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Se For Amor
Amanda Mariel
Se for Amor
AMANDA MARIEL TRADUZIDO POR ÉLI ASSUNÇÃO
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, organizações, lugares, eventos e incidentes são produtos da imaginação da autora ou estão sendo usados de forma fictícia.
Copyright © 2019 Amanda Mariel Todos os direitos reservados. Traduzido por Éli AssunçãoNenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistemas de recuperação ou transmitida em quaisquer formas por quaisquer meios seja eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a autorização expressa por escrito do editor.
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CAPÍTULO 1
Londres, 1813
Lady Hannah Blakey estava sentada a uma mesa de vinte e um dentro do Golden Eagle. Ela entendia muito bem o perigo no qual tinha se colocado. Aventurar-se em uma região tão decadente de Londres, e entrar em um antro de jogatina masculino com uma reputação menos que estelar, poderia ser a sua ruína, ou pior. Mas não pôde se deter. Não quando o encanto era tão forte.
Um jogo de apostas altas estava acontecendo dentro das paredes esquálidas daquele estabelecimento esta noite. Um dos trapaceiros mais infames de Londres, um homem conhecido apenas como Talon, estava jogando. Diziam que Talon não jogava cartas há mais de doze anos, mas o nome dele ainda carregava a sua infâmia.
Hannah tinha que testemunhar aquele jogo. Por isso, tinha feito o que qualquer mulher com bom senso faria, vestiu-se como um trombadinha, com calças e um chapéu desajeitado e bem gasto. Só para garantir, ela sujou o rosto e a camisa com carvão. Hannah estava na sua, sem falar com ninguém e, até então, os outros não tinha prestado atenção nela. A atenção de todo mundo estava concentrada no jogo e no infame Talon.
Os pelos da nuca de Hannah se arrepiaram e ela olhou em volta da sala mal iluminada. Alguém a observava? Ela fez outra lenta varredura no local antes de voltar a atenção para o jogo. Devia ser a sua imaginação, e ainda assim ela ficou inquieta. Nervos… com certeza a mente estava pregando peças. E por que não estaria um pouco nervosa quando estava arriscando tanto?
Hannah afastou os pensamentos e respirou fundo. Não tinha ido ali para desprezar Lilly e se inquietar a noite toda. Não, ela foi testemunhar a história se desenrolar com os próprios olhos e, maldição, faria isso. Esticou a cabeça para ter uma visão melhor enquanto Talon pegava uma nova carta.
– Lady Hannah, preciso dizer que quase não a reconheci. – Uma voz de homem sussurrou perto demais de sua orelha.
O sangue de Hannah gelou, o coração acelerou. Conhecia aquela voz e o tom condescendente muito bem. Maldição, ela estava sendo observada por ninguém menos que Lorde Ramsbury. O melhor amigo do seu irmão, Seth, o duque de Blackmore. Liberando um suspiro calmante, ela encontrou o olhar dele.
– Cale-se. O senhor fará uma cena.
– Farei de qualquer forma se não me acompanhar agora mesmo. – Ramsbury fez um gesto com a cabeça em direção à porta.
– O senhor está de brincadeira. – Hannah estreitou os olhos em desafio.
Ramsbury a pegou pelo cotovelo.
– Nenhum um pouco.
Hannah puxou o braço.
– Eu não vou a lugar nenhum.
Alguns homens que estavam por perto se viraram para observá-los, e a pulsação de Hannah acelerou. A última coisa que precisava era de mais atenção. Ela espiou Ramsbury.
– Viu o que fez? – Ela apontou os homens com a cabeça, mantendo o queixo baixo para que o chapéu pudesse esconder bem o seu rosto.
– Deixe-os olhar – disse Ramsbury.
Ele a segurou, mas antes que pudesse prendê-la em seus braços, ela se afastou. Hannah bufou, fechou os olhos por um segundo, então olhou para Ramsbury.
– Muito bem, eu irei.
Ele deu um sorriso confiante.
– Siga-me.
A última coisa que queria era sair, mas não havia o que fazer. Aquele homem enlouquecedor não lhe deu escolha. Maldito seja ele! Hannah atirou adagas com os olhos em direção àquela cabeça loura enquanto o seguia.
Ramsbury empurrou a enorme porta de madeira e seguiu para a calçada. Hannah o seguiu, virou-se para encará-lo no momento em que a porta se fechou.
– O que diabos há de errado com o senhor? – Ela disse entredentes.
Ramsbury arqueou uma sobrancelha loura.
– Comigo? E quanto à senhorita? – Ele a olhou da cabeça aos pés. – A senhorita está imunda, usando calções de menino e um chapéu infestado de piolhos e está em pleno Seven Dials! Pelos ossos de Cristo, Blackmore deveria chicotear o seu traseiro por isso.
Os olhos de Hannah se arregalaram com a menção ao irmão. Ele ficaria furioso se descobrisse o que ela estava aprontando. Sem sombra de dúvida, Seth iria enviá-la para um hospício ou iria forçá-la a casar com o primeiro cavalheiro disposto. Ele não podia descobrir.
Ela lançou o que esperava ser um sorriso meigo para Ramsbury.
– Não há necessidade de envolver meu irmão nisso.
– Muito pelo contrário. Blackmore tem todo o direito de ficar a par de suas atividades. – Ramsbury se aproximou um passo. – Como chegou aqui?
Hannah queria mandá-lo aos diabos. Pisar no pé dele e sair correndo, mas fazer algo assim só lhe causaria mais problemas. O maldito homem a encurralara. Ela precisava da cooperação dele, do seu silêncio.
– Contratei uma carruagem de aluguel.
Ele a pegou pelo cotovelo e começou a conduzi-la pela calçada coberta por sombras.
– Minha carruagem está parada aqui perto. Irei levá-la para casa.
– Perfeito. – Ele a olhou de cima, e Hannah deu outro sorriso meigo. – Ao longo do caminho, poderemos chegar a um acordo.
– Ao longo do caminho a senhorita pode pensar sobre o que fez e se preparar para a punição que Blackmore vai lhe dar. – Ele a fez parar e esperar enquanto o lacaio abria a porta da carruagem e baixava os degraus. Sem uma única palavra, Ramsbury ajudou Hannah a entrar no veículo e subiu logo depois dela.
Hannah apoiou as mãos no colo e se virou para olhar para a janela. Ela teria que arrumar uma forma de convencê-lo a não contar o que ela tinha feito para Seth. Mas como? A carruagem entrou em movimento, os cascos dos cavalos batiam sobre os paralelepípedos.
– Vou me certificar de que a senhorita entre em segurança, então vou falar com o seu irmão.
Hannah olhou para Ramsbury com atenção.
– Isso não é necessário. Não tenho dúvidas de que haja algo que eu possa fazer para convencê-lo a mudar de ideia. – Ela baixou os cílios e fez beicinho. – Por favor?
– Fazer beicinho não vai levá-la a lugar algum comigo, mocinha. – Ramsbury ralhou. – Nem implorar irá. Poupe as suas forças.
– Então talvez eu possa argumentar com o senhor? – Ela se lançou para o outro lado da carruagem, para se sentar ao lado dele. – O senhor não pode me culpar por eu ter ido assistir o Talon. Ele é uma lenda e não jogava há anos. – Ela se inclinou para poder olhá-lo nos olhos e a sua coxa roçou na dele. – Aposto que o senhor foi lá pela mesma razão.
– A senhorita não pode comparar as minhas ações com as suas.
– Não posso? – Ela ergueu uma sobrancelha, questionando.
– Com certeza não. – Ramsbury franziu a testa. – Eu sou homem e sou capaz de me proteger.
Hannah levou a mão ao cinto e pegou uma pequena pistola que tinha escondido ali.
– Eu também vim preparada.
O verde dos olhos dele se aprofundaram enquanto ele a olhava, incrédulo.
– Blackford sabe que a senhorita tem uma pistola?
– É claro – Ela disse como se cada dama da ton possuísse uma.
Ramsbury tomou a arma dela e a virou em suas mãos grandes.
– Onde a senhorita a conseguiu?
– Meu pai a deu a mim antes de morrer. – Hannah sorriu, bastante feliz consigo mesma por tê-lo chocado. – Ele estava me ensinando a atirar.
Ramsbury voltou a olhar para ela e um calor inesperado atravessou o corpo de Hannah. Havia surpresa no olhar dele, mas ela apostava estar vendo também um toque de admiração. Talvez ela estivesse chegando a algum lugar?
– A senhorita aprendeu? – Ramsbury passou um dedo pelo cabo de marfim.
– Devolva e eu mostrarei – Hannah disse, erguendo a mão para a arma.
Ramsbury puxou a mão, deixando a pistola fora do alcance dela.
– Não atirará em mim esta noite, sua harpia. – Ele riu.
Hannah também não pôde deixar de rir.
– Creio que poderíamos ser amigos.
Ele ficou sério, a expressão ficando dura como pedra.
– Duvido muito.
– Sério? Por que eu não. – Hannah passou as mãos nas coxas, alisando a calça. – O senhor procuraria, em algum lugar do seu coração, uma forma de guardar o meu segredo? Só dessa vez?
Ele começou a balançar a cabeça na horizontal, mas ela continuou falando.
– Vamos lá, Ramsbury, o dano já foi feito. Que bem faria me dedurar agora? – As linhas no rosto dele se suavizaram enquanto os olhos ficavam pensativos. Encorajada, Hannah prosseguiu: – E se eu jurar que ficarei longe do Seven Dials?
Ramsbury esfregou a mandíbula com a palma da mão.
– Não faça eu me arrepender dessa decisão.
Ela sorriu, um peso considerável tinha saído de cima de seus ombros.
– Então o senhor não vai contar para o Seth?
– Guardarei silêncio sob duas condições. – Ramsbury colocou a pistola ao lado dele sobre o assento de couro, mas os dedos ainda seguravam o cabo. – A primeira é a senhorita prometer que ficará longe do Seven Dials e a segunda é que eu possa levá-la em segurança para casa.
– Feito. – Hannah olhou pela janela. – Vejo que já estamos prestes de cumprir a segunda, e o senhor tem a minha palavra quanto à primeira.
Ramsbury entregou a arma para ela.
– Por que será que estou com a sensação de ter acabado de fazer um pacto com o diabo?
Hannah gargalhou enquanto colocava a pistola de volta na calça.
– Não vá até a entrada de veículos. Posso ir caminhando daqui.
– Mas é claro que não. – Ramsbury sacudiu a cabeça.
Hannah olhou para ele com os olhos arregalados.
– Se o senhor for até lá, Seth pode nos ver. E como irá explicar a situação?
– Maldição. – Ramsbury franziu o cenho enquanto batia no teto da carruagem, sinalizando para o condutor parar o veículo. – A senhorita já está fazendo com que eu me arrependa da nossa barganha.
Hannah se levantou e foi até a porta.
– Pare de se afligir. Eu dei a minha palavra. – Ela abriu a porta e saltou da carruagem.
Ramsbury a seguiu um segundo depois.
– O que o senhor está fazendo?
Ele a pegou pelo cotovelo e deu um sorriso jovial.
– Vendo a senhorita entrar, como eu disse que faria.
Hannah olhou em direção aos fundos da casa, então olhou para Ramsbury.
– O senhor não pode estar falando sério.
– Ah, mas eu estou. Agora me diga como planeja entrar? – Ele olhou para a casa, depois olhou para ela.
Hannah soltou um longo suspiro, então disse:
– Subirei na árvore perto da minha sacada, então entrarei pela janela do meu quarto. – Ela deu um sorriso travesso enquanto segurava a lapela dele. – É óbvio que o senhor não pretende se juntar a mim.
– Não seja ridícula. – Ela deu um passo para trás, colocando distância entre eles. – Mas eu a acompanharei até a árvore e me certificarei de que a senhorita não quebre esse seu tolo pescoço enquanto sobe.
– Como quiser. – Hannah se virou e correu pelo gramado. Ela podia ter concordado com as condições, mas ela nunca disse que seguiria as regras dele. Ele teria que acompanhá-la caso pretendesse interferir ainda mais do que já interferira.
Chegando à árvore, Hannah agarrou o primeiro galho e se içou. Ela não se atreveu a olhar para baixo enquanto subia cada vez mais, alcançando o ponto mais próximo da sacada. Quando arriscou uma espiada, encontrou Ramsbury a encarando.
Ignorando-o, Hannah levou a mão ao rebordo de pedra que percorria toda a casa e se puxou para o pequeno passadiço que ele criava. Como queria poder ver a cara de Ramsbury agora. Infelizmente, não podia se atrever a afastar o olhar da sua precária posição. O rebordo não era largo o bastante. Tudo o que ela poderia fazer era passar sobre ele com as costas pressionadas na lateral da casa.
Ela se aproximou do balcão, então segurou o parapeito. Com o coração acelerado, Hannah se jogou na sacada. Ela se inclinou sobre a mureta e sorriu para Ramsbury.
– Está livre para ir, milorde.
Através da escuridão, ela mal podia dizer como ele era, mas as palavras dele alcançaram seus ouvidos com muita clareza.
– Nós não somos amigos.
As bochechas dela esquentaram. Por que as palavras dele a irritaram?
CAPÍTULO 2
Graham Fulton, o marquês Ramsbury, aceitou um copo de uísque e o tomou em uma talagada. Blackmore fez o mesmo antes de se virar para ele. Graham não pôde deixar de notar as olheiras do amigo, sem dúvida causadas por ter passado outra noite se preocupando com a irmã. Poderia apostar que Blackmore tinha passado boa parte da noite procurando pela doidivanas.
Graham não poderia delatar lady Hannah, mas desejava muito poder. A megera merecia ser punida por todo o estresse e noites mal dormidas que tinha causado. Por que tinha dado sua palavra?
A visão daquele corpo cheios de curvas preenchendo aquele maldito calção surgiu em sua mente, e ele engoliu em seco. O que diabos estava errado com ele? Ela era a irmã problemática de Blackmore. Graham não queria nada com ela, muito menos ficar atraído pela diaba. E ainda assim, ele estava.
– Você parece distraído – Blackmore disse enquanto preenchia o copo de Graham.
Graham bateu o dedo na borda do copo.
– Poderia dizer o mesmo de você.
Blackmore riu.
– Muito bem, embora eu não deseje me apoiar demais nesse dissabor. – Ele voltou a virar o copo, então ficou de pé. – Prefiro mostrar-lhe o cavalo.
Graham ficou aliviado com a mudança de assunto.
– Uma ótima ideia, de fato. – Ele saiu da sala com Blackmore. – Quando o garanhão chegou?
– Dois dias atrás. Narissa já começou a treiná-lo. – Blackmore sorriu. – Ele bateu o tempo de Banshee ontem e ela acredita que com mais treinamento, o novo garanhão vai superar Merlin também.
– Impressionante – Graham disse. A esposa de Blackmore criava cavalos e até mesmo os montava em corridas. Foi assim que ela e Blackmore se conheceram. Não foi nenhuma surpresa que a duquesa e lady Hannah tenham ficado amigas antes de ela e Blackmore se casarem. Uma pena que lady Hannah não parecesse possuir o mesmo bom senso da duquesa. – Você planeja colocá-lo na corrida?
– Absolutamente. Narissa espera ter Glitch, esse é o nome dele, pronto para Epsom. – Blackmore fez uma pausa para apontar com a cabeça para a esposa e para a irmã que estavam caminhando ao longe.
O olhar de Graham foi direto para lady Hannah, e maldito fosse ele se ela não parecesse tão atraente naquele vestido também. Como ele pôde não ter notado antes? Talvez porque ela não fosse tão atraente trajando vestidos como tinha estado naqueles calções. Vestida em um vestido apropriado e usando chapéu, com os raios de sol a banhando, ela parecia uma dama perfeita… doce e decente.
Um forte contraste com a realidade. Uma pena também, já que lady Hannah era linda. Se não fosse pelo comportamento pouco elegante, ela seria uma encantadora esposa para algum cavalheiro. Do jeito que as coisas eram, bem, ele tinha pena do pobre diabo que fosse fisgado pela megera.
Graham olhou para Blackmore.
– Como estão as coisas com Hannah? Algum progresso em encontrar alguém para ela? – Quis se chutar assim que fez a pergunta. Por que diabos ele se importaria por ela estar sendo cortejada?
Blackmore soltou um bufo.
– Nenhum progresso, e ela está mais necessitada que nunca. Narissa diz para eu não me afligir, mas a verdade é que Hannah está a uma fuga da ruína.
Graham não pôde deixar de pensar que Blackmore não sabia da missa o terço. Mais uma vez ele foi picado pela culpa. Ele deveria ser honesto com o amigo. Graham arriscou outra olhada na direção de lady Hannah enquanto ele abria a boca para confessar. Ela lhe deu um sorriso largo e as palavras morreram na sua língua. Não havia dúvida de que ele iria para o inferno por causa daquilo.
– Ela sumiu novamente na noite passada. Bem quando eu estava prestes a desistir da minha busca, ela apareceu, misteriosamente, no quarto.
– Não diga? – Graham alisou o plastrão – Que explicação ela deu?
– Nenhuma. Só disse que eu me preocupava demais. – Blackmore passou a mão pelo cabelo. – Não posso imaginar como ela continua conseguindo escapar. Tenho criados de vigília do lado de fora da porta dela, assim como outros patrulhando a propriedade e, ainda assim, ela consegue escapar.
– Talvez você devesse fazer o que eu sugeri e apresentar alguns bons cavalheiros para ela? – Graham lembrou a Blackmore da sugestão que tinha dado a ele há algum tempo.
– Você sabe que eu não posso fazer isso. Prometi à minha mãe que eu não forçaria Hannah a se casar.
– Foi o que você disse. – O foco de Graham foi para a árvore que a diabinha tinha escalado na noite anterior. Ele apontou para a árvore com a cabeça e disse: – Você deveria cortar aquela árvore.
Blackmore seguiu a direção que Graham apontava e estreitou os olhos.
– O que aquela velha árvore tem a ver com qualquer coisa?
– A árvore fica perto demais da sacada dela. – Graham poderia dizer muito mais sobre aquilo, mas, como estava, ele já tinha dito demais. Ele poderia se arrepender do trato que fez com Hannah, mas honrava sua palavra. Ele não trairia a confiança dela.
Blackmore mudou a direção dos passos e começou a ir em direção à velha árvore retorcida. Graham espiou em volta do gramado, procurando pelas damas, mas elas não estavam em lugar nenhum. Chegando à conclusão de que a barra estava limpa, ele seguiu Blackmore e foi parar ao lado dele, aos pés da árvore.
Blackmore passou a mão em volta de um galho mais baixo e olhou dentro da árvore.
– Você acha que ela a está usando para escapar?
Graham sabia muito bem que sim, mas em vez de admitir, ele se limitou a sacudir a cabeça de forma diplomática.
– Eu não faço ideia, mas removê-la não fará nenhum mal.
– Não fará – Blackmore se pendurou ao galho. – Se ele me segura, pode muito bem aguentar Hannah. Vou cortá-la imediatamente.
Graham mudou de um pé para o outro e olhou de volta para o local onde tinha visto Hannah. Ela ficaria furiosa. A culpa logo foi seguida pelo alívio. Um sorriso se espalhou pelos lábios dele. Que ela ficasse possessa. Ela não merecia nada menos por causa do perigo em que tinha se colocado. Além do mais, agora que tinha sido envolvido, devia a Blackmore uma forma de proteger a harpia o melhor possível. Derrubar aquela árvore seria um bom início.
– Onde você foi na noite passada? – Narissa perguntou.
Hannah sorriu enquanto erguia o queixo, permitindo que os raios de sol se infiltrassem sob o chapéu.
– Fui assistir Talon jogar.
– Você não fez isso! – A mão de Narissa foi para o peito. – Você me prometeu que não voltaria a fazer nenhuma tolice.
– Minhas ações não foram tolice. Fui cautelosa. – Hannah argumentou. – Além do mais, você mesma disse que queria ir. Como pode me condenar por fazer algo que você mesma pensou em fazer?
Ela tinha mesmo prometido a Narissa que se absteria de fazer algo escandaloso ou perigoso demais logo depois da sua última escapadela arriscada e, de acordo com a forma que Hannah pensava, ela tinha honrado a promessa. Ainda assim, com base no olhar horrorizado da cunhada, Narissa discordava.
– Você não pode comparar o meu desejo de ir com você realmente indo. – Narissa sacudiu a cabeça, então prosseguiu. – Como alguém pode ter cuidado quando se está no Seven Dials? E sozinha, ainda por cima? – Narissa arqueou a sobrancelha enquanto encarava Hannah.
– Eu vesti calças e levei uma pistola. – Hannah bateu no quadril, onde tinha prendido a arma. – Nada de ruim aconteceu, se algo tivesse dado errado, eu teria estado preparada.
Narissa respirou fundo e expirou lentamente.
– Hannah, você é minha amiga. É difícil ficar brava com você porque eu entendo essa sua necessidade por aventura, mas Seth é meu marido. Meu dever é com ele em primeiro lugar.
Hannah fez que sim, pensando que deveria se sentir culpada por colocar Narissa em tal posição. Infelizmente, não se sentia. A cunhada tinha sido uma diabinha antes de se casar com Seth. Além do mais, ela tinha sido amiga de Hannah e inimiga de Seth. Hannah não via razão para a amizade delas mudar só porque Narissa tinha se casado com o irmão dela.
– Não posso continuar a manter a sua confiança quando isso causa tanto estresse a Seth.
– O quê? – Hannah perguntou sem acreditar. É óbvio que Hannah estava errada sobre o relacionamento delas. – Você quer dizer que vai me delatar?
– Quis dizer que você precisa ser protegida de si mesma – Narissa disse.
Hannah fechou os olhos e balançou a cabeça. Os laços do chapéu fizeram cócegas em seu peito por causa do movimento.
– Não preciso de proteção.
Hannah estava ficando aborrecida com todo mundo querendo protegê-la, querendo salvá-la. Ela sabia o que fazia e o quanto se arriscava. Todos eram riscos que Hannah queria correr. Possuía um forte desejo de viver a vida como bem queria e não podia entender por que todo mundo tinha resolvido se pôr em seu caminho. Teria sido uma coisa se eles todos fossem lordes e ladies pomposos e apropriados, mas cada um deles tinha seus próprios descontroles.
Seth tinha sido um célebre libertino antes de se assentar com Narissa. Hannah conheceu Narissa quando ela foi convidada para uma casa de apostas apenas para mulheres. Para não mencionar o fato que Narissa montava cavalos em corridas masculinas. Ela também os treinava. Nenhuma daquelas atividades era algo que uma duquesa decente deveria fazer. E Ramsbury… Hannah pressionou os lábios. Ela nem começaria a falar dele.
Narissa colocou a mão no ombro de Hannah.
– Você é jovem e vivaz. Não enxerga os perigos.
– Eu sempre pesei os riscos antes de fazer alguma coisa – Hannah rebateu.
Narissa sorriu.
– Você não deseja se casar.
– Não tão cedo – Hannah disse e então logo adicionou: – E só se eu me apaixonar. – Esperteza da sua cunhada querer trocar de assunto não trocando. Ainda assim, a perspectiva de Hannah sobre o assunto permaneceria inalterada.
– Você reduzirá bastante a sua chance se se arruinar nesse meio-tempo. – Narissa bateu no ombro de Hannah. – Só quero o melhor para você. Talvez, no futuro, leve Brooke ou Katherine junto nas suas escapadas. Pelo menos você não estará sozinha.
Hannah congelou, o olhar dela foi para a árvore perto da sua sacada. Ela mal podia acreditar no que via. O que diabos estava acontecendo? Ela acotovelou Narissa.
– Olha.
Narissa olhou para a árvore e então olhou para Hannah com os olhos arregalados.
– Eu não…
– É claro que não. Foi Ramsbury. – Hannah olhou feio para o homem que estava à distância. Ela nunca deveria ter confiado naquele patife.