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ANTIAMERICA
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Ela olhou para o lado. Cada centímetro da parede estava pintado no mesmo cinzento monótono e deprimente. Ele pegou na caneta com um sorriso afetado. "Os seus pais foram dados como mortos. Tem alguém que gostaria que contatássemos? Um amigo ou familiar?"

“Não.”

“Lamento ouvir isso. Deve ser difícil… uma rapariga da sua idade a viver sozinha.”

A última coisa de que ela precisava era deste tipo a ter pena dela. “Tem muita experiência com raparigas da minha idade?”

“Na verdade, a minha filha mais velha é alguns anos mais nova do que você.”

Quando os cantos dos lábios dele se suavizaram num sorriso, ela fez um esforço consciente para não retribuir com qualquer sinal de emoção. O silêncio fugaz foi quebrado quando a rabo-de-cavalo surgiu com um blusão azul-escuro sobre a sua camisa branca de mangas compridas. Mascava uma pastilha elástica enquanto passava pela mesa e ia para o fundo da sala.

O tipo fez um gesto na sua direção enquanto mantinha contato visual com Alanna. “Suponho que já conhece a agente especial da FCCU, Sheila McBride.”

Ele lançou um olhar rápido à agente, que ela ignorou. “Desculpe, começámos sem si.”

A mulher descansou contra a parede, amuada, com as duas mãos nos bolsos do casaco. Tinha todas as qualidades de uma maníaca por controlo. Alanna percebeu isso pela forma como esta agente McBride dava ordens no momento da sua detenção. Também estava bem familiarizada com o brilho penetrante que a agente lhe lançou na altura e agora. Durante toda a sua vida cresceu em torno de pessoas que a rotularam de delinquente. Respondeu com um sorriso largo e zombeteiro.

O agente dos Serviços Secretos acenou com a mão para chamar a atenção dela. “Então, quer nos dizer o que estava a fazer naquele prédio? Ou porque fugiu dos agentes da FCCU que a abordaram?”

Ele pressionou as pontas dos dedos, enquanto ela descansava os ombros contra o encosto da cadeira.

“Importa-se de nos dizer como chegou lá? Localizámos o seu carro no seu apartamento.”

Ela cerrou a mandíbula. Se eles não sabiam do Brayden, com certeza que ela não lhes iria dizer. A agente McBride avançou para a mesa. Definitivamente ainda estava dorida do empurrão fora do apartamento de Javier. A hostilidade corria para os ambos os lados. Alanna nutria pouca simpatia pelas pessoas com quem se cruzava. Especialmente tipas com atitude. Ela atribuiu isso aos anos de raiva reprimida de viver com uma figura materna disfuncional. O suficiente para durar uma vida inteira.

A agente McBride inclinou-se de forma ameaçadora. “Adivinha o que descobriram no teu portátil após uma busca judicial ao teu apartamento?”

Os dados dos seus ataques de phishing – o maior campeão de vendas de todos os seus golpes. Ela enviou montes de e-mails que pareciam vir do Instagram, Facebook ou qualquer outra fonte amplamente confiável. Alguns alvos desavisados os abririam, clicariam nos links da mensagem e inseririam as suas informações pessoais em páginas falsas da web que ela criou.

Ela baixou o queixo antes de responder. “O Minecraft?”

Os olhos azuis da agente McBride se estreitaram. “Informações pessoalmente identificáveis. Roubo de identidade. Resistência à autoridade. B&E1. Você está prestes a fazer o sortudo de um procurador federal muito feliz.”

A pulsação de Alanna disparou. A maioria dos dados estava encriptada no seu servidor privado. Exceto os e-mails que ela enviou esta manhã. Poderia ter sido mais cuidadosa, mas não contava com uma emboscada dos federais ao início da tarde. Se não estavam a fazer bluff, ela estava tramada. Mas ela não cometeria o erro de mostrar algum sinal de pânico. O jogo da agente McBride era entrar no seu psicológico. Alanna suportara ser a vítima tantas vezes, que isso já não a incomodava mais.

Ela mudou sua atenção para o agente Palmer. O tipo devia estar na casa dos quarenta.

As rugas começavam a aparecer no seu rosto. “Quero um advogado.”

“Tem um advogado a quem possa ligar? Se não, terá que esperar horas até que o tribunal lhe atribua um.”

Ela franziu a testa para a sua pequena tentativa de intimidação. “Eu espero. Até lá, não vão conseguir arrancar nada de mim.”

Ele interrompeu a agente McBride antes que ela pudesse ripostar. “Tudo bem. Não fale. Primeiro vai ouvir o que temos a dizer?”

“Esteja à vontade.”

Ele abriu a pasta e, em seguida, meteu-lhe um papel debaixo do nariz. “Está familiarizada com este grupo?”

Ela reconheceu imediatamente a captura de ecrã. No topo havia uma bandeira vermelha e preta da anarquia com uma estrela no centro. Por baixo havia uma imagem a preto e branco do Che Guevara — a que ela viu nas t-shirts. O Javier não ficou muito contente ao ver o rosto dele quando Brayden mostrou aquele site pirateado.

Ao lado da imagem havia uma citação: “Está na hora de se livrar do jugo, forçar a renegociação de dívidas externas opressoras e forçar os imperialistas a abandonar as suas bases de agressão.”

Ela rolou a cabeça sobre o ombro esquerdo. “Sim. Eu conheço o AntiAmerica. Eles estão nas notícias todos os malditos dias.”

Não que ela estivesse de olho por vontade própria. Fora submetida a repescagens não solicitadas e a comentários de cortesia por Brayden. Hacktivista de longa data e apoiante incondicional das causas sociais na Internet e profetante de discursos anticapitalistas. Assim que ele começou a perceber como “o sistema é manipulado para que os ricos explorem as massas,” ninguém o conseguiu calar.

O agente Palmer pegou na página da captura de ecrã e abanou-a enquanto a sua parceira andava de um lado para o outro no canto. “Isto era o site do Nexus Bank após o primeiro ataque do AntiAmerica no 1º de maio – Dia do Trabalhador – a comemorar os ataques da Ameaça Vermelha de 1919 há um século atrás. Seguido por ataques contra o Domínio e a Primeira Regência. Os três maiores bancos do país pirateados nos últimos dois meses.”

Os agentes agiam como se o seu discurso fosse relevante para ela. “É por isso que estão aqui os dois a falar comigo?”

O agente Palmer assentiu com a cabeça. “A agente McBride e eu fazemos parte de uma força-tarefa interagências designada para os investigar.”

“Bom para vocês.”

“Qual é a sua opinião sobre o AntiAmerica?”

Os ouvidos de Alanna já estavam fartos do som da agente McBride a mascar a pastilha elástica no canto da sala. “Não tenho uma. Estou-me a borrifar. Qual é a sua?”

“Eles não são hacktivistas que lutam por causas como um LulzSec2 ou NullCrew3. São anarquistas. O objetivo final deles é deixar este país de rastos. E quanto mais seguidores atraem, mais perigosos se tornam.”

Desde que o AntiAmerica fez um post online de um manifesto após o primeiro ataque, que eles andavam a reunir todos os anarquistas mais reservados em fóruns, salas de bate-papo e no Twitter. Ela não fazia ideia de quantos. Mas sempre que ligava a TV, eram abundantes as notícias sobre novos protestos que surgiam nas principais cidades do mundo.

“Ok. Melodrama à parte — o que tem isto a ver comigo?”

Ele inclinou-se para trás e juntou as mãos. “Conhece um hacker chamado Paul Haynes?”

Alanna apoiou o pescoço nas costas da cadeira. O facto de os federais terem mencionado o nome de Paul significava que sabiam que ele era um chapéu preto. Ela teria de ser mais cuidadosa. Sem saber que provas eles tinham que a ligava a Paul, não poderia ser demasiado óbvia ao negar qualquer ligação a ele.

Ele inclinou a cabeça. “Pode responder a uma simples pergunta de sim ou não. Conhece-o ou não?”

O silêncio só consolidaria a sua culpa nas mentes deles. Talvez se ela respondesse, ele finalmente fosse direto ao ponto. “Conheço. Mas não muito bem. Conversámos algumas vezes.”

“Quando foi a última vez que falou com ele?”

“Há alguns meses. Porquê?” Era melhor fazê-lo passar por conhecido. Já estava em apuros pelos seus próprios crimes sem se filiar aos dele.

“O colega de quarto dele foi encontrado morto.”

O estômago de Alanna deu um nó enquanto ela se contorcia no seu assento. Os dois agentes estudavam a sua reação com interesse — ela teve de controlar as emoções. Mas não podia deixar de sentir pena de Paul. Não importava o que pensava dele, não podia suportar a ideia do quão doloroso devia ter sido essa perda.

“Íamos trazê-lo há algumas semanas para discutir um exploit que ele criou e que foi usado no primeiro ataque do AntiAmerica. Os agentes enviados ao seu apartamento em South Beach encontraram o corpo do colega de quarto. Tinha sido amarrado, espancado e estrangulado.”

Ela mordeu o lábio inferior. “Caramba. Nunca conheci o colega de quarto dele. Mas o Paul sempre pareceu ser um tipo porreiro. Acham que ele o matou?”

“Não sabemos. Mas ele é com certeza um potencial suspeito, visto que desapareceu na época do assassinato do colega de quarto.”

O Paul e o Terry eram um casal — não colegas de quarto. Mas os federais não saberiam isso por Alanna. Mesmo que ela não estivesse a afastar-se de Paul, não havia quem mais apreciasse manter a vida privada em segredo do que ela. Ela agarrou-se ao estômago por baixo da mesa. Ele falara sobre a relação de ambos como se tivesse encontrado o amor da sua vida. Ela estava cética de que tivesse terminado em tortura e homicídio.

O agente Palmer inclinou-se para a frente no seu assento. “Onde o viu pela última vez?”

“No Mechlab.” O hackerspace local. Um centro recreativo/ biblioteca/ oficina/ laboratório de informática. Paul foi uma das primeiras pessoas que ela conheceu quando se tornou cliente habitual há alguns anos. Brayden e Javier conheciam-no há mais tempo.

“Tem alguma informação sobre onde podemos encontrá-lo?”

“Lamento. Não o tenho visto ou ouvido falar dele.”

A agente McBride interrompeu: “E o Javier Acosta? Quando foi a última vez que o viu ou ouviu falar dele?”

Alanna olhou para ela, mas ela estava camuflada pelas sombras no canto. “Javier? O que tem ele a ver com isto?”

O rosto presunçoso da agente da FCCU apareceu. “Ele está desaparecido há algumas semanas, não é? Ele também não é amigo do Paul Haynes — que desapareceu na mesma época?”

Merda! Os federais andavam atrás do Javier. Estavam a vigiar o apartamento dele — não ela.

A agente McBride inclinou a cabeça até que os seus olhos estivessem alinhados com os dela. “Alanna? Javier Acosta — o que nos pode dizer sobre o seu desaparecimento?”

“Ele nunca faria mal a ninguém — ou juntar-se-ia ao AntiAmerica.”

“A vulnerabilidade explorada pelo AntiAmerica contra o Nexus Bank foi descoberta pelo Paul — e pelo Javier. Está a dizer que é uma coincidência?”

Se os feds vasculharam o apartamento de Javier significa que o consideram suspeito dos ataques AntiAmerica. Manter o silêncio já não era uma opção. Ela tinha de atestar a inocência dele. Ou pelo menos apontar a culpa noutra direção. “O Javier é um hacker ético. As empresas pagam-lhe para consertar os seus erros. Ele não as rouba.”

A agente McBride pavoneou-se até à ponta da mesa. “Ele investiga vulnerabilidades de software e invade redes corporativas por dinheiro. Soa mesmo muito aos hackers do AntiAmerica.”

“Falem com o Paul. Provavelmente foi ele. Ou talvez ele o tenha vendido para seu proveito.”

O agente Palmer enfiou a cabeça entre a linha de visão das duas. “Mesmo que isso seja verdade, gostaríamos de entrevistá-lo. Mas ele desapareceu, por isso pedimos-te que preenchas as lacunas. Ele alguma vez expressou insatisfação com alguma instituição financeira? Ou apoio pelo AntiAmerica?”

“Não. O Javier não é um hacktivista. Ele não se importa com política. E nunca cometeu um crime na vida. Sabem a diferença entre um hacker de chapéu branco e um de chapéu preto, não sabem?”

O pedaço de pastilha elástica verde rodou na boca da agente McBride. “Se o conhece tão bem, porque invadiu o apartamento dele?”

Alanna dirigiu o seu olhar errante para longe do teto. As luzes ofuscantes no teto faziam com que visse manchas. “Fomos namorados. Ele não estava a atender o telefone. Passei pela sua casa. Ele não respondeu. Fui embora.”

A agente da FCCU abanou a cabeça e deu uma risada. “Mentir só faz com que acreditemos que tem algo a esconder. Quer falar-nos sobre todos os dados encriptados no seu disco rígido? Há alguma coisa lá que esteja relacionada com o AntiAmerica?”

Alanna conteve uma risada. “Acredita mesmo que estou envolvida com aqueles anormais? Vocês devem estar mesmo desesperados.”

Agente McBride agarrou-se à mesa com tanta força que os nós dos seus dedos começaram a ficar brancos. “O seu ato poderia ser mais convincente — se já não tivéssemos provas de que você roubou dados que não lhe pertencem.”

“Vou dizer-lhes com toda a franqueza: jamais me envolveria com o AntiAmerica ou qualquer outro bando de malucos. Procurem o quanto quiserem. Não vão encontrar nada que me ligue a eles.”

“Talvez o teu namorado seja um membro do AntiAmerica. E tu sejas sua cúmplice.”

Alanna saltou da cadeira. “Você é surda? Não temos nada a ver com eles. Se você fosse realmente boa no seu trabalho, saberia que eu estava a dizer a verdade.”

“Vou-lhe dizer o que eu sei.” A agente da FCCU avançou na direção de Alanna, batendo com o seu dedo indicador no rosto dela. “Tu és uma ladra e uma mentirosa. Se não parares de te armar em idiota, vais acabar como uma criminosa condenada.”

"Eu sei o que se passa. O AntiAmerica está a fazer-vos passar por idiotas. Por isso é que querem prender o primeiro hacker que encontrarem.”

A agente McBride empurrou as mechas do seu cabelo para o lado. “Não te deixes iludir. És uma ladra de identidades. Achas mesmo que nos importamos com uma aproveitadora como tu?”

“Então porque continua a inventar tretas sobre mim e o AntiAmerica?”

"Queremos que nos fales do Javier Acosta. Que diabos fazias no apartamento dele? És o quê — a sua ex-namorada psicopata?”

Alanna olhou precipitadamente para a agente da FCCU. “O que me chamou? Estou farta de si…”

Ela atravessou metade da mesa antes que a Agente McBride a agarrasse pelo braço e a jogasse de costas contra a parede. Enquanto a agente sarcástica prendia o seu antebraço contra o esterno de Alanna, o seu hálito quente roçava o lado da sua bochecha. O agente Palmer colocou os braços estendidos entre as duas até ela ser forçada a se afastar. Alanna voltou para o seu lugar, sem tirar os olhos da agente McBride, que estava a reinar com a intervenção do seu parceiro.

O agente Palmer apontou na direção de Alanna. “Tenha calma. Não piore ainda mais as coisas para si.”

Ele tinha razão. Homicídio. Ataques a bancos. Os federais já haviam posto hackers na rua da amargura por muito menos. Não importava se Alanna não estivesse ligada ao AntiAmerica, a Javier ou a Paul. Ou que não tivesse o conhecimento de segurança de rede para executar os ataques. Os federais preocupavam-se em manter o público contente e conseguir promoções — não em prender a pessoa certa.

O agente Palmer voltou a sentar-se, enfiou a mão no bolso e bateu com um saco de plástico com o iPhone dela em cima da mesa. “Vamos diretos ao motivo de estarmos aqui. Você recebeu mensagens do Javier ontem e hoje. Há quanto tempo não o vê?”

“Há algumas semanas.”

“Todos que o conhecem dizem o mesmo. Ele desapareceu da face da terra. Faltou a todas as aulas. Ninguém sabe dele.”

“Foi por isso que estavam a vigiar o apartamento dele?”

Ele franziu os lábios. “Não tenho liberdade para compartilhar essa informação. Tudo o que precisa saber é que o Javier é suspeito.”

“Vocês não sabem onde ele está, por isso ele deve andar a atacar bancos pelo AntiAmerica, não é?”

"Tudo o que queremos é que ele apareça e fale connosco, para que possamos eliminá-lo como suspeito. Se ele é tão inocente como você diz, não há problema.”

A perna dela tremia por baixo da mesa. “Querem que eu o encontre por vocês.”

“É assim: nós temos provas suficientes da sua pequena operação de phishing para a prender. Felizmente para si, precisamos falar com o Javier. Já que você é a única pessoa com quem ele se comunica, você é a nossa única pista. Queremos que fale com ele e nos ajude a trazê-lo para ser interrogado.”

“Estou livre se denunciar o Javier?”

“Estamos a oferecer que todas as acusações sejam retiradas sob a condição de que você trabalhe como informante confidencial até que os seus termos de serviço sejam cumpridos. Começará por rastrear a localização do Javier e qualquer informação em torno do AntiAmerica.”

Uma informante. Os federais dominá-la-iam. Ela passaria os seus dias a denunciar Javier e outros até que eles se fartassem dela. Poderia dizer adeus a todo o dinheiro dos seus esquemas. Por mais que Alanna não pudesse suportar o que lhe ofereciam, a alternativa era bem pior.

As pessoas destruir-te-ão se tu deixares.

Ela prolongou o silêncio antes de responder. “Digamos que eu vos ajudo. O que acontece se o Javier não for encontrado? Ainda fico livre?”

Agente Palmer abanou a cabeça. “Lamento. Não é assim que funciona. Para te ajudarmos, terás de nos ajudar na nossa investigação. Levando-nos até ele ou dando-nos informações que nos ajudem a encontrá-lo.”

A agente McBride aproximou-se até estar praticamente em cima dela. "Espero que digas que não. Pelas provas que vi, uma ladrazinha como tu não tem o direito de andar livre.”

O parceiro levantou-se do seu assento e aproximou-se do lado oposto da mesa. “Se disser não, estará a desperdiçar a sua vida. Por isso, pense bem antes de responder.”

O sangue de Alanna ferveu enquanto os agentes a encaravam. Recusar-se a ser o rato deles significava pôr as suas esperanças num juiz aleatório que tivesse pena de si. Caso contrário, o tempo de prisão e uma ficha criminal a destruiriam. Os chapéus pretos tinham de estar constantemente a vigiá-la contra delatores exatamente por este motivo. A maioria dos miúdos da sua idade deixar-se-ia dobrar ao menor indício de um período atrás das grades. Mal sabiam estes dois que ela tinha uma terceira opção em mente.

Ela fixou-se nos seus sapatos de couro preto para manter a aparência de pesar a decisão. “Tudo bem. Eu faço-o.”

O rosto do Agente Palmer iluminou-se. “Tomou a decisão certa. A agente McBride e eu vamos sair para tratar dos acordos. Alguém virá interrogá-la em breve.”

Ela mostrou um último sorriso afetado. “Mal posso esperar.”

Depois que ele saiu da sala, a agente McBride pairou sobre ela para lhe dar uma última palavrinha. “Ele pode ter-te deixado escapar, mas eu não. Se encontrarmos uma ligação entre ti e os ataques do AntiAmerica, o acordo fica sem efeito e tu vais para a prisão. Se chegarmos ao teu namorado sem a tua ajuda, tu vais para a prisão. O tempo está a passar.”

Alanna inclinou-se na cadeira assim que a porta se fechou atrás dela. Com alguma sorte, a sua cooperação a afastou dos holofotes. Não podia arriscar que a agente McBride ou os outros federais investigassem a sua vida mais a fundo. O Phishing não era o único golpe que usava. Se tudo corresse mal, eles não podiam saber sobre o trunfo que tinha na manga.

3

Drogas

Jessica Bright. Nascida em Birmingham, Alabama, a 3 de fevereiro de 2001. Carta de condução emitida aos dezasseis anos. Sem antecedentes criminais. Sem federais a vigiá-la. Era mais confiável do que Alanna Blake, ladra de identidades. Também não fazia ideia de que os seus dados pessoais haviam sido roubados de uma empresa de registos médicos aqui no Sul da Flórida.

Na palma da mão de Alanna repousava um cartão plastificado com o rosto e o nome de Jessica. No início desta tarde, ela apareceu na sua agência bancária local para limpar o seu stock de emergência. Do compartimento oculto na escova de cabelo do apartamento dela, ela removera a chave de um cofre do banco. A caixa de metal retangular continha tudo o que ela precisaria para recomeçar a sua vida: identidades e cartões bancários de Jessica, dinheiro extra, um telefone pré-pago, um portátil de backup e uma pen drive.

O stock foi originalmente deixado de lado no caso de as coisas correrem mal com a polícia ou com um dos seus clientes do mercado negro. Agora era um meio de esconder mensagens dos federais. A FCCU mantinha-a sob vigilância. Instalaram um spyware no seu portátil e iPhone, incluindo rastreamento GPS. Portanto, nada de e-mails privados, navegação na web ou chamadas com o seu iPhone ou portátil. Ela só podia se comunicar em particular através de telefone descartável, portátil de backup ou cara a cara.

Ela guardou o pré-pago no bolso e inseriu as identidades, cartões e dinheiro na sua carteira. O portátil de reserva ela deixou na sua mochila de couro castanha. Antes de conduzir para esta esquina, ela carregara o seu computador com um kit de software que comprou para esta reunião secreta. O resto do stock guardou no porta-luvas. Ela saiu do seu Toyota Corolla preto com sacolas na mão.

Duas filas de carros estavam paradas atrás de um semáforo vermelho. Ela deslocou-se por entre eles para atravessar a rua, em seguida, examinou a cena ao seu redor. Típica noite da semana em South Beach. O trânsito na Avenida Washington arrastava-se constantemente. Ainda não havia multidão fora dos clubes e lojas iluminadas por néon. As poucas pessoas nas calçadas estavam a cuidar das suas próprias vidas.

Ao que parecia, ninguém da FCCU a seguia. A agente McBride jurou que o seu pessoal estaria a vigiá-la o tempo todo. Alanna não tinha certeza se a declaração era verdadeira ou se se tratava de mais um dos seus jogos mentais. Uma coisa que a agente da FCCU deixou claro foi o quão pouco confiava nela. Alanna foi recordada desse facto até o momento em que foi deixada do lado de fora do seu complexo de apartamentos.

O único aspeto positivo foi que os federais deixaram o seu apartamento em muito melhor estado do que o de Javier. Uma vantagem de trabalhar como rato deles. Gostasse ou não, fazê-los felizes agora era o seu trabalho a tempo inteiro. Ela deixou mensagens a perguntar por Javier no telemóvel dele e dos pais dele, primos e amigos. Para manter as aparências de que estava a cumprir a sua parte do acordo.

Ela foi até à placa de rua e depois virou a esquina. O seu ritmo diminuiu quando a placa com letras cursivas num rosa-brilhante a dizer Feliz Acaso apareceu. Era início da noite. Não havia ninguém na fila fora do clube. O segurança musculado do lado de fora da porta afagou a sua equipa e endireitava o seu casaco de fato cinzento quando ela se aproximou.

Alanna tirou a carta de condução de Jessica da carteira. O gorila arrancou-lhe a identificação da mão. Ele segurou o cartão contra a luz de néon a piscar sobre a entrada. Os seus olhos alternaram entre a foto da carta de condução e o seu rosto. Podia olhar o quanto quisesse. Jamais alguém perceberia que era falsa. Ela inscreveu-se no DMV1 enquanto se fazia passar pela verdadeira Jessica.

As contas bancárias que criara em nome de Jessica usavam o número de segurança social de uma menina de cinco anos. O número fora roubado da mesma empresa de registos médicos. As agências de crédito não verificam os números. Alanna não estava a usar as contas para roubar mais ninguém, então eles não tinham razões para suspeitar. Quanto à menina, levaria anos até que tivesse idade suficiente para se preocupar com o seu histórico de crédito.

O segurança devolveu-lhe a carta de condução e abriu a porta para ela. Ela apercebeu-se da expressão estoica do seu rosto no espelho na parede da entrada. A adrenalina da emoção de ontem era uma memória distante. O resultado fora um estado de entorpecimento emocional que a deixou isolada do resto do mundo. O estado de espírito perfeito para passar algum tempo numa casa de narguilé.

O interior do salão estava banhado por uma luz roxa. Sofás de veludo vermelho e mesas pretas alinhavam nos dois lados da passagem do tapete vermelho, com o bar na outra extremidade. O proprietário optou por uma atmosfera europeia opulenta em vez da decoração usual do Médio Oriente, que a tornou popular entre turistas estrangeiros ricos, bem como a máfia russa.

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