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Apaixonada Pelo Espião Americano
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– William.

Ela correu até ele e o abraçou com força.

– Por que não me disse que estava vindo?

– Não soube até hoje cedo, e quis fazer uma surpresa. – Ele se encolheu quando ela o abraçou com mais força. O ferimento no flanco estava doendo bastante.

– O que é isso? – perguntou ela, dando um passo para trás. Victoria abriu o casaco dele e olhou. O sangue tinha encharcado a camisa de linho. Victoria suspirou. – Por que você sempre chega ferido?

– Não estava nos meus planos, posso garantir. – Ele lhe lançou um sorriso. – Tive um pequeno desentendimento com um alemão enquanto vinha para cá. Ele queria que eu ficasse, mas, infelizmente, precisei insistir que ele me deixasse vir vê-la. Espero que perdoe a minha aparência. Não era assim que eu planejava chegar.

– Venha comigo – ordenou ela. – Cuidarei do ferimento, e você poderá me contar tudo o que aconteceu desde a última carta.

Eles foram em direção à tenda do hospital e ela o conduziu até os fundos. Ela fez sinal para que ele se sentasse em uma das macas e pegou os suprimentos para cuidar do ferimento.

– Tire o casaco e a camisa. Preciso dar uma boa olhada no corte.

– Você está tentando me ver nu, não está? – disse ele, despreocupado.

Victoria olhou feio para ele.

– Pode acreditar em uma coisa, essa não é a minha intenção.

– Eu não quis dizer… – Ele suspirou. – Essa foi a minha lamentável tentativa de desanuviar as coisas. – William não estava lidando muito bem com a situação. Victoria parecia um pouco aborrecida com ele. Ela o cutucou, e ele deu um salto.

– Desculpa – disse ela. – Não parece muito profundo. Você teve sorte; não vai precisar de pontos. Vou só fazer um curativo e então estará bom para ir.

Ela trabalhou em silêncio até que cobriu o ferimento. Quando terminou, ela se afastou e lavou as mãos em uma pia ali perto.

– Ficará por muito tempo?

Por que ela lhe perguntou isso?

– Você quer que eu parta?

– Não foi o que eu disse… – Victoria afastou o olhar.

William ficou de pé e a puxou para si. Ela veio para os seus braços e apoiou a cabeça em seu ombro. Queria confortá-la, mas chegou à conclusão de que aquilo era exatamente o que ele precisava. Abraçá-la e assegurar-se de que ela estava bem. Aquilo era tudo o que queria. Que Victoria estivesse segura e feliz…

– O que posso fazer por você?

– Já está fazendo – disse ela. – Mas talvez eu deva permitir que você termine de se vestir. – Victoria olhou para a camisa ensanguentada. – Tem outra camisa para vestir?

– Não – disse ele. – Mas está tudo bem. Não me importo em usar a camisa suja por agora. Posso pegar outra mais tarde. – Não sabia onde, mas aquilo não importava. William não queria que ela se preocupasse. – Venha caminhar um pouco comigo.

– Eu adoraria – disse ela, pegando a mão dele. Eles saíram da tenda e foram em direção às árvores. Estava frio, mas ele nem reparou. Ela estava com ele, e aquilo fazia todo o resto desaparecer.

Passou a tarde com ela, e por algumas horas, ele ficou feliz. Foi capaz de esquecer que estavam na guerra, que tinha sido ferido mais cedo, e que teria que partir em breve. Ela lhe dava razão para ficar e lutar e esperar que, um dia, eles nunca mais se separassem.

CAPÍTULO TRÊS

Fevereiro de 1916

Victoria suspirou enquanto saía do trem. Finalmente, estava em Paris. Teve o suficiente dos hospitais de campanha por uma vida. Não sabia o que esperar no hospital da capital francesa, mas ao menos não seria forçada a andar, frequentemente, pela lama. Aquilo tinha que ser uma melhora. Não que as coisas no lamaçal estivessem aquecidas esses dias… A lembrança daquilo estava cravada em sua mente. Ela tinha começado a odiar de verdade qualquer coisa que se parecesse com mistura de pó e água.

Ela pisou na plataforma. Era um milagre os alemães ainda não terem destruído totalmente a linha férrea. Esperava que, em algum momento, viajar de trem fosse ser impossível. Ao menos não tinha sido forçada a caminhar até Paris.

Levou a mão ao bolso e tirou de lá um maço de cartas. Talvez não devesse tê-las conservado, mas era tudo o que tinha de William. A correspondência entre eles era parca e espaçada. Ele nem sempre estava em um lugar para que ela pudesse respondê-las, mas ele enviava muitas. Victoria temia por ele, e seu coração se quebrava por saber que não tinha certeza de quando voltaria a vê-lo. A mão tremia enquanto as colocava de volta no bolso. Estava tentada a abri-las e ler as palavras novamente, mas aquela não era a hora.

Não era a primeira vez, e provavelmente não seria a última, que se perdia nas cartas. Era um péssimo hábito ao qual teria que pôr um fim. Guardando-as no devido lugar, virou-se para a estação. Tinha que ir logo para o hospital e parar de pensar em coisas que não poderia mudar.

O baú com o qual viajara há um ano foi substituído. Seus pertences minguaram, e só tinha o bastante para preencher a pequena valise que levava consigo. Todos os seus uniformes tinham ficado puídos, e ela tinha mais três em estado decente. Esperava encontrar alguém que pudesse fazer outros. Victoria começou a ir em direção à saída. De repente, sentiu a urgência de deixar o passado para trás.

De alguma forma, conseguiu chegar ao hospital e então entrou. Ninguém a deteve ou perguntou por que ela estava ali. Todo mundo parecia ter algum lugar para onde deveria ir correndo. Victoria ergueu a mão tentando chamar a atenção de alguma das enfermeiras, mas a ignoraram. Suspirou e foi até o saguão principal. Eles pareciam estar lotados. Soldados enchiam as camas da enfermaria, e sendo atendidos pelo pessoal.

Uma mulher veio até ela. Os cabelos castanhos-avermelhados estavam presos em um coque apertado. Os olhos enrugavam nos cantos, como se ela estivesse lutando contra a exaustão.

– Posso ajudá-la? – perguntou a enfermeira.

– Sou Victoria Grant – disse ela. – Fui alocada neste hospital.

A mulher suspirou aliviada.

– Obrigada, Senhor. Você não poderia chegar em melhor hora. Estamos trabalhando à exaustão tentando cuidar de todos os feridos. – Ela apontou para o hospital lotado. – A maior parte é de pacientes novos, mas eles já foram examinados pelos médicos, e é nossa responsabilidade nos certificar de que eles estejam sendo cuidados. – Ela lhe lançou um sorriso vacilante. – Eu me chamo Catherine Langdon. Venha, vou lhe mostrar o seu quarto, e, se não se importar, nós poderíamos fazer um bom uso de você agora mesmo.

– É para isso que estou aqui – respondeu Victoria. – Prefiro ser útil a sentar por aí, ociosa, observando todo mundo trabalhar. Mostre-me onde guardar as minhas coisas, e posso começar a cuidar dos soldados agora mesmo. – Era aquilo que ela fazia, afinal de contas… Seu lugar era ali. Onde era necessária. Não sonhando acordada com um homem com quem jamais teria um relacionamento de verdade.


Abril de 1916

Victoria se acomodara no hospital de Paris sem maiores problemas. Gostava do calor e da falta de sujeira que experimentou nos hospitais de campanha. Tinha começado a gostar muito do gato de Catherine Langdon, o Merlin. Embora jamais fosse dizer aquilo à mulher. É só que havia alguma coisa naquele gato… Ele era uma bola macia de pelos pretos e ele até mesmo parecia ter uma barba prateada assim como o legendário Merlin. O pelo prateado no peito lhe dava uma aparência majestosa. Era uma combinação interessante: um monte de prata em contraste com o pelo preto. Talvez o gato fosse o próprio Merlin…

Victoria não queria especular. Até mesmo a dona dele, Catherine, era meio estranha. Ela lhe dizia as coisas mais esquisitas de vez em quando. Era quase como se ela pudesse prever o futuro… Uma parte dela queria perguntar, sem fazer rodeios, se ela podia, mas Victoria tinha medo de saber. Não queria estar a par do que o futuro lhe reservava.

Hoje fazia um dia bonito. O hospital estava indo bem, e eles deram alta a vários pacientes. Victoria tinha um pouco de tempo para si pela primeira vez em… bem, não podia se lembrar da última vez. Então decidiu passear por Paris enquanto a cidade estava calma e aproveitar o calor do dia de primavera. Podia não haver mais muitos dias como aquele. Não podia deixar de imaginar o que William estava fazendo. Será que ele também estava aproveitando o dia?

– Victoria – um homem gritou o seu nome. Ela se virou e viu William caminhando até ela. Ele usava roupas simples, um terno que um cavalheiro poderia estar usando, e parecia muito bem nele. William estava se tornando meio que um camaleão.

– Olá – disse ela, um pouco sem fôlego. Queria envolver os braços ao redor dele e se certificar de que ele era real. Que não estava imaginando que ele passeava por Paris. Ela o conjurara ao pensar nele mais cedo? É claro que não… acreditar naquilo seria uma bobagem. – O que faz em Paris?

– Tenho uns colegas que veem aqui com frequência. Vamos nos encontrar em breve. – Ele sorriu para ela. – Mas encontrá-la aqui era uma bênção que eu não esperava.

– Um, sim – disse ela, desinteressada. Victoria queria ficar feliz por vê-lo, e parte dela estava, mas não podia deixar de temer o que futuro deles, isso se tivessem um, poderia trazer. Ele ainda era um espião. Voltou a colocar a mão no bolso e passou os dedos pelas cartas. Seu coração nunca o deixaria ir, não de verdade, e isso fazia com que ela fosse ainda mais tola. Tinha cometido a bobagem de se apaixonar por ele à medida que se conheciam mais e mais. – Estou feliz por ver que você está bem. – Ela meneou a cabeça para ele e então se virou para ir embora. Foi a coisa mais difícil que já fez na vida.

Ele ergueu a mão e a colocou no braço dela.

– Não vá.

– Queria poder ficar, mas o hospital me espera. – Não podia olhar para ele ou nunca seria capaz de ir embora. William não sabia que ela estava mentindo. O hospital ficaria bem sem ela por mais algum tempo, mas não podia ficar perto dele. Não seria capaz de resistir por mais tempo. – Talvez possamos nos ver novamente, mais tarde.

Ele franziu o cenho.

– Você ficará trabalhando no hospital daqui? Nada mais de hospital de campanha?

Ela tinha sido mandada de um hospital de campanha para outro. Eles até mesmo tinham começado a parecer serem o mesmo, e sua mente tinha ficado insensível a toda a carnificina que testemunhara. O único que a fazia sentir qualquer coisa era William.

– Faz um mês que estou aqui. É duro estar nos hospitais de campanha – confessou. – Precisava de uma mudança.

– Não tenho certeza se há um lugar bom para se ficar durante a guerra. Mas deve ser um pouco mais seguro aqui em Paris. Se eu voltar a escrever, você responderá?

Ela queria dizer que sim. Tanto…

– Não sei se é uma boa ideia. – Victoria precisava tentar proteger o coração. Não podia continuar sendo arrastada para essa coisa com ele. Um medo ela conseguiria afastar, mas dois… Aquilo foi o suficiente para fazê-la perceber que se o perdesse, não conseguiria sobreviver. O ferimento a faca tinha sido simples, mas a assustou até a morte. Nenhum número de cartas a deixaria pronta para encarar algo assim novamente. Era melhor abrir mão dessa história agora antes que as coisas ficassem sérias demais. Ela fechou os olhos e engoliu em seco. Tinha tantos sentimentos por este homem, sentimentos os quais não podia nem começar a tentar entender. – Além do mais, você raramente fica em locais onde as cartas chegam.

– Eu sei – disse ele, baixinho. – Mas eu não quero perder essa conexão…

Seria difícil, de início. Perceber que não receberia mais cartas dele ou que eles nunca mais teriam encontros como esse. Ela o adorava. Sentia muita dor por ter que fazer isso. Terminar tudo… seria melhor para os dois. A guerra exigia demais deles, e de formas diferentes. Se quisessem ter a chance de sobreviver, precisariam manter a mente no trabalho que tinham em mãos. O dele era muito mais perigoso que o seu. William poderia morrer se cometesse um erro. Outros morreriam, se ela os cometesse… fazia aquilo pelos dois. Talvez, depois que a guerra acabasse, eles possam se encontrar novamente, mas não se agarraria àquela esperança.

– Você já perdeu – disse ela, firme. Foi duro, mas tinha que deixar o rompimento às claras. Se ao menos pudesse ser forte o suficiente para queimar as cartas. Elas não manteriam aquele relacionamento improvável funcionando. Aquilo não os levaria a lugar algum. – Por favor, deixe-me em paz.

William se aproximou um pouco mais dela e colocou a mão em sua bochecha. Ela se entregou, refastelando-se no calor que envolvia o seu rosto.

– Se nunca mais vou vê-la, gostaria de algo para me lembrar de você. – Ele se abaixou e pressionou os lábios nos dela. Foi um beijo breve, mas enviou arrepios por sua coluna. Victoria queria beijá-lo de novo e de novo e de novo. A sensação dos lábios dele nos seus a fazia querer mais, e daria qualquer coisa para viver aquele momento para sempre. Por um breve instante, ela foi capaz de fingir que eram um casal normal e que tinham a chance de um relacionamento normal. Mas aquilo nunca iria acontecer. O amor não era para eles, e já era hora de ela aceitar aquilo. Mas aquele beijo… ele mudou tanto e tão pouco ao mesmo tempo.

Como poderia esquecê-lo agora? A quem estava enganando? Victoria nunca teve uma chance de apagar William da sua mente. Ela o amava, e não havia como evitar aquilo.

Ele ergueu a cabeça e então deu meia-volta, caminhando, a passos lentos, para longe dela. Seu coração tremeu como se tivesse se partido em tantos pedaços que não haveria como juntá-los novamente. Ela prendeu o fôlego. Ele realmente lhe daria ouvidos e partiria? Ele não queria lutar por ela, por eles, pelo que eles poderiam viver juntos?

Ele não fez nada daquilo. William respeitou os seus desejos, e ela o adorava ainda mais por isso. Victoria queria gritar. Exigir que ele voltasse, que a segurasse em seus braços. Queria que lhe garantisse que tudo ficaria bem, mesmo ela sabendo que nunca mais estaria. Tinha feito a sua escolha, e teria que conviver com ela.

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