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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)
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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)

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Kriss sentiu o fogo a alastrar-se pelas suas veias, mas a sua própria culpa fê-lo virar a cara, quebrando o beijo. Recolheu-se nos braços de Dean, envolvendo os seus próprios braços à volta do corpo de Dean antes de entrelaçarem as suas pernas.

Dean olhou silenciosamente para o topo da cabeça de Kriss e suspirou mentalmente. O facto de Kriss se agarrar tão firmemente a ele era a única coisa que o acalmava. Sentia a tristeza diminuir um pouco e depois voltar em ondas. Já tinha decidido libertar Kriss das suas amarras de madrugada, mas, face à rejeição de Kriss, os olhos de Dean cintilaram e as amarras desapareceram.

Num instante, Kriss virou-se e agarrou nos pulsos de Dean, pregando-os ao colchão e mantendo-os lá.

Dean olhou calmamente para cima, para os seus perturbados olhos prateados, perguntando-se o que Kriss iria fazer, agora que estava livre para voltar para Tabatha. Como Kriss se limitava a mantê-lo ali, Dean levantou a cabeça do colchão e roçou suavemente os seus lábios na clavícula de Kriss, até ao arco do pescoço. Foi recompensado com um silvo agudo de Kriss e com a sua libertação.

Várias horas depois, estavam deitados, entrelaçados, à medida que o dia nascia. Dean sabia, tal como Kriss sabia, que estaria ali quando Kriss acordasse de manhã. Ele estaria sempre ali.

*****

Kane vagueava pelas ruas da cidade tentando arejar as ideias em relação a tudo o que acontecera nas últimas semanas. Sentira mesmo vislumbres da sua antiga personalidade a vir à superfície por várias vezes… Sobretudo perto de Michael. Tinha de admitir que adorava o tipo.

A rédea curta que mantinha nas suas emoções ao longo dos últimos dez anos estava a deslizar e ele já sentia a falta da segurança que aquelas barreiras imaginárias lhe proporcionavam. Tinha a certeza de que um desses psiquiatras trapaceiros que havia por aí diria que isso era algo bom, mas também tinha a certeza de que poderia fazê-los mudar de ideias em tempo recorde.

Ele usava o torpor que tinha trazido consigo do túmulo como um escudo, mantendo-o a ele meio morto e protegendo as pessoas à sua volta. Tal como estava, esgotava todo o controlo de que era capaz para manter os seus sentimentos por Tabatha reprimidos e protegê-la de Misery ao mesmo tempo.

Ainda se arrepiava ao pensar que Michael tinha finalmente percebido que tinha sido Tabatha a libertá-lo do seu túmulo. Se tivesse pensado com clareza, teria arranjado maneira de manter Scrappy afastado de Tabatha por mais algum tempo, enquanto tentava perceber como lhe contar. Se é que lhe ia contar.

Na sua opinião, alguns segredos não deveriam ser revelados. A verdade é que ele nunca planeara contar a Tabatha.

Kane rosnou, irritado com a interrupção dos seus pensamentos. Conseguia sentir olhos demoníacos sobre ele enquanto caminhava, a observar cada passo seu. Perguntou-se se teriam sido enviados por Misery. Não a sentia entre eles, o que aliás fazia todo o sentido. Porque é que aquela cabra o havia de seguir quando podia ter os seus lacaios a fazer isso por ela? A cidade estava agora repleta desses seres rastejantes, entidades negras que ele ajudara a criar.

Ele acelerou o passo de tal modo que os faróis dos carros que vinham na sua direção seguiam agora subitamente na direção oposta atrás de si. O brilho vermelho das suas luzes traseiras iluminava a rua durante alguns breves segundos antes de desaparecerem por completo. Nunca tinha sido tão rápido antes, mas com a disposição que tinha ultimamente, andava a ignorar a escalada dos seus poderes.

Naquele momento, só queria estar sozinho na sua própria bolha, em vez de estar perto de Michael e quem quer que o seu melhor amigo/irmão tivesse com ele. Não tinha a certeza se seria capaz de usar aquela máscara ‘Agora estou são’…não esta noite. A sua verdadeira personalidade estava próxima da superfície e isso era algo que Michael não precisava de ver.

Enviando as mãos nos bolsos, Kane continuou o seu caminho numa tentativa de ignorar os espiões que o seguiam. Já tinha chegado a uma zona mais luxuosa da cidade e dirigia-se para a secção onde se situavam a maioria das discotecas. Precisava de uma boa bebida e talvez uma boa luta, mesmo que tivesse de ser ele a começá-la. As discotecas proporcionavam o líquido mentalmente entorpecedor e para o segundo fim, devia ser fácil localizar um ninho de vampiros.

Ao virar da esquina para uma rua movimentada, Kane captou um aroma adocicado no vento e parou, focando-se novamente nas vistas e sons da cidade. Conseguia senti-la muito perto e olhou à sua volta para tentar determinar a sua localização. Inspirou profundamente, querendo mais dela, depois questionou-se se seria masoquista por se torturar a si mesmo.

Ele sabia que devia manter-se longe dela, já que parecia atrair constantemente demónios, mas o seu lado negativo instantaneamente argumentou que a alma gémea tinha um talento especial para arranjar sarilhos sozinha. Se ela fosse suficientemente doida para andar numa zona infestada de demónios, talvez devesse refrescar-lhe a memória para a lembrar de como isso era má ideia.

O seu olhar penetrante fixou-se numa discoteca chamada Silk Stalkings e franziu o sobrolho ao lembrar-se que era ali que o caído, Kriss, trabalhava como bailarino. Era uma opção de carreira interessante para um caído, mas Kane não se sentia em posição de julgar. Suspirando resignado, Kane atravessou a rua e entrou na discoteca para poder levar Tabatha a casa antes que ela se metesse em mais sarilhos.

Capítulo 2

Tabatha atravessou a entrada do Silk Stalkings e olhou em volta. Viera à procura de Kriss…e rezava para encontrá-lo. Ele tinha desaparecido há alguns dias e nem tinha ligado. E já andava a evitá-la ainda antes disso. Ela sentia falta dele e já estava a ficar preocupada. No passado, quando ele desaparecia durante algum tempo, pelo menos ligava-lhe e dizia-lhe que estava tudo bem.

Nem que o visse só de relance, já era o suficiente para eliminar o receio de que Misery o tivesse comido ou trancado numa cave algures.

Sentada numa das mesas altas, continuava a observar o palco na esperança de que Kriss aparecesse para dar o seu espetáculo. Só ao fim de quase uma hora é que percebeu que horas eram e que Kriss já deveria ter atuado. Um dos empregados passou por ela e ela tocou-lhe num braço para chamar a sua atenção.

“Precisa de alguma coisa, menina?” – perguntou ele.

Tabatha sorriu – “Espero que me possa ajudar. Estou à procura do Kriss Reed. Sabe dizer-me qual é o próximo turno dele?”

O empregado suspirou e abanou a cabeça – “Já é a sexta mulher a perguntar por ele esta semana. Infelizmente, ele despediu-se há uns dias e nunca mais ninguém o viu.”

Tabatha sentiu-se como se tivesse levado um estalo na cara. Um sentimento de aflição surgiu no fundo do seu estômago e ela baixou a cabeça para esconder as lágrimas que se começavam a juntar. Tinha perdido o melhor amigo.

“Está bem?” – perguntou gentilmente o empregado.

Tabatha levantou o olhar para ele e sorriu, limpando a humidade que ameaçava borrar-lhe a máscara de pestanas. “Sim, estou ótima. Mas pode trazer-me um Malibu de ananás?”

O empregado fez um olhar inquisidor antes de suspirar e voltar para o bar. Ele reconhecera Tabatha como uma das amigas próximas de Kriss e percebera que Kriss tinha saído da cidade sem lhe dizer. Era vergonha também. Ela parecia ser uma boa rapariga e o facto de Kriss ter desaparecido, obviamente, magoara-a.

Tabatha retirou a sua caixa de pó compacto da carteira e examinou a sua maquilhagem. Ele tinha ido embora sem sequer dizer adeus. Ele tinha prometido, quando foram à Florida com Devon e Envy, quer nunca a deixaria. Tinham ficado ainda mais próximos desde o rapto dela…muito mais.

“Aqui está” – anunciou o empregado e pousou a bebida à frente dela.

Tabatha baixou a tampa do pó compacto e sorriu-lhe. “Pode abrir cartão, vou ficar mais um pouco”.

O empregado acenou e começou a circular pelas suas mesas, verificando se toda a gente estava atendida, olhando ocasionalmente para a sua mais recente cliente para se certificar de ela não se embebedava para além do razoável.

Tabatha esvaziou rapidamente o copo e pousou-o na mesa. Mas afinal porque é que ela estava preocupada? Kriss era um dos caídos. Ele tinha coisas mais importantes para fazer do que lidar com humanos. Muito menos com humanos que eram amigos. Ela detestava estar amuada e zangada ao mesmo tempo! Era uma sensação perturbante.

Tinham colocado outra bebida à sua frente e ela engoliu-a rapidamente também. Cerca de seis bebidas depois, já estava bem tocada. Espreitando o palco, amuou vendo um tipo novo a sair com apenas uma tanga prateada e umas asas. Perguntou-se onde estaria um Guru para gente bêbada e chorona quando mais se precisava e cerrou os olhos, olhando com desdém para o bailarino que inconscientemente gozava com ela.

“Mais uma antes de ir embora?” – perguntou ela ao empregado, que pairava por perto desde que ela se sentara.

O empregado sorriu docilmente e abanou a cabeça. “Acho que já bebeu o suficiente. Quer que lhe chame um táxi?”

“Não” – retorquiu Tabatha, levantando-se e agarrando a carteira. “Quero que diga ao Kriss para quando se lembrar de quem são os amigos dele, me ligar.”

Claro que ela não falava a sério, mas naquele momento estava muito irritada com o Kriss, magoada por ele não ter em consideração a sua amizade, nem sequer para lhe dizer que se ia embora…ou que tinha sido raptado. Abrindo a bolsa, tirou a carteira e tentou pagar as suas bebidas, mas o empregado abanou de novo a cabeça.

“A sua conta já foi paga”, disse ele. “Agora vá para casa e durma sobre o assunto. Tenho a certeza de que ele lhe vai ligar em breve.”

Tabatha pescou as chaves do carro na bolsa e deixou-as cair ao chão. “Raios partam!”, sibilou, querendo sair antes que fizesse alguma coisa estúpida, como chorar em público.

Dobrou-se para as apanhar do chão, mas uma outra mão chegou lá primeiro e apanhou-as. Tabatha seguiu a mão até ver o braço e depois o ombro. Os seus olhos arregalaram-se quando o seu olhar se cruzou com o belo rosto de Kane.

“Anda, querida” – disse ele ao ver a forma como as luzes se estilhaçavam no interior dos seus olhos azuis claros. Ela estava à beira das lágrimas. Ao que parecia, ele não era o único com má disposição nessa noite. “Vamos levar-te a casa.”

O lábio inferior de Tabatha tremeu quando ela olhou para cima para ele e se agarrou ao seu braço, sentindo instantaneamente a sua força. O seu maior perseguidor tinha vindo à sua procura e, pela primeira vez, ela ficara contente por tê-lo ali.

Kane acenou ao empregado por cima da cabeça de Tabatha e encaminhou-a para a saída. Rosnou algo para dentro, pois sabia porque é que ela escolhera aquela discoteca. Ela queria encontrar o bastardo caído que andava a esconder-se dela.

Será que Kriss não se importava com o que a sua negligência estava a fazer a Tabatha, ou será que ele se considerava como o seu potencial inimigo, em vez do melhor amigo dela? Kane envolveu os ombros de Tabatha com o seu braço e segurou com força o outro braço dela quando ela quase tropeçou nos seus saltos altos.

“Viste-o?” Tabatha fez a pergunta olhando para cima para Kane.

Kane abanou tristemente a cabeça – “Não, não o vi.” Conteve-se para não lhe contar que da última vez que tinha visto Dean conseguia sentir nele o cheiro de Kane. O caído estava ótimo.

“Ele desapareceu.” Tabatha limpou de forma pueril a lágrima que finalmente conseguiu escapar. “E se a Misery o comeu?”

Kane tentou não dar uma risada em resposta à sua questão ébria, mas sincera. “A Misery acha que os caídos sabem mal.” – ele recitou as próprias palavras de Misery.

“Então porque é que ele não se despediu?” Tabatha olhava para o chão enquanto caminhavam.

Kane não lhe chegou a responder enquanto colocava Tabatha no seu carro e o contornou para entrar para o lugar do condutor. Imagens de como seria arrancar aquelas macias asas aveludadas das costas de Kriss passavam descontroladamente pela sua cabeça, mas Kane afastou-as. A vingança podia esperar. Agora, ele precisava de levar o seu anjo pessoal a casa em segurança antes que a sua personalidade em constante rotação voltasse para o lado negro.

Tabatha manteve-se quieta enquanto seguiam viagem, com as luzes azuladas do painel do carro a criar um suave brilho que parecia convidá-la a olhar para o homem que o conduzia. Ela nunca era pessoa de recusar um desafio e, embora aguentasse o álcool melhor que as pessoas comuns, as bebidas ajudavam bastante a suprimir um medo saudável.

Ela virou lentamente a cabeça e olhou de forma corajosa e direta para Kane. “Porque é que a Misery disse que eu te pertencia?”

A cabeça de Kane girou rapidamente, fixando nela um olhar ríspido. Não era suposto ela lembrar-se do que acontecera naquela noite. Ele tinha retirado aquilo das memórias dela. Como raio é que ela se tinha lembrado de algo que deveria esquecer? Ao ver luzes de carros no rosto dela, ele olhou de novo para a estrada e desviou-se mesmo a tempo de evitar bater num carro que se aproximava.

A mão dela agarrou no fecho da porta por instinto quando viu a reação dele à sua pergunta, mas manteve-se estática. Não estava suficientemente bêbada para saltar de um carro em movimento. A pontada de medo que lhe subiu pelas costas apenas serviu para fazer escalar o seu nível de coragem até ao ponto da estupidez.

“Escolhe uma faixa” – gozou Tabatha, piscando em seguida os olhos como se quisesse bater em si própria. ‘Raios!’ – pensou mentalmente. ‘Boa, estúpida, irrita o tipo com os dentes pontiagudos.’

“Lembras-te dessa noite?” Kane fez a pergunta antes de perder a coragem.

“E então?” – pensou, encolhendo os ombros mentalmente. “Lembro-me, grande coisa. “Bem, da maior parte. Talvez não sejas tão bom a dominar pessoas como pensas que és.”

“Talvez da próxima vez não seja tão simpático.” – avisou Kane, vendo-a estremecer com as suas palavras sombrias.

Tabatha estreitou o olhar na sua expressão estoica. Como se atrevia a responder à sua falsa indiferença.

“Bem, antes de tentares novamente fazer-me uma lavagem cerebral, que tal dizeres-me a resposta ao enigma da Misery?” – exigiu ela e cruzou os braços sobre o peito, sabendo que estava a descontar em Kane a sua raiva pelo abandono de Kriss. Mas talvez o Kane também merecesse. Tanto quanto sabia, Kane até podia ter comido Kriss.

“Ou me dizes o que é que ela quis dizer ou juro que penduro um grande e sumarento coração de vaca ao pescoço e me ponho bem apetecível para a Misery para lhe perguntar eu mesma.”

Ela arquejou e agarrou-se rapidamente ao tabliê quando Kane girou o volante, fazendo o carro guinar para a berma da estrada e subir o passeio. Ele carregou no travão e deslizou por uma zona de terra, fazendo um pião completo antes de derrapar até parar.

Kane estava a pairar sobre ela antes de o carro se imobilizar. Tabatha não conseguia evitar olhar para cima para o seu rosto e admirar as linhas fortes do seu maxilar, a cor ametista dos seus olhos. O seu olhar desceu até aos seus lábios perfeitos e perguntou-se se eles seriam frios como gelo ou quentes como fogo.

Kane estava mais que furioso e queria sufocar a mulher por pensar sequer nisso. Mordendo a própria língua, esperou até sentir o rápido fluxo de sangue para depois captar os lábios de Tabatha num beijo ardente. Em circunstâncias normais, ele mataria para poder fazer isto. Mas de qualquer modo, ela teria de estar sóbria para que isso contasse. A única razão pela qual a beijava agora de forma tão profunda era o facto de querer limpar a mente dela de quaisquer planos perigosos que o álcool lá tivesse colocado.

Quentes, os seus lábios eram quentes e aquele agradável calor estava a descer por ela numa espiral até ao meio das suas pernas. Subitamente, Tabatha sentiu o medo que lhe faltara momentos antes. Surgia agora em ondas vingativas e ela sentiu os dedos dos pés encolherem-se exatamente ao mesmo tempo que sentiu o pânico chegar ao seu estômago. A sua mente escolheu o medo e ela começou a empurrá-lo com o máximo de força possível. Infelizmente, isso teve o mesmo efeito que uma formiga a tentar levantar uma casa.

Kane sentiu as suas mãos a tentar empurrar o seu peito, mas já que este ia ser o último beijo dos dois, mais valia saborear um pouco mais o momento. Ele respirou no seu fôlego quente enquanto suavizou o beijo, para depois rapidamente o aprofundar novamente.

Tabatha foi assaltada pelo sabor doce e salgado do sangue de Kane e a esmagadora necessidade de trepar por ele adentro superou o medo que restava. Essa necessidade intensificou-se quando a mão dele agarrou na anca dela e a ergueu do assento, puxando-a para si tanto quanto o espaço confinado do veículo permitia. As coxas dela estavam agora em chamas e, antes de se conseguir reprimir, uma das suas mãos deslizou pelo peito dele e em torno do pescoço, onde agarrou com força o seu cabelo branco como a neve.

Kane estremeceu quando sentiu as unhas dela arranharem a sua pele sensível, criando um reflexo nas suas ancas e um grunhido no fundo do seu peito. Ele queria-a, mas mesmo muito. Uma buzina de um carro soou e Kane foi rapidamente relembrado de onde estavam. Foi preciso mais força do que ele julgava que tinha para libertar o corpo dela e praticamente se atirar de volta para o assento do condutor.

“Já estás sóbria?” – perguntou ele. Os músculos dos seus maxilares estavam contraídos e os nós dos dedos estavam brancos enquanto agarrava no volante e continha o seu apetite.

Tabatha levantou a mão para cobrir a boca enquanto pensava naquela estranha pergunta. Ao fim de alguns segundos, assentiu com uma expressão franzida. “Sim, és o quê, café instantâneo?”

“O que és tu?” Kane gozou com ela. “Completamente louca, é o que tu és. A falar de corações de vacas e demónios.”

Os olhos de Tabatha abriram-se mais quando um clarão de relâmpago captou a sua atenção ao iluminar a rua. Ela lambeu o lábio inferior, saboreando-o ainda, depois olhou para si mesma para se certificar de que as suas coxas não estavam mesmo a arder. O relâmpago surgiu de novo e ela inclinou-se para a frente, olhando para o céu à procura das nuvens da tempestade. Não vendo nenhuma, olhou de novo para Kane e percebeu que era ele que estava a provocar a tempestade.

“Acho que é melhor acalmares-te. Eu estava errada. Não és café instantâneo, és uma tempestade instantânea” – proferiu ela, endireitando-se no assento do carro. Ela não tinha reparado nisso antes, mas quando Kane se inclinara sobre ela, o seu vestido tinha subido tanto que quase revelava a renda das suas cuecas.

Kane esfregou as têmporas com os dedos e fechou os olhos…tinha de o fazer. “Faz-me só um favor. Mantém-te longe da Misery.”

“Foi assim que me curaste no escritório do Warren?” Tabatha sussurrou, sabendo de alguma forma que o sangue dele tinha acabado de eliminar cada gota de álcool que ela tinha consumido nessa noite. Já sentia falta da ausência de inibições, mas não ia chamá-lo de corta-festas com a disposição em que ele estava. Mas, tinha de admitir, se ele não tivesse cortado o beijo, isso tinha levado a outras coisas.

Dizer que ele estava instável seria um eufemismo se a forma como ele agarrava o volante fosse indicativo disso. Mas depois daquilo que ela estava prestes a fazer…talvez estivessem ambos instáveis.

Como ele não lhe respondeu, mas apenas fixou o olhar em frente e encolheu os ombros, Tabatha deu por si a ficar novamente irritada. “Tudo bem, leva-me para casa então. Ou melhor ainda, desanda daqui. Eu posso conduzir agora.”

Tabatha foi projetada para trás contra o assento quando Kane voltou a engrenar o carro e fez disparar o motor, quase saltando por cima da berma e entrando novamente no trânsito, ou no pouco movimento que havia àquela hora da noite.

“Talvez devesses ir descobrir em que raio de ninho é que o Kriss se meteu e juntar-te a ele, já que os dois gostam tanto de esconder segredos de mim!” – disse ela de forma sarcástica.

“Nunca ninguém te disse que não era boa ideia confrontar um vampiro?” Kane fez a pergunta numa voz ilusoriamente calma, ao mesmo tempo que se recusava a olhar para ela.

“Ainda estou viva” – retorquiu Tabatha.

“Por agora” – rosnou Kane, mas sentiu satisfação quando o resto da viagem foi feito num silêncio irritado.

Tabatha estava sentada no lugar do passageiro, ainda com os braços cruzados sobre o peito. Ela recusava-se terminantemente a pensar naquele beijo e, claro, também não quis pensar em como ele estava sensual ao pairar sobre ela, furioso ou não.

Assim que Kane encostou o carro junto à entrada dela, suspirou, passando a mão pelo cabelo quando ela saltou do carro e se afastou rapidamente como se tivesse sido mordida. Ele achou a ideia bastante irónica, tendo em conta que ele já a tinha mordido antes. Ao sair do carro, ele seguiu-a silenciosamente, mesmo sabendo que era errado.

Tabatha batera com a porta do carro atrás de si e correra para a entrada do seu apartamento. Assim que fechou a porta em segurança atrás de si, virou-se e passou alguns segundos a trancar as quatro fechaduras e o trinco, depois acendeu a luz da sala.

“Por agora, o caraças!” – olhou de relance para a porta, sentindo-se finalmente satisfeita por ter podido responder…até se ter virado. Tabatha deu um guincho quando viu Kane sentado no sofá como se fosse dono da casa e atirou-lhe um pequeno livro de bolso.

“Não foste convidado!” – insurgiu-se ela, aguardando depois para ver se ele desaparecia. Até foi bom ele não ter desaparecido, pois o riso histérico que se seguiria não seria muito agradável para ela.

“Raios, porque é que ainda estás aqui?” – exigiu ela saber, atirando os seus saltos altos na direção dele, satisfeita por ele ter tido de chegar uma perna para o lado para se desviar de um deles.

Para seu espanto, Kane manteve-se sentado, especado a olhar para ela, com aquela expressão enfurecedora que parecia uma mistura de raiva e divertimento. Ele cintilou e desapareceu por um segundo, depois ela ouviu o baque de algo a bater numa porta de cada lado. Tabatha não se conseguia mexer, pois ele imobilizara-a contra a madeira atrás dela. Ela ouviu trovejar dentro de si e sentiu o medo subir com o som.

Kane inclinou-se um pouco até que o seu rosto ficou quase a tocar o dela e inalou o aroma misto de raiva e medo que exalava dela. Era como um afrodisíaco e servia para o lembrar porque é que não tinha possuído a sua alma gémea assim que a encontrara. Quanto mais não fosse, lutava contra o instinto de a possuir contra a porta, de forma brusca e rápida.

Os deuses até os podiam ter ligado entre si, mas tinham errado na sua combinação. Para o bem dela, eles só podiam estar errados. Quando ele se inclinou para trás o suficiente para ver o rosto dela, ficou satisfeito por ver que a sua ira e medo ainda estavam presentes.

Tabatha sentia a franja do seu cabelo mexer com cada respiração dele enquanto que ele a olhava de cima com aquele olhar escaldante. Ela ficou extasiada ao ver as suas pupilas ametista aumentarem e depois começou a sentir desilusão a estremecer pelo seu corpo. Ela não queria esquecer.

“Antes que faças o teu passe de mágica…diz-me a verdade” – sussurrou ela – “Uma verdade real e sincera.”

“Uma verdade, querida?” Kane desceu o olhar para os lábios dela e baixou a cabeça até que os seus lábios quase roçavam os dela…não num beijo, as algo muito mais íntimo. “Sou mais perigoso para ti do que algum demónio alguma vez poderá ser.”

Tabatha pestanejou para evitar a luz do sol que espreitava pela janela e sentou-se na cama. Puxou os joelhos para si e abraçou-os, admirando a luz do dia que quase parecia fazer troça dela. Grunhindo para si mesma, bufou as repas para cima.

“Perigosíssimo” – resmungou. É tão perigoso que até me aconchegou na cama antes de sair.”

*****

Zachary olhava para o mapa na parede com a cabeça inclinada para o lado. Tinham assinalado cada evento estranho ocorrido nos últimos meses, tentando ver se algum padrão se formava. Tinham começado com apenas alguns pinos coloridos, mas à medida que foram encontrando mais documentação, os pinos tinham começado a formar um padrão.

Angelica pegou num marcador peto e desenhou um círculo em torno dos bairros e zonas circundantes. “A Misery tem operado dentro desta zona” – afirmou ela. “As outras ocorrências que encontrámos parecem corresponder a outros demónios que andam a ganhar coragem e a sair dos seus esconderijos.”

“E o que aconteceu na Love Bites?” Perguntou Trevor. “Essa não se encaixava propriamente no MO dela.”

“Poderemos ter de alargar a zona dela em breve” – propôs Chad. “E o corpo que encontrámos hoje?”

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