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O Metro Do Amor Tóxico - Romance
Naquela noite ao jantar na sua casa, um apartamento na avenida Cernaia em frente da caserna dos policias homónima e não distante do comando policial da avenida Vinzaglio, nos tinha servido e, já como habito, entre um prato e outro tinha sentado connosco na mesa uma loira com aproximadamente vinte e nove anos, Carmen, formosita simpática e bonitona ainda que iletrada e de não ampla mente, que sabia exercitar para o amigo, além das funções de governante, mais intimas funções. Enfim no longínquo 1959, na ocasião do primeiro convite para o jantar de Vittorio depois da nossa transferência de Genova para Torino, ele tinha-ma apresentado na única primeira aparência e ela, para aquela vez não tinha sentado connosco; mas pela atitude confidencial que de todas as formas mostrava, tinha suspeitado. “A guagliona5 , é do meu Napoli”, tinha-se revelado já aquela vez o amigo, embora com um certo embaraço, no momento em que Carmen estava na cozinha a preparar o café: “é uma órfã sem ʹna6 lira que me mandaram papá e mammà7 como governanta domestica: talvez já te disseram quando chegara” – tinha anuído - : “francamente, estava farto de pizzarias; e mesmo de estar… sozinho. Ela tem dezanove anos… hm… como a minha mulher quando me deixou. Eu tenho já quarenta. Contudo, sabes como é, assim aconteceu, que um pouco depois enfim… pois, percebeste. O problema é… que é ainda menor de idade8 ; por isso guarda para ti a sua idade”: não pudera conter um sorriso desajeitado; depois: “está bem, eu sei que estou a fazer mal, que como católico deveria fazer o casto e mesmo que esteja talvez aproveitando um pouco demasiado desta guagliona, embora ela parece-me bastante contente do meu afecto e mesmo do meu… bem, percebeste em que me refiro. Não sei, espero que de todas as maneiras o senhor tenha compaixão e perdoe-me.”
“Imagino”, tinha feito eco mecanicamente, sem ter-me dado conta de ter alimentado as suas dúvidas, sobre as quais se teria atormentado durante anos. Enfim as teria manifestado, na ocasião dum penoso acontecimento de que direi mais adiante. Tinha acrescentado: “certo, para vocês católicos é uma vida repleta de problemas, para mim já existe tantos assim outros na vida que, pelo menos aqueles religiosos, os têm sempre omitidos.”
“Não és crente justamente por nada?” tinha-me interrogado seriamente.
“Mas uma vez era totalmente ateu. Não sei… agora”, respondera hesitante: “às vezes… mas definitivamente, creio naquilo que vejo; e na poesia.”
“… E quem te manda a poesia?” tinha-me acossado, “a musa… como se chamava antes? Ah, sim, Calliope.”
“Errado, visto que escrevo poesia lírica: Calliope era musa da epopeia.”
“… e va bbuo′9 , a musa em geral, não subutilizamos, guaglio′10 , não, era apenas para te dizer que a poesia é como a amizade; aquela verdadeira, digo: vem de Deus. Ou melhor, é um dos sinais da amizade divina.”
Não se tinha mais falado durante dez anos daquela relação Deus - poesia até ao último convite quando, no meio do jantar, Vittorio tinha-me dito: “sabes? O premio literário chega a ti vindo do céu; como a tua poesia. Lembras-te que te disse há muitos anos? É Deus a verdadeira e única musa.”
“Também para aqueles como eu?”
“Percebe-se! Se não puros de coração, porem; e diga-me, tu sabes por que os versos não dão dinheiro?”
“Sei que diriam os soldados de monsieur de La Palice11 : ‘porque têm poucos leitores’.”
“Uh, e chista ′ccà12 existe para esse ′na13 resposta?! Não, não os dão porque são coisas do espírito santo; e digo-te concretamente que a boa poesia nasce dos poetas que têm o espírito: tu serás também um republicano histórico, um não crente, mas és idealista.”
Ora bem, ficara durante um momento interdito: pela venda dos vinte sonetos àquele poderoso seis meses antes, efectivamente, não tinha escrito mais nem sequer um verso.
… Mas não, tinha concluído em mim mesmo aquela vez, mero acaso!
V C apítulo
Bom para mim que, diferentemente do amigo, tivesse ficado magro e ágil como um tempo e que sentisse no corpo a mesma força de como tinha sido menininho, caso contrário naquele dia não me teria desenrascado.
Faltavam apenas mais dois dias para a minha partida para New York. Na primeira tarde tinha saído para dirigir-me à Gazetta del popolo (jornal do povo) para lavrar um artigo para a terceira página. Naqueles tempos sem internet, enquanto para as revistas podia-se usar o correio, para os jornais diários, por causa dos mais bons rápidos tempos de publicação, era preciso dirigir-se fisicamente à sede; apenas os correspondentes no exterior tinham o privilégio de ditar o artigo telefonicamente e de vez em quando os cronistas, se a noticia fosse urgente; eu e os outros publicistas devíamos entregar fisicamente o artigo escrito em casa, ou então lavrá-lo directamente na sede; habitualmente eu escrevia na redacção. Tinha anteriormente colaborado, sempre como externo pago por cada artigo, num dos mais importantes jornais italianos, ligure mas com uma edição de Torino, de propriedade do financeiro Angelo Tartaglia Fioretti, chefe dum colossal grupo económico; mas depois que, contando sobre a minha posição de independente publicista, sem avisar ninguém tinha começado a colaborar também com um outro jornal, diário adversário das concentrações económicas e favoráveis a uma economia social, o jornal de Tartaglia Fioretti não imprimira mais os meus escritos. Para o meu porquê? A resposta tinha sido exuberância de custos. Não tinham-me dito tão-pouco: cabe a ti escolher. Tinham-me simplesmente rejeitado, como se eu tivesse sido um cavalo deles improvisamente caprichoso que, sem necessidade de desculpas, não se monta mais. Tinha-me agastado, muito mais reflectindo que tinha sido justamente o Tartaglia Fioretti a comprar-me, há alguns meses, aquelas vinte poesias para passar como suas com a amante. Tinha finalmente percebido que, também naquela ocasião, tinha sido tratado como uma coisa que se pode adquirir e deitar quando se quiser.
O trajecto não era longo a partir da minha casa na rua Giulio, um bocadinho da mesma, rua da Consolata, rua do Carmine e poucos metros da avenida onde o jornal tinha como sede; mas naquele dia, na esquina entre a mesma e a rua de Carmine, já muitíssimo perto à meta, enquanto atravessava sobre o verde, uma furgoneta estacionada tinha arrancado velozmente dirigindo-se directamente para mim. Com um mergulho tinha-a evitado, justamente apenas, minimizando os danos às mãos esfoladas; e enquanto o meio fugia, tinha conseguido tirar a matrícula.
Depois de ter escrito a minha nota no jornal um pouco sob shock e pensando a quem pudesse ter por inimigo, tinha-me precipitado para o comando policial ao encontro de Vittorio. Como tinha pensado, a furgoneta tinha sido roubado. Na minha denúncia o amigo tinha anotado mesmo a agressão precedente, que enfim não se podia mais julgar com segurança para roubar. Podia ter sido o mesmo agressor da outra vez tentando matar-me? Depois de ter recuperado dos fortes golpes que lhe tinha desferido?
Infelizmente não pudera ver o protagonista no volante.
“Não tens nenhum suspeito, quem sabe, um grosseiro?” tinha-me questionado o D’Aiazzo.
“Não, dou-me bem com todos.”
“É verdade, certo: poderia ser uma vingança de alguém que tínhamos mandado para a prisão; mas de quem? Com todas as investigações feitas juntos e toda a gente que tínhamos metido na jaula… sei lá! Seja como for… talvez será melhor que tenha cuidado eu também.”
A partir daquele momento tinha sido bastante cauteloso e, até à minha chegada nos Estados Unidos, nada mais de mal tinha-me acontecido.
VI C apítulo
Eram 9 da manhã, hora de New York.
No aeroporto tinha-se passado um controlo alfandegário tão minucioso que talvez era segundo apenas para certas inspecções carcerárias. Tinham revistado até no tubo da pasta dentífrica e no frasco de loção para a barba, tomando amostras que, certamente, teriam analisado. Teria esperado, na verdade um exame cuidado, embora não tanto.
Efectivamente, como até os nossos meios de informação tinham referenciado, dois meses antes nalguns bairros de New York a água potável tinha jorrado das torneiras juntamente com uma estranha5 substancia inadvertida ao gosto, incolor e inodoro, depositada por desconhecidos num dos aquedutos em quantidades proporcionalmente minúsculas, mas tão poderosas para induzir todas as pessoas que a tinham bebido durante pelo menos uma dezena de dias à condição irreversível de toxicodependentes ávidos de heroína. Nas semanas sucessivas tinha acontecido a mesma coisa em San Francisco e em philadelphia. Simultaneamente, os meios de comunicação social tinham estado às escutas e revelado que a Policia Federal tinham sabido, através dos agentes da CIA, dum produto químico que cientistas Soviéticos pareciam ter sintetizado. Alguém na FBI tinha tido a intuição de deixar analisar aquelas águas e tinha-se descoberto o composto. Inutilmente contudo tinha-se procurado o laboratório que o produzia. Tinha-se pois suspeitado que tivesse sido importado secretamente. Entretanto, os meios de comunicação social, preocupados Ainda mais os cidadãos, tinham-se questionado: trata-se duma operação de sabotagem da parte da União Soviética? Ou, com a sua ajuda, dos norte. Vietnamitas? Em nome do chefe da URSS Leonid Il'ič Brežnev, o embaixador Soviético tinha avançado uma nota de duro protesto à casa branca, acusando os Estados Unidos de ameaçadora calúnia.
Finalmente livre, tinha-me conduzido à saída para apanhar um táxi que me lavasse ao Plaza Hotel, onde os organizadores tinham reservado para mim um quarto.
Portanto ouvira a ser chamado por uma linda voz feminina. Era uma senhora em cima dos trinta anos, cabelos pretos asa de corvo, muito graciosa, que, à minha esquerda, estava agitando uma breve subtil vara em cima com um cartão branco com o meu nome e sobrenome escritos em vermelho.
“O poeta Velli, não é?” questionara-me aproximando-se e abaixando o letreiro.
Tinha parado: “em pessoa senhora...”
“Miniver: Norma Miniver. Fui mandada pela fundação Valente para vir ao seu encontro.” Tinha-me dado a mão, depois de ter passado o cartaz da direita para à esquerda. “Reconheci-o mal o vi. Sabe as fotos nos seus livros.”
Tinha tido o prazer. “Fala muito bem italiano”, tinha elogiado por minha vez no momento em que nos aproximávamos à saída.
“Sou italo-americana.”
“... Mas o apelido...”
“É do meu marido. Aquele da minha família é costante. Disse Miniver por habito. Na verdade”, tinha-se confidenciado sem embaraço, “recuperarei o meu daqui a pouco: ja vivo sozinha e estou para legalizar o divorcio.”
Ao Plaza depois das formalidades da entrada, Norma tinha-me procedido com o porteur até dentro da sala. Na porta, um cartaz em quatro línguas, mas não em italiano, advertia em letras maiúsculas: NÃO BEBER A ÁGUA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS. PODERIA CONTER SUBSTÃNCIAS NOCIVAS.
“Estou à sua disposição como hostess durante todo o tempo da sua permanência”, tinha-me tranquilizado; “mas agora, penso que o senhor deseja somente refrescar-se e repousar. Ocupo o quarto aqui ao lado esquerdo, para qualquer eventualidade.”
Tinha-me questionado se, entre as eventualidades, estivessem também aquelas que, inesperadas, estavam-me subindo a partir do baixo-ventre até à garganta naquele momento. Tinha sido ela a dar gorjeta ao rapaz da mala. Hospitalidade completa, tinha pensado, e quem sabe se está incluso também o amparo afectivo a este hóspede só e perdido? Lhe tinha dito somente: “terei certamente necessidade de ajuda e... conforto.”
Tinha sorrido bruscamente, abaixando um momento os olhos como quem está confusa; depois tinha-se encaminhada, mas sem pressa, à porta. “O almoço é as 13 horas”, tinha-se despedido, “aqui perto, ao Cooling’s. Aproveitei para informá-la sobre o programa.”
O Cooling’s oferecia apenas comidas frias, sem sabor ou pior. Tinha pedido uma galantina de frango gomosa com desgostoso arroz, quase gelado, ao carril e um bolo da maçã lenhosa. Terei abandonado dentro dos pratos grande parte da comida. Norma tinha-se limitado num batido esverdeado que deveria ser de salutar, como tinha dito, duma tal consistência densa, lamacenta que, talvez, tinha o preciso foco de fazer passara fome ao austero freguês em dieta.
“A cerimonia será em Brooklyn, imagino”, lhe tinha questionado encarando inconscientemente o pitéu e depois que ela, já em poucos goles, tinha esvaziado com coragem o seu copo.
“Não, a entrega de prémios será no parque da vivenda Valente, fora da cidade. As primeiras duas edições sim foram em Brooklyn, nos anos ′40 e ′50, quando havia ainda muitíssimos italianos. Hoje o premio, de Brooklyn, tem somente o nome.”
Instintivamente tinha tocado ligeiramente com o dedo da mão esquerda a unha do indicador da outra sua mão, que estava colocada há um bom tempo no meio da mesa, ao lado do meu copo de (água) mineral.
Não tinha retirado.
No fim do almoço, tinha-me proposto para dar uma volta pela cidade. Não tínhamos tarefas, de facto, até às sete da noite. O primeiro encontro da minha estadia prévia, para aquela hora, um aperitivo no apartamento de nova Iorque de Mark Lines, o meu editor americano. Finalmente nos teríamos conhecido. Tinha família mas nos teria recebido sozinho: trata-se dum pequeno sitio no último andar que mantém como base na cidade, onde vive com um criado: mulher e filhos habitam no campo, a umas quarenta milhas daqui, e com eles vê-se nos fins-de-semana”, tinha-me explicado Norma. Tinha acrescentado que estariam como hospedes também dois da família Valente, irmão e irmã, e alguns outros poderosos da cidade: “não obstante os milhões de habitantes, as famílias que contam realmente são poucas centenas e se conhecem quase todas entre elas.” Depois do aperitivo em casa do Lines, teria jantado com ele e a minha intérprete num restaurante próximo de Manhattan; depois, liberdade para mim e para fazer o que preferia. A minha assistente tinha dois bilhetes para um concerto, se quisesse podíamos ter ido ou se não, cabia a mim de propor. A entrega do premio teria sido no dia seguinte, as 18. Gravata preta, mas dada ao intenso calor daqueles dias, directamente para vestir uma camiseta logo de imediato. Seguidamente, uma festa em minha honra, no parque da vivenda.
“Tomo eu o comando pela cidade, senhor Velli, ou tem algumas preferências?” tinha posto o motor a funcionar.
“Entretanto preferiria que me chamasse Ranieri; ou melhor, Ran, que é mais simples. Posso chamá-la Norma? Tinha tido o impulso de tocar-lhe ligeiramente a mão, que tinha pousado na mudança para as manobras, todavia tinha-me contido. Pelo contrario tinha-lhe observado por muito tempo o perfil.
Ela, sem reparar-me, tinha respondido: “está bem, tratemo-nos mesmo por tu.”
“Seria do meu agrado ver Brooklyn. O que achas?”
“Okay, Ran.”
VII C apítulo
Estávamos enfim no regresso, quase no fundo de Brooklyn-Queens Expwy, ao longo dos cais e palas pontes.
“... e agora, onde queremos ir?” questionara-me Norma.
“Para comer uma alguma coisa boa.”
“Para comer? Te assaltou a fome?!”
“Não toquei quase nada.” Tinha tido uma inspiração. Pegando-a vagamente, tinha arriscado: “se tu sabes dalguma cozinha disponível, poderia preparar eu alguma coisinha aceitavelmente agradável.”
“Sabes cozinhar? E gostas?” a sua voz sabia de surpresa e divertimento: “eu não gosto.”
“Eu gosto e, pelo menos, sei aquilo que consumo; mas onde podemos encontrar uma cozinha?” tinha-lhe tocado ligeiramente o braço numa brevíssima carícia.
“Na minha casa”, tinha sorrido.
Era uma pequena moradia no trigésimo quarto, junto de Herald Square, em Manhattan, no rés-do-chão duma casa antiga acabada de ser pintada de novo. Não era distante do hotel. Um lindo apartamento: a partir do átrio - sala, bastante amplo, com moveis em pluma de mogno estilo inglês do ′800 e dois pequenos sofás modernos contrapostos, pouco mais que poltronas, vislumbrava-se à esquerda, pela porta deixada aberta, a cómoda do quarto, Luigi XV; a entrada abria-se até ao fundo, por uma porta em arco, sobre uma linda cozinha, toda de madeira da nogueira. A casa de banho devia ser adjacente ao quarto.
“Vivo alugando”, tinha precisado Norma, “móveis inclusos. Até ao mês passado vivia no último andar do meu marido, aqui perto, Arnold tem também o ateliê.”
“Um atelier? O que é, um alfaiate?”
“Não”, tinha rido, “é Arnold Miniver, o pintor.”
“Nunca tinha ouvido falar dele: é famoso?”
“Famosíssimo!” tinha-se espantado: “vendeu também na Itália; mas não o conhecia?!”
“Francamente não.” Tinha sido breve: “posso ir à cozinha?”
“Oh... porque não, estamos aqui exactamente, não é verdade?” a expressão indicava um pensamento bem diferente.
Na verdade tinha pensado, a um certo ponto de abandonar a ideia do almoço e dedicar-me logo ao galanteio, mas a fome era tal e, no fim de contas, aquele adiamento podia ser uma boa táctica para aumentar o seu interesse para mim; com a condição que eu lhe mostrasse logo o meu. Ao ultrapassá-la, tinha-lhe deixado percorrer uma subtilíssima carícia nas costas.
Na dispensa não tinha muita coisa. Tinha improvisado com aquele pouco, carne crua cortada fina, pepinos em vinagre, iogurte, salsa congelada, tomates; e tinha-me aprestado para preparar quatro deliciosos escalpes. Tinha picado delgadamente os pepinos misturando-os depois com iogurte numa tigela, com um pouco de sal e um pouco de salsa que tinha antes descongelado um instante no fogo. Tinha deixado pousar de novo. No entanto tinha colocado ao fogo uma espessa frigideira anti-aderente, sobre uma viva chama, colocando um pedaço de papel branco. Quando tinha ficado acinzentado nos pontos em contacto com o fundo, tinha tirado o papel e estendido a carne na frigideira. Sempre na chama alta, tinha cozido por uns quatro minutos, dois para cada lado dos pequenos bifes, até que se tinha formado nos ambos uma pequena crosta morena. Tinha posto sal e servido em dois pratos, cobrindo a carne com um molho frio. Alguns tomates em rodelas para acompanhamento e adorno.
Uma bondade rapidíssima!
Norma, mesmo em dieta, tinha comido toda a sua porção, satisfeita. Sim, também as mulheres podem conquistar-se desta forma, tomando-a pela gula.
Não sabia que, talvez justamente naquele momento, alguém qualquer estava preparando-se para pôr-me o baraço na garganta, com uma bebida; e com um objectivo bem diferente.
VIII C apítulo
Tinha-se permanecido na intimidade até quase à hora do aperitivo.
Para o meu espírito não teria sido uma simples aventura de viagem. Voltando para o hotel com Norma, tinha começado a percebê-lo.
Tinha já feito o duche em casa dela e ao Plaza tinha mudado num instante; mas tínhamos chegado na mesma em casa de Lines com meia hora de atraso, por último: “Está bem assim”, tinha sussurrado ela para mim, um pouco antes de entrar, vendo que reparava o relógio, “és o hóspede de honra.”
Talvez não ficava muito bem para o dono da casa que, mal o criado, um mulato dos seus sessenta anos de aspecto frágil, nos tinha introduzido, tinha deixado escapar um sorridente “oh, finalmente!” mas de imediato tinha-se corrigido: “estávamos todos impacientes de conhecê-lo pessoalmente, senhor Velli!” e, depois de ter-me apertado a mão, dirigindo-se aos presentes, tinha aplaudido para mim. Os outros tinham-se unido.
O editor parecia ter por aí cinquenta anos, cabelos bastos grisalhos mantidos incultos, altura média e magríssimo; mas forte: o aperto da mão tinha sido potente.
Éramos uma vintena. Os hóspedes mais importantes, como tinha percebido pela atitude de maior respeito do Lines e melhor teria tido conhecimento através da Norma, eram oito: 0s irmãos Albert e Elizabeth Valente, ambos em cima dos quarenta anos, bilionários em dólares, ele patrono do premio em nome do falecido pai poeta amador que tinha vivido durante décadas na fama de padrinho mafioso mas, quando morrera, tinha enfim conquistado a batina do honesto financeiro: Peter Capponi, grande importador dos seus quarenta anos, e a sua mulher Angela, em cima dos trinta anos, única mulher presente toda ornada de jóias; um certo Vito Valloni, gordo barbudo de pêlo branco na cabeça com uma envelhecida cabeleira postiça em porco-espinho que o tornava ridículo, homem com altura media, para além dos sessenta, proprietário de grandes armazéns e lojas, emitentes televisivos e jornais em vários estados; o reservado general Reginald Huppert, chefe da policia de New York, com a mulher Liza, bastante jovem do que ele, em cima dos trinta e cinco anos, meia irmã do Lines: muito linda; Anne Montgomery, viúva, a mais rica mulher da América, por aí com cinquenta e cinco anos; o seu filho Donald, de aspecto insignificante, não muito alto, cabelos morenos, que demonstrava ter por aí trinta anos; e o seu administrador e consultor financeiro John Crispy, mais ou menos dos seus sessenta anos.
“Entretanto idealista, aquele Donald Montgomery”, tinha-me dito Norma depois que tínhamos saído nós os dois no terraço: “É o herdeiro duma colossal fortuna mas, depois da licenciatura em direito que a mãe lhe aconselhou fazer para que melhor cuidasse os seus interesses, entrou como financeiro na FBI: incrível, não é?”
“Podia talvez ter escolhido melhor.”
“É o que penso eu também. Seja como for os negócios da família continuam a ser totalmente dirigidos, por detrás da percentagem, por John Crispy.” Tinha-o indicado com um breve movimento da cabeça: naquele momento o homem, sentado numa esquina logo no interior, estava absorvido em sorver tudo numa única mistura e a comer azeitonas: “não deixar-te enganar pela aparência: chamam-no Caimão de Wall street. Trabalha como um louco ficando sóbrio todo o dia, depois lá por volta desta hora começa a relaxar-se bebendo à brava.
Não sei como faz mas não se embebeda por acaso.”
Tinha continuado a bisbilhotar tocando outros presentes.
Tinha-me questionado, como Norma, simples funcionária da fundação, pudesse saber todas aquelas coisas. Talvez tramite o marido. Precisa resposta tinha chegado depois dalguns minutos.
Enquanto entrava-se de novo, tinha-se aproximado ágil Liza Huppert, a mulher do general, que pegando-me pelo braço tinha-me distanciado da Norma e encaminhado quase a força, à mesa das bebidas.
Ela sendo parente do dono da casa, tinha-a seguido dócil.
“Norma é boa assistente, senhor Velli?” tinha-me questionado num italiano rudimentar: “já mostrado cidade?”
Tinha anuído com a cabeça mecanicamente: “pode falar na sua língua, senhora Huppert: conheço bem o anglo-americano. Sim, Norma Miniver é para mim utilíssima, na verdade.”
Sei lá com que rosto o tinha dito? Sei que a mulher tinha saído com um sorriso não bom; e, com enorme má educação: “atento, doce porta! Não será por ventura que vocês os dois…”
“Não”, tinha desmentido secamente: “é para mim de valido apoio, tudo aqui”. Tinha-a reparado fixamente, com repreensão: como ousava?!
“Ah”, tinha parecido regozijar-se, sem mostrar de ter notado a minha expressão e expirado sonoramente aquele ah; depois tinha-me colocado com ambas as mãos um dos cálices da mesa, o único que tivesse uma bebida verde que cheirava menta e rosmaninho; e tinha-me segurado o copo e a mão direita entre as suas, por um pouco, com a evidente intenção de aproximação. Portanto, pegada por si uma taça cheia de rosé tinha-a esvaziado num único gole. “Eh sim, pobre rapariga, não teve a sorte!” tinha retomado a dizer arvorando-se o rosto a uma ambígua comoção sem saber esconder o próprio sadismo.
Tinha-me desapontado e tinha percebido de estar enfim apaixonado por Norma. Tinha estado ali para afastar-me mas também desta vez não quisera ofender, na Liza, seu irmão Mark. Tinha contudo lançado uma olhadela instintiva a que não muito distante, estava a falar com um dos convidados. A senhora Huppert tinha seguido o meu olhar e, sorrindo amplamente e começando a apertar-me forte a mão livre do copo, tinha dito: “sim, coitada: o anterior marido era muito rico, mas depois de poucos anos do casamento tinha terminado em ruína e suicídio. Graça aos amigos Valente, lhe tinha sido dado uma colocação na fundação; e melhor para ela que quis conservá-lo mesmo depois do novo casamento.” Eu mantinha-me calado. Imperturbável, sem quase tomar fôlego, tinha acrescentado: “possível que não tivesse descoberto, pobre ganso, as tendências do marido? Contudo parece realmente que não tivesse sabido durante um certo tempo, até quando um dia, apresentando-se inesperadamente no seu ateliê, famoso descuidado aquele pintor porém, o seu apartamento está precisamente no mesmo andar! Então Norma tinha surpreendido o maridinho nu abraçado aos seus modelos: um bissexual, lhe digo mas com um pé na cova!14 ”