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Memorias sobre a influencia dos descobrimentos portuguezes no conhecimento das plantas
Resta examinar a origem africana, a qual se póde encontrar nos numerosos e variados dialectos usados pelas populações negras da região aonde a planta se cria, ou ainda nas linguas dos povos que com ellas negoceiavam. Dois povos de raça diversa se empregaram no activo commercio feito por um lado com os europeus, e por outro com as populações de raça negra; commercio de que os nossos escriptores tiveram, como vimos, noticia, e de que Leão Africano dá relação com a clareza e intimo conhecimento de quem n'elle tomou parte. Foram esses povos os arabes e os berberes: estes, os numidas ou libyanos dos antigos, fallam uma lingua bem distincta do arabe, e que nem mesmo se póde filiar no grupo semitico, mas sim em um grupo um pouco vago, de que o coptico parece ser o typo, para o qual se propoz o nome de «chamitico34.» Dominados pelos semitas e em contacto por duas vezes com linguas semiticas, isto é, com a lingua punica dos colonos carthaginezes, e seculos[20] depois com a arabica, aceitando o dominio dos arabes e recebendo mesmo d'estes a religião mahometana, alguns berberes conservaram no entanto lingua e costumes proprios. Ainda mais; os povos berberes de raça pura, como os Tuareg, mais entranhados no deserto, e mais afastados do elemento arabe, que tão profundamente tem penetrado todo o norte da Africa, não só fallam uma lingua distincta, mas conservam o uso de um alphabeto especial, semelhante ao das inscripções libycas35. O mais antigo historiador dos descobrimentos portuguezes, Gomes Eannes de Azurara, teve conhecimento dos berberes, que chamou azanegues e barbaros, e da distincção entre a linguagem mourisca e «a azaneguya do Zaara»; e ainda mais, relatando a viagem do heroico escudeiro João Fernandes, dá conta de usarem de uma lettra com que escrevem «de outra guisa» que a dos mouros36, facto curioso, ignorado ou posto em duvida durante muito tempo, e demonstrado pelas modernas investigações scientificas.
É pois no arabe, no berbér, ou nas linguas do Sudan e da costa occidental que se deve procurar a origem da palavra, se porventura é africana.
Devemos no entanto notar que os nomes arabes, hoje mais usados, não tem relação ou semelhança com a palavra malagueta. São estes nomes teen el felfel e tamar el felfel, o que vale o mesmo que pimenta figo e pimenta tamara, derivados por um lado da ardencia das sementes, e por outro de uma vaga semelhança na fórma dos fructos, quando mais desenvolvidos, com os figos, quando menores, com as tamaras.
Vem expressa em varias obras, sobretudo francezas, a opinião de que o nome da droga se deriva do nome de uma villa ou logar de Africa, chamado Melega, d'onde era trazida para a Europa. Da existencia de tal villa não pôde achar noticia, e creio, que alguns desses auctores se equivocaram com a costa da Malagueta, e que os outros, como tantas vezes succede, repetiram a asserção sem se darem ao trabalho de procurar os seus fundamentos37.[21]
Nos dialectos dos negros os nomes da droga são variadissimos o pela maior parte absolutamente diversos e afastados no som e na fórma da palavra malagueta38. Diz-nos porém o sr. Daniell, que entre os negros Krus habitantes da costa que vae do cabo Mesurado ao das Palmas, o nome vulgar é Guetta, ao qual frequentes vezes se juntam as prefixas mane ou malé, e tem por certo ser esta a origem da palavra. É possivel, mas não tão seguro, nem tão fóra de discussão como parece ao dr. Daniell, pois se póde bem admittir que o nome usado pelos Krus seja a corrupção do vocabulo empregado pelos portuguezes e outros europeus, o que é tanto mais provavel quanto os Krus não são uma população do interior, mas sim um povo da costa, muito dado á navegação, e como tal um dos que tem sempre tido mais contacto com os estrangeiros.
Em todo o caso, se a palavra pertence ao dialecto dos negros foi-nos transmitida pelos povos do norte da Africa, unicos que até ás viagens portuguezas tiveram contacto com aquellas regiões. Devemos pois admittir que espalhando-se o seu uso pelo interior da região de Mandinga, se tornasse vulgar em Timbuktu e outros grandes mercados do Sudan. Os arabes e os berberes, que a esses mercados concorriam trouxeram a droga, e com a droga o nome, pelo caminho do Dar-Fur ao alto Nilo, e d'ahi aos portos do Egypto, ou pela via mais seguida do Fezzan aos portos de Tripoli. Mercadores de varias nações, e na época a que nos referimos, principalmente os venezianos, navegavam para esses portos, e desde o começo do XIII seculo, se não antes, introduziram a droga na Europa e usaram o nome malagueta ou melegeta.
Em resumo a origem da palavra permanece obscura, e unicamente temos[22] como certo, que os italianos foram os primeiros, entre os povos da Europa, a empregal-a, quer a derivassem da semelhança da droga com o sorgo, chamado melega, quer usassem, o que é mais provavel, de uma denominação vulgar eutre os africanos.
III
Das plantas que produzem a malagueta, e da sua distribuição geographica
Como mais de uma vez tenho observado, existe uma tendencia geral a applicar o mesmo nome a productos distinctos, mas semelhantes ou de propriedades analogas, e que se confundem ou substituem mutuamente no commercio. Por outro lado nas diversas regiões e épocas se tem dado nomes differentes á mesma substancia. D'aqui resulta uma certa confusão de nomes vulgares, da qual póde provir obscuridade, e que exige algumas palavras de explicação.
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1
Theophrasto menciona o χαρδαμωμον como procedente da India (Hist. pl. IX, 7, p. 147. ed. Wimmer) e egualmente o πεπερι (H. pl. IX, 20, p. 162). Dioscorides falla das mesmas substancias (lib. I, cap. V, p. 15 e cap. CLXXXVIII, p. 298 ed. Sprengel). Veja-se tambem Plinio (Hist. nat. L. XII, cap. VII et XIII). Laguna, nos seus commentarios a Dioscorides, pretendeu identificar um dos cardamomos do auctor grego com a malagueta. É porém erro manifesto, e que não passou inadvertido pelo nosso Garcia da Orta (Colloq. dos simples etc., p. 50 ed. 1872). Em quanto ao χμωμον dos antigos, é planta muito duvidosa, mas parece ser o Cissus vitiginea L. e em todo o caso é muito afastada d'aquellas especies que depois, por errada applicação do nome, se gruparam no genero Amomum. Veja-se o erudito commentario de Sprengel no seu Dioscorides (tom. II, p. 345, 352 e 475). Veja-se tambem a (Synopes pl. fl. classicae. de C. Fraas, p. 198 e 278).
2
Serapio (De simpl. med. opus etc. pars II. 327. ed. Othonis Brunfelsii 1531.) falla de uma droga, a que dá o nome de hab el zelim e tambem segundo a Cyclopaedia de Rees e o dr. Hooker (Fl. nigr. p. 206) o de fulful alsuadem, (deve antes ler-se felfel el sudan pimenta da terra dos negros). Esta substancia tem sido geralmente identificada com o Piper AEthiopicum de Matthioli, e o Piper nigrorum Serapioni de Bauhinio, que é uma Anonacea, a Xylopia AEthiopica (Veja-se o que disse nas Noticias sobre alguns pr. veg. da Afr. Portugueza no Jornal de Sc. math. etc. num. XXII 1877. p. 105). A verdade é, que Serapio na citada passagem se refere a tres substancias diversas: uma o hab el zelim tambem chamado Piper nigrorum (felfel el sudan): outra o verdadeiro Piper nigrorum a que na Barbaria chamam croni: e uma terceira das terras de Chedensor chamada habese. Se uma d'estas subtancias é a Xylopia Æthiopica, as outras são de mui difficil identificação pela deficiencia das indicações.
No celebre Canon de Ibn Sina (Avicenna) vem mencionado o hab al zelem ou hab al zelim, que alguns referiram á droga mencionada com o mesmo nome por Serapio, e outros ao hab al zizi, a que os venezianos chamavam dolceghini e que parece ser um Cyperus. (Vid. a edição de Avicenna de Benedicto Rinio, Basileæ 1556, nos indices dos nomes arabes, tanto da antiga exposição, como da interpretação do Bellunense, e tambem a edição de Plempio de 1658).
Garcia da Orta falla de uma substancia, que (Avicenna) chama Combubague e diz que essa substancia é a malagueta (Collq. dos simpl. p. 51). Parece-me que o nosso auctor laborou em erro n'esta asserção. A substancia que Avicenna chama, não Combusbague, mas chair bawe como diz Clusio (Exotiorum libri etc., p. 249, ed. 1605) ou chir hawa (Ed. de Plempio 1658), vinha de Sofala e era semelhante ao Cacolla, ou antes Khakhalá, isto é a um dos Cardamomos da India. Julgo que Avicenna se referia ou ao Amomum angustifolium de Sonnerat, de Madagascar e da costa oriental da Africa, ou ao Amomum Korarima de Pereira, da Abyssinia e do paiz dos Gallas, mas não ao Amomum Granum paradisi, que produz a verdadeira malagueta e habita a Africa occidental.
3
Transcrevo, por curiosa, a lista das substancias usadas no assalto: «rosis, liliis et violis, similiter ampullis balsami, amphii et aquæ rosæ, ambra, camphora, cardamo, cymino, garyofolis, melegetis, cunctis immo florum vel speciérum genéribus, quæumque redolent vel splendescunt.» Rolandinus Patavinus. (De factis in marchia Tarvisana. Lib I, cap. XIII. ap. Muratori Rer. It. scrip. t. VIII, p. 180).
4
Nicolai Mirepsi Alex. medic. opus etc. a L. Fuchsio etc. De antidotis p. 19. Lugduni 1550. É de notar que Mirepso distingue a malagueta do cardamomo e outras drogas que entram na composição do seu medicamento.
5
Clavis sanationis, Venet. 1510 citado por Flück. e Hanbury (Pharmac.)
6
Documentos citados por Flück. e Hanbury (Pharmac. p. 590).
7
Balducci Pegolotti era feitor da casa ou companhia commercial dos Bardi de Florença, e como tal muito versado no tracto de mercadorias do mediterraneo. O manuscripto do seu livro existe na Bibliotheca Riccardiana de Florença, e foi publicado em um tratado intitulado Della decima e di varie altre gravezze imposte dal commune di Firenze, cujo auctor parece ser Pagnini. No mesmo tractado vem inserido outro livro commercial, escripto pelo anno de 1440 por G. da Uzzano, aonde tambem se mencionam as malaguetas. Veja-se uma noticia do auctor e extractos do livro na obra do coronel H. Yule (Cathay and the way thither, p. 280 e Appendix III).
8
Na Form of cury., manuscripto do chefe das cozinhas de Ricardo II de Inglaterra, do anno de 1390 vem a receita do hippocras. Veja-se Flük. et Hanbury (Pharmac. p. 479).
9
Diz o chronista (Asia. dec. I, liv. II, cap. III), «sempre houve descobrimentos, assi como da costa donde veo a primeira malagueta, que se fez per o infante don Henrique. Da qual alguma que em Italia se havia, ante deste descobrimento, era per mão dos mouros d'estas partes de Guiné, que atravessavão a grande região de Mandinga e os desertos da Libya, a que elles chamão Çahará té aportarem em o mar mediterraneo, em hum porto por elles chamado Mundi Barca, e corruptamente Monte da Barca. E de lhe os Italianos não saberem o lugar de seo nascimento por ser especearia tam preciosa lhe chamarão Grana paradisi, que é nome que tem entrelles.» Sobre o conhecimento, que os portuguezes tiveram do commercio feito pelo interior da Africa com a terra dos negros, veja-se o que diz Azurara (Chr. do desc. de Guiné, p. 364 e seguintes). Veja-se tambem o que diz Leão Africano do commercio feito em Mesrata, e outros portos ao oriente de Tripoli, isto é não longe da região de Mundi barca, pelas galeras venezianas, que ahi carregavam mercadorias da Ethiopia (Ramusio. Delle nav. etc., I. p. 72. Venetia 1563). Das especiarias da terra dos negros falla o celebre viajante arabe, enumerando os objectos que compunham um explendido presente enviado ao rei de Fez por um grande senhor de Tensita, entre os quaes se incluia certo pepe di Ethiopia (ibid. p. 24 v.º), e tambem na relação de um singular banquete, que lhe deu um chefe berbér, no qual, além de carne de camello, e de abestruz assado, figurava buona quantitad di spetie della Terranegra (ibid. p. 6). O dr. Daniell em um excellente artigo sobre os Amoma d'Africa, publicado no Pharmaceutical joumal, diz, que Marmol deu a primeira indicação definida sobre o caminho por que antigamente se transportava a malagueta até á Europa, o que não é exacto, pois a primeira edição da Africa de Marmol é de 1573, e a primeira década da Asia de Barros, aonde vem a passsagem, tão explicita, acima citada, publicou-se em Lisboa no anno de 1552.
10
Memoria sobre a prioridade dos desc. dos port. na costa d'Africa occidental. Paris, 1841.
11
Life of Prince Henry, etc. preface XXV e p. 117.
12
Collecção de not. para a hist. e geogr. das nações ultram etc. II p. 17. As viagens de Cadamosto, publicadas primeiro em italiano, e inseridas mais tarde na collecção de Ramusio, foram depois vertidas em portuguez pelo academico Sebastião Francisco de Mendo Trigoso, para fazer parte das citadas noticias dadas á estampa por ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa.
13
Em uma carta encontrada por Gräberg nos archivos de Genova, publicada em 1802 (Ann. di geogr. e statist. tomo II, p. 385), e que vem transcripta na integra nas notas de Major (Life of Pr. Henry, p. 102). Veja-se tambem o que diz o visconde de Santarem (Chr. da conquista de Guiné por Azurara, p. 449 nas notas). O sr. Major põe em duvida a authenticidade d'esta carta, e de feito não só é de uma grande incoherencia de linguagem, como contém affirmações de todo o ponto inexactas.
14
… et venerunt Mauri de terra in suis almadiis, et portaverunt nobis de suis mercimoniis sc. pannos bombicinos seu cotonis, dentes elephantum et unam quartam mensuram de malagueta in grano et in corticibus suis sicut crescit, cum quo multum gavisus fui. Veja-se a relação de Diogo Gomes intitulada De prima inventione Guineae, na memoria do dr. Schmeller (Ueber Valenti Fernandes Alemã und seine Sammlung etc. p. 26). Sobre a collecção de manuscriptos, formada em Lisboa pelo celebre typographo Valentim Fernandes, veja-se, além da citada memoria, o que diz o sr. H. Major (Life of prince Henry etc. preface XVI e p. 228).
15
Sobre Martinho Behaim: veja-se de Murr (Note sur le chevalier portugais Martin Behaim, trad. de H. Jansen); veja-se tambem a erudita noticia de Humboldt (Hist. de la géogr. du nouveau Continent, I, p. 258-283), e uma excellente memoria de Sebastião Francisco de Mendo Trigoso (Memorias de Litteratura Portuguesa, t. VIII, p. 365 e seguintes, ed. 1856). A data da sua viagem com Diogo Cam, foi fixada com muito rigor por A. M. de Castilho (Etudes historico-géographiques, 2.e etude, etc., p. 33 e seguintes). Encontra-se no Atlas do visconde de Santarem, I, X, a reproducção de uma parte do globo.
16
O merito de ter chegado ás regiões da Africa aonde cresce a malagueta, foi attribuido a Martinho Behaim, e foi-lhe depois negado e attribuido a Affonso de Aveiro por Sprengel (Gesch. der geogr. Entd., p. 376, citado por Humboldt, Hist. de la géogr. du nouveau Continent, I, p. 259). Ha aqui um erro, pois que João Affonso de Aveiro trouxe do reino de Benim não a malagueta, mas a baga do Piper Clusii, a pimenta de rabo, chamada por Martinho Behaim pimenta de Portugal. Demais, muito antes de João Affonso de Aveiro ter ido á costa de Benim, e Diogo Cam além da foz do Zaire, tinham os portuguezes encontrado a malagueta, como se vê da historia de João de Barros, da carta de Antonio da Nolle, e da narração de Diogo Gomes.
17
Veja-se sobre Duarte Pacheco o que diz João de Barros (Asia, dec. I, livro VII, cap. II e seguintes), assim como Damião de Goes na (Chr. d'el-rei D. Manuel, I parte) e Camões nas oitavas 12 a 25 do canto X.
18
O titulo do manuscripto é o seguinte: Esmeraldo de Situ orbis feito e composto por Duarte Pacheco cavalleiro da casa del Rey D. João o II de Portugal, que Deus tem, dirigido ao muyto alto e poderoso principe e serenissimo senhor, o senhor Rey D. Manuel nosso senhor, o primeiro d'este nome que reynou em Portugal. D'este livro existem duas copias, as mais completas e authenticas na Bibliotheca de Evora, das quaes deu noticia o distincto escriptor o sr. Rivara no vol. V do Panorama. Consultei a copia que possue a Bibliotheca Nacional de Lisboa, extraída de outra, que parece ter pertencido a D. Rodrigo da Cunha, bispo do Porto, e mais tarde arcebispo de Lisboa. Era para sentir, que esta importante obra se conservasse ainda inedita, mas julgo que em breve será publicada, por iniciativa e sob a direcção do sr. João de Andrade Corvo.
19
Veja-se a curiosa relação de Ramusio, sobre as informações que lhe deu o piloto a quem chama «persona périta, non solamente del'arte dell mare, ma anchora per le lettere e per il molto legger di diverti auttori pieno di molta cognitione.» (Ramusio, Delle navig. etc. I. p. 112 V.º Venetia, 1563.)
20
Cito a traducção publicada por ordem da Academia das Sciencias e feita pelo socio Sebastião Francisco de Mendo Trigoso. (Collec. de not. para a Hist. etc., II, p. 87.)
21
No texto italiano vem em portuguez o nome de pimenta de rabo, que era effectivamente a expressão vulgar; mas foi convertida em fórma mais academica na versão portugueza.
22
A mesma noticia se encontra nas notas com que Carlos de l'Escluze, mais conhecido pelo nome de Clusio, enriqueceu a sua traducção latina do livro de Garcia da Orta (Exoticorum libri decem etc., p. 184). João de Barros pelo contrario diz que el-rei mandou esta pimenta a Flandres, mas ahi não agradou tanto como a da India. Conciliam-se perfeitamente estas informações em apparencia encontradas. A noticia de João de Barros, confirmada pelo que diz Garcia de Resende, refere-se ao tempo de D. João II, época em que ainda não tinhamos attingido o termo tão desejado de nossas explorações, e em que o commercio das especiarias estava em mão dos venezianos, sendo natural que procurassemos attrair a attenção para os productos das terras africanas, de cujo commercio nos haviamos senhoreado. Pelo contrario, em tempos de D. Manuel e posteriores, já estava nas mãos dos portuguezes o monopolio das especiarias asiaticas, e, dadas as doutrinas commerciaes de então, bem se comprehendem as prohibições rigorosas de que falla a viagem a S. Thomé.
23
Veja-se a nota 1, a pag. 7.
24
O texto de Pordenone é o seguinte: «In ipsa (insula Jauá) nascuntur cubebae, melegetae, nuces que muscatae, multae que aliae species pretiosae». Veja-se H. Yule (Cathay and the way thither, etc., II. Appendix, I, XVII.)
25
Sabemos que pelos tempos de Frey Odorico se differençavam perfeitamente as duas drogas. Pegolotti no seu (Libro di divisameuti di paesi, etc.) inserido no tratado (Della decima, etc. III) falla das meleghette e do cardamomo como de mercadorias diversas; a mesma distincção faz um seculo mais tarde G. da Uzzano no (Libro di gabelli, etc.) egualmente inserido no (Della decima, etc. IV). Veja-se H. Yule (Cathay and the way thither, etc., I, pag. 88). A passagem de Rolandino Patavino, assim como a de Nicolau Myrepso antes citadas, dão tambem a malagueta e o cardamomo como coisas diversas. Veja-se a nota a pag. 9.
26
Eis a passagem em que Humboldt (Hist. de la géogr. du nouveau Continent, I, pag. 258), expõe esta theoria. «Como as producções vegetaes, analogas, e que se substituem mutuamente no commercio, tomam sempre o mesmo nome, o de malagueta, tão celebre no XV seculo, e que os pharmaceuticos transformaram em melegueta, maniguette e cardamomum piperatum parece-me derivar-se do nome indico do pimento, tal qual é usado na lingua de Sumatra. Acho na Cosmographia de Sebastião Munster (ed. de 1850 p. 1093), lingua patria sumatrensis piper molaga dicunt. O sabio auctor da Materia medica of Hindoostan, o sr. Ainslie dá tambem (ed. de Madrasta, 1813, p. 34) ao Piper nigrum o nome tamul de mellaghoo. Em sanskrito mallaja e maricha são synonymos de pippali. O primeiro designa mais particularmente, segundo Wilson, o Piper nigrum e o segundo o Piper longum.» A estes nomes apontados por Humboldt podemos accrescentar os que encontramos citados por Garcia da Orta (Colloquios dos simples, etc., p. 172, ed. 1872), pertencentes ás mesmas fórmas, como são molanga, meriche e merois. A semelhança de alguns d'estes nomes com a palavra melegueta é singular; julgo porém ser uma simples aproximação fortuita.
27
A palavra portuguesa pimenta não vem da mesma origem, como quer o padre Raphael Bluteau no Vocabulario, fazendo-a derivar de pimpilim, nome usado no Malabar. Deriva-se de pigmentum, que na baixa latinidade significava especiaria em geral: species aromatis. Ducange. (Gloss. ad script. med. et infim. lat. voc. pigmentum.)
28
Recherches sur la déc. des pays situés sur la cote occ. d'Afrique, etc. p. 266.
29
Mem. sobre a prioridade, etc., p. 39, e nota 7.ª, p. 196.
30
Na edição franceza da sua memoria (Recherches sur la déc. etc. Paris 1842), o visconde de Santarem cita Balducci Pegolotti, e a passagem onde falla da malagueta (p. LXV), mas não modifica a sua argumentação (p. 14 e 15).
31
Eis o que diz Matthioli: i grani, i quali chiamano alcuni meleghette per rasomigliarsi eglino (come credo io) al miglio indiano, il quale in alcuni luoghi d'Italia si chiama melega (I discorsi di M. P. Matthioli etc., nei sei libri di Dioscoride, p. 24. Venezia, 1712).
32
Foi publicado na (Storia d'Incisa, etc. Asti, 1810) e vem transcripta por Michaud (Hist. des Croisades, II, p. 494).
33
Sobre a verdadeira natureza da meliga e a introducção da cultura do milho na Europa pode-se consultar Bonafous (Hist. nat. agric. et éc. du maïs); e tambem A. de Candolle (Géogr. bot. rais., p. 943).
34
É esta a opinião apresentada pelo sr. Ernesto Renan (Hist. des langues sémitiques, p. 201-202, 4ème éd.), da qual, porém, se afastam alguns philologos, e entre outros o sr. Newman, que considera o berbér como um idioma semitico.
35
Veja-se sobre o alphabeto tifinar ou tifinag uma noticia do sr. A. Judas: (Journal Asiatique. Mai 1847) assim como o (Essai de grammaire tamackek.) do sr. Hanoteau.
36
Chron. da Conq. de Guiné. p. 83 e 365.
37
Diz Pomet «nous l'appellons aussi maniquette ou melaquette a cause d'une ville d'Afrique appelée Melega d'ou elle était autrefois apportée» (Hist. gén. des drogues, I, 42, 2.me éd.) Nicolau Lémery repete a mesma asserção quasi pelas mesmas palavras (Traité univ. des drogues simples, p. 152. Paris, 1698); e não obstante La Martinière, no seu diccionario ter mostrado ser falsa, ainda se encontra no diccionario do sr. Littré.