Полная версия
Ndura. Filho Da Selva
Estava desesperado. Comecei a pensar que isto poderia durar por dias ou até semanas. Lembrei-me das monções asiáticas e de seus efeitos devastadores. Não estranhava que houvesse árvores tão altas na selva se eram regadas assim amiúde. Se isso durasse muito mais tempo ia logo parecer um aquário com macacos em lugar de peixes. Curiosamente, com a chuva, se apagaram a maioria dos sons e ruídos habituais. Devia ser que o estrondo da água caindo apagava todos os outros, cujos responsáveis haviam ido para casa se refugiar. Todos menos eu, que estava ali, no meio da tempestade do século sem mal conseguir onde me abrigar, na mais absoluta intempérie. Se continuasse descendo neste ritmo tão rápido a próxima coisa que cavaria seria minha tumba, para poder me sepultar quando morresse de esgotamento físico e mental. Do jeito que estava não me parecia uma opção tão ruim, quase um descanso desejável.
Um raio caiu sobre uma árvore a uns dez metros à minha frente partindo-a pela metade. O estrondo que produziu me deixou sem poder ouvir durante alguns segundos. O chão tremeu, o fim do mundo se aproximava e eu estava perdido. A parte superior da árvore caiu ao chão em meio a um forte alvoroço, logo grudado ao tronco de outra árvore que se mantinha de pé e queimando na sua extremidade. Um cheiro estranho inundou tudo. De início fiquei petrificado pensando no perigo que corria estando tão próximo de outra árvore, imaginando um raio atravessando o meu corpo, fritando-me instantaneamente por dentro; mas logo me peguei observando o fogo e decidi que, já que estava completamente ensopado e não fazia diferença ficar quieto ou não, ao aproximar-me do fogo teria ao menos um pouco de calor, algo que nesse momento desejava com todas as minhas forças. Levantei-me e todas as articulações me doeram como se me cravassem uma infinidade de grandes agulhas, principalmente nos joelhos. Tive que tentar três vezes e esfregar muito as pernas até que consegui alguma mobilidade. Aproximei-me da chama apenas alguns centímetros.
O calor do fogo me golpeou o rosto como uma onda, mas foi uma sensação agradável. Fechei os olhos e desfrutei do calor redentor, libertador, que me envolvia. Mesmo que já não servisse para nada, voltei a me cobrir com a manta. Enquanto esperava que o dilúvio terminasse buscava pequenos galhos ou gravetos próximos e os jogava ao fogo para que tivesse mais do que se alimentar, que não lhe faltasse combustível. Quando tocavam o fogo produziam crepitações e produziam um resplendor momentâneo, como lampejos, mas logo ardiam com rapidez. Aproveitei também que havia me movido para tirar outros três frutos da mochila, descascá-los e comê-los. Fiquei enjoado deles, mas não acabaram de todo com minha fome e não queria comer mais a mesma coisa. Resolvi mordiscar um galho para despistar o apetite.
Acredito que, com quase toda certeza, essa noite teria morrido se não fosse pelo calor desse fogo oportuno.
Adormeci várias vezes, com a cabeça caindo sobre meus joelhos, mas logo me despertava com o estrondo de um raio ou pelo grito aparentemente desesperado de uma criança. Praticamente já não sentia mais a água sobre meu corpo. Amparado pelo ardor do meu amigo vermelho e amarelo passei toda a noite, até que amanheceu e, por fim, parou de chover.
DIA 5
SOBRE COMO O DESESPERO ME LEVA FAZER COISAS DESAGRADÁVEIS
Um sol radiante surgiu por entre as nuvens acariciando meu rosto emaciado. Olhei para o relógio, eram quase oito horas da manhã. Fiz um cálculo rápido: havia estado chovendo quase vinte horas seguidas. Bebi um bom trago e comi os dois frutos que me sobravam. Não me sentia nada bem. Sentia-me debilitado, tremendo, com as forças diminuídas, quase desfalecido. Podia ouvir como os sons habituais de piados, gritos, zumbidos e coisas assim tomavam outra vez posse da selva, desta vez acompanhados do ruído da água correndo pelo solo, caindo por entre as folhas das árvores em milhões de cascatas e, sobretudo, o incrível rugido que saía do rio atrás de mim. A umidade habitual havia aumentado muito com a chuva, chegando a ser asfixiante.
Конец ознакомительного фрагмента.
Текст предоставлен ООО «ЛитРес».
Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию на ЛитРес.
Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.
1
Língua suaíli: nitoka, enyi!, maarusi!: Vocês! Saiam, depressa!
2
Língua suaíli: basi: alto!
3
Língua suaíli: nifyetua!: atirem!
4
Flora: Dendezeiro, Elaeis guineensis
5
Fauna: Morcego cor-de-palha, Eidolon helvum
6
Fauna: Surucuá (Trogon) de narina, Apaloderma narina
7
Fauna: Papagaio cinzento, Psittacus Erithacus
8
Fauna: Cobra-cipó, Leptophis ahaetulla marginatus
9
Fauna: Formigas legionárias, Dorylus Spp
10
Fauna: Tetra do Congo, Phacogrammus interruptus
11
Fauna: Cercopitemo mona, Cercopithecus mona
12
Fauna: Cercopitemo diana, Cercopithecus diana
13
Flora: Cola digitata
14
Flora: Hortelã-da-água, Mentha aquatica