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Agentes Da Lei E Assaltantes
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Agentes Da Lei E Assaltantes

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— Mostre o caminho. — ele chamou atrás dela, embora ela já tivesse começado a caminhar.

Ellie fez um gesto rude para o céu, mesmo enquanto continuava ao longo da rua, passando pelos barracos abandonados neste distrito. Com alguns passos rápidos, ele a alcançou para manter o ritmo enquanto viravam à direita na rua.

— Estou chocada que um cavalheiro chique como você se atreveria a mostrar a cara neste bairro. — Ellie falou devagar e com um olhar de relance.

— Considerando que não cresci longe daqui, essas ruas não me assustam como fazem a maioria dos patrulheiros. — ele murmurou.

A mandíbula dele endureceu por um momento quando o cheiro de ferro floresceu na periferia, como às vezes acontecia. — Além disso, após passar algum tempo lutando na guarda naval, pouco nesta cidade me incomoda.

Ellie soltou um assobio baixo, a mão apoiada no quadril como se fosse desembainhar uma lâmina a qualquer momento.

— Então, não é um mero policial, mas um soldado? Está procurando por outras penas para enfeitar sua boina extravagante? Um sujeito de grande coração para os pobres miseráveis de Londres?

Bernard bufou com a tentativa dela de irritá-lo. Pouco o fazia perder a compostura.

— Hoje em dia, estou apenas procurando impedir o vira-lata que está massacrando inocentes pela cidade.

No final do quarteirão, uma lâmpada a gás fraca piscava do lado de fora de uma taverna, luzes âmbar iluminando as janelas. A placa do Rato Afogado já tivera anos melhores, agora estava lascada e com tinta desbotada, mas Ellie não estava brincando com ele.

Ela lançou outro olhar superficial.

— Tem que parecer tão afetado e formal? Sua bolsa será furada, e terá uma faca enfiada no estômago se continuar assim.

Bernard soltou um suspiro e desfez os botões da jaqueta externa, deslizando a gravata para enfiá-la no bolso. Com alguns movimentos hábeis, ele retirou as abotoaduras e qualquer outro item que pudesse ser arrancado de sua pessoa, colocando-as nos bolsos também. Arrastou o indicador e o polegar para baixo do bigode e da barba por instinto. Bernard não pôde deixar de notar como os olhos de Ellie piscaram para o movimento. A mulher parecia absorver tudo, em especial onde ele guardava suas sutilezas.

— Tenho a sensação de que a maior ameaça à minha bolsa está ao meu lado. — ele arriscou quando pararam na frente do Rato Afogado.

Alguns camaradas estavam do lado de fora, dando uma tragada em qualquer substância que fizesse a fumaça amarelada se infiltrar no céu diante deles. Bernard seguiu o protocolo dessas ruas, mantendo o olhar para a frente e a curiosidade para si.

Ellie agarrou a maçaneta e abriu a porta antes de entrar na frente. Ele entrou em seguida, o barulho o envolvendo ao chegar. O bar a essa hora da noite estava lotado, a maioria dos lugares ocupados. O clamor comprimido por dentro o lembrou de estar de volta a um navio. Ele avistou uma mesa de canto no fundo dos aposentos apertados.

— Por que você não pega a mesa enquanto pego o gim?

— Se está pagando, seu Policial. — Ellie respondeu.

O sorriso malicioso fez os olhos castanhos dela brilharem. Ele não pôde deixar de observar enquanto ela se afastava dele, os quadris balançando com a precisão de um pêndulo. Bernard se aproximou da bancada de mogno lascada, manchada pelos respingos de cerveja derramada em momentos anteriores, e se espremeu entre dois homens, meio-ratos e fedendo a gim barato.

— O que posso fazer por você? — o atendente se aproximou com rigidez suficiente para que Bernard quase pudesse ouvir as articulações rangendo. O homem estava carrancudo, como se fosse cuspir na cara dele.

Bernard ergueu dois dedos.

— Doses de gim.

O atendente soltou um grunhido e pegou uma garrafa aberta de gim no balcão à sua frente. Derramou o líquido em dois copos que já haviam visto dias melhores e os empurrou. Bernard colocou moedas no balcão e, em um movimento rápido com o líquido, agarrou os copos, indo até onde Ellie esperava. A mulher inclinou o assento para trás, até que batesse contra a parede e balançou os dedos na direção dele.

Senhor, em que eu me meti?

Ele se sentou em frente a ela e deslizou o copo pela mesa estilhaçada, levando o outro aos lábios. O gim era forte, o cheiro de zimbro enchendo seus sentidos. Ele precisava de uma bebida forte após a corrida louca por Londres esta noite em busca dessa mulher, apenas para confirmar seu palpite. Agora que estava certo de que ela não havia cometido os assassinatos, a busca pelo Açougueiro da Broad precisava continuar.

Sete vítimas até agora, todas elas cortadas com precisão inquietante. Todas mulheres.

— Os patrulheiros deram uma boa olhada em você, minha querida. — disse Bernard, colocando o copo na mesa com um baque. — O que significa ser melhor ficar escondida até que o Açougueiro seja encontrado.

Ellie bebeu o gim como se fosse água, e o olhar dele se desviou para o brilho do líquido nos lábios dela, enquanto ela colocava o copo na mesa. Aqueles olhos brilharam com fogo que incendiaria as madeiras dos velhos edifícios abandonados. A mulher possuía uma beleza sobrenatural, algo mais selvagem e caprichoso do que qualquer coisa que ele encontrou. O que, é claro, garantia que ela era um problema destilado, e que ele deveria evitá-la como a escarlatina.

— Se estou ouvindo direito, parece que encontrar esse Açougueiro seria do nosso interesse. — disse Ellie. — Já fiz muitos inimigos nesta cidade, a última coisa de que preciso são os policiais marcando cada passo meu.

Bernard ergueu uma sobrancelha.

— Oh? Pode estar envolvida em atividades das quais não quer que os homens da lei saibam?

— Ora, vamos, negociei com um homem da lei como se você tivesse pelo menos um grama de inteligência. — respondeu Ellie, sem que seu sorriso nunca vacilasse. — Embora a escuridão possa absolver você de qualquer insanidade temporária que o tenha em suas garras. Afinal, a maioria de vocês não desculparia uma meliante apenas porque ela era inocente do crime de assassinato.

— Eu me desiludiria depressa da noção de que sou parecido com meus colegas. — respondeu Bernard.

A verdade que ela falava raspou em sua pele como cascalho. Ele cresceu nesta miséria e viu como essas ruas podiam ser feias. Razão pela qual, quando ele se tornou um detetive, se comprometeu a rastrear os piores indivíduos desta cidade, não aqueles que lutam para sobreviver.

Ellie cruzou os braços a frente do corpo, olhando para ele com um interesse que não se incomodou em esconder.

— Bernard Taylor, você é uma contradição enlouquecedora.

Ele tossiu na mão para esconder seu bufo.

— Apenas seguindo o exemplo da minha atual companhia.

As sobrancelhas de Ellie se juntaram, e a mandíbula cerrou como se estivesse processando uma ideia.

— Tudo bem, vamos trabalhar juntos.

Bernard se engasgou no meio de um gole de gim.

— E o que deu a ideia de que preciso de um parceiro? Em especial, uma com tantos passatempos detestáveis?

O peito dele batia um pouco mais forte com a audácia dessa mulher. Conhecer alguém tão ousado era um deleite raro.

— Se seus colegas fossem de muita utilidade, esse sujeito não teria assassinado sete mulheres. Além disso, está claro que está alguns passos atrás. Nesse ínterim, conheço essas ruas melhor do que qualquer patrulheiro, todos os becos escondidos, casas abandonadas que viraram mercado negro, e os cantos queimados onde o pior da cidade mora. O tom de Ellie não vacilou enquanto ela o encarava com uma confiança de que ele gostava.

Bernard apertou os lábios como se refletisse acerca da declaração. Verdade seja dita, ele vinha circulando pelos mesmos fatos há semanas. Se ela pudesse oferecer o mais leve sopro de uma nova direção, ele aproveitaria a oportunidade.

— Teríamos que trabalhar em segredo. — disse ele, lançando um olhar para ela. — Só à noite e tal.

Ellie puxou a ponta do rabo de cavalo e deu um olhar incrédulo.

— Como se eu fosse gostar de ser flagrada dando as mãos ao inimigo.

— Palavras das mais verdadeiras. — ele concordou, erguendo o copo de gim, ela ergueu o dela para tilintar contra o dele. — Então está combinado.

— Ellie Whitfield. — uma voz explodiu do outro lado do bar. — O que está fazendo deste lado da rua?

Um sujeito rude como uma lixa, sem alguns dentes, se aproximou com uma carranca e caneca em mãos, e algo nada agradável queimando em seus olhos. Os ombros de Bernard enrijeceram, as velhas disciplinas prontas para sua convocação.

— Maldição do cacete. — Ellie xingou, os pés alcançando o chão com um baque. — Fique alerta, Taylor. Estamos cara a cara com um dos homens mais covardes que terá a chance de conhecer na vida.

Ela bateu o copo vazio de gim na mesa e se levantou. A mão escorregou para o lado, de prontidão nas facas. Bernard seguiu a deixa, levando a mão à pistola.

Ellie gritou:

— Não tem mais ninguém para tornar miserável esta noite, James?

Ele se aproximou, alguns homens, que o seguiram pela porta, atrás dele. Com base nas expressões enfadonhas, e no balanço de seus grandes membros, o conhecido dela trouxe agressores com ele.

Ellie franziu os lábios e piscou na direção de Bernard.

— Sempre pode fugir agora se ficou assustado. Prometo conter meu escárnio.

Um sorriso apareceu nos lábios dele, um movimento de que ele se esquecera de que conseguia fazer. Ele balançou a cabeça e sacou a pistola.

— E perder este entretenimento desenfreado? Creio que não.

Capítulo Três

James Donovan era um rato-de-esgoto traidor da mais alta ordem. Ellie o vira pela última vez no trabalho que deveriam fazer juntos na casa de algum cavalheiro rico no extremo oposto da cidade. Ao menor sinal de problema, ele a abandonou junto do outro sujeito com quem trabalharam, e chorou bicas quando ele não recebeu sua parte. Em vez de culpar os dois, James decidiu colocar o peso apenas nos ombros dela.

E, claro, ele a encontrou agora. Tudo que Ellie queria era beber um pouco de gim e ficar um pouco alegre, secar-se após a fascinante noite que teve, fugindo dos policiais. No entanto, não importa o quão longe ela viajou por esta cidade apodrecida, o problema estava a um paralelepípedo de distância.

Bernard Taylor saltou da cadeira ao lado dela, uma prontidão na postura sugerindo que ele viu seu quinhão de brigas. Não que o colete e as calças fizessem muito para esconder sua figura musculosa, que ela notou poucos minutos depois que ele engatilhou a arma carregada na têmpora dela. O homem parecia mais um arruaceiro do que um detetive.

— Ellie, aonde pensa que vai? — James perguntou, os lacaios clamando ao lado dele. O ridículo cruzou os braços e formou uma carranca de bom tamanho, como se a pose pudesse fazê-la tremer nas botas. — Creio que me deva um pouco mais do que uma bebida. — o tom sugestivo da voz dele a fez querer vomitar.

— Eu bem sei o que merece, Donovan, e não é nada agradável. — disse Ellie, dando alguns passos para diminuir a distância entre eles.

Os fregueses do bar que não eram nada estúpidos pararam para olhar entre os dois, ninguém ousou se envolver. O aperto de Ellie aumentou em torno das facas. Ela não deixou de notar como James baixou as mãos. Com certeza, o desgraçado puxaria uma pistola.

Ellie captou o lampejo de cobre de trás das costas dele. Não era uma pistola, nem uma lâmina.

Ah, não.

Ela encontrou os olhos de Bernard.

— Quando eu disser, precisamos correr.

Porque James Donovan era um covarde idiota que havia levado uma bomba a um bar cheio de pessoas inocentes. O estilhaço da bomba destruiria a maior parte da multidão ali dentro. Donovan se aproximou, os companheiros o flanqueando atrás dele para bloquear a fuga deles.

Sem saída, a não ser para cima.

— Corra. — Ellie gritou enquanto mergulhava para a esquerda, em direção ao bar.

Um guincho rápido, e ela subiu no balcão para começar a correr pela superfície. Gritos seguiram seu rastro enquanto ela pulava por cima das canecas de cerveja e copos de uísque amarelado chacoalhando ao seu redor. Ela arriscou um único olhar para trás.

Bernard não a seguiu por cima do bar. Em vez disso, o homem endireitou os ombros largos, baixou a testa e atacou.

Com a atenção de Donovan voltada para ela, ele não percebeu Bernard correndo até que fosse tarde demais.

Ellie pulou mais uma cerveja, os passos batendo nas vigas da taverna. Alguns bêbados tentaram golpear os tornozelos dela, mas ela sempre foi mais leve do que uma mulher comum.

O fim do bar apareceu à vista, a poucos metros de distância. A essa altura, mais gritos estouraram, os sons ásperos ecoando atrás dela.

Ellie não parou no final do bar, ela se lançou para fora da margem. Seus pés bateram no chão de madeira. Ela se virou a tempo de localizar cada sujeito por quem passou correndo, olhando em sua direção.

Novos amigos, por toda parte.

O velho grisalho nos fundos do bar se lançou sobre ela, os dedos quebradiços tentando se apoiar. Ela se esquivou com facilidade, muito menos embriagada do que a maioria dos clientes daqui.

Bernard se esquivou de James Donovan, mas os outros dois meliantes tentaram interferir na trajetória dele. Ellie trouxe seu olhar para o lado direito quando ele atacou com velocidade mortal. Bernard atirou o punho sob a mandíbula de um homem e, um instante depois, ele girou sobre os calcanhares, erguendo o cotovelo para cumprimentar o nariz do outro homem. Bernard Taylor possuía profundezas ocultas, para dizer o mínimo.

— Pare. — James gritou, levantando a bola de cobre na mão, um dispositivo do tamanho de um punho. — Ou esse bar inteiro vai abaixo com você.

Ele jogaria. Ela sabia que ele o faria.

— Rapazes, querem queimar junto do bar? — Ellie gritou para a multidão. — Se não, sugiro parar o idiota com a bomba. Ou o param, ou correm.

Bernard irrompeu entre os capangas e disparou na direção dela. Ellie estava mudando de um pé para o outro. Assim que ele a alcançou, ela voou.

Vários sujeitos no bar pularam de seus banquinhos, que caíram no chão. Alguns dos outros seguiram a recomendação de abordar James. Infelizmente para muitos deles, Donovan balançou o braço e a bola de cobre voou de suas mãos.

Ellie seguiu para a saída, ciente da morte garantida sendo arremessada em sua direção.

Bernard a ultrapassou com as longas pernas, mas para surpresa dela, ele estendeu a mão para trás e a agarrou pela mão, arrastando-a para frente com ele. A bomba girava na direção deles, pronta para bater nas tábuas do chão, passou pelas mesas e o bar, bem perto da entrada para a qual estavam correndo.

As panturrilhas de Ellie se contraíram com intensidade quando ela se lançou para a porta, segurando a mão de Bernard com força. O ombro dela acertou o batente da porta enquanto ela se arremessava.

Um clique deliberado ecoou em algum lugar do bar

Ellie caiu nas pedras do lado de fora, os joelhos batendo na pedra lascada. Bernard largou a mão dela e se jogou no chão.

Um zumbido encheu o ar, cada vez mais alto.

Tique, tique, tique… pop.

A rajada de calor saiu primeiro pela porta aberta, seguida pelo estrondo que sacudiu as madeiras do prédio antigo.

Os gritos vieram em seguida. Gemidos horrorizados, uma raiva alta e ensurdecedora, uivos roucos que fizeram a pele dele arrepiar. Ellie tapou os ouvidos com as mãos, tentando bloquear os sons. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo. A culpa a assolava como carne viva, mas já fazia um bom tempo que dilacerava sua pele até os ossos.

Ela se levantou em meio à fumaça metálica que saía da porta aberta. Rajadas de fumaça preta e oleosa escapavam e, com base na contração de seu nariz, focos de incêndio surgiram lá dentro. Ninguém havia pedido àquele canalha que trouxesse uma bomba para o interior do estabelecimento, embora ela não conseguisse se livrar do puxão persistente em seus calcanhares que causava problemas aonde quer que fosse. Não como se ela algum dia fosse uma boa filha.

Bernard pairou sobre ela, com a mão estendida.

— Vamos sair daqui.

Ela aceitou a mão áspera e quente contra a dela, e ele a puxou com facilidade. Os músculos do homem se contraíram com o movimento, fazendo com que o tecido das mangas dele se enrugasse. Aqueles olhos escuros traziam uma intensidade sedutora enquanto ele a erguia como se pesasse pouco mais do que uma folha seca.

— Minha casa ou a sua? — Ellie falou devagar, as palavras saindo muito mais sensuais do que o previsto.

Ela não costuma ceder a impulsos urgentes, embora os sentisse aqui e ali.

O canto da boca dele se contraiu, revelando um sorriso delicioso emoldurado pelo bigode e barba pretos e grossos.

— Que tipo de cavalheiro eu seria se não acompanhasse uma dama até em casa? — ele lançou um olhar rápido para a taverna detrás deles, uma primeira chama dourada tremeluzindo no interior.

Alguns homens saíam cambaleando pela porta da frente, tossindo e cuspindo.

Alguns podem culpar James Donovan, mas outros apontariam os dedos para ela, e ela não queria ficar por perto para atrair a censura.

Ellie espanou as calças e partiu em um ritmo acelerado ao longo da rua na direção oposta de onde vieram. O cortiço que ela chamava de lar não ficava longe desta taverna, então ela assumiu a liderança. Se o belo oficial quisesse acompanhá-la de volta, ela não reclamaria. Afinal, ela meio que esperava que esta noite terminasse no fundo de um rio ou fosse presa a ferros.

Ela teve mais um vislumbre do Rato Afogado, deixando a culpa lá atrás, para queimar como as vigas que haviam se incendiado. O fogo cintilava nas janelas, e mais e mais homens tropeçaram para fora do bar, alguns sangrando por cortes abertos, enquanto outros tossiam como se tivessem contraído tuberculose. O prédio iria queimar e, talvez, outros próximos, como barris de pólvora esperando por um incêndio. Não que os policiais dessem a mínima, as dificuldades dos pobres nunca preocuparam os homens da lei.

Bernard caminhava ao lado dela, um enigma em um colete feito sob medida e calças compridas. O homem exalava uma masculinidade crua apesar dos suspensórios, algo primitivo que chamou a atenção dela desde o instante em que ele apontou a pistola para ela. Ele poderia ter sido um idiota tenso como a maioria dos gambés com os quais ela se envolvia, mas este detetive continha camadas que ela queria revelar.

— Estou começando a suspeitar que você invoca inimigos toda vez que entra em um lugar novo. — murmurou Bernard, a voz era um timbre rico que ela pensou gostar. O olhar arqueado que ele lançou enviou um arrepio por sua espinha.

— É um dom. — respondeu Ellie. — Considero o tédio abominável.

A respiração dela tornou-se entrecortada. As roupas ainda não haviam secado, a camisa e as calças grudavam na pele com um arrepio profundo. Vigas verdes claras filtravam a luz de uma lamparina a gás quebrada à frente, e as janelas escurecidas dos prédios de dois andares pelos quais passaram a fulminaram com o olhar de condenação.

— Daí a oferta de se juntar à minha caça a um assassino em série? — ele perguntou.

Folhas quebradiças arranhavam os paralelepípedos, um riscar que ecoava como garras. Gemidos vieram do beco mais próximo que eles passaram, mas ela sabia ser melhor não arriscar um vislumbre.

— Testemunhou o grande número de rostos amigáveis que atraio. — respondeu Ellie. — O que o faz pensar que anseio por policiais me perseguindo por esta cidade devido a uma falsidade? — o estômago dela apertou com força. Decerto ela ainda não estava longe demais de merecer perdão. — Além disso, posso ter me envolvido em alguns delitos leves, mas nunca matei a sangue-frio.

— Por que acha que não a arrastei para o cárcere? — Bernard murmurou.

Ela sentiu o cheiro delicioso de pólvora e cedro saindo dele, e a acariciou no núcleo. Atreveu-se a olhar para ele e se viu presa pela maneira como aqueles olhos não apenas deslizaram sobre ela, eles viam através dela.

— Porque você foi vítima de meus encantos multifacetados? — ela provocou, precisando acalmar o elevado tum-tum-tum de seu coração.

— Você é multifacetada. — respondeu ele. — Concordo com isso.

Diversão brilhou nos olhos dele, quase invisíveis à luz medonha da lanterna enquanto eles passavam. Ela já percebera o cortiço espiando por cima dos outros edifícios ao longo do caminho, a apenas alguns quarteirões de distância.

Eles contornaram um canto até a parede do fundo. A velha Susie sentava-se esparramada contra o tijolo, os olhos vidrados na escravidão de qualquer substância que pudesse disparar em suas veias. Benjamin estava parado na entrada dos fundos, fumando seu cachimbo e cuidando da própria vida, como todos faziam na vizinhança.

— Então, agente da lei. — disse Ellie, parando devagar ao encarar Bernard. — Amanhã à noite?

Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças, o que destacava aqueles ombros largos e a estatura absoluta do homem. O olhar dela demorou-se na forma como o luar roçava a mandíbula quadrada. Enquanto ela o examinava, ela avistou a bolsa dela pendurada no bolso dele.

Aquele desgraçado de uma figa.

Ellie conteve um grunhido, um estrondo de choque filtrando-se por ela. Quando ele roubou dela? Se ele pensava que iria mantê-la na linha enquanto trabalhassem juntos, ele deveria pensar de novo.

— Encontro você aqui amanhã à noite. — disse Bernard, fazendo uma saudação com os dedos, ele girou o calcanhar enquanto se preparava para ir embora.

Não com o meu aluguel do mês nos bolsos.

Ellie agarrou-o pelo pulso.

Assim que os dedos dela roçaram a pele, ele se virou. Tão perto, ela podia sentir o toque de gim no hálito e o calor que emanava dele. Ela se inclinou e deu um beijo na bochecha dele.

O tempo todo, ela deslizou os dedos para a bolsa. Ellie roçou os lábios contra a pele quente da bochecha, e a respiração dele engatou, o foco nela. Bom. O nó se desfez, e ela puxou a bolsa para o lado.

Ellie se afastou e deu uma piscadela. Ele piscou por um momento, então aquele olhar intenso desceu sobre ela. Ele espalmou a cintura, procurando pelo item que faltava.

— Boa tentativa. — ela murmurou, levantando a bolsa enquanto dava mais alguns passos para trás. — Vejo você amanhã, querido.

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