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Confições De Uma Endiabrada
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Dawn Brower

Confições de uma Endiabrada

CONFIÇÕES DE UMA ENDIABRADASABICHONAS VERSOS LIBERTINOS LIVRO 7
DAWN BROWER
Translated by LAURA TRUAN

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com locais reais, organizações, ou pessoas, mortas ou vivas, é completamente coincidência.

Um conde infame a menos Copyright © 2019 Dawn Brower

Arte da capa por Victoria Miller

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida eletronicamente ou impressa sem permissão por escrito, exceto no caso de citações breves incorporadas nas resenhas.

PRÓLOGO

Weston Manor, 1823


O salão de baile já estava lotado quando entraram. E mesmo que elas continuassem como enfeites na parede, não conseguiriam evitar a totalidade dos convidados. Todos devem ter aceitado o convite. O duque e a duquesa de Weston não promoviam bailes com frequência, e provavelmente, todos estavam curiosos. Samantha não podia culpá-los, ela ficara bastante intrigada e adorava bailes e dança. Ser convidada para um dos eventos mais exclusivos do país e no final da temporada, a emocionou. Ela examinou a sala à procura da duquesa e a encontrou na extremidade da pista de dança.

Marian se importava com uma coisa: garantir a ajuda da Duquesa de Weston para aprender a ser médica. Ela olhou ao redor da sala até encontrá-la, depois se virou para Samantha e Kaitlin.

– Se vocês me dão licença – disse a elas. – Eu vou falar com a duquesa.

– Não se esqueça de perguntar a ela desta vez – disse Samantha. – Eu vejo Lorde Darcy; Estou indo até ele.

Ela realmente não queria a atenção do Conde de Darcy, mas parecia conveniente dizer que queria dançar com ele. Prestar atenção ao conde de Darcy distrairia Gregory, e qualquer um que se desse ao trabalho de notar, do homem que Samantha realmente desejava.

– Eu odiaria que ele não pudesse me cumprimentar. Venha comigo, Katie, para não ficar aqui sozinha.

– Só para você me deixar sozinha enquanto foge para dançar com ele? – Kaitlin resmungou baixinho. – Você me deve por isso.

– Não se preocupe, querida – respondeu Samantha enquanto arrastava Kaitlin com ela. – Vou encontrar um parceiro para você também. Aquele não é o Lorde Asthey falando com Lorde Darcy?

Seu coração trovejou no peito. Embora ela realmente não quisesse falar com Lorde Darcy, ela queria ver Lorde Asthey. Ele era tão bonito. Ambos eram loiros, tinham lindos olhos azuis e um físico incrível. Julgá-los apenas pela aparência não era suficiente. Um deles fazia seu coração disparar e a enchia de emoção. O problema, é claro, era que ele não a notava como nada além da irmãzinha de seu amigo.

Kaitlin suspirou e deixou Samantha levá-la até os dois condes.

– Eu não preciso dançar. – Ela balançou a cabeça vigorosamente. – Eu posso encontrar um livro para ler e me sentar no canto.

Samantha parou e olhou para a amiga.

– Você não fará tal coisa. – Como Kaitlin pode não querer dançar? – Você não gosta de Lorde Asthey?

Isso parecia ainda pior de alguma forma porque Samantha o adorava. Ela o queria para si mesma, mas havia desistido dessa ideia há um tempo. Se não podia aproveitar uma dança com ele, talvez a amiga pudesse. Não que ela quisesse que Lorde Asthey se apaixonasse por Kaitlin, mas ele parecia gostar dela. Samantha não era tão egoísta a ponto de não desejar a felicidade à amiga. Mesmo que parecesse que estava sendo esfaqueada no coração toda vez que Lorde Asthey sorria carinhosamente para Kaitlin. Ela sacudiu a dor e colocou um sorriso no rosto.

– Lorde Asthey é amável o suficiente – disse Kaitlin em um tom bem-humorado. – Mas eu não gosto de dançar. – Ela torceu o nariz com nojo.

– Bobagem – disse Samantha e acenou com a mão. – Você ainda não encontrou o parceiro certo.

Ela estreitou o olhar quando olhou além de Kaitlin. Aquele era o irmão dela descansando no canto? Samantha soltou um suspiro. Ela teria que ter cuidado. Se Gregory, Lorde Shelby, seu irmão superprotetor pensasse que ela estava ficando muito apegada ao Conde de Darcy, ele poderia agir de maneira imprudente.

Na mente de seu irmão, ninguém era bom o suficiente para ela. Especialmente um dos condes libertinos, como se autodenominavam. Infelizmente, Lorde Asthey também estava nesse grupo em particular. Gregory adorava seus amigos, mas não queria que nenhum deles prestasse a menor atenção à sua irmãzinha.

Ela lançou um olhar para o irmão novamente. Sua cisma não deveria importar, mas Samantha odiava isso. Gregory poderia ser… irracional. Ela afastou a cautela para o lado, respirou fundo e voltou sua atenção, o melhor que pôde, para Kaitlin. Ela não conseguia afastar Gregory e seu ridículo excesso de proteção, mas poderia fazer algo pela amiga e incentivá-la a se envolver um pouco mais na sociedade.

Kaitlin colocou a mão no braço de Samantha.

– Eu realmente não quero dançar.

O que ela deveria fazer? Kaitlin ficava mais confortável se escondendo em um canto. Ela precisava ajudar sua amiga a sair de sua concha de alguma maneira. Se ela insistisse em se colar a uma parede, nunca encontraria o amor. Kaitlin merecia encontrar alguém que a adorasse. Samantha queria ajudar a guiá-la até lá. Se não pudesse ter o único homem que amava, pelo menos Kaitlin teria.

– Uma dança – disse Samantha. – Depois disso, podemos sair do salão, se desejar.

Os ombros de Kaitlin encolheram. Ela fechou os olhos e respirou fundo. – Tudo bem – disse ela. – Vou dançar uma vez, mas depois disso não quero que você me pressione em mais nada que não queira fazer. Prometa isso. – Ela olhou.

– Eu prometo – disse Samantha sinceramente e cruzou o dedo sobre o coração. A severidade de Kaitlin só serviu para torná-la ainda mais adorável que o normal. – Você pode acreditar nisso.

Ela passou o braço pelo de Kaitlin e levou-a pelo resto do caminho até Lorde Darcy e Lorde Asthey. Eles estavam conversando profundamente quando chegaram ao lado deles.

– Acho que somos cocapitães na partida de críquete deste ano – disse Darcy. – Temos mais opções para companheiros de equipe aqui. O que devemos pedir como prêmio quando vencermos?

– Um pouco arrogante de sua parte contar com nossa vitória antes que as partidas sejam vencidas, não é? – Asthey levantou uma sobrancelha. – Shelby é muito bom no jogo, devo avisar.

Os dois pararam de falar quando elas chegaram.

– Não estamos interrompendo, estamos?

Samantha bateu os cílios para eles. Ela estava ciente da partida anual de críquete. Sempre que podia, se esgueirava para assistir a alguns de seus jogos particulares, já que nem todos ocorriam em festas no campo, mas uma coisa permanecia verdadeira ao longo dos anos: todos eles jogavam, e os quatro se dividiam de maneira diferente a cada ano. Era assim que mantinham as coisas justas entre eles.

Kaitlin tinha uma expressão distante no rosto. Sua amiga provavelmente estava sonhando acordada com algo que não iria compartilhar. Samantha duvidava que tivesse ouvido qualquer coisa que os dois condes estivessem discutindo. Às vezes, Kaitlin vivia em um mundo próprio. Samantha desejava poder se perder em sua própria mente de vez em quando. Ela tinha muitos planos para viver em um mundo de faz de conta.

Samantha olhou para a amiga e depois para os dois condes.

– Vocês dançarão esta noite? – Talvez um pouco abrupta, mas Samantha não era conhecida por seu comportamento tímido e recatado. Seu irmão costumava chamá-la de endiabrada. Ela não se desculparia por quem ela era, por qualquer motivo.

– Eu… – Asthey tropeçou nas palavras.

– Mas é claro – disse Darcy suavemente e se curvou. – Você gostaria de dançar, Samantha?

Por que Asthey não poderia ter lhe pedido para dançar? Ele começou a falar primeiro, mas teria realmente perguntado se Darcy não o interrompesse? De alguma forma, ela duvidava disso.

– Isso seria adorável – ela respondeu.

Ela conseguiu manter um sorriso brilhante no rosto, apesar de não sentir nada parecido com a emoção. Ela estendeu a mão para ele, e foram para a pista de dança. Pelo menos não era uma valsa, ela não queria dançar algo tão íntimo com Lorde Darcy.

Asthey curvou-se para Kaitlin e disse algo para ela. Ela balançou a cabeça vigorosamente. A amiga recusava-se a dançar com ele? Samantha fervilhava interiormente. Kaitlin tinha a única coisa que Samantha cobiçava diante dela e dissera não. Isso estava errado. Ela se virou para Darcy enquanto ele a conduzia através da dança. Eles não conversaram muito, e por isso ela agradeceu. Asthey e Kaitlin passearam pelo salão. Samantha estava verde de ciúmes, mas reprimiu o sentimento.

– Você está gostando do baile? – Lorde Darcy perguntou.

– Claro – ela respondeu suavemente. – Você está?

– Sim – ele disse. – Está sendo bem divertido.

Essa tinha sido a conversa mais banal que já tivera, mas manteve o sorriso no rosto. Ela também acompanhava cada passo que Lorde Asthey e Kaitlin davam. Eles pareciam estar tendo uma conversa animada. O que quer que Lorde Asthey estivesse dizendo, Kaitlin achava fascinante. Ela desejou poder ouvir. Inferno, Samantha desejou poder prender a atenção de Lorde Asthey por tanto tempo quanto Kaitlin parecia mantê-la.

Ele a cortejaria? Dançaria com ela? A amaria? Samantha acordaria um dia para encontrar um anúncio de noivado no The Times? Seu coração se partiu com o pensamento. Como ela sobreviveria em um mundo em que uma de suas melhores amigas se casasse com o homem que ela amava? O que havia de errado com ela? Ela precisava deixá-lo ir, ele claramente não a via da mesma maneira. Ela voltou sua atenção para Darcy. Ele pelo menos olhava para ela como se a achasse uma mulher atraente. Ele poderia não amá-la, mas a apreciava.

A dança chegou ao fim e Lorde Darcy a levou até a beira da pista de dança. Ele se curvou e disse: – Obrigado pela dança.

– Foi um prazer, Lorde Darcy. – Onde estavam Kaitlin e Asthey? Ela os perdeu de vista no final da dança.

– Se você me der licença, vejo Lorde Harrington. Há algo que devo discutir com ele.

Samantha não era boba. Ele gostaria de discutir sua próxima partida de críquete, mas ela tentaria bisbilhotar mais tarde. Samantha não queria perder os detalhes pertinentes. Ela queria poder assistir e torcer secretamente por Lorde Asthey, mas poderia reunir essas informações mais tarde. Era muito mais importante localizar Kaitlin e Lorde Asthey. Ela fez uma reverência.

– Até a próxima vez.

Os lábios dele se contraíram. – Estou ansioso por isso. – Com essas palavras, ele a deixou sozinha e foi em direção a Lorde Harrington.

Naquele momento, ela viu Kaitlin pelo canto do olho. Ela estava sozinha. Para onde Asthey tinha ido? Samantha examinou a sala fervorosamente. Ele desapareceu. Ela perdera a chance de conseguir uma dança com ele. As notas de uma valsa encheram a sala. Ela se virou para sair do salão antes que alguém notasse a expressão desanimada em seu rosto e se deparou com um homem. Ele tinha um peito musculoso que a maioria das mulheres achavam atraente, e ela teve que admitir que estava entre elas. Não havia nada que não gostasse nesse homem em particular.

Samantha olhou para cima e encontrou o olhar de Lorde Asthey. Ela poderia facilmente se perder em seus lindos olhos se ela se permitisse, mas tinha que ser forte e permanecer firme em sua decisão de não deixar seus sentimentos por Asthey óbvios. Ela não queria dar a Gregory nenhuma razão para manter Asthey longe dela.

Samantha poderia não ser capaz de ficar com o homem que gostava, mas pelo menos poderia estar perto dele ocasionalmente. Tinha que ser o suficiente. Ela faria isso, mesmo que a matasse um pouco depois de cada encontro manter sua agitação emocional para si mesma.

– Minhas desculpas – disse ele. – Eu deveria estar prestando mais atenção. – Ele olhou através dela para o outro lado da sala. Ele também estava indo em direção a Harrington. Ela o deixaria planejar com seus amigos, mas essa era a única chance que tinha com ele. Samantha queria uma dança. Apenas uma. Aquilo era pedir demais?

– Você pode fazer as pazes dançando comigo. – Ela sorriu suavemente, implorando silenciosamente a ele. – Por favor. – Era uma valsa. Ela queria sentir os braços dele ao seu redor. Para que pudesse fingir por alguns breves momentos que ele a amava.

– Eu… – Ele engoliu em seco. – Claro.

Lorde Asthey estendeu a mão para ela e a levou para a área de dança. Ela não era boba, ouvira os rumores sobre Lorde Asthey, seu irmão e todos os cavalheiros de seu grupo. Todos eram considerados maus, escandalosos, malandros. Ela nunca viu esse lado de nenhum deles. Gregory nunca teria permitido. Para ela, eles eram todos, perfeitos cavalheiros. Asthey mais do que qualquer um deles. Ele permanecia indiferente, bem-educado e acima de qualquer crítica.

Ela entendia o porquê, mesmo que isso a frustrasse. Seu irmão esperava que eles a respeitassem e, portanto, eles respeitavam. Foi por esse motivo que Lorde Asthey concordou em dançar com ela. Ele queria garantir que a irmã mais nova do Conde de Shelby nunca se sentisse deixada de fora, uma flor na parede, desprezada. Samantha não estava acima de usar manipulação para obter o que queria. Ela aproveitaria essa dança e não se sentia culpada por isso.

Samantha sentiu como se estivesse flutuando nas nuvens. Lorde Asthey era um dançarino maravilhoso e a conduziu habilmente pelo chão. Isso era um sonho. Um que ela tinha todas as noites, mas até agora não havia experimentado na realidade. Claro, não era exatamente como sonhara. Nas fantasias dela, ele confessava seu amor e pedia que ela se casasse com ele. Uma dama não podia ter tudo, podia?

Ela se lembraria dessa dança pelo resto da vida. Provavelmente seria a única dança que teria com ele. Se isso fosse tudo o que teria, ela estimaria. Quando estivesse velha e sozinha, olharia para trás com carinho. Se fosse corajosa o suficiente, confessaria seus sentimentos. Mesmo as endiabradas tinham problemas para contar todos os seus segredos. Algumas confissões pesavam na alma. Era melhor que mantivesse seus desejos mais profundos para si mesma. Ela não iria querer assustar Lorde Asthey. Isso partiria seu coração ainda mais se ela nunca mais o visse.

A dança chegou ao fim e ele a levou do salão. Eles não disseram uma palavra durante toda a dança. Tudo bem por ela. Essa dança fora o suficiente. Ela sorriu para ele, esperando que ele pudesse ver o quanto ela se importava, mas ele não enxergara. Ele se curvou e se desculpou por ter que ir. Acabou antes que tivesse a chance de começar.

Lorde Asthey a deixou sozinha e foi em direção a seus amigos. O sorriso de Samantha vacilou um pouco. Ela precisava ir antes que o mundo se tornasse ciente de sua angústia. Sem dizer uma palavra, ela girou nos calcanhares e saiu do salão de baile. Kaitlin poderia cuidar de si mesma. Marian ainda estava lá, afinal. Samantha mal conteve as lágrimas até chegar a seus aposentos. Uma vez lá, ela soltou tudo e chorou toda a sua dor.

Quando não tinha mais lágrimas para derramar, sentou-se e limpou o rosto. Pronto. Isso estava feito. Agora, poderia seguir em frente e encontrar um homem que a amaria. Lorde Asthey não sabia o que estava perdendo.

Se ao menos ela pudesse se fazer acreditar nisso.

CAPÍTULO UM

Londres 1825


Jason Thompson, o Conde de Asthey, recostou-se na cadeira do escritório do Clube Coventry e franziu o cenho para a carta, a mais recente de várias, do advogado de seu avô, exigindo uma audiência. Ele não queria lidar com nada disso.

Seu avô materno, o Duque de Wilmington, sempre fora bom para ele. Se não fosse por seu avô, estaria pobre há muito tempo. Seu pai havia apostado a pouca fortuna do título de Conde quando Jason não tinha mais que quinze anos. Pouco tempo depois, seu pai morreu de forma questionável. Não conseguiram provar que ele se matou, mas isso não impediu os sussurros. Muitos acreditavam que ele queria evitar a ruína e escolheu o caminho mais covarde para isso.

Quando os cobradores de seu pai exigiram o pagamento, foi quando tudo deu uma guinada que ele nunca teria previsto. Jason não sabia muito sobre o mundo e logo recebeu algumas lições rápidas, há mais de uma década, que não esqueceria jamais.

Os homens haviam maltratado sua mãe, e não tiveram vergonha de dar alguns golpes na barriga de Jason. Ele pensou que ia morrer, nem queria pensar no que poderia ter acontecido com sua mãe depois que ele desse seu último suspiro. Inferno, nem precisaria da morte dele para pensarem em abusar dela das maneiras mais hediondas. Aqueles homens não eram credores adequados. Eles eram do tipo cruel, e não pagá-los certamente levaria à morte certa. Jason começou a se perguntar se seu pai havia sido assassinado depois daquela visita.

Eles sobreviveram, mas com cicatrizes invisíveis em Jason e sua mãe. O duque os salvara de mais visitas desse tipo. Jason se recusara a sair da casa, mas sua mãe fora morar com o duque. Ela se sentira mais segura sob os cuidados de seu pai. Jason havia escolhido um caminho diferente, aprendeu a atirar e se tornou um atirador hábil. Então começou a carregar uma pistola com ele o tempo todo. Depois disso, treinou com um pugilista e aprendeu a se defender com os punhos, e no que conseguisse colocar em suas mãos, no caso de perder o controle de sua arma. Ele não ficaria indefeso novamente.

Agora, o duque estava morto. Tinha falecido por quase seis meses. Era surpresa que Jason não quisesse enfrentar isso? Ele não gostava do tio, o novo duque. Então, ele se recusou a viajar para o castelo de Wilmington. Não via nenhum motivo para visitar esse advogado. A maior parte do ducado estava comprometida; portanto, a pouca herança que receberia não seria muito.

Jason havia conseguido economizar com os poucos fundos que a propriedade Asthey conseguia lucrar. No entanto, teria que descobrir outra coisa em breve, porque a propriedade não era auto sustentável e se as coisas continuassem em sua trajetória atual, ficaria sem fundos para manter tudo funcionando em um ano, no máximo dois.

A propriedade precisava de reparos e muitos dos inquilinos estavam trabalhando com um maquinário antigo. Jason não sabia o que deveria fazer sobre isso. O casamento sempre foi uma opção. Uma herdeira com um dote robusto resolveria todos os seus problemas financeiros, mas deixava um gosto amargo na boca. Ele odiava a ideia de se casar apenas por dinheiro. Honestamente, odiava completamente a ideia de casamento, considerando o quão horrível havia sido o de seus pais. Ele preferia ficar desimpedido em vez de tornar miserável uma pobre mulher.

– O que você está fazendo sentado aqui, meditando? – Shelby se demorou enquanto entrava preguiçosamente na sala.

Jason olhou para cima e franziu a testa. Os cabelos escuros de Shelby estavam despenteados, talvez pelo vento lá fora, Jason duvidava que ele voltasse aos velhos hábitos de seduzir qualquer mulher disposta e permitisse que elas passassem os dedos por suas mechas negras. Afinal, Shelby amava a esposa. O resto dele estava imaculado, o que sugeria que ele definitivamente respeitava seus votos de casamento. Seu traje era quase todo preto. O colete era verde esmeralda, e a gravata e a camisa eram brancas.

Jason bateu o dedo no braço da cadeira. – O que você está fazendo aqui? – Ele levantou uma sobrancelha. – O clube não é para homens que sucumbiram aos males do casamento.

Seu amigo riu e foi se sentar ao lado dele. Ao se instalar no sofá, ele disse: – Harrington decidiu fazer algumas exceções. Algo sobre precisar de alguns homens em quem possa confiar para lidar com as coisas quando ele não está aqui. Ele recrutou Darcy e eu para atuar como seus tenentes, por falta de uma palavra melhor.

– Ele tem saído de Londres com frequência ultimamente. – Jason encolheu os ombros. Harrington poderia ter lhe pedido para cuidar das coisas. Ele não se importaria. – Ser pai tornou o clube menos atraente.

– Ele tem novas prioridades – concordou Shelby. – Isso aconteceria quando ele se apaixonasse. Marian o mudou e para melhor. – Ele olhou em direção ao bar. – Eu preciso de uma bebida. Você quer uma?

– Vejo que o casamento não o mudou muito – Jason o incitou. – Kaitlin não sente sua falta?

Ele sempre gostou de Lady Kaitlin. Ela podia ser tímida, mas tinha uma inteligência aguçada. Shelby não poderia ter escolhido uma mulher melhor para se apaixonar. Eles se completavam bem. Kaitlin ajudava a impedir Shelby de agir… imprudentemente. Ele parecia mais centrado desde o casamento deles. Jason nunca imaginou que os dois se apaixonariam, mas estava feliz por eles. Ele pode não acreditar em amor para si mesmo, mas estava feliz que seus amigos foram capazes de encontrá-lo.

Ele acenou com a mão em desdém. – Ela está tomando chá com Samantha e Marian. – Shelby serviu conhaque em dois copos e os levou até Jason. Ele segurou um copo na frente de Jason e disse: – Ela praticamente me empurrou para fora da porta. Elas não gostam de companhia masculina quando estão prestes a fofocar.

– Sim – Jason respondeu distraidamente. – Isso tornaria difícil discutir situações delicadas.

Jason deveria deixar o clube. Ir visitar o advogado do avô e, finalmente, ver o motivo de toda essa confusão, mas não faria nada disso. Em vez disso, ele se sentaria no Clube Coventry com Shelby e beberia conhaque, provavelmente vários copos. Depois, tropeçaria nas escadas para o quarto que mantinha no clube e dormiria até o dia seguinte. Ignorar seus problemas estava se tornando um talento particular dele.

– Então você sabe por que estou aqui. – Ele tomou um gole de conhaque. – Agora explique por que você está aqui. Você não deveria estar no meio da natureza em Surrey ou algo assim?

– Não há nada lá para mim. – Com a ausência do avô, a propriedade ducal não oferecia nenhum conforto.

– Sua mãe não está lá? – Shelby inclinou a cabeça para o lado.

– Considerando que ela nunca sai do castelo, presumo que sim. – Jason engoliu um pouco de conhaque. Queimou enquanto descia pela garganta. Ele gostava da queimação, o fazia sentir algo quando normalmente não sentia nada além do vazio rolando através dele. – Ela está confortável lá. Quem sou eu para perturbar isso?

Talvez estivesse sendo duro demais com ela. Ela passara muito tempo vivendo com o pai dele. Sua mãe merecia uma sensação de segurança depois de tudo aquilo, e ele queria que ela a tivesse. Uma parte dele se sentia um pouco traído. Ela nunca quis vê-lo e não suportava olhar para ele quando estava por perto. Ele parecia muito com o pai, o mesmo cabelo loiro e olhos azuis, as mesmas maçãs do rosto esculpidas e físico. Mesmo tudo. O que tornava impossível para ela se sentir segura perto dele. Como se Jason algum dia fosse colocar um dedo nela tomado pela raiva. Ele nunca machucaria sua mãe, emocional ou fisicamente. Então, pelo bem dela, ele ficava longe.

Ele estava uma bagunça.

– Não é um pouco mais complicado que isso? E os últimos desejos do seu avô? Você não deveria descobrir quais são?

Ele girou o conhaque restante em seu copo. – Não preciso viajar para Surrey para descobrir o que meu avô queria.

– O que você precisa fazer então? – Shelby perguntou.

Jason levantou a carta do colo e a jogou para Shelby. Depois engoliu o conhaque restante em um gole. Ele se levantou e foi encher o copo enquanto Shelby examinava a mensagem do advogado.

Ele sentou-se e esperou. Não demorou muito para Shelby levantar o olhar para encontrar o dele. – Por que você está ignorando isso?

– Eu não sei. – Ele passou a mão pelos cabelos. – Isso tornaria decisivo. Então eu teria que aceitar que ele realmente se foi, e não estou pronto para fazer isso.

– Acho que já passou da hora – disse Shelby suavemente. Ele estendeu a mão e colocou a mão no braço de Jason. – Vá ver o advogado. Você não pode mais ignorar isso.

Ele sentia muita falta do avô, mas Shelby estava certo. Ele precisava ver o advogado. Ignorá-lo por tanto tempo era tolice.

– Eu ouço o que você está dizendo e até concordo com isso, mas agir de acordo… É aí que eu sempre falho.

– Você gostaria que eu fosse com você? – Shelby perguntou. – Isso ajudaria a finalmente fazer a coisa certa?

Faria? Ele realmente precisava de alguém segurando sua mão para que parasse de agir como uma criança e fizesse a coisa certa? Seria muito mais fácil se ele acabasse logo com isso, não importando o quanto não queira. Tinha que ser feito.

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