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Chuva De Sangue
— Vinte e cinco minutos e treze segundos — disse Vincent, encarando Ren.
— O quê? — Ren resmungou, sentindo seu ânimo ficar exaltado, agora que o imbecil estava de novo em sua presença.
— Esse é o tempo que leva para ressuscitar de um pescoço partido — Vincent zombou. — Desculpe arruinar a sua curiosidade.
— Ren não parece ele mesmo — disse Lacey, metendo-se entre os dois, mas por estar de costas para Ren, era óbvio de que lado estava.
Vincent observou o sorriso lento e diabólico surgir nos lábios de Ren... pena que Lacey não podia ver. Tudo bem, ele sabia como golpear seres repletos de conversa fiada:
— Presumo que Ren não seja ele mesmo com frequência, visto que é um súcubo e passa o tempo numa cidade infestada de malditos demônios. Eu jamais confiaria nele.
— Bem... Que lástima, pois ele ajudou a salvar nossas vidas esta noite — Lacey rebateu obstinada.
— Não preciso de ninguém salvando a minha vida... ou se esqueceu da minha pequena deficiência? — bradou Vincent, chegando mais perto para encará-la, com faíscas no olhar. Ele viu os lábios de Lacey se abrirem numa inspiração profunda e logo se arrependeu de conhecer exatamente seu ponto mais vulnerável.
As feições de Vincent suavizaram quando ela avançou, como se fosse tocar na bochecha dele, mas o estrondo do soco que ecoou pela sala fez com que ele voltasse a franzir a testa com toda força. Bem... talvez ele tivesse merecido, mas não conseguia compreender por quê.
— Isso é por se matar bem na minha frente, seu palerma insensível — Lacey disse em tom severo, antes de completar mais alto: — E só porque não se lembra, não significa que eu o perdoei.
— Agora estou ciente — Vincent respondeu de modo sarcástico quando Lacey girou os calcanhares e em passos largos foi até a mesa à qual Storm estava sentado.
Lacey colocou as palmas em cima do móvel e inclinou-se para frente, a fim de sussurrar ao ouvido de Storm:
— Desculpe... Não era para dizer nada sobre isso... era?
Storm tentou como os infernos manter contato visual com ela, mas apesar disso, ainda podia ter uma visão geral dos seus seios, por causa da maneira como se inclinava, dentro do vestidinho sensual que escolhera para ela. Às vezes se superava.
— Alguém teria mencionado para ele, mais cedo ou mais tarde — respondeu, se teletransportando para o lado dela, mas agora defronte aos outros dois homens. Esfregou o queixo para esconder uma careta quando Lacey lentamente virou a cabeça para fixar seus olhos nele, mas ela não se levantou da pequena pose sensual. — Ren, que tal inserir no banco de dados a empreitada desta noite?
De repente, Ren estava à mesa, surpreendendo Lacey o suficiente para esta erguer o olhar até ele, e acabar percebendo que não a estava encarando. Lacey baixou a vista, confusa, e então ficou parada, só vendo onde ele a estava encarando... seus seios. Recusando-se a passar vexame, lançou a Ren um sorriso malicioso, antes de se levantar devagar e lhe dar as costas.
Storm ergueu a sobrancelha, achando graça quando Ren lhe deu um olhar acusador. Essa pequena delícia para os olhos não era culpa sua... pelo menos ele pôde ter um gostinho. Storm voltou a atenção para Vincent, que ainda estava ali parado, alisando o queixo pensativamente enquanto observava Lacey.
— Não quero falar sobre isso — Lacey lhe informou, terminando o interrogatório antes mesmo que começasse.
Vincent ergueu as mãos se rendendo:
— Beleza.
— Concordou em juntar-se à PIT? — ela perguntou, abrandando a voz. Tentou ignorar as bochechas dele, que agora apresentavam vários tons mais vermelhos devido a sua fúria.
— Reconheço que realmente amei — respondeu Vincent, sabendo agora que Storm havia lhe pregado uma peça com esse breve acordo. Era óbvio que Lacey não esteve em apuro algum e o Viajante do Tempo certamente sabia disso.
— Escute, lhe disse que ela estava bem — Storm defendeu-se com indiferença, quando Vincent lhe lançou um olhar taciturno.
— Qual é a pegadinha? — indagou Vincent, nem um pouco aborrecido por ter sido obrigado a fazer um acordo que o amarrava a um lendário Viajante do Tempo e à ardilosa organização PIT.
— Você precisa de um parceiro — Lacey logo respondeu, lembrando o raciocínio implícito da regra.
— Está se oferecendo? — Vincent sorriu com arrogância, a cada minuto gostando mais e mais do acordo.
— Não — Ren respondeu por ela. — Ela é minha.
Lacey piscou, reparando na possessividade da voz de Ren, mas tampouco o chamou de mentiroso. Ela dirigiu o olhar para Storm, curiosa:
— Já houve um trio? — ela não percebeu a inadequação da pergunta até notar a sobrancelha direita de Vincent se erguer bem alto e ouvir um rosnado baixo por trás de si.
— Nossa, caiam fora, seus pervertidos! Não quis dizer dessa forma e vocês sabem disso — ela insistiu, cruzando os braços por cima do peito. Pestanejou, tendo que bloquear todo tipo de pensamento sórdido que subitamente tentava ganhar forma em sua pequena mente suja.
Storm esfregou suas têmporas, tentando evitar o riso. Alguém tinha que defendê-la e parecia que teria de ser ele:
— Às vezes as equipes da PIT saem juntas em grupos e mesmo assim, sempre existe aquela pessoa especial em quem você fica de olho e vice-versa. Pois bem, sei quem é o parceiro temporário perfeito para Vincent, pois acontece que o parceiro dessa pessoa está desaparecido em combate no momento.
— Pois não parece que essa tal pessoa vigiava muito bem seu último parceiro... não é? — Vincent ressaltou, sentindo-se meio sarcástico, não ligando se eles gostaram ou não. Ele franziu a testa para Lacey ao imaginar desde quando ficara tão apegado a ela. O fato de ter notado um sinal de alerta quando Ren anunciou audaciosamente que “ela é minha” não era bom.
— É meio difícil manter a atenção num metamorfo que passou para o modo invisível. Estou certo de que Trevor está por aqui em algum canto, mas sob que forma nem eu mesmo sei — Storm justificou-se.
— Um metamorfo... sério? — perguntou Vincent, como se de súbito estivesse numa confeitaria paranormal com todo tipo de sabores exóticos. Ele entendeu que verdadeiros metamorfos não eram fábulas, mas os demônios da quadrilha de roubos haviam procurado um metamorfo há séculos e nunca tiveram sucesso em localizar esse enigma.
— Você o colocará junto a Chad? — indagou Ren, apesar de não estar contrariado pela ideia se isso afastasse Vincent de Lacey.
— Pense nisso... ambos parecem sofrer do mesmo distúrbio — Storm apontou solícito, sabendo que Ren apreenderia o sentido oculto.
— Você quer dizer que ele tem um fetiche por morte? — Vincent fez uma careta, porque esse era o distúrbio que, com razão, Storm o acusou de ter. Vincent ignorou o olhar incisivo e repentino de Lacey para ele. Ela detestava quando ele falava sobre morte como se não fosse algo sério. — Se você pretendia me colocar junto a um demônio, por que não me deixou com aqueles aos quais eu já estava acostumado?
— Chad é cem porcento humano, mas Storm está certo. Foi assassinado recentemente... por esfaqueamento no coração — Ren pausou, percebendo o olhar de advertência de Storm, e secretamente conectou-se à voz interior dele e acabou descobrindo que Storm não deveria dizer uma única palavra sobre os Fallen... nem Kriss, nem Dean. Ren teve que se concentrar para manter a compostura enquanto juntava as peças.
Retornando toda a atenção para Vincent, Ren continuou:
— Chad está de volta andando por aí e é tão humano quanto você. Por enquanto, Chad morreu somente uma vez e foi contra a vontade dele, portanto eu não chamaria de fetiche.
— A próxima vez que ele morrer, poderia permanecer morto... ou não — Storm sugeriu. — De qualquer forma, não estou autorizado a revelar spoilers.
— Ah sei — Vincent disse, sentindo seu sarcasmo voltar.
— Ele não está mentindo — insistiu Lacey, aproximando-se de Storm. — Se ele contar a alguém o que acontecerá no futuro ou mesmo fizer uma sugestão a respeito, ele começa a sangrar de ferimentos que não podemos nem ver.
Ela ergueu o olhar para Storm e estendeu a mão para tocá-lo carinhosamente no antebraço.
— Já vi isso acontecer — disse, triste. — Você infringiu a regra e sangrou por mim. Aquelas coisas horrorosas passaram todas por mim esta noite. Estaria morta agora se você não tivesse alertado Ren sobre o que estava por vir.
Storm tentou evitar que o amor brilhasse em seus olhos ao baixá-los em Lacey e sentir o toque terno dela..., mas a amava muito, então era difícil.
— Só de você estar aqui agora faz valer cada gota — disse, de forma sincera, antes de erguer o olhar para travá-lo com o de Ren. — Além do mais, as consequências de você morrer realmente eram péssimas e não é um spoiler, porque isso não aconteceu.
— Mas obviamente aconteceu e você apagou isso — Lacey lhe deu um sorriso de adoração, antes de chegar mais perto e lhe dar um abraço emocionado. — Você e Ren escolheram me salvar — corrigiu Lacey, antes de recuar para olhar Vincent. — Se Storm quer que fique com Chad, então provavelmente tem um bom motivo.
Vincent ficou sério, entendendo agora. Esses dois homens poderosos poderiam proteger Lacey bem mais do que ele jamais poderia... já tinham provado isso. Quem era ele para tirar esse tipo de segurança dela?
Suspirando de forma dramática, piscou para ela:
— Pois bem, me rendeu. Nós dois podemos ser as tietes do Viajante do Tempo — de propósito, deixou o nome de Ren fora da lista de tietes porque Vincent não se conformava com o fato do grandalhão ser namorado de Lacey... somente um baita de um guarda-costas.
Ren ignorou que podia ouvir os pensamentos interiores de Vincent, altos e claros. Em sua opinião, a batalha já estava ganha, por Lacey não haver implorado para ser parceira de Vincent.
— Então, concorda em se unir a Chad? — perguntou Lacey, com um sorriso alegre. Ela não ficaria zangada com Vincent nem se alguém lhe pagasse para isso... visto que o adorava tanto. Ela se encolheu quando a tela do imenso monitor na parede a sua direita de súbito partiu ruidosamente, soltando faíscas em forma de cascata pelo chão.
Ren esfregou o topo do nariz antes de olhar intensamente para o monitor quebrado, por tempo suficiente para consertar rapidamente os danos que causou ao aparelho.
Vincent lançou uma olhadela suspeita na direção de Ren, antes de retribuir o sorriso de Lacey:
— Claro, pelo que sei, Chad foi arranhado pelo gatinho de estimação de um demônio e agora tem sete vidas... opa, seis — retificou e deu de ombros. — Acho que posso instrui-lo.
Deu passos largos em direção à Lacey e destemidamente colocou o braço em volta de seus ombros, antes de ambos virarem com os rostos para Storm:
— Então, exatamente o que Chad faz para a PIT?
— Chad é um tira de alto escalão, embora seja um dos únicos tiras humanos que restam na cidade. Com inúmeros chamados de emergência, mais que por razões estranhas, tivemos que ocupar a cidade com policiais paranormais, juntamente à infiltração em equipes de resgate, hospitais e corpos de bombeiros — respondeu Storm.
— É compreensível — assentiu Vincent, calculando em silêncio quantos paranormais seriam necessários para realizar um truque como esse em toda a cidade. — Depois da debandada que testemunhei esta noite no exterior da Poção Mágica, é um milagre que os humanos não estejam caindo como moscas.
Storm começou a ficar esgotado de flutuar para dentro e para fora da sala tão rapidamente, que ninguém percebia o que estava fazendo. Felizmente, Ren estava muito ocupado para notar o estado enfraquecido de Storm, porque estava concentrado em Vincent, que mais uma vez tocava Lacey.
Com o foco de volta ao assunto, Storm continuou:
— É devido ao esforço conjunto da PIT que as perdas humanas têm sido mínimas, mas mesmo assim, essa quantidade faz os necrotérios transbordarem. Os demônios estão tentando ficar longe do nosso radar, mas não me entenda mal... é um trabalho muito perigoso e bem o seu estilo.
— É, a pior coisa que poderia acontecer é ser morto de forma dolorosa... repetidamente — concordou Ren, fazendo soar como se fosse a melhor coisa do mundo. Quem diria, ele podia ser tão mesquinho.
— Aah... Acho que acabei de ter calafrios... continue tentando — Vincent respondeu à provocação no tom mais entediado.
Storm interrompeu a guerra verbal deles, antes que escalasse para a primeira morte dolorosa de Vincent como membro oficial da PIT:
— Com a sua experiência com diferentes tipos de demônios e as possíveis fraquezas deles, você seria de muita ajuda. E não se preocupe... terá um arsenal e não me refiro ao armamento padrão da polícia... dispomos de um tipo que arruína o dia de um demônio.
Lacey olhou para Ren quando Storm mencionou armas. A verdade era que... ela estava olhando para a melhor arma deles; no entanto, depois do que aconteceu na Poção Mágica, ela compreendeu que ele também era uma bomba instável que poderia eliminá-los se perdesse o controle. Lembrando-se de como ela lhe deu esse controle de volta, corou e desviou o olhar.
— Mas não se esqueça — Storm avisou Vincent, — seu trabalho mais importante é manter Chad a salvo até que Trevor saia do esconderijo. Se não tomar cuidado e for eliminado por um demônio, isso deixará Chad sem reforço efetivo até você ressuscitar.
— Falando de armas — Vincent disse e deu um sorriso demorado para Storm. — Terminado o trabalho de babá, sugiro que nos juntemos para resgatar alguns itens bem raros que conheço... coisas que os demônios esconderam.
— Você honestamente pensa que se juntará a Storm? — perguntou Ren, com uma sobrancelha erguida, sentindo de novo uma necessidade irresistível de rasgar Vincent em pedacinhos.
Lacey fez cara feia para ele novamente, ouvindo os ciúmes em sua voz. O cara parecia ter uma enorme veia possessiva e obviamente não queria dividir ela ou Storm com ninguém.
— Miserável — acusou ela.
Ren encolheu os ombros:
— Só me surpreende o quão superior o novato se considera.
Lacey revirou os olhos:
— Ah, acabe com isso, que idade você tem... cinco? — ela se afastou de Vincent e se aproximou de Ren, procurando em seu rosto qualquer sinal de melhora de humor e de prova que sua teoria não estava errada.
— Sou bem mais velho que você — Ren caçoou dela, com um sorriso largo agora que Vincent foi deixado sozinho.
— Você fez o aquecedor de água quebrar enquanto eu estava no chuveiro — Lacey rebateu brincando, agora que ela tinha evidência de que sua aproximação era o equivalente a um calmante para ele. — Então, mentalmente, você é bem mais novo que eu.
— Posso levá-lo para conhecer Chad? — perguntou Storm, tentando distrair Vincent e mantê-lo fora da confusão. Lacey estava aprendendo rapidamente como acalmar o lado sombrio de Ren, mas Vincent era lento que só ele em acompanhar.
— É seguro deixá-los sozinhos? — murmurou Vincent, e então aumentou a voz com ousadia para chamar a atenção deles: — A propósito... tenho certeza de que sou mais velho do que qualquer um de vocês e ambos estão de castigo... embora talvez eu libere Lacey com umas palmadas, se ela concordar em se comportar. — E deu a Lacey um sorrisinho sugestivo quando ela se virou para lhe lançar um olhar arregalado.
Storm rapidamente estendeu a mão e teletransportou Vincent para longe do perigo, fazendo questão de lembrar a expressão no rosto de Ren. Talvez fizesse uma viagem especial de volta com uma câmera, ao mesmo tempo.
Incapaz de ignorar o estranho feixe de luz que o atingiu no rosto, Ren piscou. Em vez de agarrar o imbecil que pretendia ferir, acabou segurando o vácuo e olhando para um pedaço de papel flutuando a sua frente. Apanhou-o no ar, rosnando frustrado.
— O que é isso? — Lacey perguntou, completamente tranquila por Storm ter mais uma vez desaparecido com Vincent. Pelo menos ela confiava em Storm para mantê-lo são e salvo.
— Parece que seu ex-parceiro ficará fora de alcance pelo resto do dia — Ren franziu a testa, quando o bilhete evaporou de repente e foi substituído por uma imagem do seu rosto distorcido de raiva. Ha... Ha. Storm tinha muito senso de humor ultimamente. Ren sorriu maliciosamente quando a imagem virou pó e escorregou por seus dedos.
Ren virou a cabeça para avistar Lacey e notou que seus olhos brilhavam de humor. Ela ainda estava encarando a mão dele, onde a foto havia estado.
— Gostou disso, não foi? — ele perguntou erguendo as sobrancelhas.
Ela lhe dificultava manter a raiva. A veemente afirmativa dela era simplesmente linda.
Capítulo 3
— Preciso tirar essa roupa — disse Lacey, olhando para o vestido de festa que ainda estava usando. Estava muito bonito na primeira vez em que o colocou, mas depois da noite aterrorizante que teve, estava sujo e rasgado em alguns lugares, onde havia sido atingida pelos cabelos dos demônios.
Uma onda de necessidade sexual intensa a atingiu forte e Lacey olhou surpresa de volta ao rosto impassível de Ren. Teria vindo dela... ou dele? Não estivera pensando em sexo quando mencionou tirar sua roupa, mas caramba, como estava agora.
— E claramente, outro banho de chuveiro gelado seria bom — acrescentou, colocando a palma da mão nos músculos contraídos do estômago. Jamais tivera vergonha de falar sobre sexo, e não começaria a se conter agora. — Será que estou sugando essa necessidade sexual de você?
Ren praticamente parou de respirar quando imaginou tirar o vestido dela num movimento flexível, e então erguer seu corpo nu na mesa atrás. Ele pestanejou enquanto absorvia a franqueza da sua pergunta. A resposta foi um ressonante SIM. Ele sabia exatamente o que Nick e Gypsy estavam aprontando no abrigo nuclear, mas jamais passou por sua cabeça que ela também seria capaz de conectar-se às suas emoções ou desejos.
Felizmente, ela somente recebeu uma fração dessa habilidade, ou não duraria muito tempo no castelo. Ele fez uma anotação mental de perguntar para Guy se poderia criar algum tipo de feitiço ou encantamento para ela usar que atenuasse a habilidade, mas por hora, poderia pelo menos lhe dizer a verdade.
— Este castelo está cheio de paranormais com emoções intensas — ele lhe informou, tentando manter as próprias emoções sob controle. Pressentir que ela estava carente agora mesmo não ajudava e estava causando um efeito bumerangue entre eles. — Os paranormais têm emoções como os humanos. A diferença é que... sentem cada emoção mais intensamente do que um humano normal jamais sentiria... e você está se conectando a essa sobrecarga.
Ele foi em sua direção, se sentindo como um predador perseguindo a presa. Ren sentiu um sorrisinho de satisfação repuxando seus lábios quando ela se apoiou na mesa, bem no mesmo lugar em que ele havia imaginado a ter erguido.
— A raiva deles poderia fazer com que um humano normal começasse uma carnificina... e o tipo de amor deles é o que chamaríamos de uma obsessão perigosa — de repente ele se inclinou para frente, colocando as mãos na mesa em cada lado dela, para prendê-la por debaixo. Então introduziu os lábios bem perto da orelha dela: — E a luxúria carnal deles é tão quente, que chega a queimar.
Lacey fechou os olhos ao sentir seu bafo no pescoço. É, ele estava certo sobre a queimação, porque estava ardendo. Seus lábios se separaram à medida que a respiração acelerava:
— Os corpos deles devem ser hipersensíveis ao toque, porque seu bafo no meu pescoço me faz sentir bem o suficiente para não ser normal.
O rosnado que ouviu foi a única reação, mas o som era tão sedutor, que Lacey pôde ouvir a resposta nele. Ele estava tão próximo... e mesmo assim, ele não a estava tocando em lugar algum. Era como se ele tivesse completo controle, enquanto ela nadava num turbilhão de paixão, esperando pelo mais sutil puxão arrastá-la. Ela queria muito experimentar esse pequeno e delicioso efeito colateral... agora mesmo, se ele quisesse.
Mentalmente apagando da memória a sedução na Poção Mágica, há pouco menos de uma hora... uma vez que foi sob pressão, Lacey refletiu sobre a última vez em que se tocaram. Aconteceu bem aqui, nesse escritório. Acreditara que estaria morta pela manhã e queria passar as últimas horas imersa em prazeres sensuais com ele. Foi Ren quem pôs um fim nisso, porque podia ouvir os pensamentos dela.
Ora, ela não tinha mais uma ameaça de morte pairando sobre si graças a ele, portanto ele não podia ficar bravo com ela por isso. Se pudesse ter o que queria, Ren ficaria bravo por outro motivo e pela disposição dela, esperava que fosse grande e pulsante.
— Uma vez que foi você quem me concedeu o poder de ficar em chamas acidentalmente, desse jeito... pode me ajudar a extinguir o fogo, ou será que preciso encontrar outra pessoa disposta a ser meu bombeiro? — perguntou Lacey, recordando a agulhada da última rejeição.
Ren reforçou a pressão contra a mesa, quando o fluxo de calor que sentia rapidamente se tornou quente como a fúria do inferno. Teria ela realmente acabado de ameaçar procurar alguém para saciar seu desejo? A imagem dela e Vincent fazendo amor no passado recente dilacerou pela cabeça dele como uma locomotiva.
Devia tê-la avisado sobre o ciúme extremo, mas era irrelevante, pois ele parecia ser o único a estar sentindo essa emoção em particular.
— Ensinar-lhe-ei não apenas como usar os poderes que despertaram dentro de você, mas como controlar os poderes que colocarão outros em perigo — ele murmurou com fingimento.
Lacey piscou quando Ren a puxou para perto e ela observou o escritório desaparecendo na distância. Em segundos, encontrou-se no mesmo quarto em que havia acordado... o dele. Seu olhar se desviou para a cama, na esperança de que finalmente conseguiria o que desejava em segredo, desde que o encontrou. Em vez disso, ele agarrou seu braço e a puxou para longe da cama, fazendo ela franzir a testa, confusa.
Ao ser lançada no banheiro anexo, não pôde conter o grito de choque, quando de repente se encontrou debaixo do chuveiro de água gelada caindo em cascatas por cima da cabeça. Tremendo, estendeu a mão e desligou a água, percebendo que ainda estava completamente vestida. Ela agora encarava a reação da sua pele sensível de forma totalmente diferente. Aquilo fora mais gelado do que gelado jamais poderia ser considerado.
— Pra que diabos foi isso? — exigiu Lacey, fixando o olhar em Ren, com assassínio em mente.
— Primeira lição — rosnou Ren, inclinando-se para ela, para dar ênfase, — não deixe o calor sexual absorvido te atingir a ponto de querer dormir com qualquer um para matar a vontade.
O olhar fixo de Lacey não se atenuou enquanto seus dentes rangiam:
— Você está certo. Que diabos eu estava pensando em te pedir? Prometo, na próxima vez escolherei melhor — ela esperou pela resposta dele, mas deparou-se com completo silêncio, o que a deixava um pouco tensa, e o fato de não poder ver seus olhos por causa dos ridículos óculos escuros, também não ajudava.
Ela desejava saber para onde foi o desejo que Ren sentira há um instante e por que diabos fora repentinamente substituído por ódio. A emoção era tão forte que lutava para contê-la. Ela se dedicou o ano passado a proteger seus pensamentos e emoções de pessoas perigosas e agora era quase uma especialista nisso... exceto perto dele, por alguma droga de razão.
Em vez de golpear o grande paspalho como queria, segurou a porta fosca do chuveiro e bateu com ela na cara dele, de modo a não ter que encará-lo. Tirando o vestido, atirou a coisa encharcada por cima da porta do chuveiro, e sorriu com desdém, quando o som da água lançada batendo em algo alcançou seus ouvidos. Esperou que o esguicho frio o atingisse bem no rosto. Ele pediu por isso e muito mais.
Dando uma olhadela de novo no vidro fosco, Lacey quis comemorar, quando viu o formato distorcido do corpo de Ren e pôde ver que estava retirando os óculos escuros para secá-los. O gostinho de vingança arrefeceu sua raiva por agora. Ligando a água quente, Lacey entrou por debaixo e gemeu de êxtase enquanto ela aquecia seu corpo frio.
Ren cerrou os dentes, ainda fervilhando pelo modo fácil com que ela lhe informou que pediria ajuda de outra pessoa na próxima vez que ficasse com tesão. Jogá-la no chuveiro gelado tinha sido uma ideia do seu temperamento e esse nunca tinha sido muito esperto. Teria que reparar o erro antes que ela tentasse cumprir a ameaça... tentar sendo a palavra-chave, porque ele jamais permitiria que outra pessoa a tocasse daquele jeito.