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Magia, Caos & Assassinato
— Suzanna não faria isso. — Esfreguei a dor repentina no meu pescoço, assistindo meu lanche no meio da manhã sumir. Eu ainda precisava assar meus muffins favoritos — com cobertura de limão. Quem diz que muffins não precisam de cobertura? A dama em questão, no entanto, vivia a apenas um quarteirão do nosso café, o que era parte do problema. Qual era aquele dizer sobre a familiaridade criar desprezo? Isso é o dobro — não, o triplo — no caso da Sra. Hurst. — Certo. Venha imediatamente. Eu não quero você culpando mais ninguém. Tenho certeza que você só não lembra onde as colocou.
— Bem, isso é o que veremos.
Nós certamente vamos. Meu dom — de rastrear as coisas — resolveria isso. Agora, se apenas meu dom incluísse dar a um cliente uma ordem secundária e automática de gentileza, poderíamos estar chegando a algum lugar.
Como esperado, a Sra. Hurst estava batendo na porta da frente menos de dois minutos depois. Mesmo no nosso dia de folga, não podia me dar ao luxo de ignorar o que ela pedia. Ela era uma das nossas melhores clientes.
— Esse cheiro é de geleia de damasco? — ela perguntou, passando pela porta, fazendo os sinos chacoalharem com interesse. Eu mal tive tempo para abrir a tela mosquiteiro da porta. Não tenho ideia de como ela faz isso. Na maioria das vezes as minúsculas estátuas de anjos cantavam para anunciar um cliente, e não gritavam sua desaprovação.
Ela não me deu a chance de responder, se movendo rapidamente. — Porque se for, quero fazer meu pedido agora de uma dúzia de potes. Não, espere um minuto, quero duas dúzias, se eu receber um desconto adequado. — Ela balançou suas sobrancelhas grossas para fazer sua sugestão clara. Eu entendi. Tão generosa quanto simpática. — Eu vou enviar algumas com a minha sobrinha que vem me visitar amanhã. Ela pode dividir com o resto da família.
— Sua sobrinha Geórgia? — Eu perguntei, liderando o caminho para o canto de trás até a cabine pequena que ficava lá, com seu dossel de tecido azul meia-noite. Nós preferimos nos revezar fazendo leituras em particular. Tulipa era a melhor na interpretação dos sonhos, Estrela no tarô e eu em rastrear objetos perdidos. Estrela, nossa residente amante de glitter, adicionou uma estrela de ouro extragrande sobre a entrada, claro.
Nossa cliente estava em boa forma naquela manhã. Seu vestido de cintura alta azul marinho impecável mantinha sua ampla figura justa e sua coroa dura de ondas pretas tingidas estava alinhada em linhas rígidas. Seus olhos cinzentos semelhantes aos de um lobo me assustavam, eu admito. A mulher estava sempre procurando por falhas ou algo para reclamar. Ela se sentou e colocou as palmas das mãos para cima na pequena mesa de madeira. Havia rumores de que ela era a pessoa mais rica do Lago Nevado, embora nunca tivesse tido muitos clientes em sua loja. Deve estar vendendo suas antiguidades online. Móveis usados venderiam melhor no Lago Nevado.
— Estou com pressa. Vamos logo com isso.
— Apenas pense sobre o que você perdeu.
— Eu sei o que fazer.
— Claro — murmurei, ignorando sua impaciência. Respirando fundo, coloquei minhas mãos sobre as dela. Eu respirei fundo novamente, depois soltei o ar, ignorando qualquer coisa que estivesse na minha mente.
Eu fechei meus olhos e esperei. Saindo da escuridão, uma imagem apareceu, desfocada no início, então mais clara, enquanto se tornava em algo reconhecível. Uma corrente espessa de pérolas brancas suaves. Onde você está?
A imagem expandiu para fora e para cima, como a abertura de uma câmera se abrindo, expondo um conjunto de gavetas de cômoda e um pedaço de carpete bege. Calafrios passaram pelos meus antebraços, adicionando uma vibração estranha. Eu tremi e puxei minhas mãos para longe das dela com medo. Outras vibrações estavam chegando pelo canal que tinha sido aberto, sem parar, embora a conexão tivesse sido cortada. A sensação me acertou com tal força que agarrei a borda da mesa para me manter ereta. Isso foi novo. Claro, sempre senti algumas vibrações ruins vindo dela, eu acho que todo mundo sentia, de acordo com a fofoca que eu tentava ignorar — mas nada tão intenso.
— Elas caíram através de uma rachadura na parte de trás da sua cômoda entre o carpete e a parede. — Meus lábios estavam endurecidos de pavor, as palavras saindo estranhas e agudas.
— Você tem certeza? — Ela perguntou, seu tom cético, seus olhos redondos perfurando os meus.
Me esforcei para manter a calma, não querendo que ela visse o estado em que eu estava. Ela era como um gato selvagem perseguindo sua presa. Eu tremi. — Tanta quanto eu posso ter.
— Você não se importa de esperar, então, até eu verificar antes de pagar você? Isso vai lhe dar tempo para considerar um desconto adequado para a geleia.
Eu me contorci com sua condescendência, suor escorrendo pelas laterais do meu corpo. Uma alma velha tão adorável. Mas isso manteve minha mente longe da experiência indesejada.
— Sem problemas. Mesmo acordo de sempre. — Eu fingi indiferença, incerta do que tinha acabado de ocorrer, e rezando para que nunca acontecesse novamente. Algumas vibrações negativas eram uma coisa, mas isso tinha sido algo muito mais poderoso. E assustador.
— E entregue a geleia assim que estiver pronta. Oh, pensando melhor, vou levar um pote agora.
Eu dei um breve aceno com a cabeça. Ela se levantou e eu ouvi vagamente ela ordenando que Estrela levasse a geleia. Eu fiquei na cabine, mastigando a unha do meu polegar. Algo de ruim vai acontecer? Eu nunca tinha tido uma premonição de tal magnitude. Elas eram geralmente algo como alguém ligando e então o telefone tocando um minuto depois, e era esse alguém. Isso, seja o que for, não tinha senso de direção, apenas uma sensação esmagadora de pressentimento. Certo. Deixe para lá. Eu tinha coisas para fazer.
1 Los Angeles.
2 Veterinário.
Capítulo Três
Depois de pegar um monte de baldes brancos reciclados de sorvete com alças úteis de debaixo de um balcão para coletar as bagas, eu saí pela porta da frente do café. Parei bruscamente e cutuquei o fundo da minha cabeça. Como posso ter esquecido? Deve ter sido a conversa sobre aqueles malditos comestíveis. Ignorei a outra parte mais escura, já que um dos meus lemas era, não pense nisso e isso vai sumir. Eventualmente.
— Volto de noite. Tranquem esta porta. Se começarmos a vender no nosso dia de folga, nunca o conseguiremos de volta. E eu espero que esteja tudo perfeito para as boas-vindas da vovó — prestem atenção! E não se esqueçam, ainda precisamos de mais biscoitos de manteiga de amendoim e cupcakes de creme de chocolate para o Festival da Vizinhança de amanhã. Ah, vou trabalhar no tombo molhado1 das uma às duas, então vocês terão que fazer sem mim.
Por que eu concordei com isso? Agora eu seria um rato molhado durante a maior parte da tarde. Por causa do orçamento de Natal da cidade, é por isso. Mas pelo menos eu não tinha que beijar uma mula como a moça do correio fez. Ela já levantou mil e quinhentos dólares, o que era bastante impressionante para a nossa cidade pequena. Encharcar uma McCall não valia tanto.
— Sim, sim, capitã. E tenha cuidado, Montana Jones avistou um enorme urso-negro quando ela estava colhendo ontem. — O sorriso fácil de Tulipa foi rapidamente seguido pelo olhar perfurante de Estrela. Embora as duas fossem idênticas na aparência, elas não eram nada parecidas na personalidade. E eu era a garota estranha, tendo sido gerada de um óvulo separado — ou universo, aparentemente. Nós nem parecemos ser parentes. As gêmeas eram loiras, bronzeadas lindamente e tinham olhos azuis-claros, enquanto eu tinha cabelos de ébano com olhos violetas e lábios naturalmente vermelhos. Vovó Toogood gostava de dizer que eu a lembrava de Elizabeth Taylor e Branca de Neve. Agora, se eu apenas tivesse sete pessoinhas para me ajudar…
Eu não ouvi as palavras murmuradas de Estrela, e provavelmente era melhor assim. Dei uma rápida olhada nas duas direções da Rua Principal, admirando como todos tinham aderido este ano ao novo conselho da cidade para dar um charme de velho mundo às fachadas das lojas. Floreiras, pavimentação de paralelepípedos vermelhos, luzes de rua antigas com plantas suspensas, bancos de ferro forjado com placas prateadas complementando o negócio que os havia doado, e barris vermelhos brilhantes para lixo deram à cidade um visual que eu declarei como perfeito.
Balançando meus baldes, fui para o meu Jeep Cherokee enferrujado — também conhecido como Thor — que troquei com um velho caçador no ano passado. Quando joguei os baldes na parte de trás, liguei o motor e fui para os limites da cidade, a poucos quarteirões, no final da Rua Principal e da Sexta Avenida. O Lago Nevado era uma cidade compacta, ganhara apenas alguns poucos moradores na última década, e tinha perdido quase o mesmo. Eu me virei para a trilha estreita que levava à floresta.
Eu sacudi pelo caminho irregular, acompanhada pelas alças de metal dos baldes tinindo alegremente por causa do balançar da viagem, a suspensão desgastada do jipe gemendo e rangendo com o esforço. A falta de um rádio não me preocupava. Cantei um refrão energético, pensando no meu segundo cantor country favorito depois da minha irmã, o primeiro e único Johnny Cash.
— Nos casamos num frenesi, mais quente que um broto de pimenta. Estivemos falando sobre Jackson, desde que o fogo se foi. Estou indo para Jackson, vou aprontar. Sim, eu estou indo para Jackson. Cuidado, cidade de Jackson.
Cantar era uma maneira de alertar os ursos-negros de que eu estava em seu território, embora isso não queira dizer que eu não carregue meu próprio spray de pimenta caseiro feito de essência extra picante de pimenta, preparado no fogão da cozinha no último inverno.
Parei ao lado da trilha perto da minha área de coleta favorita, desliguei a ignição e pulei do jipe.
Ah, natureza. Uma águia careca voando no alto combinava perfeitamente com meu humor. Ele voou majestosamente contra os azuis suaves do céu do meio do verão, sua coroa branca uma prova de seu reinado contínuo. Colocando as pernas da minha calça dentro das minhas botas — eu realmente odiava carrapatos — eu me pulverizei com repelente de insetos e caminhei até o primeiro arbusto de saskatoon. A grama seca sussurrava com meus movimentos, e eu espirrei alto por causa do ataque aos meus nervos olfatórios. Três espirros altos. Meu nariz ia ficar vermelho como uma beterraba. Parando um segundo para assoar o nariz com um lenço, apertei mais meu rabo de cavalo alto e observei a colheita deste ano que eu estava de olho há semanas. Ahá, cheguei antes dos ursos este ano.
Me certificando de que o spray de pimenta estava preso no meu cinto, comecei o trabalho pegajoso de remover a recompensa abundante. Continuei cantando para alertar a vida selvagem — era melhor do que uma buzina a ar — trocando de Jackson para Sunday Morning Coming Down de Kris Kristofferson. Embora Estrela fosse deitar e rolar com algumas das referências de drogas na letra, eu adorava a melodia solitária do poeta bardo.
— Porque há algo no domingo, que faz com que um corpo se sinta só. E não há nada mais solitário, isso é metade da solidão do som. Das calçadas adormecidas da cidade, e o domingo está chegando ao fim.
Menos de duas horas para encher quatro baldes. Inacreditável. Eu teria galões de frutas azedas e roxo escuro no final do dia. A colheita deste ano se transformou em nossa marca mais vendida de geleia e traria uma doce quantia de dinheiro. Eu arrastava cada balde de volta ao jipe quando os enchia, não querendo derrubá-los acidentalmente e derramar seu precioso conteúdo na sujeira.
Então houve um barulho alto de galhos quebrando. Droga, companhia indesejada. Meus dedos agarraram a garrafa de spray na minha cintura. Esperei por outro som para me alertar da direção do intruso. Com o sol nos meus olhos, eu os apertei para verificar a paisagem, girando minha cabeça para frente e para trás.
Lá.
Eu vi o movimento de uma criatura ereta extremamente grande vindo na minha direção, passando através do matagal grosso e da cobertura elevada, como se tivesse apenas uma intenção — me fazer mal. Eu não me importei se era um enorme urso-negro ou o lendário Pé Grande. De qualquer forma, eu atacaria primeiro, com a faca afiada escondida na minha bota se chegasse a isso. Pulverizei a substância nociva do quadril, direcionando o grande fluxo do meu cinto.
Houve um grunhido alto de surpresa. — Aii, por que você fez isso? — Mais gemidos de agonia humana se seguiram.
Oops.
Para fora dos arbustos tropeçou um homem muito grande — não o Pé Grande, mas bem perto disso. Vestido em um blusão preto, jeans negros e botas de combate extra-grandes, ele usava um Stetson preto muito agradável, acompanhado por uma grande careta. E oh minha nossa, quando ele me prendeu com um olhar de seus assombrosos olhos castanhos sob aquele chapéu espetacular de garoto malvado, minhas entranhas deram um pulo. Uau.
— Oh minha deusa! Eu sinto muito! Pensei que você era um urso-negro. Se eu soubesse que você era — bem você, eu nunca teria pulverizado.
O alto pedaço de homem estava ocupado demais lavando o rosto com uma garrafa de água para me dar uma resposta. Esperei, mastigando meu lábio inferior e desejando poder afundar no chão. Mas quem andava fazendo barulho pelos arbustos de maneira tão óbvia? Um urso, é claro. Um predador terrestre sem medo de ser humanos e querendo dar uma mordida em mim.
— Senhora, eu estava vindo para alertá-la. Um urso foi avistado perto daqui. Eu a ouvi gritando e pensei que você poderia estar em apuros. Não esperava ser pulverizado com spray de pimenta por causa disso.
Olhei em volta com cautela. Talvez fosse hora de voltar para a cidade e trazer um grupo de pessoas para coletar bagas outro dia quando eu poderia colocar alguém para manter vigia. Eu tinha enchido quatro baldes. Não é muito ruim.
Espere.
O que ele acabou de dizer?
— Eu não gritei. Eu estava cantando. E com certeza isso é melhor do que se jogar no arbusto como o Pé Grande.
— Se você diz, querida. — Aquilo foi um brilho nos olhos dele? O resto de seu lindo rosto permaneceu inescrutável, me fazendo sentir borboletas na barriga novamente. Ele chegou mais perto e o fedor acre do spray de proteção em suas roupas fez meus olhos arderem com simpatia. Nossa.
Ele viu minha careta. — Não é um odor tão agradável de estar perto, concordo. Sou o oficial Ace Collins, à propósito.
— Da PRMC2? — Minha voz saiu em um guincho alto. Droga. De todas as pessoas que eu poderia ter borrifado, como consegui um homem da lei? Ele deve ser novo na cidade ou eu já teria ouvido falar dele. As notícias viajam mais rápido do que a velocidade da luz por aqui. Não é ruim, considerando que a luz viaja 299,792,458 metros por segundo e leva oito minutos e dezessete segundos para nos alcançar do sol. Eu amo fatos curiosos.
— Peço desculpas. — Eu dei a ele a minha melhor cara de desculpas. — Mas com você trovejando pelo arbusto, eu realmente pensei que você fosse um urso. Diabos, você é grande o suficiente para ser um.
— E você é? — Nem uma sugestão de um sorriso naquele rosto sério. Aposto que ele tinha todos os criminosos prontos para se renderem. Um olhar para os ombros musculosos extra-largos e para a mandíbula de granito e eles desistiriam.
— Encanto McCall. Minhas irmãs e eu administramos o café Chá e Tarô na Rua Principal.
— Bem, Encanto McCall, acho que é melhor sairmos daqui. Lá vem o urso. — Ele apontou para uma forma grande que avançava, apenas visível nos cantos dos meus olhos.
— Oh, droga! — Ativei o modo de sobrevivência. Corra. Nunca se finja de morto para um urso-negro — eles vão achar que você decidiu se tornar um lanche de alta proteína. Dei um salto para dentro do jipe em tempo recorde. Uma explosão de atividade do meu lado direito provou que o homem da lei teve um pensamento rápido parecido. Liguei o motor, engatando a marcha do veículo.
— Se segure!
Nós viajamos em alta velocidade durante alguns minutos insanos antes de chegarmos na estrada principal de volta para a cidade. Aliviei meu pé no acelerador e olhei para o meu passageiro. Ele parecia um pouco pálido.
— Você está bem?
— Sim, claro. — Ele soltou os dedos do painel e endireitou o chapéu que havia caído para frente. — Você sempre dirige assim?
— Não. Somente quando um urso quer um pedaço da minha bunda. — Olhei para ele e o peguei me checando. Ele parecia ter vinte e poucos anos. Sim. Perfeito.
— Você deveria vir para o café. Tome um pouco de café e uma sobremesa por conta da casa. Eu te devo — pela resposta rude à sua tentativa de me ajudar.
— Desculpe, hoje não. Talvez outra hora.
Decepcionada, fiz a curva para a Rua Principal. Com o cheiro do spray de pimenta se dissipando, eu podia detectar uma fragrância diferente por baixo. Um cheiro amadeirado fresco. Bom. Cheirar bem sempre é algo bom.
— Onde posso deixar você?
— No destacamento. Vou voltar para buscar minha caminhonete mais tarde. De qualquer maneira eu preciso entrar.
— Certo. — Fiz a curva no Tesourada com sua tesoura enorme empoleirada no telhado. Tinha até uma história, de quando o estranho artefato tinha caído na calçada durante uma tempestade de gelo anos atrás. Ela havia sido fixada de forma mais segura desde aquilo, graças à deusa. O salão de beleza ficava ao lado do nosso café e era bem movimentado. Parei na primeira entrada de garagem à direita. — Você gosta de música country? — Perguntei quando ele saiu do banco da frente.
— Sim, claro. — Ele me deu um olhar questionador, fechando a porta barulhenta do passageiro. Duas vezes. Ela nunca fechava na primeira tentativa.
— Ótimo. Venha ao Botas e Renda hoje à noite. É a noite dos homens. A primeira bebida é grátis. E minha irmã Estrela vai cantar, o que é algo incrível.
— Você tem mais família na cidade? — Ele descansou a mão na parte de cima da janela aberta do jipe. Ele se curvou para ficar da minha altura, seu belo rosto preenchendo o espaço de uma forma alarmante.
— Sou uma de três trigêmeas. A mais velha por um dia, então estou no comando.
— Eu aposto que você está — ele murmurou.
— Desculpe, eu não ouvi.
— Eu disse que adoraria ir.
— Excelente! Eu te apresentarei à cidade. Este é seu primeiro trabalho?
— Não. Passei três anos em Vancouver após completar meu mestrado em criminologia.
— Sério? Eles mandaram um homem com suas credenciais para cá? Sem ofensa, oficial, mas o Lago Nevado não é um centro de crime. O que você fez?
— Aparentemente, minha atitude notável em ajudar os outros que não viam o quadro completo durante a aplicação da lei não era o bônus que eu esperava que fosse.
— Não é a primeira vez que alguém foi rebaixado por saber demais. Detecto um pouco de sotaque do sul na sua voz?
— Culpado da acusação. Passei minha infância em Lexington, Kentucky, antes que meus pais, eu e meus dois irmãos nos mudássemos para o Canadá. Meu pai é um professor universitário e minha mãe é uma cientista especializada em virologia.
— Impressionante. Bem, amanhã é o Festival da Vizinhança, o que significa que você pode se vingar de mim pelo spray de pimenta. Vou ficar no tombo molhado.
— Sério? — Um sorriso genuíno apareceu. — Que horas?
— Ah, das uma às duas.
Ele parecia inteiramente presunçoso agora.
— Sabe, eu poderia ter levado você de volta ao seu veículo. — Estreitei os olhos, pensando em uma viagem de volta para depositar a doce bunda dele nas proximidades do grande urso-negro.
— Não, obrigado. Eu valorizo meu pescoço.
E com aquela última frase, ele saiu confiante, todo alto e forte para a entrada da frente do destacamento, exatamente como Marshall Raylan Givens do programa de sucesso, Justified que vovó e tia T.J. insistiram em comprar todas as temporadas em DVD. Exibido.
Fiz uma volta abrupta, aproveitando a nuvem de poeira que meus pneus grandes demais jogaram no edifício baixo que abrigava toda a força policial de um dígito da cidade, depois acelerei pela curta distância para casa.
Pegando um balde de bagas em cada mão, bati na porta da frente com a minha bota. Tulipa a abriu. — Há mais dois no jipe — grunhi passando por ela para depositar as frutas em uma mesa para clientes.
Estrela apareceu já vestida para o show da noite no Botas e Renda.
— Você está bonita — eu disse, admirando o vestido de cowgirl branco com franja e as botas de couro vermelhas.
— Você acha! — Ela girou, fazendo a franja dançar.
— Terminou a fornada?
— Ah, sobre isso…
Eu gemi alto. — Não me diga.
Tulipa voltou com os outros baldes de bagas, passando seu olhar entre nós e entendeu o que estava acontecendo.
— Eu vou ficar e terminar os biscoitos.
— Você queimou uma fornada de novo? — Fixei meu olhar em Estrela. — Se você tiver queimado, você vai ficar e terminar. Não Tulipa.
— Eu não tenho tempo. Tenho que ir até o hotel. Jerry ligou e disse que precisa de ajuda com a passagem de som.
— E sua família não precisa?
— Não foi minha culpa. Fiquei ocupada com um cliente e…
— Eu te disse para manter o café fechado. — Estrela nunca escutava.
— Você disse que precisávamos do dinheiro! E a pessoa comprou mais de cem dólares em cristais e cartas de tarô. Até um livro de feitiço dos mais caros. — A expressão de Estrela ficou assassina, como a música dela sobre Johnny do Lago Nevado.
— Estrela. — Balancei a cabeça. — Ok, saia daqui. Tulipa e eu vamos lidar com isso.
Ela me deu uma apunhalada final com os olhos irritados, saindo zangada pela porta da frente.
— O coração dela estava no lugar certo — Tulipa murmurou, apenas fazendo minha culpa ficar mais profunda.
— Sim, eu sei. Vamos lá, nós temos biscoitos para assar e bagas para limpar. E eu quero ver pelo menos um dos números de Estrela hoje à noite. Eu convidei alguém.
— Mesmo. Quem?
— O novo policial da cidade. Ace Collins. Acabou de chegar.
— Legal. Deve ter sido no fim desta tarde então. — Tulipa olhou para o relógio na parede, um dos meus favoritos, com sua imagem alegre de um galo cantando sobre o tempo. — A última atualização que recebi da tia T.J. foi às quatro e meia. Uma hora atrás.
— Provavelmente tirou uma soneca. Eu esperaria uma ligação a qualquer momento.
Assim que eu falei, o telefone tocou.
Tia T.J., apelido para Tegan Jane, vivia na Rua do Telégrafo, ao lado da biblioteca da cidade. Eu amo a casa dela, feita no estilo gingerbread3 com toques extravagantes como almofadas bordadas com provérbios antigos que aquecem o coração. Ela era a irmã mais nova da vovó por uma década, e pela reação de Tulipa, não precisava de um paranormal para saber que ela estava ligando.
— Tia T.J.. Claro, Encanto acabou de me dizer.
— Diga a ela que ela está falhando — eu provoquei. Arrastei as bagas para a cozinha. Se eu trabalhar como uma louca, posso terminar a tempo para um banho rápido e a segunda música da Estrela.
Três horas suadas depois, as bagas estavam no refrigerador e uma fornada enorme de biscoitos de manteiga de amendoim estava empilhada em bandejas de plástico transparentes.
— Você quer fazer o Feitiço Kismet? — Perguntei a Tulipa.
— Não, não tenho muita energia sobrando. Você faz.
— Agradecemos por esta recompensa da terra sagrada. Que este alimento seja seguro e nutritivo para todos os que o consumam e os abençoem à saúde ideal, dando energia, vigor e bem-estar. — Enviei minhas intenções positivas para o universo, visualizando o fluxo como um círculo de amor, apreciando o puxão no meu espírito.
— Droga, nós não abençoamos o pote de geleia que a Sra. Hurst levou. — Eu franzi a testa para Tulipa, não gostando da omissão.
— Vai ficar tudo bem, Encanto. Estou indo para casa me trocar. Vejo você lá. — Tulipa tirou o avental e saiu do café. Eu me arrastei passo a passo até as escadas de trás para a minha suíte e olhei para a porta fechada de Ivana. Um passo rangeu sob o meu pé e me encolhi, parando no meio do movimento. Eu rezei.