Eu vou com você.

Eu não lhe dei tempo para protestar, só subi no banco do passageiro de sua SUV branca com o logotipo da PRMC, Para Servir e Proteger, colada no para-choque traseiro e coloquei o cinto de segurança.

Franzindo a testa, ele ligou o motor e entrou no trânsito.

— Fui levado a acreditar que esta era uma pequena cidade quieta.

— Sim, bem, nós temos nossos momentos. Mas assassinato — isso quase nunca acontece.

— O que faz você pensar que é assassinato? — O olhar que ele me deu me prendeu no banco.

— Não sei com certeza. — Engoli minha preocupação. — Mas com o que Tulipa disse sobre o estado do corpo dela, parece possível. Vire aqui. — Talvez eu devesse ter dito algo para a Sra. Hurst sobre a energia escura? Uma terrível inquietação me preencheu ao pensar que eu poderia ser parcialmente responsável por não avisá-la. A adrenalina fez meu corpo tremer.

Mais algumas quadras tensas e ele parou na frente da única mansão da cidade. Algumas luzes estavam brilhando atrás das cortinas da sala de estar e nas arandelas de ferro forjado que decoravam a entrada da casa de estilo gingerbread.

— Você espera aqui — Ace ordenou, alcançando na parte de trás para tirar sua arma de seu coldre. Ele não a estava usando, já que não estava no horário de trabalho. Fiz uma careta. Essa era a minha cidade. Não dele. Eu saí do veículo da polícia ao lado dele.

Eu estremeci, o ar da meia-noite me dando arrepios instantâneos. Colocando meus braços ao meu redor, fui atrás de Ace. Marchamos ao redor do lado da casa, passando pela exibição de peônias de cor fúcsia perfumadas em plena floração, e pelo caminho para a porta dos fundos. Ela estava bem aberta, atestando a saída apressada de Tulipa. Um halo de luz vindo da cozinha esculpia um meio círculo no chão. Os grilos cantavam, o ar da noite estava espesso com apreensão.

Ace parou, ouvindo. — Fique aqui — ele ordenou. Puxando sua arma, ele passou pela porta.

Esperei dez segundos. Quando nenhum tiro foi dado, eu entrei lentamente para dentro. Eu não tinha passado anos lendo todos aqueles livros policiais da Agatha Christie por nada.

Avaliei a sala completamente da esquerda para a direita, identificando as duas caixas de geleia de damasco que Tulipa tinha entregue empilhadas na bancada. Um pote aberto do néctar doce estava espalhado através de um jogo americano vermelho na mesa, o vidro descansando na borda, a geleia ainda escorrendo no chão como uma gosma grossa. Minha visão foi para baixo e eu vi uma perna deitada em um ângulo estranho no chão perto de uma cadeira. Eu vi o olhar sério de Ace e me abracei com mais força. Ignorando-o, me movi lentamente ao redor do perímetro da mesa, me preparando. Sra. Hurst. O rosto azulado com a língua inchada pendurada para fora, exatamente como Tulipa havia descrito. Oh não. Um rosto azul era preocupante. Uma colher abandonada estava ao lado dela como se ela a tivesse derrubado enquanto provava. O medo gelou meu coração. A pobre mulher não merecia esse final. Ninguém merecia. Seus membros estavam todos torcidos em ângulos estranhos, como se ela tivesse tido convulsões. Horrível. Perturbador. E assustador.

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